Onze
Dizer que minha interação com Joe no parque foi estranha
seria um eufemismo. Eu sei que reagi de um jeito exagerado, mas, francamente?
Ele também. Aquela preocupação com minha reação na sala de reunião? Sair
correndo atrás de mim? O que nós estávamos fazendo? Na noite de segunda-feira
fui para casa e passei duas horas cozinhando bolinhos dinamarqueses para o
jantar. Um bolinho frito e coberto de açúcar que tradicionalmente é servido no
café da manhã, mas que se dane. Eu precisava de algo elaborado. Era uma receita
da minha avó, e me concentrar em prepará-los com perfeição me deu tempo para
refletir. Não tive muito tempo para pensar ultimamente. Mas cozinhar algo tão
associado à minha família também me deixou com saudades de casa, dos meus pais,
da segurança de uma vida previsível, por mais depressiva ou falsa que seja.
Peguei meu celular, sem me importar com a sujeira em minhas mãos. Minha mãe
atendeu no sétimo toque. Típico dela. – Oi, meu docinho! – ouvi algo cair no
chão ao fundo e ela soltou um palavrão. – Você está bem? – perguntei, sorrindo
ao ouvir sua voz. É incrível como algumas poucas palavras podiam me fazer
sentir segura. – Sim, apenas deixei cair meu iPad. Você está bem, querida? – e
quando ela perguntou isso, lembrei que eu já tinha ligado pela manhã quando
estava indo para o metrô. – Apenas queria ouvir sua voz. Ela fez uma pausa. –
Está sentindo saudades de casa? – Um pouco. – Converse comigo – ela falou, e
imediatamente lembrei das centenas de vezes que ela me disse exatamente isso,
incentivando para eu me abrir com ela. – Conheci um homem. – Hoje? Estremeci.
Tinha falado com meus pais algumas vezes por semana desde que me mudei e nunca
tinha mencionado Joe. E o que tinha para contar? Eles não queriam saber da
minha vida sexual mais do que eu queria compartilhar. – Não. Algumas semanas
atrás. Eu podia praticamente ouvir sua mente pensando na melhor estratégia para
responder. Dando apoio, mas sendo protetora. Como se deve reagir quando sua
filha começa a se encontrar de novo com alguém depois de uma terrível separação
pública? – Quem é ele? – É um investidor. Aqui da cidade. Mas não nasceu aqui –
eu disse, balançando a cabeça e querendo começar de novo. – Ele é britânico. –
Ah, um estrangeiro, que incrível! – ela disse rindo, usando seu forte sotaque
do sul. Então, parou. – Você está me contando isso porque é um namoro sério? –
Estou contando porque não faço ideia.
Eu adorava a risada da minha mãe. Sentia falta da sua
frequência. – Essa é a melhor parte. – É mesmo? – Com certeza. Não se atreva a
desperdiçar. Não deixe que aquele babaca do seu exnamorado a impeça de se
divertir. Suspirei. – Mas me sinto tão sem rumo. Eu sempre soube o que esperar
com Will – assim que disse isso, eu me arrependi, e o silêncio dela em reposta
foi ensurdecedor. – Sabia mesmo? Ela me conhecia tão bem. Eu podia praticamente
ver seus braços cruzados e sua expressão de eu-vou-chutar-uns-traseiros. – Não.
Não sabia. – Você sente que conhece esse cara? – Essa é a parte estranha. Às
vezes acho que sim.
Não importava o quanto eu pensasse nisso ou o quanto ficasse
acordada naquela noite, eu ainda não fazia ideia do que se passava na cabeça de
Joe depois do que aconteceu na segunda-feira. Nossa dinâmica acontecia ao
contrário: era ele quem deveria saber como fazer essa coisa de relação casual.
