Dez
– Ainda não entendi por que você está me acompanhando hoje.
Tentei impedir meu sorriso quando vi a expressão irritada de Mike na porta
espelhada do elevador, ignorando os olhares curiosos dos outros passageiros ao
redor. Ele apertou o botão do décimo oitavo andar. Minha atenção caiu na
etiqueta ao lado: “Ryan Media Group”. – Você sabe o quanto eu gosto de ver você
em ação. É como atirar num peixe dentro de um barril, não é isso que vocês
americanos dizem? – Em primeiro lugar – ele disse, com a voz mais baixa –, você
está usando essa expressão de um jeito errado e ninguém mais fala isso. Em
segundo lugar, você está tramando alguma coisa. Você tem outras cem reuniões
essa semana; eu sei que está até aqui de trabalho. Por que diabos resolveu me
acompanhar hoje? Eu não preciso de você aqui. – Você está certo, tecnicamente
eu não preciso estar aqui, mas já vi você nesse tipo de reunião antes, meu
amigo. Alguém começa a falar sobre neurotransmissores e pontes químicas e, de
repente, parece que você fumou um baseado. Estou aqui apenas para ter certeza
de que não vai falar besteira e acabar concordando com algum orçamento
ridículo. – Eu nunca falo besteira. – Não, é claro que não – eu disse. – Mas
não era você quem estava interessado em grandes contatos? Vou passar um tempo
conversando com Nick enquanto estivermos aqui e matar dois passarinhos com uma
pedra só, certo? Nem eu conseguia acreditar na minha desculpa esfarrapada; não
estava acostumado a me sentir tão fora d’água em relação a uma mulher.
Certamente não estava acostumado a me esgueirar por aí como um adolescente
apenas para conseguir alguns minutos a sós com ela. Essa coisa com a Demi tinha
sido construída para ser simples, mas, recentemente, parecia o oposto. Algumas
horas antes, eu achava que tinha pensando em tudo: ir junto à reunião na RMG,
usar Nick como desculpa caso Mike perguntasse, e, se tivesse sorte, esbarrar em
Demi numa segunda-feira em vez de esperar até sexta. Passar um tempo com ela
fora de nosso arranjo acabou me deixando mal-acostumado. E receber uma mãozinha
no táxi também não tinha sido nada mal. Mas agora eu me sentia em conflito,
imaginando se estaria procurando problemas por embaçar as fronteiras desse
jeito. As portas se abriram e Mike se virou para mim. – Como você sabe, este
show é meu. Portanto, apenas sente lá com cara de inteligente. – Sr. Deleasa,
sr. Jonas – disse a recepcionista. – Bem-vindos – ela nos conduziu pelo
corredor para a grande sala de conferência cheia de janelas, com Nova York ao
fundo no horizonte como se fosse um cartão postal. – O sr. Ryan está a caminho.
– Parece um desperdício você passar sua tarde livre aqui quando poderia visitar
sua misteriosa parceira de sexo casual – Mike disse quando ficamos sozinhos
novamente. Andei até a janela e olhei para o trânsito na rua lá fora. – O que
faz você pensar que ela estaria livre no meio da tarde?
Mike começou a revisar seus papéis e eu tomei um lugar na
longa mesa, deixando minha mente divagar e lembrar a última vez que eu estivera
naquele prédio. Eu também estava correndo atrás dela naquele dia, e tenho que
admitir que pouca coisa tinha mudado. Claro, já passei um tempo com ela, comi,
chupei e toquei praticamente cada pedaço daquele corpo, mas ainda não conseguia
entender o que se passava naquela linda cabecinha. O som de vozes surgiu pelo
corredor e levantei meus olhos no instante em que Nick entrou na sala. – Mike –
ele disse, esticando o braço para cumprimentá-lo. – Obrigado por vir – ele
jogou um sorriso curioso para o meu lado. – Joe. Não esperava ver você aqui hoje.
