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Estranho Irresistivel - Capitulo 9



Nove

– Então, vamos conversar sobre isso hoje? Eu me virei em cima da escada e olhei para Miley. Ela segurava um pincel na altura da cintura e ergueu os olhos para me encarar. – Sobre…? – Sobre você terminar o namoro. Sobre a sua mudança repentina. Sobre Will e esse homem misterioso com quem você está transando e sobre o quanto sua vida está diferente de como estava há dois meses. Mostrei um sorriso fingido. – Ah, isso? O que tem pra falar? Ela riu, mas então passou seu delicado pulso na testa, deixando uma leve mancha de tinta. Nick estava viajando a negócios e Miley estava determinada a pintar todo seu apartamento gigantesco enquanto ele não poderia interferir. Ela parecia exausta. – Por que você simplesmente não contratou alguém para fazer isso? – eu perguntei, olhando ao redor. – Deus sabe que você pode pagar. – Porque eu sou muito controladora – ela disse. – E pare de tentar mudar de assunto. Olha, eu sei como aquele namoro trouxe você para baixo aos pouquinhos, mas eu me sinto estranha por não saber mais sobre o verdadeiro Will. Nick o conhecia por meio dos eventos da cidade, mas eu nunca o conheci muito bem e… – Isso é porque – eu disse, interrompendo-a – você teria percebido na hora quem ele era. Assim como Nick – senti uma familiar pontada no estômago só de pensar em Will. Miley começou a dizer alguma coisa, mas eu ergui a mão num gesto para que ela não continuasse. – Vamos lá. Eu sei que Nick sabia de Will desde o início, mesmo que pensasse que não deveria interferir. E acho que, quando eu te conheci, até mesmo eu suspeitava que Will estava me traindo. Eu não queria ele perto de você, pois você seria capaz de ver até onde eu tinha afundado. Seus olhos se abaixaram e eu sabia exatamente o que ela iria dizer. – Meu amor, eu não precisava conhecer Will pessoalmente para saber que ele era um traidor babaca. Ninguém precisava. A única coisa que o ajudava a parecer minimamente decente era você. Engoli em seco algumas vezes, tentando evitar as lágrimas. – Você acha que isso diz algo sobre mim, tipo, como eu sou tão estúpida e cega por ter passado tantos anos com ele? Lembrei de nosso primeiro aniversário no restaurante Everest, quando ele chegou meia hora atrasado e cheirava fortemente a perfume de mulher. Tão clichê. Quando perguntei se estava com outra pessoa, ele respondeu: “Querida, quando não estou com você, estou sempre com outra pessoa. A minha vida é assim. Mas estou aqui agora”. Na hora entendi que ele estava sempre trabalhando quando estava longe de mim. Mas, na
verdade, aquela foi provavelmente a única vez em que ele foi honesto comigo sobre outras mulheres. – Não – disse Miley, balançando a cabeça. – Você era jovem; ele deve ter parecido irreal para você quando se conheceram. Ele era realmente muito charmoso, Demi. Mas não é saudável mudar tudo de repente e não conversar sobre isso. Você está mesmo bem? Assenti. – Na verdade, estou sim. – Will liga para você de vez em quando? Fiquei encarando o pincel na minha mão e então o deixei cair no balde de tinta. – Não. – Isso incomoda você? – Talvez um pouco. Quando parti, eu queria que ele percebesse o quanto estragou tudo. Seria legal vê-lo rastejar de volta. Mas a verdade é que eu provavelmente não atenderia o telefone, de qualquer forma. Eu nunca voltaria para ele. – O que ele fez quando você contou que estava indo embora? – Gritou. Ameaçou – olhei lá fora pela janela e lembrei do rosto de Will distorcido pela raiva. Seu ódio geralmente me deixava mais calma, mas, naquela última vez, algo dentro de mim estalou. – Ele jogou minhas roupas na rua. E me empurrou para fora. Miley me surpreendeu ao jogar o pincel na lata sem nem olhar onde cairia. Ela se aproximou e me abraçou fortemente. – Você podia destruir a vida dele. – Suspeito que ele vai fazer isso consigo mesmo, eventualmente. Eu apenas queria sumir de lá – sorri em seu ombro. – E fiz o advogado da minha família expulsá-lo ele da casa. Acho que os jornais gostaram dessa parte. A maldita casa era minha, lembra?
Foi bom ter colocado tudo para fora. Miley sabia como é ter o coração partido, e durante nossa conversa sobre Will, lembrei da época em que ela deixou abruptamente a Ryan Media e se isolou em seu apartamento. Quando finalmente ligou para mim, contou tudo que acontecera entre ela e Nick – como eles tinham começado um caso secreto e como tinha decidido que precisava se afastar dele. Foi um momento revelador para mim, mas de um jeito completamente errado. Sua decisão de deixar o emprego e potencialmente sacrificar seu relacionamento apenas aumentou minha vontade de discutir a relação com Will. Eu quis me esforçar por nós dois para manter o namoro. Acontece que Nick era o cara certo para Miley trabalhar a relação. Will nunca seria isso para mim. Pensar no meu ex-namorado sempre me deixava com uma dor de cabeça, mas falar sobre ele trouxe uma bola de chumbo no meu estômago que não desaparecia, não importava quantos quartos eu ajudasse Miley a pintar ou quantos quilômetros eu corresse no parque mais tarde naquele dia. Por um breve momento, considerei ligar para Joe, mas a resposta para um problema nunca está em criar outro. Embora ele quisesse jantar comigo na outra noite, isso não significava que quisesse algo a mais. Ele também não seria o cara certo para eu discutir minha vida. A segunda e terça-feira voaram. Na quarta-feira, tivemos várias reuniões com novos
clientes e parecia que cada minuto durava uma eternidade. A quinta-feira foi pior de um jeito completamente oposto: Miley e Nick foram viajar para o feriado prolongado de 4 de julho, e George foi para sua casa em Chicago. Um silêncio baixou nos escritórios e, apesar de nossa empresa estar prosperando, minha equipe inteira tinha trabalhado estranhamente bem demais. Eu não tinha nada para fazer e os corredores pareciam ecoar ao meu redor. Por que estou aqui?, enviei em uma mensagem para Miley, sem esperar uma resposta
Eu te perguntei a mesma coisa antes de ir embora ontem.
Meus passos ecoaram no corredor quando fui buscar mais café. Já tomei cafeína suficiente para ficar acordada por um mês.
Então envie uma mensagem para aquele seu estranho irresistível. Use essa energia para algo útil.
Não funciona desse jeito.
Meu telefone vibrou imediatamente.
O que isso quer dizer? Então como é que funciona?
Joguei meu celular de volta para dentro da bolsa e suspirei, encarando a janela. Não contei mais nada para Miley sobre o acordo com meu estranho, mas eu podia perceber que a paciência dela estava se esgotando. Felizmente ela não estava na cidade; eu podia desligar o celular e manter o segredo por mais alguns dias.
O clima no mês de junho em Nova York estava lindo, mas, no momento que julho chegou, tornou-se insuportável. Comecei a sentir como se não fosse capaz de escapar do labirinto de arranha-céus e estivesse sendo cozida num forno de tijolos. Pela primeira vez desde que me mudei, senti saudades de casa. Senti falta do vento que soprava do lago, com correntes de ar tão fortes que podiam até derrubar você enquanto andava. Senti falta do céu esverdeado das tempestades de verão, quando eu me aninhava no porão dos meus pais e ficava jogando fliperama com meu pai por horas. Porém, o lado bom de viver em Manhattan era que eu podia andar aleatoriamente por aí e sempre esbarrar em alguma coisa interessante. A cidade tinha de tudo: entrega de yakisoba às três da manhã, homens que encontravam galpões cheios de espelhos para aventuras sexuais e fliperama num bar perto do trabalho. Quando vi o piscar das luzes pela vitrine, quase tive um ataque, sentindo que a cidade tinha me presenteado exatamente com aquilo de que eu precisava. Talvez mais vezes do que eu podia admitir. Entrei no bar pouco iluminado e senti o familiar cheiro de pipoca e cerveja. No meio de
uma quinta-feira ensolarada, o bar estava escuro o bastante para me fazer sentir que já era meia-noite lá fora e que quem não estava dormindo estava ali bebendo e jogando sinuca. A máquina que eu tinha visto na frente do bar era nova, com botões polidos e música emo que não me interessava. Mas, no canto de trás, havia uma máquina antiga do Kiss, com toda a glória de seus rostos pintados e a língua gigante de Gene Simmons. Comprei fichas, pedi uma cerveja e me dirigi no meio das pessoas até a máquina nos fundos. Meu pai gostava de colecionar coisas. Quando eu tinha cinco anos e queria um cachorro, ele comprou um dálmata, depois comprou outro, e então, de repente, acabamos com uma casa cheia de cachorros surdos latindo uns para os outros. Depois começou a colecionar carros antigos, com os clássicos Corvairs, a maioria apenas com a carroceria. Meu pai alugava uma garagem apenas para guardá-los. Em seguida vieram os trompetes antigos. Depois vieram as esculturas de um artista local. E, por último, máquinas de fliperama. Meu pai tinha quase setenta máquinas num depósito e outras sete ou oito na sala de jogos da nossa casa. Na verdade, foi durante um passeio pela sala de jogos que meu pai e Will ficaram amigos. Embora meu pai não soubesse que ele nunca tinha jogado fliperama, Will agiu como se a coleção fosse a coisa mais incrível do mundo e conseguiu parecer ter jogado a vida inteira. Meu pai ficou fascinado, e, na época, eu fiquei muito contente com isso. Eu tinha apenas vinte e um anos e não sabia como meus pais reagiriam com um namorado quase dez anos mais velho. Mas meu pai imediatamente fez tudo que pôde – com seu tempo e talão de cheques – para apoiar nosso namoro e as ambições de Will. Não era difícil convencer meu pai e, uma vez conquistado, era quase impossível perder sua estima. A não ser, é claro, que ele esbarrasse em você num restaurante tendo um jantar romântico com uma mulher que não era sua filha. Apesar do que meu pai me contou e de seu pedido para eu tentar enxergar o verdadeiro Will ao invés da imagem pública que ele tanto cultivava, eu decidi acreditar em Will: ele disse que a mulher era uma pessoa de sua equipe de trabalho que estava deprimida por causa do término de seu namoro e apenas precisava conversar com alguém, só isso. Que chefe bondoso ele era. Dois meses depois, o jornal local o flagrou me traindo com outra mulher. Coloquei uma ficha na máquina e segurei os botões de cada lado enquanto a bolinha prateada aparecia no lançador. Aparentemente, o som estava desligado, pois a máquina permaneceu estranhamente silenciosa quando comecei a jogar. Eu estava enferrujada e jogando muito mal, mas não me importava. Tive alguns momentos iguais a esse nas últimas semanas, momentos de quietude que parecia se cristalizar ao redor. Momentos em que eu simultaneamente registrava o quanto amadureci e o quanto não sabia sobre a vida e os relacionamentos. Alguns desses momentos aconteceram enquanto eu observava Nick e Miley, e o jeito como eles provocavam e adoravam um ao outro na mesma medida. Outro momento foi ali mesmo, jogando fliperama sozinha, sentindo um contentamento que há muito tempo não sentia. Alguns homens vieram conversar comigo – eu estava acostumada com a maneira como os homens parecem não resistir a uma mulher que joga videogame sozinha. Mas, após quatro partidas, senti que havia uma pessoa me observando.