Eu deveria saber como fazer um relacionamento sério. E nenhum de nós deveria
querer qualquer outra coisa que não fosse sexo. Mas, por vários motivos, nunca
foi assim. O desejo de conhecer melhor um ao outro começou a surgir desde o
primeiro dia, e eu sabia que, por mais que quisesse ficar com uma pessoa que
pudesse manter a relação apenas no campo sexual, eu mesma nunca conseguiria
fazer isso. Lembrei do pânico em seu rosto quando ele correu atrás de mim, e
senti um pouco de culpa. Demi, você é um fracasso completo em matéria de sexo
sem compromisso. Na quarta-feira ele enviou uma foto de nossa noite na
biblioteca. Era uma imagem que mostrava a barra do meu vestido, erguida até a
base das minhas costas. Uma foto simples, mas ele usou um filtro preto e
branco, e a foto original era tremida o bastante para eu reconhecer que foi
tirada perto do fim, quando minha leitura tinha se tornado totalmente
inarticulada e ele me seguiu num orgasmo, com um gemido abafado em meu pescoço.
Na quinta-feira, enviou uma foto que eu lembro ter visto enquanto ele passava
pelos arquivos em seu celular no 4 de julho. Era uma imagem das minhas mãos
desabotoando sua calça. Eu havia abaixado o suficiente para enxergar a forma de
seu pau apertado contra o tecido da cueca. As duas fotos foram enviadas na hora
do almoço – eu as recebi enquanto trabalhava para finalizar dois grandes
contratos. Tentei convencer a mim mesma que estava me sentindo estimulada por
causa dos contratos em vez da perspectiva de encontrá-lo. Eu era uma grande
mentirosa. – Deixa eu perguntar – disse Matthew, entrando na minha sala sem
bater na porta. – Você tem certeza que Joe Jonas é hétero? Estive pensando
nisso desde quando ele veio aqui na segunda-feira. Pisquei os olhos devagar,
tentando entender se eu tinha acabado de dizer seu nome em voz alta ou se Matthew
estava fazendo a mesma coisa que Miley desde a reunião da Jonas & Deleasa:
jogando referências ao nome dele e prestando atenção na minha reação. – Tenho
certeza. – Talvez ele seja bi? Olhei para ele e deixei minha caneta em cima do
contrato em minha mesa. – Honestamente? Duvido. Matthew ergueu duas
sobrancelhas curiosas. – Você sabe disso por experiência própria? Joguei o
olhar mais intimidador que eu conseguia… que, para dizer a verdade, não era lá
muito intimidador. Eu não iria deixar Matthew jogar esse joguinho hoje. – Você
conseguiu as assinaturas do Miller e do Cortez para a campanha da Agent
Provocateur? Meu assistente apertou o olhar em direção a mim. – Certo. Não vou
mais perguntar. Mas saiba que eu acho isso suspeito. Muito suspeito. Parecia
que a sua calcinha tinha começado a pegar fogo quando você o viu na
segunda-feira. E sim, eu já peguei as assinaturas. – É bom mesmo. Logo que
falei, meu celular vibrou na minha mesa e eu rapidamente o virei, lembrando a
mim mesma pela milionésima vez que precisava da configuração de
previsualização, para o caso de Joe enviar outra foto. A expressão de Matthew
foi impagável: sua contenção parecia causar dor física. – Você é adorável, mas
está na hora de ir embora – eu disse. – Quem está enviando mensagens para você?
– Até que você se case comigo e pague minhas contas, essa pergunta nunca será
apropriada, meu querido. E, mesmo nesse caso, eu provavelmente não responderia.
– Certo – com o dedo do meio erguido, ele saiu da minha sala. Olhei para a tela
do celular, prendendo a respiração. Era uma mensagem do Joe, e minha pulsação
explodiu numa batida frenética.
Meu escritório vai ser pintado e acarpetado no final de
semana. Preciso encaixotar tudo na sexta-feira depois do trabalho, então acho
que vou ficar preso aqui.
Digitei rapidamente: Então só vou te ver na semana que vem?
Assim que apertei o botão para enviar, percebi o quanto eu parecia desesperada.
Alô, Demi. Você parece desesperada porque está desesperada. Após alguns
minutos, ele respondeu:
Acho que você lembra onde fica meu escritório, não é? Vejo
você às seis, flor.
Assim como muitos dos andares em nosso prédio, os
escritórios da Jonas & Deleasa ficavam quase desertos depois das seis horas
numa sexta-feira. A mãe de Joe não estava na recepção e apenas algumas pessoas
permaneciam em suas baias enquanto eu andava pelos corredores até a sala dele.
