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Playboy Irresistivel - Capitulo 9



Nove

Eu não vou enviar uma mensagem para o Joe. – … e daí talvez morar no exterior algum dia… Eu não vou enviar uma mensagem para o Joe. – … talvez na Alemanha. Ou talvez na Turquia… Pisquei de volta para a conversa e assenti para Dylan, que estava sentado à minha frente e que praticamente tinha citado o planeta inteiro durante nossa conversa. – Isso parece realmente fascinante – eu disse, com um sorriso esticado no rosto. Ele olhou para a toalha da mesa, com o rosto levemente corado. Certo, ele até que era fofo. Como um cachorrinho. – Eu costumava pensar que gostaria de morar no Brasil – ele continuou. – Mas adoro viajar para lá, sabe, e eu não queria que se tornasse um lugar familiar, entende? Assenti novamente, tentando ao máximo prestar atenção e controlar meus pensamentos, focando no meu encontro e não no fato de que meu celular esteve silencioso por toda a noite. O restaurante que Dylan escolheu era legal, não romântico demais, porém muito confortável. Iluminação suave, janelas grandes, nada muito sério ou muito sóbrio. Nada que gritasse namoro. Pedi o linguado; Dylan pediu um filé. Seu prato estava praticamente vazio; eu mal toquei no meu. Sobre o que ele estava falando? Um verão no Brasil? – Quantas línguas você disse que fala mesmo? – eu perguntei, torcendo para ainda estar dentro do assunto. Provavelmente estava, pois ele sorriu, obviamente contente por eu ter me lembrado desse detalhe. Pelo menos, que esse detalhe existia. – Três. Eu me recostei na cadeira, genuinamente impressionada. – Uau, isso é… realmente incrível, Dylan. E eu nem estava exagerando. Ele era incrível. Dylan era bonito, inteligente, e tinha tudo que uma garota esperta procuraria num homem. Mas quando o garçom parou em nossa mesa para encher nossas bebidas, nada daquilo impediu que eu olhasse rapidamente para o celular de novo, franzindo a testa ao ver a tela ainda apagada. Nada de mensagens, nada de ligações perdidas – nada. Que droga. Passei o dedo sobre o nome de Joe e reli algumas de suas mensagens anteriores. Pensamento aleatório: eu adoraria ver você chapada. Maconha amplifica traços de personalidade, então você provavelmente falaria tanto que sua cabeça explodiria, embora eu ache impossível você falar coisas mais malucas do que já fala normalmente. E outra: Acabei de ver você no cruzamento da Rua 81 com a Amsterdam. Eu estava num táxi com Nick e vi você atravessando a rua na nossa frente. Você estava usando calcinha debaixo daquela saia? Eu planejo colocar sua resposta na minha lista de mensagens safadas, então cuidado com o que vai responder. A última mensagem veio pouco depois da uma hora da tarde, mais de seis horas atrás. Olhei mais algumas antes de apertar o botão para escrever uma nova mensagem. O que ele poderia estar fazendo agora? Ou com quem ele poderia estar? Senti minha testa franzir ainda mais.