Era como se a pele atrás do meu pescoço estivesse sendo pressionada apenas com a força de uma respiração. Tomando um gole da cerveja, virei e vi Joe de pé do outro lado do bar. Ele estava com outro cara, alguém que eu não conhecia, mas que também estava vestido formalmente e se destacava no bar da mesma maneira que eu com meu vestido cinza e saltos vermelhos. Joe olhou para mim por cima de sua cerveja, e, quando o localizei, ele sorriu e ergueu levemente o copo fazendo um cumprimento. Terminei meu jogo depois de uns vinte minutos e andei até onde eles estavam, tentando evitar um sorriso besta. Eu estava com vontade de encontrá-lo e nem sabia. – Oi – eu disse, deixando escapar um pequeno sorriso. – Oi também. Olhei para seu amigo ao lado, um homem mais velho, com um rosto triste e olhos castanhos bondosos. – Demi Lovato, este é James Marshall, um colega de trabalho e grande amigo. Estiquei o braço e o cumprimentei. – Prazer em conhecê-lo, James. – Igualmente. Joe tomou um gole de sua cerveja e então apontou para mim com o copo. – Demi é a nova mandachuva do financeiro na RMG. Os olhos de James se arregalaram e ele balançou a cabeça, impressionado. – Ah, é mesmo? – O que você está fazendo aqui? – perguntei, olhando ao redor. – Isso aqui não parece um lugar para se fazer negócios no meio da tarde. – Fugi do trabalho mais cedo, igual todo mundo faz nesta cidade. E você, senhorita? Tentando se esconder? – perguntou Joe, com um olhar malicioso em seus olhos. – Não – respondi, aumentando meu sorriso. – Nunca faria isso. Seus olhos se arregalaram ligeiramente, então virou o rosto para o bar e fez um gesto com a cabeça para o barman. – Eu venho aqui porque é sujo e geralmente vazio, além de servirem chope da Guinness. – E eu venho aqui porque tem sinuca e eu gosto de fingir que posso detonar o Joe – disse James antes de tomar toda sua cerveja num longo gole. – Então, vamos jogar. Entendi aquilo como sendo minha deixa e pendurei minha bolsa no ombro, sorrindo um pouco para Joe. – Divirta-se. Vejo você por aí. – Deixe eu acompanhá-la até a saída – então virou para o James e disse: – Peça mais um chope para mim e depois eu encontro você na mesa. Com sua mão nas minhas costas, nós saímos do bar e ganhamos a rua ensolarada. – Oh, droga – ele grunhiu ao ser atingido pela forte luz do sol. – Lá dentro está melhor. Por que você não fica e joga com a gente? Balancei a cabeça. – Acho que vou voltar para casa e lavar algumas roupas. – Trocado por roupas sujas. Que situação. Eu ri, mas então olhei ao redor ansiosa quando ele levantou a mão e tocou meu rosto. Então tirou rapidamente e murmurou: – Certo, certo.
– James sabe sobre nós? – perguntei quase sussurrando. Ele olhou para mim, levemente desapontado. – Não. Meus amigos sabem que estou saindo com alguém, mas não sabem quem é. Um constrangimento surgiu entre nós por um instante e eu não sabia qual era o protocolo numa situação dessas. Era exatamente por isso que nosso acordo sobre as sextas-feiras era ideal: não era preciso pensar muito nem negociar amigos, sentimentos e limites. – Você já reparou como é estranho a gente se esbarrar tanto por aí? – ele perguntou, com uma expressão enigmática no rosto. – Nunca pensei nisso – admiti. – Não é assim que o mundo funciona? Numa cidade de milhões, você sempre vê a mesma pessoa. – Mas quantas vezes isso acontece com a pessoa que você mais quer ver? Desviei o olhar, sentindo uma mistura entre desconforto e excitação em meu estômago. Ele ignorou meu silêncio embaraçado e continuou. – Ainda vamos nos encontrar amanhã, certo? – Por que não iríamos? Ele riu, baixando os olhos até meus lábios. – Porque é feriado, flor. Não sei se tenho privilégios nos feriados. – Não é feriado para você. – Claro que é – ele disse. – Nós comemoramos o dia que nos livramos dos americanos irritantes. – Engraçadinho. – Felizmente para mim, nenhum feriado vai cair em sexta-feira até o fim do ano, então não preciso me preocupar em perder meu dia favorito da semana. – Você estudou o calendário? – senti meu corpo se aproximar dele, perto o bastante para sentir seu calor mesmo debaixo de mais de trinta graus. – Não, acontece que sou meio gênio com números. – Um gênio idiota? Ele riu, fazendo uma careta engraçada. – Algo desse tipo. – Então, onde devo encontrar você amanhã? Ele ergueu a mão novamente e passou um dedo em meu lábio inferior. – Vou enviar uma mensagem. E enviou mesmo. Logo após eu dobrar a esquina e entrar no metrô, meu celular vibrou no bolso com as palavras: 11ª Avenida c/ rua 24. Tem um arranha-céu do outro lado do parque. 19h. Sem indicação sobre qual edifício, qual andar ou mesmo o que eu deveria vestir.
Quando cheguei lá, ficou claro que ele só poderia estar se referindo a um certo prédio. Era todo de vidro e mármore e ficava em frente ao Chelsea Waterside Park. Também tinha uma vista ridícula do rio Hudson. O saguão estava vazio, com exceção de um único segurança na portaria, e, após eu hesitar por um minuto, ele me perguntou se eu era a amiga do sr. Jonas. Desconfiada, hesitei mais um pouco. – Sim.
– Ah, bom. Eu deveria ter perguntado antes! – ele ficou de pé, com seu corpo quase tão largo quanto alto, e acenou para os elevadores. – Ele pediu para que eu deixasse você subir. Encarei-o por um segundo antes de acompanhá-lo até o elevador. O segurança usou uma chave para abrir um painel e apertou o botão C. Era o botão da cobertura. Estávamos indo para a cobertura? Com um aceno amigável, ele saiu do elevador. – Feliz 4 de julho – ele disse, enquanto as portas se fechavam. Havia vinte e sete andares no prédio, mas o elevador era claramente novo e muito rápido, e eu mal tive tempo de pensar no que poderia estar me esperando lá em cima. Quando as portas se abriram, me encontrei num pequeno corredor de frente a alguns degraus que davam numa porta com uma placa: “Acesso à cobertura. Somente pessoal autorizado”. O que mais eu poderia fazer além de pensar que, somente naquele dia, essa placa não valia para mim? Afinal, era uma ideia do Joe. Eu tinha a impressão que ele respeitava regras apenas até encontrar um modo de quebrá-las apropriadamente. A porta se abriu com um chiado metálico e bateu pesadamente atrás de mim. Eu me virei e tentei abrir de novo, mas não consegui. O dia estava quente, com muita ventania, e eu estava presa na cobertura de um prédio. Droga. É melhor que Joe esteja aqui em cima ou eu vou ficar maluca. – Estou aqui! – gritou Joe em algum lugar à minha direita. Soltei um suspiro aliviado e andei ao redor de uma grande caixa de eletricidade. Lá estava Joe, sozinho, com um cobertor, travesseiros e vários tipos de comida e cerveja aos seus pés. – Feliz Dia da Independência, flor. Está pronta para transar ao ar livre? Ele estava incrível, vestido casualmente com jeans e camiseta azul, bronzeado, com seus braços fortes e toda sua altura caminhando em direção a mim. Sua presença física, debaixo do sol, com o vento soprando em sua camiseta e delineando seu peitoral… meu Deus. Vamos apenas dizer que isso provocou coisas em mim. – Perguntei se você está pronta para transar ao ar livre – ele disse com a voz baixa, inclinando-se para me beijar. Seu beijo tinha gosto de cerveja e maçãs e algo intangível que era próprio dele. Excitação, sexo, conforto… ele era meu vício, aquela coisa que você precisa consumir de vez em quando, sem culpa, sabendo que vai te acalmar, mesmo não sendo muito bom para você. – Sim – eu disse. – Então você não está preocupado com helicópteros ou câmeras ou… – olhei atrás dele, apontando para as pessoas que estavam em outra cobertura ao longe – com aquela gente ali com binóculos? – Não. Estreitei meus olhos e corri minhas mãos em seu peito até o pescoço. – Por que você nunca se preocupa em ser visto? – Por que eu não seria eu mesmo se me preocupasse. Eu ficaria paranoico dentro de casa e não sairia para transar com você numa cobertura. Considere a tragédia que isso seria. – Uma grande tragédia. De repente me ocorreu que ele era indiferente tanto para ser visto quanto para não ser visto. Ele não buscava a fama, mas também não a evitava. Apenas vivia na realidade em torno disso. Era uma maneira tão diferente de interagir com a imprensa e o público que até fiquei um
pouco abalada. Parecia tão simples. Ele abriu um sorriso e beijou a ponta do meu nariz. – Vamos comer. Ela havia trazido pães, queijos, salsichas e frutas. Bolachinhas com geleia e pequenos e perfeitos macarons. Numa bandeja, havia tigelas com azeitonas, amêndoas e pepinos franceses. Num balde de metal, havia várias garrafas de cerveja escura. – Bela seleção. Ele riu. – Eu sei – sua mão passeou por minha barriga e seios. – Espero receber sua gratidão. Ele me puxou para o cobertor, abriu uma cerveja e serviu dois copos. – Você mora neste prédio? – eu perguntei, mordendo uma maçã. A ideia de estar tão perto de seu apartamento me fez sentir um pouco nervosa. – Eu moro no prédio que você me deixou depois de passearmos de táxi naquele dia. Tenho um apartamento aqui, mas é minha mãe quem usa – ele ergueu a mão antes que eu pudesse protestar. – Ela está visitando minha irmã em Leeds por algumas semanas. Ela não vai aparecer aqui na cobertura. – E por acaso alguém vai? Ele deu de ombros e jogou uma azeitona na boca. – Acho que não. Mas não tenho certeza – mastigando, ele me encarou por um instante, sorrindo com os olhos. – Como você se sente sobre isso? Uma apreensão aqueceu meu estômago e eu olhei para a porta fechada, imaginando como seria ficar debaixo de Joe no cobertor, sentindo-o me penetrar, e de repente ouvir o som daquela porta abrindo e fechando. – Estou tranquila – eu disse, sorrindo. – Temos a melhor vista para os fogos – ele explicou. – Eles fazem quatro shows simultâneos ao longo do rio, que nós poderemos ver. Achei que você gostaria disso. Eu o puxei para perto e beijei seu queixo. – Estou mais interessada em ver você completamente pelado. Com um pequeno gemido, Joe empurrou os travesseiros para o lado e me deitou em cima do grosso cobertor. Ele sorriu, fechou os olhos e me beijou. Droga, por que ele tinha que ser tão gostoso? Seria mais fácil ter algo casual – embora certamente menos satisfatório – se Joe fosse um amante medíocre, ou se me tratasse apenas como uma forma conveniente de tirar o atraso uma vez por semana. Mas ele era doce, atencioso e tão seguro de si mesmo a esse respeito que era muito fácil me fazer ficar a seus pés, desejá-lo e implorar silenciosamente por ele. Ele adorava quando eu implorava. Ele me provocava para ter mais disso. E eu implorava para ele me provocar ainda mais. Em momentos como esse, quando ele me beijava, correndo as mãos em minha pele e beliscando em locais sensíveis e famintos, eu tinha dificuldades em não compará-lo com o único outro amante que já havia tido. Will era rápido e desconfortável. Após um ano de sexo recreativo, nosso contato nunca foi realmente sobre explorar ou compartilhar. Transávamos em nossa cama, às vezes no sofá. Uma ou outra vez na cozinha. Mas aqui, Joe passava um morango em meu queixo e depois lambia. Ele murmurava dizendo que iria sentir meu sabor e me foderia até que meus gritos ecoassem pelas ruas lá em