Bati suavemente na porta e ouvi sua voz grave pedir que eu
entrasse. Estou perdidamente apaixonada por este homem, pensei quando o vi,
sentado atrás de sua mesa com as mangas da camisa enroladas e usando óculos de
aros grossos. Sua expressão era de tanta concentração que quase perdi o fôlego.
Acontece que sua expressão de focado-no-trabalho era muito parecida com sua expressão
de concentrado-em-fazer-a-Demi-gozar. – Tranque a porta, por favor – ele
murmurou, sem desviar os olhos da tela do computador. Eu me virei, apertei a
tranca e então olhei ao redor em sua sala. Por quanto tempo ficaríamos ali? E
quando ele levantaria o olhar e diria que eu estava linda? Nossos hábitos já
estavam tão enraizados. Sua sala não aparentava nem um pouco estar prestes a
ser pintada. Ele mal tinha começado a encaixotar suas coisas: havia livros e
pilhas de papel alinhados numa parede e ao menos vinte caixas vazias num canto,
esperando para serem preenchidas. – Tenho certeza que vai ser chato para você
ficar aqui comigo, e eu sou um maldito egoísta por pedir para fazer isso, mas
vá em frente e tire logo suas roupas. Senti meu queixo cair e arregalei os
olhos. – Como é? – Tire. As. Roupas – ele disse, puxando os óculos até a ponta
do nariz e finalmente olhando em minha direção. – Você achava que iria ficar
vestida? – balançando a cabeça, ele ajeitou os óculos e voltou a atenção para o
computador. – Eu odeio empacotar coisas. Ver você nua vai ser a única coisa boa
desta noite. – Humm – murmurei, tentando formar uma resposta. A verdade era que
a velha Demi nunca nem pensaria em sentar casualmente nua na frente de alguém.
O que era exatamente a razão para eu querer fazer isso. Andei até o sofá e
tirei minha blusa de lã. Em seguida, tirei minhas sandálias azuis com a
bandeira britânica bordada em cima, e então tirei meu jeans escuro, murmurando:
– Você nem reparou nos meus sapatos. – Claro que reparei. Deus salve a rainha –
ele disse secamente, piscando para mim. – Eu reparo em tudo em você, Demi. – É
mesmo? – Faça um teste. – Onde fica minha marca de nascença? – Do lado direito,
logo abaixo das costelas. – Você tem alguma marca preferida? Pergunta complicada,
pensei. Não tenho muitas marcas. – Aquela no seu pulso – olhei para a marca em
questão, impressionada. – O que eu falo quando estou quase gozando? – Quando
está gozando, você solta só umas palavras ininteligíveis. Mas quando está quase
chegando lá, você apenas sussurra “por favor” várias vezes… como se eu fosse
negar uma coisa dessas. – Qual é o sabor do meio das minhas pernas? –
perguntei, e seus olhos dispararam em minha direção. Mordi os lábios tentando
segurar um sorriso enquanto começava a tirar minha calcinha. – Mulher tem gosto
de mulher. Mas você tem sabor de mulher gostosa – levantou e andou até onde eu
estava. – Deite no sofá com a cabeça aqui – ele posicionou minha nuca no braço
do sofá de couro. Até que era bem confortável, para um couro
tão firme como aquele. – E levante os joelhos e abra as pernas. Meus olhos se
arregalaram, mas fiz o que ele pediu, sorrindo quando ajeitou a franja dos meus
cabelos e ajustou minha postura como se eu fosse uma obra de arte que estivesse
pendurando na parede. – Me desenhe como uma de suas garotas francesas, Jack –
eu disse, olhando em seus olhos. Ele esticou o braço e beliscou minha bunda. –
Atrevida. Para testá-lo, fechei um pouco as pernas quando começou a se afastar.
– Deixe aberta – ele disse por cima do ombro. Eu ri e voltei à posição que ele
queria. Joe retornou com um livro e me entregou. – Isto é para você se entreter
enquanto eu trabalho. – Você não vai ficar pelado também? – Você está louca?
Tenho que empacotar minhas coisas. Olhei para o livro em minhas mãos. Havia um
homem sem camisa na capa com um gato e uma mulher a seus pés. A garra do gato.