Comecei a digitar e apaguei quase imediatamente. Eu não vou enviar uma mensagem para o Joe. Eu não vou enviar uma mensagem para o Joe. Sou uma ninja. Um agente secreto. Vou roubar os segredos e escapar ilesa. – Demi? Tirei os olhos do celular; Dylan estava me encarando. – Humm? Suas sobrancelhas se juntaram por um momento antes de soltar uma pequena risada hesitante. – Você está bem? Parece um pouco distraída. – Pois é – eu disse, horrorizada por ter sido flagrada. Mostrei meu celular. – Estou apenas esperando uma mensagem da minha mãe. Eu menti. Horrivelmente. – Mas está tudo bem? – Com certeza. Com um pequeno suspiro de alívio, Dylan pôs o prato de lado e se inclinou para frente, apoiando os braços na mesa. – Então, e quanto a você? Parece que só eu estou falando. Conte um pouco da sua pesquisa. Pela primeira vez na noite, eu relaxei a força com que segurava o celular. Isso eu poderia fazer. Conversar sobre meu trabalho, faculdade e ciência em geral? Com certeza. Tínhamos acabado de terminar a sobremesa e minha explicação de como eu estava colaborando com outro laboratório para criar vacinas para o Trypanosoma cruzi, quando senti alguém tocando meu ombro. Era Nick, de pé, atrás de mim. – Oi! – eu disse, surpresa por vê-lo. Ele tinha quase dois metros, mas mesmo assim não parecia desengonçado nem quando se abaixou para beijar meu rosto. – Demi, você está absolutamente linda hoje. Uau. Aquele sotaque britânico iria acabar comigo ali mesmo. Eu sorri. – Bom, você pode passar o elogio para a Miley; foi ela quem escolheu este vestido. Achei que era impossível ele ficar ainda mais atraente, mas o sorriso orgulhoso que se espalhou em seu rosto realizou o impensável. – Pode deixar. E quem é esse? – ele disse, virando-se para Dylan. – Ah! Desculpe, Nick, esse é Dylan Nakamura. Dylan, esse é Nick Stella, o sócio do meu amigo Joe. Os dois apertaram as mãos e trocaram umas palavras, e eu tive que me segurar para não perguntar sobre Joe. Eu estava no meio de um encontro, afinal de contas. Não deveria nem estar pensando nele em primeiro lugar. – Bom, vou deixar vocês dois a sós. – Mande um “oi” para a Miley por mim. – Pode deixar. Aproveitem o resto da noite. Observei Nick voltando para sua mesa, onde um grupo de homens o esperava. Fiquei imaginando se ele estava num jantar de negócios e, se fosse esse o caso, por que Joe não estava junto. Percebi que eu não sabia muito sobre seu trabalho, mas eles não faziam esse tipo de coisa juntos? Alguns minutos depois, assim que a conta chegou, meu celular vibrou no meu colo.
Como vai sua noite, minha pequena Ameixa? Fechei os olhos, sentindo aquela palavra vibrar através do meu corpo como uma corrente elétrica. Lembrei-me da última vez em que ele me chamou assim e senti meu interior se liquefazer. Tudo certo. Nick está aqui, você o enviou para me espionar? Há! Como se ele fosse fazer isso por mim. Ele acabou de me enviar uma mensagem. Disse que você está bonita hoje. Não sabia que eu ficava tão corada até conhecer Joe, mas desta vez senti o calor se espalhar em meu rosto. Ele também está bonitão hoje. Isso não é engraçado, Demi. Você está em casa? Um segundo depois de enviar a mensagem, eu segurei minha respiração. O que eu faria se ele dissesse que não? Sim. Eu realmente precisava ter uma conversa comigo mesma; saber que Joe estava em casa e falando comigo não deveria me deixar tão feliz assim. Corrida amanhã? Claro. Tirei rapidamente o sorriso do meu rosto quando percebi que Dylan estava olhando para mim e guardei o celular. Joe estava em casa, e eu podia descansar e tentar aproveitar o resto da minha noite.
– Então, como foi o seu encontro? – ele perguntou, se alongando ao meu lado. – Tudo bem – eu disse. – Normal. – Normal? – Isso – dei de ombros, sem conseguir dar uma resposta mais animada. – Normal – repeti. – Tudo bem. Decididamente, eu me senti pior sobre minha dependência de Joe nesta manhã do que na noite passada. Eu tinha que me recompor e lembrar: agente secreto. Ninja. Aprender com o melhor. Ele balançou a cabeça. – Que avaliação entusiasmada. Não respondi, apenas andei até uma árvore próxima para pegar a água que eu havia guardado. Estava frio – tão frio que a água já estava congelando. Estávamos fazendo o alongamento pós-corrida, quando Joe fazia um discurso incentivador e depois falava algo inapropriado sobre meus peitos, daí eu reclamava do frio e da falta de banheiros acessíveis em Manhattan. Mas eu não estava a fim de ter essa conversa hoje, ou de admitir que, embora eu até gostasse de Dylan, eu não passava os dias sonhando em beijar sua boca ou chupar seu pescoço ou vê-lo gozar na minha cintura, como eu fazia com certa pessoa. Eu não queria contar que ficava constantemente distraída em nossos encontros e tinha dificuldade em me importar. E eu também me recusava a admitir que estivesse falhando nessa coisa de encontros, e que talvez eu nunca aprendesse como levar a vida casualmente, apenas aproveitando, sendo jovem e experimentando as mesmas coisas que Joe