baixo. Ele me fotografou enquanto eu tirava minha camisa e depois sua camiseta. Mais fotos enquanto eu lambia descendo por sua barriga, abria sua calça e tomava seu pau duro em minha boca. Eu queria que ele me deixasse ir até o fim desta vez. Ele sussurrou: – Mantenha os olhos abertos. Olhe para mim – e então tirou uma foto. Eu estava perdida o suficiente naquele momento para não me importar. Por fim, seu celular caiu no cobertor e suas mãos agarraram meus cabelos, guiando meus movimentos e os deixando mais lentos. Minha boca se movia tão devagar que achei impossível Joe gozar desse jeito. Mas ele não me deixava acelerar, e seus olhos se tornaram sombrios, famintos, e finalmente o senti inchar. – Tudo bem? – ele perguntou, com a voz trêmula. – Vou gozar. Murmurei um sinal positivo, observando seu rosto corar e sua boca se abrir um pouco enquanto ele encarava meus lábios, que o envolviam. Os sons que ele fez quando gozou foram graves, roucos, com as palavras mais depravadas que já ouvi. Engoli rapidamente, focando na expressão de seu rosto. – Merda – ele grunhiu, sorrindo. Esticou os braços e me puxou para cima em seu peito. O dia já estava acabando. O pôr do sol primeiro pintou o céu de rosa, depois em tom de lavanda, e nós ficamos olhando as nuvens desfilando. Sua pele estava quente, macia, e virei meu rosto para encará-la, sentindo seu cheiro. – Eu gosto do desodorante que você usa. Ele riu. – Ora, muito obrigado. Beijei seu ombro e hesitei, com medo de arruinar o momento. Mas eu precisava dizer. – Você tirou fotos do meu rosto. Senti mais do que ouvi sua risada. – Eu sei. Vou apagar agora. Apenas quero olhar mais algumas vezes – seu braço pesado começou a procurar cegamente ao redor. O celular estava debaixo da minha cintura, então o peguei e entreguei. Juntos, olhamos as fotos. Minha mão em sua camiseta, em seu peito. Meus seios, meu pescoço. Paramos na foto das minhas mãos desabotoando seu jeans e tirando seu pau para fora. Quando chegamos na foto em que meu polegar acariciava a ponta de sua ereção, ele se virou por cima de mim, duro novamente. – Não, espere – eu disse, com as palavras morrendo em minha garganta enquanto ele me beijava. – Apague as fotos com meu rosto, Joe. Com um gemido, ele rolou de volta e mostrou as fotos para mim. Eu não podia negar que era a coisa mais sensual que já vi: meus dentes enterrados em sua cintura, minha língua tocando a ponta de seu pau e, finalmente, minha boca o envolvendo enquanto eu olhava diretamente para a câmera. Meus olhos ficaram tão sombrios que claramente eu continuaria chupando até não poder mais. Com uma foto dessas, eu permaneceria nessa posição para sempre. Ele apertou o botão para apagar e confirmou. – Isso foi a coisa mais sexy que já vi – ele disse, rolando de volta para cima de mim e beijando meu pescoço. – Eu realmente odeio essa regra de proibir os rostos.
Eu não disse nada. Em vez disso, tirei sua calça e ele tirou meu short, puxando minhas pernas ao redor de seus quadris. – Pegue uma camisinha – murmurei em seu pescoço. – Na verdade – ele começou, afastando apenas o suficiente para olhar em meus olhos –, eu estava pensando que a gente podia acabar com a regra da camisinha. – Joe… – Eu trouxe isto – ele puxou uma folha de papel que estava embaixo do cobertor. Ah, a tão romântica folha com resultados de testes. – Eu não transo sem camisinha desde o colegial – ele explicou. – Não estou transando com mais ninguém e quero transar sem camisinha com você. – Como você sabe que estou tomando pílula? – Porque eu vi a cartela na sua bolsa na biblioteca – ele se aproximou de novo, posicionando seu corpo e mexendo os quadris. – Tudo bem? Concordei, mas tive que perguntar: – Você não está preocupado com o meu histórico? Ele sorriu, beijou meu ombro e subiu a mão até encontrar meu seio. – Conte para mim. Engoli em seco, desviando os olhos. Ele encostou um dedo no meu queixo e virou meu rosto de volta. – Eu tive apenas um outro parceiro – admiti. Os olhos de Joe pararam de sorrir. – Você esteve com apenas uma outra pessoa? – Mas ele transou com todo mundo em Chicago enquanto nós estávamos juntos. Ele praguejou baixinho. – Demi… – Então, se você considerar que eu estive com todas as mulheres que ele comeu, então foi bem mais que uma pessoa – tentei sorrir para suavizar as duras palavras que dizia. – Você fez algum teste desde então? – Sim. Acomodei meus quadris em cima dele, querendo isso mais do que imaginava. Will tinha começado a usar camisinha no meio do nosso namoro; só esse fato já deveria ter me alertado de alguma maneira. Na época pareceu um distanciamento deprimente, apesar de Will ter dito que era para nos certificar de não termos filhos antes de estarmos prontos. Percebia agora que ao menos ele tinha me concedido essa delicadeza. Mas Joe estava fazendo do jeito oposto. Distanciamento primeiro, e depois lentamente navegando por esta estranha monogamia que nós inventamos. Merda, Demi. É assim que a maioria das pessoas faz. Eu me apoiei em seus quadris e subi para chupar seu pescoço. – Certo. Joe se moveu para trás, levou a mão entre nós e deslizou para dentro com um gemido grave. Devagar, muito devagar, ele foi me preenchendo. E então cobriu meu corpo com o seu, beijou subindo por meu pescoço e pressionou os lábios nos meus. – Meu Deus, isso é bom – ele sussurrou. – Nada é melhor que isso. Um estranho desespero tomou conta de mim. Nunca havia sentido seu peso tão
completamente, percebendo cada pedaço de pele com tanta intensidade. Parecia um tipo totalmente novo de posse. Seus ombros eram tão largos, cada músculo flexionava e se definia sob as minhas mãos. Por cima e dentro de mim, Joe parecia me consumir de corpo e alma. Ele continuou a me beijar enquanto mexia, começando tão devagar, deixando que eu sentisse cada centímetro. – Alguém poderia olhar para nós. Ver você debaixo de mim, com as pernas abertas, seus pés descalços em minhas costas – ele se apoiou nos cotovelos e olhou para meus seios. – Acho que gostariam de ver isso. Fechei meus olhos e arqueei as costas para que ele tivesse uma visão melhor. Deus, havia uma segurança tão estranha com Joe. Ele nunca fazia parecer estranho ou errado eu gostar da ideia de ter alguém nos observando. Era como se ele adorasse isso tanto quanto eu. E até quisesse ser flagrado. – O que acha de ter alguém assistindo você transar algum dia desses? – ele perguntou, acelerando um pouco. Soltei toda minha honestidade quase sem fôlego: – Gosto da ideia de pessoas verem você desse jeito comigo. – É mesmo? – Eu não sabia que eu gostava disso antes de conhecer você. Ele praticamente se deitou em cima de mim, com seu corpo pesado e quente. – Quero dar a você tudo que quiser. Amo o jeito como você se transforma quando estou transando com você e observando ao mesmo tempo. Quando tiro as fotos, você perde essa sua barreira misteriosa e se abre por inteira, como se estivesse finalmente respirando. Eu me estiquei debaixo dele, puxando-o o mais perto que pude, e olhei para o céu escurecido no momento em que os primeiros fogos de artifício disparavam acima do rio. O som veio depois da luz, e a explosão fez a cobertura vibrar debaixo das minhas costas. Mais fogos explodiram em cascatas tão brilhantes e tão perto que senti como se o próprio céu pegasse fogo. O edifício vibrava debaixo de mim, fazendo meus ossos tremerem e ecoarem em meu peito. – Meu Deus – ele disse, rindo e mexendo mais forte, estocando com força, cada vez mais fundo. Eu já conhecia muito bem seus sinais a essa altura. Ele mal conseguia se segurar. O barulho era quase ensurdecedor por estarmos tão perto do rio, e o ar ficou pesado com toda a fumaça e as luzes. Ele apoiou a mão ao lado da minha cabeça, ergueu seu corpo nos joelhos e penetrou mais forte, tirando uma foto de onde nos juntávamos enquanto as luzes banhavam minha pele com cores em azul, vermelho e verde. Respirei fundo e deixei o mundo acabar com um grito agudo, mas meu som se perdeu no meio do estrondoso espetáculo ao nosso redor.
Joe puxou um cobertor e nos cobriu, talvez menos por estar frio e mais porque tínhamos acabado nosso showzinho para um público imaginário. Ficamos apenas bebendo cerveja e assistindo aos fogos de mãos dadas. – Você disse que faz tempo que não tem um relacionamento sério, então você acha estranho ser monógamo com uma parceira de sexo casual? – eu perguntei, me virando para encarar seu rosto.