– Isso parece… interessante – eu disse, virando para ler a contracapa. – O cara
tem duas parceiras. Uma é a mulher chamada Gata, e ela tem um… meu Deus… um
“gato-homem”, tipo, um gato que se transforma em gente. Sério. É isso que está
escrito aqui. Eu não estou inventando – olhei para ele. – E o “gato-homem” é o
bicho de estimação dela. E os dois transam com essa coisa. – Parece um livro
realmente inteligente. – Você comprou isso numa banca de revistas lá na
esquina, não é? – Como você sabia? É tão óbvio assim? Mas o livro parece cheio
de sexo explícito barato, então achei que você iria gostar – ele se virou e
começou a tirar as coisas de cima da mesa. – Agora, faça silêncio, flor. Estou
muito ocupado. A princípio parecia quase impossível me concentrar no livro em
minhas mãos, mas conforme os minutos passavam, e Joe aparentemente se absorvia
cada vez mais no empacotamento, comecei até a esquecer eu estava deitada em seu
sofá. Sozinha. E totalmente pelada. O livro que ele me deu era ridiculamente
erótico e longo como o inferno; era muito mal escrito, mas, afinal, acho que o
objetivo não era esse. Havia vários homens, várias mulheres; muitas histórias
paralelas, mas, de novo, isso não importava. O objetivo era o sexo a toda hora,
e o mais descritivo possível. Todo mundo tinha uma parte do corpo que estava
dura ou pingando. Ou os dois. As pessoas gritavam e – às vezes, literalmente –
arranhavam as coisas. E, num canto, o herói simplesmente sentava e observava. –
Você está ficando corada – ele guardou uma pilha de livros e se encostou na
mesa olhando para mim. – Você está lendo isso faz quinze minutos e alguma coisa
que acabou de ler deixou seu rosto todo vermelho. Olhei para ele e estremeci. –
Foi a palavra que começa com “b”. Isso me surpreendeu, só isso. – Boceta?
Confirmei balançando a cabeça, surpresa desta vez com minha
própria excitação ao ouvir a palavra com o sotaque dele. Por algum motivo, seu
sotaque britânico suavizou o impacto. Deixou a palavra muito mais sexy. – Eu
adoro essa palavra. É tão feia. Boceta. Soa tão depravada, não é mesmo? – ele
esfregou o queixo, estudando minha reação. – Leia o trecho para mim… – Eu não…
– Demi. Senti meu rosto queimar ainda mais. – Ele agarrou suas coxas, abriu-as
forçosamente e ficou encarando sua molhada e brilhante… boceta. – Uau – ele
disse, rindo. – Isso sim é que é literatura de qualidade – ele voltou a se
sentar na cadeira e começou a organizar uma pilha de papel. – Depois, durante o
jantar, você vai me contar quais foram suas partes favoritas – comecei a
protestar, mas ele ergueu um dedo na frente dos lábios e me silenciou: – Leia.
Encarei a página e o mar de palavras. Que tipo de mulher não gostaria de um
jantar? O tipo de mulher, Demi, que reconhece que um jantar leva a dormir
juntos, o que leva a passar todas as noites juntos. E isso leva a fazer uma
cópia das chaves, e depois a mudar para a casa dele. E então vêm as desculpas,
e o sexo silencioso, e depois o sexo morre com as conversas. E, no fim, resta
só a esperança de algum evento social para eu poder passar um tempo com ele.
Por outro lado, eu me arrependi de não ficar a noite toda com Joe no 4 de
julho. E estava começando a sentir falta dele no meio da semana. Droga. Tossi
um pouco, apertando os olhos. – Tudo bem? – Joe murmurou do outro lado da sala.
– Sim. Após outros vinte minutos e outras vinte cenas de sexo, Joe se
aproximou, passou a mão do meu queixo até os joelhos e sussurrou: – Feche os
olhos. Não abra até eu mandar. – Você está muito mandão hoje – eu disse, apesar
de abaixar o livro e obedecer ao seu comando. Quase imediatamente, minha
audição pareceu se intensificar. Ouvi o som de seu cinto, seu zíper e depois um
grande suspiro. Será que ele…? Eu podia ouvir o som de sua mão se movendo, o
ritmo começando lento e então acelerando, mais rápido, mais firme. Ouvi a
maneira como sua respiração saía em rápidos e curtos suspiros. – Deixe eu
assistir – sussurrei. – Não – sua voz quase falhou. – Eu estou assistindo você.