fazia. Ele se abaixou para encontrar meus olhos, e eu percebi que ele estava repetindo uma pergunta. – Que horas você voltou? – Um pouco depois das nove, acho. – Nove? – ele disse, rindo. – De novo? – Acho que foi um pouco mais tarde. Por que isso é tão engraçado? – Dois encontros seguidos terminando às nove horas da noite? Por acaso ele é o seu avô? Por acaso ele te levou para assistir à matinê? – Para sua informação, eu tive que passar no laboratório logo cedo pela manhã. E quanto à sua noite selvagem, playboy? Participou de alguma orgia? Talvez uma festa ou duas? – perguntei, decidida a mudar de assunto. – Fiz algo tipo Clube da Luta – ele disse, coçando o queixo. – Só que sem homens e sem socos – ao ver meu olhar confuso, ele esclareceu: – Basicamente, jantei em casa com Dani e Miley. Ei, você está dolorida? Eu imediatamente me lembrei da deliciosa dor que seus dedos deixaram após a festa da república e de como minha pélvis ficou depois de cavalgá-lo no chão de seu apartamento. – Dolorida? – repeti, piscando rapidamente em sua direção. Ele sorriu com malícia. – Dolorida por causa da corrida de ontem. Deus, Demi. Você tem a mente muito suja. Você chegou em casa às nove horas, sobre o que mais eu poderia estar falando? Tomei outro gole da minha água e estremeci ao sentir o frio nos dentes. – Tudo bem. – Outra regra, minha Ameixa. Você só pode usar tudo bem algumas vezes numa conversa antes de ficar evidente que você está tentando fugir do assunto. Encontre adjetivos melhores para descrever seu estado de espírito pós-encontro. Eu não sabia exatamente como lidar com Joe nesta manhã. Ele parecia um pouco inquieto. Eu achava que já tinha sacado ele por inteiro, mas meus pensamentos também estavam meio rebeldes, um problema que só aumentava quando ele estava por perto. Ou, julgando pela noite passada, quando ele estava longe também. Será que ele não se importava nem um pouco por eu estar saindo com Dylan? E será que eu queria que ele se importasse? Droga. Encontros casuais são muito complicados, e eu nem podia dizer se Joe e eu estávamos tecnicamente saindo. Parecia uma das poucas coisas que eu não conseguia perguntar a ele. – Bom – ele disse, deslizando seu olhar até mim com um sorrisinho diabólico. – Só para deixar clara a teoria dos encontros casuais, talvez você devesse sair com outra pessoa. Só
para ter uma ideia de como funciona. Que tal outro cara daquela festa? Aaron? Ou o Hau? – O Hau tem namorada. O Aaron… Ele assentiu me encorajando. – Ele parecia apto. – Ele é apto – concordei, ainda meio hesitante. – Mas ele é um pouco… SN2… As sobrancelhas de Joe se juntaram. – Como é? – Você sabe – eu disse, gesticulando para todo lado. – Tipo quando acontece a quebra de uma ligação C-X, e o nucleófilo ataca o carbono num ângulo de 180 graus em relação ao grupo lábil. Minhas palavras saíram numa única frase esbaforida. – Meu Deus. Você acabou de usar uma referência de química orgânica para me dizer que o Aaron parece melhor de costas do que de frente? Eu gemi e desviei os olhos. – Acho que acabei de bater algum recorde nerd. – Não, isso foi sensacional – ele disse, parecendo genuinamente impressionado. – Eu queria ter pensando nisso anos atrás. Sua boca se dobrou para baixo enquanto ele considerava o que tinha falado. – Mas, de verdade, quando você diz uma coisa dessas é sensacional. Se fosse eu, soaria como se eu fosse um idiota gigante. Engoli em seco, definitivamente não olhando torto para seu calção. Apesar da baixa temperatura e do horário, mais pessoas do que o normal decidiram enfrentar o frio. Dois universitários bonitinhos chutavam uma bola, com gorros pretos cobrindo as cabeças e dois copos de café fumegante esperando ao lado. Uma mulher com um carrinho de bebê gigante passou por nós, e mais um punhado de gente corria nas outras trilhas. Olhei bem a tempo de observar Joe se abaixar na minha frente até tocar a ponta do pé. – Tenho que admitir. Estou mesmo impressionado com o quanto você está se dedicando e trabalhando duro – ele disse para mim por cima do ombro. – Pois é – murmurei, alongando os tendões da maneira que ele me ensinou, e definitivamente não para olhar sua bunda. – Duro. – Como é? – Trabalho duro – repeti. – Duro mesmo. Ele se endireitou, e eu segui seu movimento, forçando meus olhos a se desviarem para outro lugar. – Não vou mentir para você – ele disse, alongando as costas. – Fiquei surpreso por você não desistir na primeira semana. Eu deveria encará-lo e ficar irritada por ele achar que eu desistiria tão rapidamente, mas, em vez disso, apenas assenti, tentando olhar para qualquer coisa além do pedaço da barriga que ficou exposta quando ele alongou os braços acima da cabeça, ou dos músculos que dividiam os dois lados de seu abdômen. – Talvez você até consiga chegar entre os cinquenta primeiros na corrida se continuar assim. Meus olhos grudaram na pequena faixa de pele e no panorama de músculos abaixo. Engoli em seco novamente, lembrando-me de como me senti com seus dedos dentro de mim.