Ele riu e levou a cerveja até a boca. – Não. Eu não sou um babaca tão grande que não poderia ficar com apenas uma pessoa, se for isso o que ela quer. – O que ela quer? Você não se importaria se eu ficasse com outro homem? Ele balançou a cabeça e olhou de volta para o rio, onde a fumaça estava começando a baixar. – Na verdade, acho que me importaria sim – levantou a cerveja novamente e esvaziou a garrafa num único gole. – Nós não usamos camisinha hoje, se você se lembra. Eu não poderia fazer isso se você estivesse ficando com outros homens. Ele esticou o braço para pegar outra cerveja e o cobertor deslizou em seu ombro, revelando suas costas nuas, cada músculo delineado perfeitamente. Eu me inclinei e beijei o caminho entre sua coluna até o pescoço. – Quando foi a última vez que você teve uma namorada? Cecily foi uma namorada? – Na verdade, não – ele voltou a ficar ao meu lado e me abraçou debaixo do cobertor. – Fiquei com algumas mulheres exclusivamente desde que me mudei para cá. Mas faz uma eternidade desde que me apaixonei por alguém, se é isso que você quer dizer. – Sim, acho que é isso que eu quis dizer. – Tive uma namorada séria por um tempo na faculdade. Ela me trocou por um amigo meu. Acabou casando com ele. Fiquei com um pouco de raiva das mulheres por um tempo depois disso. Agora sei que relacionamentos precisam de muito trabalho, energia e tempo – tomou mais um gole. – E não tenho muito disso ultimamente, enquanto estou tentando cuidar da empresa. Não me oponho à ideia de ter alguém, mas é difícil encontrar o par certo, o que pode soar estranho numa cidade com milhões de pessoas. Não senti absolutamente nada quando ele disse isso, nenhuma esperança de o par certo ser eu, nem preocupação de que Joe estivesse procurando outra pessoa. Para alguém como eu, que era um poço de sentimentos, isso foi chocante. Esse vazio parecia se espalhar em meu peito. – Acho que é melhor eu ir – eu disse, alongando meu corpo e deixando o cobertor cair. Joe olhou para minha nudez antes de encontrar meus olhos. – Por que você sempre tem pressa para ir embora? – Nós não passamos as noites juntos – eu o lembrei. – Nem mesmo nos feriados? Eu não me importaria de ter uma transa matinal. Podemos usar o quarto de hóspedes da minha mãe. – Então ligue para o Mike. Ele é bonitinho. – Eu ligaria, mas ele sempre insiste em ficar abraçado na cama depois. Isso é embaraçoso – ele fez uma pausa. – Espere. Você acha o Mike bonitinho? Eu ri, tomando o último gole da minha cerveja e pegando minhas roupas. – Sim, mas você faz mais o meu tipo. – Elegante? Bem-dotado no meio das pernas? Divino? Olhei para ele e ri mais um pouco. – Eu ia dizer que você tem uma ótima boca suja. Seus olhos se tornaram sombrios, e ele me beijou. – Fique até amanhã. Por favor, minha flor. Quero comer você pela manhã, quando estiver ainda meio sonolenta.
– Não posso, Joe. Ele me encarou por um longo momento e então desviou o olhar, tomando um gole da cerveja e murmurando: – Ele realmente causou um estrago em você. Senti meu sorriso murchar. – É melhor não tentar entender uma mulher que deseja que sexo seja apenas sexo. Sim, Will causou um estrago em mim, mas não é por isso que eu não quero ficar. Eu o observei por um momento, quando me lembrei de estampar um sorriso no rosto novamente. – Mal posso esperar para saber o que você vai inventar da próxima vez.
Quando cheguei ao meu apartamento, a excitação de estar com Joe se transformou em uma estranha dor no meu peito. Joguei minhas chaves e a bolsa na mesa e me encostei na parede, encarando a escuridão da sala de estar. Meu apartamento era pequeno, mas, nos poucos meses que estive em Nova York, eu já o sentia mais como um lar do que o grande apartamento que dividi com Will por quase cinco anos. Mas, nesta noite, com a música e os fogos de artifício ecoando por entre os prédios e o som das celebrações nas calçadas lá fora, meu pequeno espaço parecia solitário pela primeira vez desde que me mudei. Sem acender nenhuma luz, tirei minhas roupas enquanto caminhava até o banheiro. Entrei no chuveiro, fiquei debaixo da água quente e fechei os olhos, com esperança de que o som da água abafasse o barulho em minha mente. Não funcionou. Meus músculos estavam tensos e doendo, e o súbito desejo que surgiu no meio das minhas pernas deixou quase impossível que meus pensamentos não girassem em torno de Joe. Nunca fui o tipo de garota que fica obcecada por um homem, mas isso definitivamente parecia estar acontecendo agora. Joe não era apenas lindo, ele era legal também. E eu sabia que era o sexo que nos tornava compatíveis. Eu ainda tentava entender minha nova obsessão de ser observada por ele – talvez até por outras pessoas –, mas essa necessidade surgia como um vapor debaixo da minha pele: era quente, excitante e impossível de ignorar. E Joe parecia aceitar, até mesmo incentivar, de um jeito tão fácil quanto tudo o mais que fazia. Enquanto meu relacionamento com Will existiu apenas para exposição pública, Joe parecia explorar meu desejo pouco familiar de ser observada ao mesmo tempo em que respeitava minha necessidade de privacidade. Por mais que fosse um playboy e parecesse tão errado para mim em todos os sentidos, ele permitia que eu experimentasse algo que nunca sentiria segurança de fazer com Will. Será mesmo que era tão simples assim? Será que eu estava mantendo Joe por perto porque era o oposto de tudo que tive com Will? Meu namoro com Will tinha uma falsa profundidade e nenhuma excitação. Meu relacionamento com Joe era intencionalmente simples, e mesmo vê-lo à distância me fazia sentir como se uma tocha se acendesse em meu peito. Desliguei a água que, subitamente, ficou quente demais. Por um instante, eu me arrependi por não estar com Joe. Joguei fora a chance de tocar sua pele, ouvir seus sons e sentir seu
peso sobre mim a noite toda. Mas, quando entrei em meu quarto e olhei meu reflexo no espelho, senti que minha imagem parecia estranha para mim. Minha postura estava melhor, eu piscava menos, observava mais. Eu podia perceber até mesmo uma sabedoria nos meus olhos que não existia antes.

Estranho Irresistivel - Capitulo 8



Oito

Na tarde de segunda-feira, meu humor estava péssimo. Fazia um calor de matar lá fora e minha irmã mais velha estava me enchendo a paciência para que eu tentasse convencer nossa mãe a se mudar de volta para Leeds e a sala de Mike tinha uma vista melhor. – Você é um cretino – eu murmurei, espetando o frango no meu prato. Mike soltou uma risada e abocanhou um enorme pedaço de seu almoço. – Você está falando da minha vista de novo? – Que porcaria – apontei os pauzinhos na cara dele, mal conseguindo entender o que ele dizia enquanto mastigava. – Como foi mesmo que você acabou ficando com aquela sala? – Você se atrasou no dia da mudança. Eu coloquei a placa com meu nome na porta. Simples assim. Certo. Foi a primeira vez que eu tinha transado com uma mulher na casa dela desde que havia me mudado para Nova York. E, como eu já esperava, acabei ficando preso com ela e me atrasei. Normalmente, eu prefiro transar no meu apartamento, onde sempre posso dar uma desculpa para que ela não fique a noite inteira. Mas, na casa dela, a mulher acaba oferecendo chá, ou algo assim, e, no fim, pede para eu dormir lá. Eu não era um completo babaca. Sempre fui aberto a ter um relacionamento estável como qualquer pessoa normal. Mas ainda não tinha encontrado uma mulher que me fizesse querer dormir em outra cama que não fosse a minha. As mulheres que eu encontrava sempre vinham até mim sabendo quem eu era, sabendo quem elas achavam que queriam. Para uma cidade grande, Nova York às vezes parecia minúscula. Olhei pela janela, para a fantástica vista – maldito Mike – e pensei em Demi. Ela era minha distração permanente nas últimas semanas. Aquela garota era um mistério. Se uma mulher quisesse que um homem pensasse nela constantemente, ela deveria dizer que ele só poderia se encontrar com ela uma vez por semana. Só isso. E diga adeus à sua concentração. Então, ali estava eu me perguntando: se ela pedisse que eu dormisse na casa dela numa noite dessas, o que eu diria? Você sabe a resposta disso, seu tonto. Você diria sim. Transei com algumas dezenas de mulheres desde que me mudei para a América, mas, ultimamente, estava com dificuldades para lembrar dos detalhes. Cada memória sobre sexo me fazia pensar em Demi. Ela era ao mesmo tempo doce e selvagem. Ela se escondia tanto, mas, mesmo assim, deixava que eu fizesse qualquer coisa. Nunca encontrei uma mulher tão paradoxal: ela se mantinha em segredo, mas, de certa forma, também se abria totalmente. – Cara, eu conheci uma garota. Mike enfiou os pauzinhos de volta na comida chinesa e deslizou para mais perto. – Então você resolveu falar? – É. Talvez. – Você tem se encontrado com ela já faz um tempo, não é? – Pois é, faz algumas semanas.