Nunca tinha ouvido uma pessoa se masturbar antes, e manter os olhos fechados
foi uma tortura. Os sons eram provocantes, e, no meio de seus gemidos quietos,
ele me dava instruções para abrir mais as pernas, para tocar meus seios. – Você
ficou molhada com o livro – ele comentou, e então ouvi sua mão acelerar em seu
pau. – Muito ou pouco? Levei minha mão até minhas coxas, com os olhos ainda
fechados, e me toquei para
descobrir. Eu nem precisei dizer nada; ele apenas gemeu e
então soltou um palavrão com sua familiar voz grave enquanto gozava. Eu queria
olhar seu rosto, mas mantive os olhos fechados enquanto meu coração batia cada
vez mais forte. A sala ficou silenciosa de repente, com exceção do ritmo pesado
de nossa respiração. Comecei a prestar atenção no ar-condicionado, que soprava
um ar gelado que cobria minha pele ardente. Finalmente, ele subiu o zíper da
calça e fechou o cinto. – Volto já. Vou me limpar. Ouvi seus passos se
afastando, e, quando a porta se abriu, ele riu baixinho. – Você pode abrir os
olhos agora – ele disse ao sair. Senti como se a sala tivesse escurecido nos
últimos dez minutos. Minha mão ainda estava no meio das minhas pernas, e o som
de seu orgasmo ainda ecoava em meus ouvidos. Experimentei um toque mais
audacioso e percebi o quão rápido eu gozaria. Talvez em menos de um minuto.
Certamente antes que ele voltasse. Sem hesitar mais, eu arqueei as costas e me
toquei com vontade, lembrando dos sons de sua mão, a velocidade de seus
movimentos, seus pequenos gemidos e instruções, a facilidade com que ele dizia
exatamente o que queria. Tínhamos um entendimento tão fácil. Um equilíbrio tão
perfeito. Era tão fácil. Com esse pensamento, meu orgasmo subiu pelas minhas
coxas e explodiu em meu corpo, jogando faíscas em minha visão e me deixando sem
fôlego. A porta se abriu e subi rapidamente a mão até o pescoço, onde minha
pulsação batia selvagem. Engoli em seco e tentei em vão diminuir meus suspiros.
Não sei por que, mas depois do que ele acabou de fazer, senti como se tivesse
sido flagrada com a mão dentro do jarro de biscoitos. Joe sorriu, andou até
onde eu estava e sentou no sofá. Eu me ajeitei para dar espaço e ele apoiou o
corpo com a mão no encosto enquanto se inclinava e colocava meus dedos em sua
boca. – Continuou a farra sozinha, flor? – Se você estivesse aqui não teria que
perguntar – eu disse, lutando contra o calor que subia até meu pescoço. – Não
importa – ele murmurou em minha garganta, chupando gentilmente –, eu assisto ao
vídeo depois – ele ficou de pé, andou até um armário aberto e apertou um botão
numa câmera que eu nem tinha reparado que estava ali. – Você… o quê? Ele se
virou, com um sorriso totalmente malicioso no canto da boca. – Você filmou
tudo? – perguntei. Nunca senti um conflito tão grande. Se fosse flagrada… era aterrorizante.
Se fosse observada… era excitante. – Sim. – Joe, meu rosto… Suas sobrancelhas
se juntaram. – Posicionei a câmera mais para baixo e coloquei você exatamente
onde precisava. Eu não filmaria seu rosto – ele se aproximou e se ajoelhou ao
lado do sofá. – O que é uma pena, na
verdade, porque adoro assistir você gozar. Ele passou a
ponta do dedo em meu pescoço, estudando meu rosto antes de piscar e
aparentemente voltar à realidade. – Agora, para o jantar, eu estava pensando
num restaurante tailandês, mas você é alérgica a amendoim e meu restaurante
favorito coloca amendoim em tudo. Então, que tal comida da Etiópia? Você se
importa em comer com as mãos? Ele voltou a mostrar um sorrisinho. – Juro que
ninguém lá vai saber quem diabos eu sou. Meu queixo caiu e esqueci
completamente que iria discutir com ele sobre esse jantar. – Como você sabe que
eu sou alérgica a amendoim? – Você usa um bracelete para alérgicos. – Você leu?