– Definitivamente vou continuar assim – murmurei, desistindo de disfarçar e olhando direto para seu corpo. Limpando minha garganta, eu me virei e voltei a andar no sentido oposto da trilha, porque, francamente, aquele corpo era simplesmente obsceno. – Então, que horas vai ser o seu encontro hoje? – ele perguntou, aumentando as passadas para me alcançar. – Amanhã – eu disse. Ele riu ao meu lado. – Certo, que horas vai ser o seu encontro amanhã? – Humm… às seis? Cocei meu nariz, tentando me lembrar. – Não, às oito. – Você está animada? Dei de ombros. – É, um pouco. Rindo, ele envolveu meus ombros com o braço. – Ele trabalha com o quê mesmo? – Com drosófilas e afins – murmurei. Ele me deu uma deixa para falar sobre ciência, e eu nem isso conseguia fazer hoje. Eu estava acabada. – Um cara da genética! – ele disse, num tom brincalhão. – Thomas Hunt Morgan nos deu o cromossomo, e agora os laboratórios ao redor do mundo dão mosquinhas de fruta para outros laboratórios pequenos – ele estava tentando ser jovial, mas sua voz era tão grave e sensual que, mesmo quando ele tentava falar algo nerd, meu corpo inteiro se arrepiava. – E Dylan, é legal? É engraçado? É bom de cama? – Claro. Joe parou, com um olhar explosivo. – Claro? Olhei seu rosto. – Quer dizer, claro que é. Então, a ficha caiu. – Bom, exceto a parte de ser bom de cama. Ainda não testei essas qualidades dele. Joe voltou a andar, em silêncio, e eu dei outra olhada nele. – Falando nisso, posso perguntar uma coisa? Ele olhou para mim com o canto do olho, desconfiado. – Sim – ele disse lentamente. – O que significa “etiqueta do terceiro encontro”? Pesquisei no Google, mas… – Você pesquisou no Google? – Sim, e o consenso parecia dizer que o terceiro encontro é quando acontece o sexo. Ele parou, e eu tive que me virar para encará-lo. Seu rosto estava vermelho. – Ele está pressionando você para transar? – O quê? Fiquei olhando para ele, desnorteada. De onde ele tirou essa ideia? – É claro que não.