– Apenas ela? Assenti. – Ela é uma transa incrível e pediu para eu não dormir com mais ninguém. Mike fez uma expressão de surpresa. Eu ignorei. – Mas ela é diferente. Existe algo nela… – esfreguei minha boca, olhei pela janela. Que merda está acontecendo comigo hoje? – Não consigo tirá-la da minha mente. – Eu a conheço? – Acho que não – tentei lembrar se Mike tinha sido apresentado à Demi no baile. Fiquei com ele na maior parte da noite depois de deixá-la para ajeitar o vestido e retocar a maquiagem, e acho que não os vi conversando em nenhum momento. – Então você não vai me dizer quem ela é – Mike soltou uma risada e se recostou na cadeira. – Por acaso ela capturou sua alma, jovem amante? – Vai se ferrar – peguei o saco plástico e joguei as embalagens dentro. – Eu gosto dela. Mas estamos apenas transando, por enquanto. Foi um acordo mútuo. – O que é bom – ele disse, cuidadosamente. – Ela não parece estar atrás do seu dinheiro. – Você acha que sou um cretino por pensar que isso é estranho? Ela não quer algo mais. E, mesmo que eu quisesse, acho que ela iria simplesmente sumir. Ela vive morrendo de medo de ser vista em público comigo. Ela não quer nada de mim além do meu pau. Você acha que é por causa disso que eu gosto tanto dela? E, como sempre faço quando penso em Demi, comecei a imaginar quais eram suas verdadeiras intenções. Mike assoviou baixinho. – Ela parece fantástica. Mas não posso imaginar por que estaria interessada no seu pau. Com essa coisinha você nunca vai ser metade do homem que sua mãe é. – Por acaso você acabou de insultar a Brigid? Você é um filho da puta. Ele deu de ombros e abriu um biscoito da sorte. – Você abaixa o assento da privada para mijar, não é? – perguntei, com um sorriso no canto da boca. – Não. Não gosto de molhar meu pinto. – Mike. A única maneira de você conseguir dar prazer para uma mulher é entregando seu cartão de crédito para ela. E, de alguma maneira, no meio da sequência de insultos que se seguiu, Mike conseguiu fazer eu deixar de agir como um tonto patético sobre a coisa toda e parei de me preocupar achando que Demi estava apenas brincando com a minha cabeça. —
Depois do almoço, saí do escritório, tomando um táxi quase que imediatamente para dar um pulo até uma instalação de arte que estava sendo preparada no Chelsea. Ajudei um antigo cliente a encontrar e abrir uma galeria, e ele estava montando uma exposição com fotografias raras de E.J. Belloq por apenas algumas semanas. Só foi preciso um e-mail dele – dizendo “Chegaram!” – para que eu interrompesse o resto dos meus afazeres. Eu estava louco para ver as inéditas fotos reconstruídas com os negativos da coleção Storyville, de Belloq. Embora eu tivesse encontrado seu trabalho já tardiamente ao longo da minha formação, foi a sua arte que despertou minha fascinação por fotografias do corpo humano, com seus ângulos, simplicidade
e sua vulnerabilidade cotidiana. Apesar de que, até conhecer Demi, eu nunca havia tirado uma foto minha com uma amante. Acontece que minhas fotos com Demi de maneira nenhuma imitavam a arte de Belloq, mas, ainda assim, aquelas fotos antigas me lembravam dela. Lembravam sua cintura fina, sua barriga macia e a gentil curva de seus quadris. Olhando para meu celular, desejei pela milésima vez ter guardado ao menos uma foto de seus olhos quando estávamos fazendo amor. Merda. Transando. Quando estávamos transando. —
O clima estava quente mas não extremamente úmido lá fora, e, após ver as fotos, eu quis caminhar um pouco para conter minha excitação. O trajeto entre Chelsea e o centro da cidade foi agradável, mas, quando cheguei na Times Square, percebi que um homem com uma câmera estava me seguindo. Sempre pensei que os paparazzi eventualmente descobririam que eu não sou tão interessante quanto eles pensam, mas isso ainda não tinha acontecido. Eles me perseguiam nos fins de semana, nos eventos sociais, em cada aparição pública. Fazia quase quatro anos desde que algo interessante tinha acontecido comigo – com exceção dos ocasionais namoros com mulheres semifamosas – mas, quase sempre que eu me atrevia a andar por Manhattan, alguém acabava me encontrando. E, de repente, meu bom humor desapareceu; eu estava pronto para voltar para casa e assistir um pouco de Monty Python e beber umas cervejas. Ainda era terça-feira e eu já estava louco para encontrar Demi. – Vai se ferrar – falei por cima do ombro. – Apenas uma foto, Joe. Uma foto e um comentário sobre o rumor de você com a Keira. Merda. De novo com esse lixo? Eu a encontrara uma vez, num show há um mês. – Sim. Estou totalmente comendo a Keira Knightley. Você acha mesmo que eu sou a melhor pessoa para pedir uma confirmação? De repente, quase morri do coração quando um táxi freou ao meu lado e a porta se abriu. Um braço feminino se esticou e freneticamente acenou para que eu entrasse, até que Demi se inclinou para fora e disse: – Entra logo! Levei vários segundos até que meu cérebro se conectasse com minha boca e minhas pernas. – Merda. Ótimo. Maravilha. Entrando no táxi, joguei minha pasta no chão e olhei para ela. – Oi, Joe. Você parecia meio… perseguido. – Você percebeu isso muito bem – eu disse, encarando seu rosto. Ela deu de ombros, soltando aquele sorriso estranho e elusivo. – Malditos paparazzi – murmurei. Demi cruzou as pernas e deu de ombros. – Coitadinho de você. Quer um abraço? Ela tinha um fogo nos olhos que eu não tinha visto desde a noite na boate quando ela me arrastou pelo corredor. Você está ferrado, amigo.
Ela estava usando um vestido vermelho curto com alguns botões abertos na parte da frente. Entendi onde ela queria chegar. Olhei para o seio esquerdo e vi a renda preta do sutiã aparecendo. – É bom te ver – eu disse para seu decote. – Tive um dia cheio. Posso mergulhar meu rosto em você? – Nada de sexo no meu táxi! – gritou o motorista. – Para onde vamos agora? Olhei para Demi esperando uma resposta, mas ela apenas ergueu uma sobrancelha e sorriu. – Continue em direção ao parque – murmurei. – Ainda não sei direito para onde vamos. Ele deu de ombros, virou a direção e murmurou alguma coisa que não consegui ouvir. – Você está linda – eu disse para Demi, me inclinando para beijá-la. – Você sempre diz isso. Eu sorri e lambi seu pescoço. Meu Deus. Ela tinha o sabor de chá de ervas e laranjas. – Venha para casa comigo. Ela balançou a cabeça, rindo. – Não. Tenho ingresso para um show às oito. – E você vai com quem? – Comigo mesma – ela disse, endireitando-se e olhando para a janela. Busquei sua mão e entrelacei nossos dedos. – A banda vai tocar outro dia. O que significa que você deveria ir para casa comigo e cavalgar meu pau. Os olhos de Demi se arregalaram enquanto ela olhava rapidamente para o motorista. Ele olhou para nós pelo retrovisor, mas não disse nada. – Não – ela sussurrou, com os olhos procurando os meus. Ela tentou soltar minha mão, mas eu não deixei. – Mas posso pedir uma coisa? Com uma mecha de cabelo atrás da orelha e parecendo tão pequenina ao meu lado no banco de trás, senti um pânico totalmente estranho: será que nossa relação era algo errado para ela? Nos momentos em que se mostrava vulnerável, ela parecia tão inocente. – Qualquer coisa – eu disse. – Estive pensando sobre isso. Por que você é tão famoso por aqui, afinal? Sim, você é lindo e bem-sucedido. Mas Nova York está cheia de lindos e bem-sucedidos. Por que os fotógrafos perseguem você pela rua numa terça-feira qualquer? Ah. Eu sorri, percebendo que, embora tenha pesquisado sobre mim na internet, ela não tinha cavado muito fundo. – Pensei que você tinha feito a lição de casa. – Fiquei entediada depois de três páginas com fotos de você vestindo smoking rodeado de mulheres. Tive que rir. – Eu garanto, não é por isso que eles me perseguem – parei por um instante, pensando em por que eu estava falando sobre isso naquele momento, depois de ter ficado tanto tempo calado. – Eu me mudei para cá já faz quase sete anos – e comecei a falar. Ela assentiu, claramente sabendo dessa parte – e, cerca de um mês depois de chegar, conheci uma mulher chamada Cecily Abel. Suas sobrancelhas se juntaram. – Conheço esse nome… Eu conheço essa pessoa?
Dei de ombros. – Talvez conheça, mas não me surpreenderia se não conhecesse. Ela era famosa na Broadway, mas, como é frequente com os atores do teatro nova-iorquino, sua fama não se estendia muito para o resto da América. – O que você quer dizer com era famosa na Broadway. Olhei para seus dedos entrelaçados aos meus. – Acho que Cecily e sua dramática saída da cena teatral são a razão de eu ser “famoso”. Ela deixou Nova York bruscamente, depois de enviar uma carta que foi publicada no New York Post. A carta falava de todos os pontos negativos desta cidade, incluindo – fiz sinal de aspas – “diretores safados, políticos mulherengos e investidores gananciosos que não sabem perceber uma coisa boa quando encontram uma”. – Ela amava você? – Sim. E, como é tão comum na vida, não era correspondida. Os olhos da Demi tornaram-se um pouco mais sombrios e sua boca parou de sorrir. – Você parece que não leva isso muito a sério. – Acredite em mim, eu levava Cecily muito a sério. Mas ela está bem agora. Tem um casamento feliz na Califórnia. Mas, por um tempo, precisou ficar aos cuidados de um médico – antes que ela pudesse dizer alguma coisa, eu acrescentei: – Ela era uma boa amiga, e sua decisão de deixar tudo para trás mostrou que ela não era muito… estável. Na verdade, existiam várias razões para ela deixar a cidade e eu fui apenas a gota d’água. Eu simplesmente não a amava do jeito que ela me amava. Demi olhou para o teto do carro e parecia estar considerando o que eu falei. – Foi melhor você ter sido honesto com ela. – É claro. Em última instância, o estado mental dela não dependia de saber se eu a amava ou não. Ela era complicada de qualquer jeito… mas isso não é uma boa história para os jornais, entende? Demi olhou de novo para mim com os olhos relaxados e o sorriso de volta. – Então as pessoas ficaram interessadas em saber quem era esse homem que partiu o coração da estrela local e a levou à loucura. – E assim, eu me tornei um mistério. A imprensa adora um playboy malvado, e a carta dela foi muito dramática. O jeito como eles me retratam é verdadeiro, mas ao mesmo tempo não é. Eu realmente amo as mulheres e realmente amo sexo. Mas minha vida raramente é tão interessante quanto os tabloides gostariam. Aprendi a não me importar muito com o que as pessoas falam de mim. Nosso táxi desviou de um garoto numa bicicleta e o motorista buzinou alto. No movimento, o peito de Demi pressionou meu braço e eu apertei de volta, sorrindo com o canto da boca, enquanto ela erguia uma sobrancelha numa exasperação simulada. – Existem muitas fotos de você na internet. – Algumas dessas mulheres eram amantes, outras não – passei o polegar pela curva do seio, e ela baixou os olhos para observar, vidrada. – Eu não tenho nenhuma aversão incomum a compromissos sérios. Apenas faz tempo que não me envolvo com ninguém dessa maneira. Sua cabeça subiu de repente, e eu pude ver com perfeita clareza suas pupilas se dilatando e seus lábios deixando escapar um pequeno sorriso. – Sim – admiti, rindo. – Acho que nosso acordo é tipo um compromisso. Só que não conta
se você não aceita sair num encontro de verdade comigo. Seu sorriso encolheu um pouco. – Acho que nós não somos bons em nada além do que já temos. – Bom, certamente somos bons naquilo que fazemos. Falando nisso, conversei sobre você com o Mike – eu disse, deixando que o vibrante calor de sua irritação se concentrasse em meu rosto por um momento. Era divertido provocar essa garota, tenho que admitir. – Sem dizer nomes, flor. Sossega. Esperei ela perguntar o que eu disse. E esperei mais um pouco. Finalmente, olhei para seu rosto e a encontrei ainda me observando cuidadosamente. Estávamos parados num sinal vermelho e tudo dentro do táxi parecia completamente quieto. – Então? – ela disse, abrindo lentamente um sorriso maldoso quando o carro começou a acelerar. – Você disse para Mike que encontrou uma mulher que gosta de transar em público? – Não no meu táxi – o motorista gritou tão alto que nós dois tivemos um sobressalto e começamos a rir. Ele freou e gritou de novo: – Não no meu táxi! – Não se preocupe, meu amigo – eu disse. Virei para Demi e murmurei: – Ela não transa comigo em carros. Nem nas terças-feiras. – Não mesmo – ela sussurrou, embora tenha me deixado beijá-la novamente. – É uma pena – eu disse em sua boca. – Sou bom em carros. E especialmente bom nas terças-feiras. – Então, sobre essa conversa com Mike – ela disse, esticando o braço e enfiando a mão debaixo do casaco dobrado no meu colo. – Se você não falou meu nome, então o que você contou para ele? – ela pressionou a palma da mão em meu pau e apertou. Será que ela iria me masturbar no táxi? Perfeitamente brilhante. – Vá para o cruzamento da rua 65 com a Madison – eu disse para o motorista. – E vá pelo caminho mais longo. O motorista jogou um olhar para mim, provavelmente pensando que eu estava louco por querer passar pela Columbus Circle na hora do rush, mas assentiu e virou na rua 57 em direção à Broadway. – Nada de sexo no táxi – ele disse, de um jeito mais calmo desta vez. Eu me virei para Demi. – Mencionei para Mike que conheci uma mulher que eu estava comendo feliz da vida. Posso também ter mencionado que essa mulher era diferente de qualquer outra que já conheci. Demi abriu meu zíper, habilmente tirou meu pau para fora e então apertou fortemente. Um calor estranho se espalhou por minhas costas, quando percebi, ao mesmo tempo que ficava duro, que ela estava aprendendo a me tocar com muita familiaridade. – Sou diferente como? – ela se inclinou, chupou minha orelha e então sussurrou: – As outras mulheres não agarram seu pau dentro de táxis? Eu a encarei, tentando entender quem era essa mulher, tão jovem, tão inocente e tão gostosa, mas que não precisava de nada de mim além de uma boa transa. Será que ela estava me enganando? Será que tudo isso era real? Ou será que ela iria tirar a máscara após alguns orgasmos e admitir que não gostava mais do nosso acordo e queria algo mais?