Ele me olhou genuinamente confuso. – Você usa justamente para que ninguém
precise ler, não é? Balançando a cabeça, sentei e passei as mãos nos meus
cabelos. O homem que eu amei mal me conhecia de verdade. O homem que eu apenas
queria para o sexo notava tudo sobre mim. Para minha surpresa, eu sussurrei: –
Restaurante etíope parece ótimo.
Joe me levou até os fundos do prédio, onde um carro preto
nos esperava num beco. – Sério? – perguntei enquanto ele abria a porta. – Os
paparazzi seguem você até sua casa? Ele riu e gentilmente me conduziu para o
banco de trás. – Não, flor. Não sou tão famoso assim; eles apenas me procuram
em eventos e às vezes na rua. Estou sendo discreto porque você é paranoica, não
eu – depois de entrar e se sentar ao meu lado, ele disse ao motorista: – Vamos
até o Queen of Sheba. Fica na Hell’s Kitchen – virando para mim, Joe continuou:
– Obrigado por me fazer companhia enquanto eu empacotava minhas coisas. Você
transformou uma tarefa chata em algo realmente divertido. – Mas você não fez
quase nada. Não foi uma noite muito produtiva para você, não é mesmo? – eu me
aproximei e mostrei a sobrancelha mais cética que eu conseguia fazer. Ele
sorriu e ficou encarando minha boca. – Você me pegou. Eu queria que você viesse
até aqui hoje para que eu pudesse guardar na memória a imagem de você nua no
meu sofá. Contratei uma pessoa para empacotar meu escritório amanhã de manhã
antes dos pintores chegarem – ele diminuiu a distância entre nós e me beijou
docemente. – Às vezes, no trabalho, eu fico pensando que queria te ver mais
vezes. Gostei de ver você na minha sala hoje. Eu me ajeitei no banco, sentindo
um pouco como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo. – Nunca pensei
que existissem homens como você por aí – eu disse sem pensar. – Honesto. Fácil
de conviver – olhei para seu rosto. – Eu já te disse. Eu gosto de você. Ele envolveu
meu corpo e me puxou para mais perto, e ficamos nos beijando pelo resto do
caminho. Pode ter durado um minuto, uma hora, ou uma semana. Eu não tinha
ideia. Mas quando chegamos em Hell’s Kitchen, eu não queria sair do carro, e
certamente não me
importava por estar quase desejando que ele me convidasse
para passarmos o resto da noite juntos.
A garçonete colocou uma grande bandeja na nossa frente, com
diferentes tipos de pratos vegetarianos dispostos lado a lado. – Use o pão de
injera como se fosse um talher – disse Joe, arrancando um pedaço do pão que
parecia um tipo de panqueca e mostrando como fazer. Fiquei assistindo-o lamber
os dedos, mastigar e depois sorrir para mim. – O que foi? – ele perguntou. –
Humm… – murmurei, apontando para seu rosto – sua boca. – Você gosta da minha
boca? – sua língua surgiu novamente, lambendo o canto dos lábios, e então
levantou o copo e tomou um gole de vinho. Ele me fazia sentir mais do que
bêbada. Eu me sentia desorientada, até mesmo irresponsável. Fechei meus punhos debaixo
da mesa, pensando na fantasia de pedir a ele que me tirasse dali, me levasse
até sua casa e me tocasse. Com exceção dos beijos no carro, ele mal me tocou
pelo resto da noite. Será que foi intencional? Será que estava tentando me
deixar maluca? Pois, se fosse isso, então sua missão estava cumprida. Olhei
para a bandeja e repeti o que ele fez: arranquei um pedaço do pão, peguei
algumas lentilhas e dei uma mordida. A comida era apimentada, quente e
deliciosa. Fechei os olhos e soltei um gemido de satisfação. – Muito bom. Eu
podia sentir seus olhos em mim, e, quando olhei de volta, ele sorriu. – O que
foi? – perguntei. – Você sabe qual é o meu trabalho, sabe que minha mãe
trabalha na minha empresa e que tenho ao menos uma irmã. Você sabe o que
aconteceu com Cecily. E tudo que eu sei sobre você, além do fato de ser uma
transa incrível, é que você mudou de Los Angeles há pouco mais de um mês,
deixou um verdadeiro babaca para trás e trabalha com o Nick e a noiva dele. Uma
aflição surgiu em meu estômago e tive que forçar para engolir a comida. – Não sei
você parecia saber bem mais que isso algumas horas atrás. – Ah, eu tenho uma
coleção de observações. Mas agora estou falando sobre conhecer você. – Você
sabe onde eu moro. Sabe onde trabalho e que sou alérgica a amendoim. – Já faz