– Então por que você está perguntando sobre sexo? – Calma – eu disse. – Eu posso ficar na expectativa sem que ele me pressione. Caramba, Joe, só quero estar preparada. Ele suspirou e balançou a cabeça. – Você me deixa maluco às vezes. – Idem – e fiquei olhando para o horizonte, pensando alto. – É que parece que existem etapas de progressão. Tipo, os dois primeiros encontros foram quase iguais. Mas como a gente passa daquilo para o sexo? Um manual de instruções com certeza facilitaria muito. – Você não precisa de um manual – ele tirou o gorro da cabeça e puxou o cabelo para trás. Eu praticamente podia ver as catracas girando em seu cérebro. – Certo, então… o primeiro encontro é tipo uma entrevista. Ele estudou o seu currículo – Joe jogou um olhar cheio de insinuação e ergueu as sobrancelhas, com os olhos caindo direto em meus peitos –, e agora é hora de saber se você está à altura do cargo. Primeiro tem uma seção de perguntas e respostas, depois a análise do tipo “Essa pessoa pode ser um serial killer?”, depois, é claro, tem a outra decisão crucial, “Eu quero transar com essa pessoa?”. E sejamos honestos: se um homem convidou você para sair, ele já sabe se quer transar com você. – Certo – eu disse, olhando para ele com ceticismo. Tentei imaginar Joe nesse cenário: conhecendo uma mulher, levando-a para sair, decidindo se queria ou não transar com ela. Eu tinha 97% de certeza de que eu não gostava disso. – E o segundo encontro? – Bom, o segundo encontro é a etapa seguinte no processo de seleção. Você passou da triagem preliminar. Então o outro lado obviamente gosta do que você tem para oferecer, e agora é hora de dar sequência. É hora de levar para os recursos humanos para saber se as suas respostas charmosas e personalidade magnética eram apenas fogo de palha ou não. E também para ter certeza de que eles ainda querem transar com você. E, de novo, isso já é óbvio. – E o terceiro encontro? – Bom, aí é quando as coisas ficam sérias. Vocês já saíram duas vezes e obviamente gostam um do outro; a outra pessoa possui todos os requisitos necessários, então agora é hora de colocar tudo em ação. Vocês são compatíveis em algum nível, e geralmente é nesse ponto que vocês tiram a roupa, para ver se “funcionam bem juntos”. Os homens geralmente tentam caprichar: flores, elogios, restaurantes românticos. – Então… sexo. – Às vezes. Mas nem sempre – ele reforçou. – Você não precisa fazer nada que não queira, Demi. Em nenhum momento. Eu vou arrancar as bolas de qualquer pessoa que pressionar você. Senti meu interior se aquecer e tremer. Meus irmãos diziam quase a mesma coisa em diferentes ocasiões, e posso assegurar que soava bem diferente ouvir isso da boca de Joe. – Eu sei disso. – Você quer transar com ele? Joe tentou soar casual, mas falhou miseravelmente. Ele mal conseguia olhar para mim, então apenas ficou olhando para o cordão que puxava na gola de sua camisa. Senti um arrepio descer por minhas costas ao perceber que talvez ele não estivesse ok quanto a isso. Respirei fundo e pensei um pouco. Meu primeiro instinto foi dizer não automaticamente, mas apenas dei de ombros, tentando parecer desinteressada. Dylan era bonito, e eu o deixei me dar um beijo de boa-noite em frente ao meu prédio, mas aquilo não foi nada comparado ao
que experimentei com Joe. E isso era cem por cento problema meu. Eu tinha certeza de que a razão por me sentir tão bem com Joe era sua experiência. Mas também era exatamente por isso que ele estava fora do meu alcance. – Honestamente – admiti. – Não tenho certeza. Acho que vou decidir na hora.
Qualquer dúvida que eu tivesse sobre o protocolo de Joe sobre terceiros encontros se esclareceu rapidamente assim que eu e Dylan entramos no restaurante que escolhi. Dylan queria me levar para algum lugar em que eu nunca estive – algo não muito difícil, já que passei três anos em Nova York e praticamente nunca saí do laboratório. Ele sorriu orgulhoso quando o táxi estacionou e nós descemos em frente ao restaurante Daniel, na Rua 65. Se me pedissem para descrever um restaurante romântico, o resultado seria exatamente o seguinte: paredes cor de creme, com tons prateados e marrons, arcos e colunas gregas que envolviam o salão principal. Mesas redondas com toalhas suntuosas, vasos cheios de plantas viçosas em toda parte, e tudo isso debaixo de lustres de cristal gigantescos. Era o completo oposto do local do nosso segundo encontro. Agora era para valer. Mas eu não estava preparada. O jantar começou bem. Escolhemos os aperitivos, e Dylan pediu uma garrafa de vinho, mas a partir daí tudo foi por água abaixo. Prometi a mim mesma que não trocaria mensagens com Joe, mas, perto do fim, quando Dylan pediu licença para ir ao banheiro, eu cedi.