Provavelmente. Mas, enquanto eu olhava para ela – em seus lábios vermelhos e nos grandes olhos castanhos, tão brincalhões e tão depravados – de jeito nenhum eu iria desistir dela antes que ela desistisse de mim. – Não contei muita coisa para ele, na verdade. Conversas sérias com o Mike geralmente descambam para insultos sobre tamanho de pênis. – Bom, então tenho certeza que você pegou leve com ele. “Eu me recuso a entrar nessa discussão com um homem desarmado” – ela disse, rindo em meu pescoço e começando a me acariciar. – É verdade – sussurrei, me virando para beijá-la. – Mas vou ser honesto: não tenho ideia do tamanho do pau dele. – Se você quiser mesmo saber, eu posso descobrir e depois te contar. Eu ri, gemendo em sua boca. – É bom conversar com uma mulher que não sente necessidade de exibir sua inteligência o tempo todo. – Nada de sexo – gritou novamente o motorista, olhando para nós pelo retrovisor. Levantei as mãos e sorri para ele. – Não estou tocando nela, amigo. Aparentemente ele decidiu nos ignorar, aumentando o volume do rádio e abaixando a janela para deixar entrar a brisa do entardecer e os incessantes barulhos da cidade. A mão de Demi começou a subir devagar, torcendo na ponta, e então desceu novamente. – Eu chuparia se achasse que ele não iria notar – ela sussurrou. – Quer dizer, você merece o melhor. Ao menos você é lindo por dentro, Joe. E é isso que conta. Explodi numa risada, pressionando meu rosto em seu pescoço para abafar o gemido que se seguiu quando ela concentrou seus esforços na minha ponta. – Merda, isso é bom. Um pouco mais rápido, meu amor. Pode ser? Ela vacilou ao ouvir o termo carinhoso, e então virou o rosto para beijar meu queixo, com seu punho fechado fortemente e se movendo com velocidade em meu pau. Ela olhou para o motorista, mas ele estava absorto ouvindo o rádio e gritando para o trânsito. – Assim? Você gosta assim? – ela perguntou. Eu assenti, sorrindo ao lado de seu rosto. – Nunca imaginei que você fosse tão boa nisso. Sua risada vibrou ao longo do meu pescoço e debaixo da pele. Até então não tinha escutado ela soltar um som tão bobo e indelicado. Era outra muralha erguida por ela que eu penetrava. Senti uma vitória em meu peito e, por um breve momento, eu quis gritar para o mundo que ela estava começando a me aceitar. Demi lambeu meu pescoço até chegar à boca, onde abocanhou meu lábio inferior com os dentes. – Você tem um pau perfeito – ela disse. – Você está me fazendo querer também nas terçasfeiras. – Merda. Quando gozei, apertando os punhos e o queixo, percebi que Demi também me fez esquecer essa coisa toda de pensar que ela estava apenas brincando com minha mente. Ela pegou a bolsa, encontrou um lenço e limpou a mão sem tirá-la de dentro, fazendo-me sorrir enquanto eu escondia a evidência do motorista. Então ela se inclinou e me beijou de um
jeito tão doce que me fez querer jogá-la no banco e fazê-la gozar em minha língua apenas para ouvir seus gemidinhos roucos. – Está se sentindo melhor? – ela perguntou calmamente, os olhos vasculhando tudo. Aprendi outra coisa sobre Demi com aquela expressão: seu instinto primário – aquele que ela constantemente combatia – era se esforçar para me agradar. Mas então paramos a um quarteirão do meu apartamento e ela se ajeitou no banco, sorrindo prazerosamente. – É aqui que você vai descer? Eu hesitei, imaginando se ela gostaria de ficar comigo. – Acho que sim, a não ser que você queira… Sua voz saiu baixinha, o que entendi ser uma tentativa de amaciar suas duras palavras: – Vejo você na sexta-feira, Joe. Tínhamos terminado. Eu estava dispensado

Estranho Irresistivel - Capitulo 7

Sete

Talvez fosse por isso que Wil conseguia fazer tanta coisa num dia só. Nada clareia mais a mente que gozar gritando com um lindo estranho que não esperava que eu fosse lavar e passar suas roupas depois. Na segunda-feira de manhã, eu me senti energizada e completamente concentrada na reunião de departamento das nove horas. Os outros executivos e suas assistentes tinham finalmente chegado ao novo escritório e, graças ao trabalho de Nick, nós fomos inundados com a perspectiva de vinte novos clientes. Fui soterrada com trabalho. No lado positivo, agora eu teria pouco tempo para fantasiar com bonequinhos de vodu do Wil e técnicas de castração. Mas, no meio da correria – pulando de reunião em reunião, uma parada no banheiro e um momento de sossego após um telefonema –, eu lembrei de minha noite com Joe, seu corpo malhado e nu atrás de mim, minhas pernas pesadas com uma deliciosa exaustão e suas mãos agarrando meus cabelos. “Não feche os olhos, não se atreva a fechar os olhos. Estou quase lá.” Apesar da diversão daquela noite, eu me senti meio fora do ar no sábado de manhã. Não exatamente arrependida, mas um pouco envergonhada por ter realmente feito aquilo. Comecei a pensar que eu estava passando uma má impressão para Joe, aparecendo num local desconhecido e disposta a deixá-lo fazer o que quisesse comigo na frente de centenas de espelhos, onde provavelmente ninguém poderia me ouvir se eu precisasse de ajuda. Acontece que, mesmo debaixo daquela fina camada de mortificação, eu sabia que nunca havia me sentido tão viva. Ele fez com que eu me sentisse segura, por mais estranho que possa parecer, e como se eu pudesse pedir qualquer coisa. Como se ele tivesse visto algo em mim que mais ninguém viu. Ele não pareceu nem um pouco surpreso ou crítico quando exigi meus termos em seu escritório. E nem piscou quando eu disse que não transaríamos em nenhuma cama. Recostei-me na cadeira em minha sala, fechando os olhos à medida que a lembrança da última vez em que transei com Wil, mais de quatro meses atrás, voltava. Nós tínhamos desistido de discutir por causa dos seus horários ou dos meus. A falta de intimidade em nossa relação parecia uma sombra negra que crescia para cobrir o quarto. Tentei apimentar as coisas, aparecendo em seu escritório tarde da noite vestindo apenas um sobretudo e saltos altos. Mas seria melhor se eu tivesse usado uma fantasia de patinho, de tão constrangido que ele pareceu ao me ver. – Não posso transar com você aqui – ele disse rispidamente, olhando por cima do meu ombro. Talvez ele tenha dito aquilo porque só podia transar com outras mulheres no escritório. Eu me senti humilhada. Sem dizer nada, virei e fui embora. Mais tarde, naquela noite, ele voltou para casa e tentou compensar: me acordou, me beijou, tentando ir devagar e fazer direito.
Mas não foi bom. Meus olhos se abriram quando a realidade pareceu me acertar nesse momento totalmente aleatório. Joe fazia com que eu me sentisse tão bem, e Wil apenas fazia com que eu me sentisse horrível. Estava na hora de amadurecer e parar de pedir desculpas por fazer as coisas que eu queria.
Embora eu ainda o desejasse desconfortavelmente muito, saber que Joe iria me contatar em algum momento me fez não ficar a semana inteira pensando em como e onde iria acontecer. Mas, quando chegou a hora do almoço na sexta-feira e ele ainda não tinha entrado em contato, pensei que, se ele quisesse acabar as coisas entre nós, só precisaria parar de enviar as mensagens. Não combinamos nenhuma regra sobre isso. Na verdade, a maneira como eu arranjei tudo significava que o jeito mais gracioso de se afastar seria simplesmente desaparecer. Havia algo de reconfortante sobre um compromisso que era tão tênue a ponto de poder evaporar. Mesmo assim, eu queria encontrá-lo de novo. Deixei meu celular na gaveta da minha mesa, determinada a não levá-lo comigo para a reunião da tarde. Mas, depois de dez minutos discutindo sobre uma campanha de marketing para uma marca de lingerie, e com a lembrança de Joe tirando minha calcinha ainda passando em minha mente, pedi licença e fui até minha sala atrás do celular. Sem mensagem. Droga. De volta à reunião, encontrei Nick mostrando slides rapidamente. Não foi um problema para mim, pois eu já tinha visto a apresentação antes, mas pude perceber que os executivos juniores recém-chegados estavam com cara de quem vai pôr o almoço para fora. – Vai mais devagar, Nick – eu me aproximei e disse em voz baixa. Ele voltou sua atenção para mim, claramente irritado: – O quê? Engoli em seco. Colegas ou não, ele ainda era totalmente assustador. – Acho que você passou pela segmentação de marketing rápido demais – expliquei. – Você terminou isso ontem, mas esses caras acabaram de descer do avião. Deixe eles digerirem a informação. Ele assentiu rapidamente e olhou de volta para a tela. Eu quase podia vê-lo contando até dez em sua mente enquanto esperava os executivos lerem o slide. Olhei para Miley do outro lado da mesa. Ela estava observando-o, mordendo a caneta e tentando não cair na risada. Eu duvidava que Nick tivesse qualquer simpatia pelos funcionários da Ryan Media que tinham acabado de ser transplantados de suas vidas e precisavam memorizar dezessete tabelas com números de marketing em apenas vinte e quatro horas. – Pronto? – ele perguntou, clicando o próximo slide sem esperar uma resposta. Entre na onda ou faça as malas. Foi isso que ouvi Nick falar para um novo sócio de marketing chamado Cole. Meu celular vibrou alto em cima da mesa e eu o peguei, pedindo desculpas pela interrupção. Graças a Deus, pelo Nick e por seu perfeccionismo impaciente, eu tinha esquecido de pensar por dois minutos inteiros se o Joe ainda estaria interessado em mim.