algumas semanas que saímos juntos, Demi. É esquisito você ainda me manter por
perto sem deixar que eu realmente me aproxime – ele desviou o olhar. – Não sei
se consigo ser um estranho para sempre. – Mas nós somos bons em sermos um casal
de estranhos – brinquei, e, quando seu rosto não respondeu como eu esperava,
tive que ceder. – Certo. O que você quer saber? Ele voltou a olhar para mim e
então fechou os olhos como se estivesse pensando com cuidado. Ele era tão
lindo; meu sangue parecia preencher todo o meu rosto e eu podia sentir minha
pulsação acelerando com ansiedade. Abrindo os olhos, ele perguntou: – Você já
teve um cachorro? Uma riso explodiu em minha boca.
– Sim. Meu pai sempre teve dálmatas, mas minha mãe está
atualmente obcecada com labradoodles. – Como é? – É uma mistura de labrador com
poodle. Ele balançou a cabeça, com um sorriso no canto da boca. – Vocês
americanos sempre estragam nossas raças canônicas – levei minha taça de vinho
até os lábios e tomei um gole enquanto ele perguntava: – Por que você tem tanto
medo de ter um relacionamento sério com alguém? Gaguejei algumas palavras sem
sentido até ele começar a rir, gesticulando para que eu parasse. – Certo, estou
apenas testando até onde posso ir com as perguntas. Você tem irmãos? Balancei a
cabeça negando, sentindo um alívio. – Sou filha única. Meus pais são malucos,
então graças a Deus eles só tiveram uma filha. Outra criança teria acabado com
eles. – Por quê? – Meus pais são… excêntricos – expliquei, sorrindo enquanto
pensava neles. Excêntricos era pouco para descrevê-los. Imaginei minha mãe e
suas perucas e joias. E meu pai com seus óculos de aro grosso, camisas de manga
curta e gravatas borboleta. Eles vieram de outra época – quase outro planeta –,
mas suas excentricidades apenas faziam você os amar ainda mais. – Meu pai
sempre trabalhou muito, mas, quando não está no trabalho, ele fica obcecado com
algum passatempo. Minha mãe gosta de se manter ocupada, mas meu pai nunca quis
que ela trabalhasse fora de casa. Ela cresceu no Texas e conheceu meu pai na
faculdade, onde ela estudava matemática. Quando casaram, ela começou a vender
cosméticos, depois vendeu umas roupas de algodão malucas que não amassavam. E,
mais recentemente, voltou a vender produtos de beleza. – Seu pai trabalha com o
quê exatamente? Hesitei, pensando, Como ele poderia perguntar isso? Ele
realmente sabia tudo sobre mim? – Então, meu sobrenome é Lovato, certo? Ele
assentiu, interessado. Joe é britânico. Ele provavelmente nunca ouviu falar da
loja Lovatos. Contar isso me fez sentir como se tivesse levantado uma pesada
cortina de ferro. Às vezes eu pensava que seria bom tirar esse peso das costas,
mas no fim achava mais fácil deixar tudo como estava. Durante minha vida
inteira as pessoas me olhavam diferente quando eu contava quem era a minha
família; eu ficava pensando se Joe seria diferente. Respirei fundo e olhei em
seus olhos. – Minha família é dona de uma cadeia de lojas de departamento. É
uma cadeia de lojas do Centro-Oeste e, tipo, não são lojas conhecidas nacionalmente,
mas fazem sucesso no interior. Ele estreitou os olhos. – Espere. Lovatos? A
mesma daquela propaganda “Você deve amar viver”? Confirmei com um aceno de
cabeça. – Uau. Nossa. Sua família é dona da Lovatos. Quem diria – Joe passou a
mão no rosto e riu para si mesmo, balançando a cabeça. – Merda, Demi. Eu… não
tinha ideia. Estou me sentindo
um idiota. – Eu gosto do fato de você não saber quem eu era
– senti meu estômago embrulhar, percebendo que agora que sabia que sou alguém,
ele provavelmente pesquisaria minha vida. Então descobriria Will e perceberia o
quanto fui estúpida por não saber aquilo que a cidade inteira já sabia. Joe
descobriria que eu fui o capacho de outro homem antes de me tornar seu mistério
de estimação. Desviei os olhos, sentindo meu humor murchar. Eu não queria
conversar sobre minha vida, família, histórico. Tentei desesperadamente achar
um novo assunto. Mas ele voltou a falar antes que eu pudesse pensar em algo. –
Sabe o que eu acho fascinante sobre você? – ele perguntou, servindo outra taça
de vinho para mim. – O quê? – Na primeira noite em que nos conhecemos, e
depois, em nossa primeira noite no galpão: as coisas que você me deixou fazer.