Acho que vou tomar bomba na matéria sobre o terceiro encontro. Ele respondeu quase imediatamente. Como assim? Impossível. Você não confia no seu professor? Ele pediu um vinho caro e daí ficou ofendido quando eu não quis tomar. Você nunca se importou por eu não beber. O ícone mostrou que ele estava digitando – e parecia ser bastante coisa, pois a resposta estava demorando –, então esperei e olhei ao redor para ter certeza de que Dylan não estava voltando. Isso é porque eu sou um gênio e entendo das coisas: eu ofereço meia taça e você finge tomar pelo resto da noite, então o resto da garrafa é minha. Aí está, é a prova de que sou o cara mais esperto do mundo. Tenho certeza de que ele não enxerga a situação dessa maneira. Então diga que você é muito mais divertida quando está acordada e não babando de sono. E por que você está falando comigo? Onde está o príncipe encantado? Banheiro. Já estamos indo embora. Um minuto inteiro se passou antes de sua resposta. Ah, é? Pois é, vamos para minha casa. Ele está voltando. Depois eu conto como foi.
A viagem até meu apartamento foi constrangedora. Eu estava odiando aquelas regras estúpidas, e as minhas expectativas estúpidas, e o Google estúpido, e, claro, em primeiro lugar, o idiota do Joe por mexer com a minha cabeça. Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu não queria Joe de verdade. Joe tinha um monte de amantes e um passado nebuloso. Joe não queria compromissos nem relacionamentos, mas eu queria ao menos estar aberta à possibilidade. Joe não era uma opção ou parte do plano. Eu gostava de sexo e queria fazer de novo com outra pessoa. E não era assim que isso acontecia? Garoto encontra garota, garota gosta do garoto, garota decide deixar o garoto fazer coisas com ela. Eu definitivamente estava pronta para deixar alguém fazer coisas comigo. Então, onde estava a excitação, o calor subindo por minhas pernas, o desejo que eu sentia só de pensar em levar Joe para o banheiro? O sentimento que me fez sair pela rua às três da manhã e a sensação de que eu poderia explodir no momento em que seus dedos tocavam minha pele? Eu certamente não sentia nada disso agora. A neve estava começando a cair lá fora quando chegamos ao meu prédio. Após subirmos, acendi um abajur, e Dylan parou à porta, constrangido, até eu convidá-lo para entrar. Eu estava agindo no piloto automático. Sentia um nó no estômago, e minha mente estava tão cheia que eu quis colocar a música mais chata possível só para bloquear meus pensamentos. Será que eu devo? Será que eu não devo? Será que eu quero mesmo? Ofereci uma saideira – eu até disse a palavra “saideira” –, e ele aceitou. Fui até a cozinha, tirei algumas taças, enchi com um pouco para mim e muito para ele, torcendo para que ele ficasse com sono. Eu me virei para entregar sua taça e fui surpreendida quando vi que Dylan já estava quase em cima de mim, completamente dentro do meu espaço. Uma estranha sensação de que aquilo estava errado surgiu em meu peito. Dylan tirou a taça da minha mão sem dizer nada e a colocou no balcão. Dedos suaves acariciaram meu rosto e meu nariz. Ele tomou meu rosto nas mãos. Os primeiros beijos foram inseguros, demorados, exploradores. Depois um pequeno estalinho antes de voltar para outro beijo. Fechei os olhos com força no primeiro toque de sua língua, senti meu coração acelerar e desejei que fosse por excitação, e não por aquela sensação de pânico que estava subindo pela minha garganta. Sua língua era macia demais e insegura demais. Lábios meio moles. Seu hálito cheirava a batatas. Minha mente se concentrava no som do relógio na mesa e em alguém gritando lá fora. Quando beijei Joe não me lembro de notar mais nada ao redor. Notei apenas seu cheiro, sua pele e como pensei que fosse explodir se ele não me tocasse fundo lá. Mas nada tão comum quanto o barulho do caminhão de lixo andando na rua. – O que foi? – Dylan perguntou, dando um passo para trás. Toquei meus lábios; eles estavam bem, nem inchados nem abusados. Não estavam completamente arruinados. – Acho que isso não vai dar certo – eu disse. Ele ficou em silêncio por um momento, com os olhos procurando os meus, obviamente confuso. – Mas eu pensei que… – Eu sei. Desculpe. Ele assentiu, dando outro passo para trás antes de passar as mãos no cabelo. – Acho que… se isso é por causa do Joe, diga a ele parabéns por mim.
Fechei a porta depois que Dylan saiu e me encostei na madeira fria. Meu celular parecia pesado no meu bolso, então eu o peguei, busquei o nome Daquele-que-efetivamentesequestrou-meu-cérebro e comecei a digitar. Digitei e apaguei uma dezena de vezes antes de finalmente escolher uma mensagem. Digitei e esperei um momento antes de enviar. Onde você está?

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