A Biblioteca Pública de Nova York possui alguns volumes fascinantes. Edifício Schwartzman. 18h30. Use uma saia, seus saltos mais altos e nada de calcinha.
Eu sorri olhando o celular, pensando que Joe era um maldito sortudo, pois tudo que eu precisava fazer era tirar a calcinha antes de encontrá-lo. Quando olhei para cima novamente, Miley ainda mordia a caneta, mas desta vez estava olhando para mim, com as sobrancelhas erguidas. Voltei a encarar Nick e me esforcei para ignorar o olhar de Miley. Mas eu não conseguia parar de sorrir.
Nova York é cheia de prédios icônicos. Cada prédio parece familiar ou carregado de história. Mas poucos são tão imediatamente reconhecíveis quanto a Biblioteca Pública de Nova York, com suas estátuas de leões e sua vasta escadaria. Eu o tinha visto quatro vezes desde a primeira vez que transamos e, apesar de este encontro ter sido planejado, eu ainda sentia como se minha respiração fosse sugada para fora quando olhava para meu estranho irresistível. Ele era mais alto do que qualquer outra pessoa ao redor, e, enquanto procurava por mim na multidão, tomei alguns segundos para apenas aproveitar a visão daquele homem. Terno preto, camisa cinza, sem gravata. Seu cabelo tinha crescido nas últimas semanas e, embora ele o mantivesse mais longo no topo, eu gostava do jeito bagunçado de agora e o imaginava se movendo entre minhas pernas. Ele criou uma verdadeira trilha na multidão ao andar pelos degraus com seu grande corpo. Eu quero ver você pelado durante o dia, pensei. Quero ver fotos de nós dois em plena luz do sol. Joe me viu, e me pegou em flagrante olhando abobalhada para ele. Um sorriso safado se abriu em seu rosto e ele fez um gesto com o dedo pedindo para eu me aproximar. Quando cheguei mais perto, ele provocou: – Você estava me olhando vidrada. Eu ri, desviando os olhos. – Não, não estava. – Para quem gosta de ser observada em seus momentos mais íntimos, você fica tímida demais quando é flagrada bancando a voyeur. Senti meu sorriso diminuir enquanto algo acontecia dentro de mim. Sem pensar, eu disse: – Apenas estou feliz por te ver. Isso claramente o pegou desprevenido. Recuperando-se, ele abriu um grande sorriso. – Pronta para jogar? Assenti, estranhamente nervosa, apesar do calor que se espalhou por minha pele. Tivemos uma plateia de centenas de espelhos na última semana, mas, fora isso, estávamos sozinhos. Agora, mesmo às seis e meia de uma sexta-feira à noite, a biblioteca estava lotada. – Isso parece interessante – murmurei, virando para nos conduzir para dentro quando ele pressionou dois dedos sutis em minhas costas. – Confie em mim – ele disse, inclinando-se para frente e sussurrando. – Isso aqui é a sua praia.
Uma vez lá dentro, ele tomou a dianteira, andando na minha frente como se fôssemos apenas dois estranhos passando pela entrada da biblioteca e indo na mesma direção. Enquanto eu o seguia, notei algumas pessoas olhando para ele; duas delas apontaram e assentiram uma para a outra. Apenas no centro de Manhattan um gênio investidor seria tão imediatamente reconhecível. Continuei seguindo seus passos, prestando mais atenção na maneira como seu casaco envolvia seus ombros largos do que para onde estávamos indo. Diminuindo a velocidade, Joe perguntou: – O quanto você sabe sobre a Biblioteca Pública de Nova York, Demi? Sobre esta seção, especificamente? Busquei em minha memória por detalhes que eu podia ter visto em algum filme. – Com exceção da primeira cena de Os Caça-fantasmas? Não muito – admiti. Joe riu. – Esta biblioteca é diferente das outras porque se mantém basicamente com filantropia. Os doadores, como eu – ele acrescentou com um sorriso –, têm um interesse especial em certas coleções e fazem doações generosas; muito generosas, em alguns casos; e, às vezes, ganham alguns mimos em retribuição. Discretamente, é claro. – É claro – eu repeti. Ele parou e se virou para sorrir na minha direção. – Esta é a sala que a maioria das pessoas reconhece, a Rose Main Reading Room. Olhei ao redor. O salão estava aconchegante e convidativo, cheio de vozes sussurrantes, passos amortecidos e o som de páginas viradas. Meus olhos seguiram até o teto ornamentado que imitava o céu, passando pelas janelas arqueadas e os lustres brilhantes no alto, e, por um instante, eu me perguntei se Joe estava planejando transar comigo numa das grandes mesas de leitura que preenchiam o cavernoso e muito lotado salão. Acho que deixei escapar uma insegurança em minha expressão, pois Joe riu suavemente ao meu lado. – Relaxa – ele disse, pousando a mão em meu ombro. – Nem eu não sou tão ousado assim. Ele pediu para que eu esperasse enquanto cruzava o salão para falar com um senhor do outro lado, que parecia saber exatamente quem ele era. O homem olhou para mim por cima do ombro de Joe e eu senti meu rosto corar, desviando rapidamente o olhar. Alguns momentos depois, eu estava seguindo Joe por uma escada estreita até uma pequena sala cheia de estantes e mais estantes de livros. Joe sabia exatamente para onde ir, e eu não pude deixar de imaginar se ele vinha sempre ali ou se teria encontrado o lugar durante a semana que passou. Na verdade, gostei das duas ideias: o Joe que conhecia a biblioteca intimamente, e o Joe que ficou pensando nisso tanto quanto eu. Ele parou num canto silencioso, no meio de duas estantes cheias de livros. Parecia que as estantes nos apertavam dos dois lados; o espaço pequeno dava a impressão de que as paredes se fechavam em cima de nós. Ouvi alguém tossindo e percebi que havia ao menos mais uma pessoa na sala. Uma ansiedade se acumulava em minha barriga. Joe tirou um livro da estante sem nem olhar o que era. – Você gosta de ler pornografia, Demi?
Eu soube por sua risada diante da minha reação que meus olhos provavelmente quase saltaram do meu rosto. Eu não era uma santinha e não estava fechada para a ideia da literatura erótica; mas eu simplesmente nunca fui atrás para ler. – Não leio muito. – Não lê muito? Ou não lê nada? – Já li algumas histórias românticas… Nem terminei de falar e ele já estava balançando a cabeça. – Não estou falando de livrinhos com homens sem camisa na capa. Estou falando de livros que contam como uma mulher se sente quando é penetrada pelo homem. O quanto ela se derrete quando ele desliza a língua dentro dela. Como ele descreve seu sabor quando ela pede. Estou falando de livros que descrevem um casal fodendo de verdade. Meu coração começou a acelerar diante da maneira casual com a qual ele falava sobre coisas que faziam eu querer fechar os olhos e estremecer. – Então, não. Nunca li nada assim. – Bom, então – ele disse, entregando o livro para mim – ainda bem que estou aqui para esta ocasião memorável. Olhei para a capa. Anaïs Nin. Delta de Vênus. Eu conhecia o nome e, como todo mundo, conhecia também a reputação. – Ótimo, vamos emprestar este aqui – virei o livro, procurando por algum tipo de código de barras ou número de catálogo. Mas a capa era de couro, com páginas douradas. Obviamente era uma edição rara. – Podemos levar embora…? – Oh, não, não, não. Ninguém pode tirar estes livros da biblioteca. E, além disso, onde estaria a diversão nisso? A acústica aqui dentro é tão agradável, com a madeira, o teto e tudo mais… – O quê? Aqui? – meu coração quase parou. Por mais que eu adorasse a ideia de ler algo picante com Joe ao lado, eu adorava ainda mais a ideia de ficar completamente selvagem com ele à noite. Ele assentiu. – E você vai ler para mim. – Vou ler coisas eróticas para você aqui? – Sim. E eu provavelmente vou sentir a necessidade de comer você aqui também. Eu permiti a você fazer barulho da última vez. Mas, nesta semana – ele arrumou uma mecha do meu cabelo que caía em meu rosto – você vai precisar gozar quietinha. Engoli em seco, sem saber se isso era algo que eu queria ouvir ou se era algo que me aterrorizava. Sua mão acariciando minha nuca era reconfortante. A palma estava quente, os dedos eram longos o bastante para quase chegar até minha garganta. – Afinal, foi você quem me deu apenas as sextas-feiras, e nada de camas – ele disse. – Considerando as circunstâncias, eu quero fazer algo com você que tenho absoluta certeza que você nunca experimentou antes. – E você? – comecei a reconsiderar os motivos para ele conhecer aquela sala tão bem. Ele balançou a cabeça. – A maioria das pessoas não pode entrar aqui. E, posso garantir a você, eu nunca transei com uma garota na biblioteca antes. Por mais que você pense que sou um especialista nesse assunto, a maioria das minhas aventuras acontece em limusines no caminho para deixar alguém
em casa. Sou mais um cretino do que um galinha, se parar para pensar. Havia liberdade em sua solteirice proposital; eu não precisava fingir que significava mais do que isso. Mas, embora fosse apenas sexo, e embora ele fosse o primeiro homem com quem me envolvi e que não precisava realmente conhecer, eu passei a semana inteira desejando seu toque. Estiquei o braço e puxei seu rosto para mais perto. – Tudo bem. Eu não preciso que você seja um cara legal. Ele riu e me beijou. – Serei muito legal com você, prometo. Até aqui, você se recusou a transar na minha limusine e no meu escritório. Você está me fazendo quebrar todos os meus hábitos. Graças às estantes de livros ao redor, estávamos invisíveis para o resto da sala, mas, se alguém andasse até nosso pequeno canto escuro, ficaríamos totalmente expostos. Algo dentro de mim começou a arder daquela doce e pesada maneira que fazia minhas costas se arquearem e meu coração bater mais forte. Joe deu um passo para frente e se abaixou para me beijar, começando com o canto da minha boca, gemendo com o contato e sorrindo. – Estou seguindo as suas regras, mas isso significa que eu fico duro o tempo todo. Apaguei o vídeo, mas admito que me arrependi. Você vai me deixar tirar umas fotos hoje? Era preciso pouca coisa para ele me fazer sentir como se eu não fosse mais sólida, como se estivesse me tornando uma geleia quente e molhada. – Sim. Ele sorriu para mim de um jeito que me fez temer ter entregue minha alma para o diabo. Mas então ele beijou meu queixo, sussurrando: – Você sabe que eu nunca mostraria para ninguém. Odeio a ideia de qualquer outro homem te vendo assim. Quando você me deixar, o próximo coitado vai ter que descobrir sozinho como excitar você. – Quando eu deixar você? Ele deu de ombros, com os olhos arregalados e atentos. – Ou quando terminar com isto. Você decide como descrever nossa situação. – Eu quase pensei hoje que você simplesmente não iria mandar uma mensagem. Pensei que talvez fosse acabar assim. – Acho que isso seria uma merda – ele disse, franzindo a testa. – Se um de nós quiser terminar tudo, vamos ter a cortesia de dizer um para o outro, certo? Concordei, surpresa com meu próprio alívio. Suspeito que, mesmo tendo combinado comigo mesma que isso seria apenas sexo, se tudo acabasse eu ainda sentiria falta disso – sentiria falta dele. Joe não era apenas um ótimo amante, ele também era divertido. Mas ele era um jogador, e levava nossa relação tão a sério quanto eu… ou seja, nem um pouco. – Agora que isso está resolvido… Ele me virou para que eu ficasse de frente para as estantes. Passando um braço ao redor de mim, ele abriu o livro, virando as páginas até encontrar uma passagem específica, e então moveu minha mão para segurar o livro aberto. Com ele me apertando por trás e a estante na minha frente, eu me senti completamente escondida, como se tivesse sido enterrada por esse homem grandioso. Ou melhor, como se estivesse sob sua proteção.