Mas hoje você ficou corada por causa da palavra boceta. – É verdade – eu ri,
tomando um gole do vinho. – Gosto disso em você. Gosto do seu conflito interno,
gosto da sua doçura. Gosto de saber que você tem essa família tão insanamente
rica, mas já vi você usar o mesmo vestido algumas vezes – Joe lambeu os lábios
e mostrou um sorriso predatório. – Mas, principalmente, gosto de ver o quanto
você é uma pessoa claramente boa, porém deixou que eu fizesse coisas tão más
com você. – Não acho que são coisas ruins. – Ah, mas aí é que está. A maioria
das pessoas acharia uma loucura você se encontrar comigo no galpão. Você é uma
herdeira americana e deixou um britânico depravado tirar fotos de você nua.
Deixou filmar você se masturbando no meu escritório apenas pela excitação de
saber que vou assistir. Mas isso é o que você me pediu. Ele se recostou na
cadeira e me encarou. Parecia tão sério, quase perplexo. – Sou um homem de
sangue quente e nunca negaria esses pedidos. Mas nunca pensei que mulheres como
você existiam. Tão ingênua de maneiras tão óbvias, mas ao mesmo tempo tão
sexual que uma rapidinha amigável num colchão nunca seria suficiente. Ergui
minha taça e tomei um gole enquanto ele observava minha boca. Lambendo os
lábios, devolvi o mesmo sorriso que ele lançou anteriormente. – Acho que você
vai descobrir que a maioria das mulheres não fica satisfeita com uma rapidinha
amigável num colchão. Joe riu e murmurou: – Touché. – E é por isso que as
câmeras e as mulheres correm atrás de você – eu disse, olhando por cima da
minha taça. – É mais do que a história com Cecily. Se fosse só isso, eles
teriam perdido o interesse após algumas semanas. Mas você é o homem que está
sempre nas colunas sociais com uma mulher diferente por noite. Aquele que
ninguém consegue pegar. O homem que obviamente sabe como conquistar as
mulheres. Os olhos de Joe se arregalaram, as pupilas se dilataram. –
Ultimamente, não tenho ficado com uma mulher por noite. Eu o ignorei e concluí
meu pensamento.
– Nós, mulheres, nem sempre queremos ser tratadas como se
fôssemos delicadas, ou raras, ou preciosas. Queremos ser desejadas. Queremos
que o sexo seja tão visceral quanto vocês querem. Você é o cara que sabe disso.
Ele se apoiou nos cotovelos e começou a estudar meu rosto. – Mas por que sinto
que é você quem está dando algo especial para mim? Algo que nunca deu para mais
ninguém? – Porque é exatamente isso que estou fazendo. Ele abriu a boca para
dizer algo, mas então meu celular tocou, vibrando em cima da mesa. E, quando
olhamos para a tela, eu sabia que vimos o nome no mesmo instante. WILL CEL
o que esse puto quer com a Demi? NAO ATENDA DEMIIII...ou atenda
ResponderExcluirEsse desgraçado só apareceu para atrapalhar, se eu fosse a demi passa o celular para joe atender e falar que ele era o namorado dela
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