– Leia – ele sussurrou, sua respiração quente em meu pescoço. – Comece aqui. Ele indicou com o dedo um parágrafo no meio de um capítulo. Eu não sabia o que estava acontecendo, nem quem era o narrador. Mas entendi que isso não importava. Molhando os lábios, comecei a ler. – “Quando ele e Louise se encontraram, saíram juntos de imediato. Antonio estava fortemente fascinado pela brancura de sua pele, a abundância dos seios, a cintura esguia…” As mãos de Joe subiram por baixo do meu vestido, passando por meus quadris, pela barriga, até chegar aos seios. – Você é tão macia. Uma de suas mãos deslizou pela lateral e chegou ao meio das minhas pernas, provocando naquele ponto molhado. Foi difícil me concentrar nas palavras diante de mim, mas continuei lendo. Joe tirou as mãos e minha mente clareou por apenas um momento, pois, atrás de mim, eu podia sentir seu corpo se mexendo, podia ouvir o tilintar do cinto se abrindo. Eu mal processava as palavras enquanto as pronunciava e, em vez disso, fiquei ouvindo os sons que ele fazia. Será que conseguiria continuar com aquilo? Não era a mesma coisa que dançar loucamente numa pista de dança, com luzes frenéticas e corpos contorcidos; não era um restaurante e uma mão debaixo da mesa. Estávamos na mais famosa biblioteca pública, cheia de volumes raros, chão de mármore… história literária. Desde que entramos, não tínhamos nem falado em voz alta. E iríamos transar? Uma coisa era imaginar, outra era estar ali, prestes a realizar uma fantasia. Eu estava nervosa. Inferno, eu estava apavorada. Mas também estava elétrica, cada neurônio disparando ao mesmo tempo, o sangue bombeando violentamente em minhas veias. Minha voz foi sumindo enquanto eu lia. – Concentre-se, Demi. Pisquei olhando para o livro, lutando para manter minha atenção nas palavras da página. – “Tudo o fazia rir. Ele passava a impressão de que o resto do mundo havia desaparecido e apenas aquele banquete sensual existia – não haveria mais amanhã ou encontros com outras pessoas, havia apenas este quarto, esta tarde, esta cama.” – Leia essa parte de novo – ele grunhiu e então levantou minha saia. – “Este quarto, esta tarde, esta cama.” Quando eu estava prestes a ler, e sem qualquer aviso, ele deslizou para dentro de mim – eu estava tão molhada que ele nem precisou provocar ou acariciar. Foi apenas preciso um livro, os toques mais breves e o som de sua calça abrindo. Eu gemi, querendo que ele encontrasse uma maneira de entrar por inteiro em mim. Eu estava convencida de que ser rasgada em duas por ele seria o maior prazer que eu poderia experimentar. – Silêncio – ele me lembrou, saindo e entrando demoradamente em mim. Ele era tão duro, tão longo. Lembrei da forte pontada quando ele me penetrou quase de quatro na semana passada em frente aos espelhos. Lembrei do quanto eu temia e adorava cada estocada brutal. Quando ele viu meu rosto durante o orgasmo em cem diferentes espelhos, ficou completamente maluco. Mais do que qualquer outra coisa, vê-lo daquele jeito foi o clíJoe da minha noite. Estávamos no final de um corredor escuro, mas eu podia ouvir os sons abafados de outra pessoa na sala. Mordi o lábio enquanto Joe baixava sua mão por minha cintura até chegar no
meio das pernas, onde começou a brincar com meu clitóris. – Continue lendo. Senti meus olhos se arregalarem. Estava falando sério? Se eu permitisse que minha garganta fizesse sons, não me responsabilizaria pelo resultado. – Não posso – eu disse ofegando. – É claro que pode – ele disse, como se estivesse sugerindo para que eu simplesmente respirasse fundo. Seus dedos pasDemim novamente por meu clitóris. – Ou podemos parar por aqui. Joguei um olhar irritado sobre meu ombro e ignorei sua risada silenciosa. Eu nem sabia mais onde tinha parado, ou o que estava acontecendo na história, apenas sabia que Antonio estava rasgando o vestido de Louise, mas deixou um cinto com uma grande fivela no lugar. Eu mal conseguia respirar, mas comecei a ler de novo numa cadência lenta e gaguejante que parecia deixar Joe louco. Seus dedos se enterraram na minha cintura e ele cresceu dentro de mim. – Por favor… – implorei. – Deus – ele ofegou. – Continue. De algum jeito, consegui pronunciar as palavras em sequência, e o texto ficava cada vez mais quente e selvagem. Tão descritivo. Falava de sua parte molhada como cheia de “mel”. O homem lambia e chupava cada pedaço do corpo daquela mulher, explorando e provocando, até que eu comecei a sentir o peso do meu desejo e do dela. Para meu horror, eu podia sentir minha própria umidade descer por minhas coxas, deslizando entre nós com a força de seus movimentos. – Demi. Merda. Toque a si mesma. Eu cuidadosamente mantive o livro aberto com um braço e levei uma mão para o meio das minhas pernas. Eu estava tão quente, tão pressionada com o peso do meu orgasmo que se anunciava que comecei a gozar em poucos segundos. Minhas últimas palavras saíram entrecortadas. – “… pensou que… ficaria l-louca… com uma raiva e um p-prazer…” Quando meus músculos pararam de tremer, ele enfiou com força em mim mais algumas vezes e então parou, abafando um gemido com sua boca em meu pescoço. A sala estava completamente silenciosa, e então percebi que não tínhamos noção do barulho que na verdade estávamos fazendo. Eu sabia que tinha sussurrado cada palavra que li. Mas, quando gozei, será que deixei escapar outros sons? Eu me perdia completamente junto dele. Ele se retirou de mim, soltando um grunhido silencioso. Então sussurrou: – Volto já. Fiquei ali parada, ouvindo-o desaparecer atrás de mim enquanto eu arrumava minhas roupas. Depois ele voltou, beijando meu pescoço. – Humm. Linda. Eu me virei para olhar seu rosto. – E pelas suas regras – ele disse, olhando para mim enquanto abotoava o casaco do terno –, acho que está na hora de cada um ir para o seu lado. Arrumei meu vestido, que já estava arrumado. Esse era nosso acordo – fui eu quem exigiu assim – mas parecia… estranho. Ele continuou olhando para mim com um brilho nos olhos, quase como quem diz Acabei de te dar um orgasmo insano e você parece um pouco fora do
ar, mas, enfim, foi você quem criou essas regras tontas! E acho que ele estaria correto. – Certo. Perfeito. Ainda bem que estamos na mesma página – eu disse, quase sem pensar. Ele riu enquanto guardava o livro na estante. – E ainda bem que essa página não faz parte de nenhuma coluna social, não é? Uma transa tão sensacional e ninguém nunca vai saber. Com certeza estamos de acordo. – Você não se cansa disso, às vezes? – perguntei. – Das pessoas olhando para você? – lembrei do quanto eu odiava os comentários do Wil sobre meu cabelo ou as minhas roupas, a especulação sobre se eu tinha engordado ou não, ou sobre com quem eu tinha me encontrado. Imaginei se Joe sentia a mesma coisa. – Não é como se eu fosse uma celebridade de verdade. As pessoas aqui apenas gostam de saber o que eu estou fazendo. Acho que a maioria das pessoas que leem as fofocas apenas querem pensar que estou me divertindo. Aquilo pareceu otimista demais. – Está falando sério? Eu acho que eles querem é pegar você de calças curtas. – Espere um pouco, não é isso que você quer? – ele riu quando eu revirei os olhos, e continuou: – A imagem de homem galinha é conveniente para eles. Mas não saio por aí transando com uma garota diferente por noite. Eu me inclinei para beijá-lo e acrescentei: – Bom, pelo menos não ultimamente. Algo passou por seus olhos, como uma pequena expressão de confusão que sumiu rapidamente. – É isso mesmo – ele se aproximou e me beijou docemente, com as mãos segurando meu rosto. – Então, vamos embora? Assenti, um pouco atordoada. Joe fez um gesto para eu ir na frente e então subimos as escadas, voltando para o andar principal da biblioteca. Nada havia mudado: o som dos sussurros e páginas viradas ainda preenchia o ar e ninguém olhou em nossa direção. Senti uma excitação com o que fizemos e o fato de que ninguém percebeu. Estávamos chegando na saída quando Joe agarrou meu braço e me puxou para um canto escuro. – Só mais um – ele disse, colando os lábios nos meus. Foi um beijo suave, doce e demorado, como se ele não quisesse ser quem pararia o beijo. Engoli em seco quando olhei em seus olhos novamente. – Até a semana que vem, flor. E então, ele se foi. Fiquei observando enquanto ele cruzava o salão e ganhava a rua, e me perguntei o quanto eu me arrependeria disso quando tudo terminasse.

 

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