Vai se juntar à nossa conversa sobre a B&T Biotech? Era impossível não
notar a expressão de satisfação presunçosa no rosto de Mike. Tanto ele quanto Nick
sabiam que eu só passei em química na faculdade por ter flertado com o
professor, o dr. Mikeiam Haverston. Eles adoravam lembrar o meu “quase
namorado”. – Ele é cheio de surpresas – disse Mike. – Com certeza – Nick
concordou. Eu não tinha considerado o lado de Nick. Algumas semanas já tinham
se passado desde o baile, mas não sei se ele percebeu que eu estava lá mais por
causa de Demi do que para conversar sobre as últimas novidades na manipulação
de proteínas. – Vocês são dois idiotas – murmurei. A sala começou a encher
enquanto os outros empresários entravam; infelizmente, para minha tentativa de
manter a calma, Demi apareceu repentinamente, e foi a última a entrar. Ela
estava incrível, e, enquanto Nick fazia as apresentações, deixei meus olhos
passearem pelas curvas de seu corpo. Saia azul-marinho, pequena blusa rosa
envolvendo os seios e um pescoço que eu queria chupar por horas. – Esta é Demi Lovato,
diretora de nosso departamento financeiro – Nick disse para Mike. Mike deu um
passo para frente. – Sim, nós trocamos alguns e-mails. Que bom finalmente
conhecê-la, Demi. Acho que não nos encontramos no baile do mês passado. Eles
conversaram um pouco, até que ela virou o rosto em direção a mim, quando seus
olhos se arregalaram por uma fração de segundo. Ela se aproximou, estendeu a
mão e não parecia muito feliz em me ver. – Acho que nos conhecemos no baile –
ela disse, com um sorriso pregado no rosto. – Joe Jonas, não é mesmo? Tomei sua
mão e passei meu polegar gentilmente em seu pulso. – Estou lisonjeado por você
lembrar de mim, Demi. Ela puxou a mão de volta, forçando o sorriso e se dirigindo
para sua cadeira. Prossegui com os cumprimentos e apertei a mão de Miley,
jogando um pouco de conversa fora e aceitando um vago convite para jantarmos
nas próximas semanas. Estava muito claro a razão de Nick ficar tão encantado:
ela era linda e obviamente inteligente. Não deixei de notar a maneira como
trocou olhares com Nick, como se estivessem conversando sem palavras. Em certo
momento, ele revirou os olhos e abriu um sorriso diferente de tudo que já o vi
mostrar. O pobre coitado estava mesmo enfeitiçado. Quando a reunião começou,
sentei no único lugar vazio, bem ao lado de Demi. Considerando a expressão que
fez, não fiquei convencido de que isso era uma boa ideia.
Os minutos pareciam se arrastar e, meu Deus, era realmente a
coisa mais chata que já tive que aguentar: ciência e estratégias sobre ciência.
Em certo momento, eu podia jurar que vi os olhos de Mike se fecharem em êxtase.
Demi ainda estava praticamente soltando fumaça ao meu lado. O que a fez ficar
tão tensa? Eu podia sentir cada centímetro de espaço que separava seu corpo do
meu. Tive que conscientemente evitar tirar as mãos do meu colo. Prestei atenção
em cada movimento que ela fazia, cada vez que se ajeitava na cadeira ou tomava
um gole de água. Eu podia sentir seu cheiro. Não tinha percebido o quanto seria
difícil ficar tão perto assim e não poder passar minha mão por sua pele, ou
fazer algo tão simples como ajeitar uma mecha de seu cabelo. Por que diabos eu
de repente queria ajeitar uma mecha do cabelo dela? Meu plano oficialmente foi
por água abaixo. Imediatamente após Mike ter apresentado o portfólio, Demi
pediu licença e foi embora antes que eu pudesse falar com ela. Quando eu
finalmente escapei de uma conversa sobre a melhor maneira de acentuar a
tecnologia da nossa empresa no plano de marketing, praticamente saí correndo em
direção ao seu escritório. – Olá – disse seu assistente, olhando para mim de
cima a baixo atrás do computador. – Estou aqui para ver a srta. Lovato – eu
disse, continuando o caminho até sua sala. – Boa sorte, porque ela não está aí
– ele disse por trás de mim. Eu me virei e o encontrei de volta olhando para
suas planilhas. – Sabe para onde ela foi? Sem tirar os olhos do computador, ele
respondeu: – Provavelmente foi dar uma volta. Ela acabou de sair daqui correndo
como se alguém tivesse ateado fogo nos sapatos dela – virou o rosto para mim. –
Ela geralmente vai até o parque quando está com vontade de esganar alguém. Ah,
que merda. Corri para o elevador, ignorando os olhares que recebi no caminho, e
fiquei observando os andares passarem. Que diabos deu errado? Eu mal falei duas
palavras com ela. O calor da tarde me atingiu como uma parede quando pisei na
rua, mesmo debaixo das sombras sufocantes dos prédios ao redor. Olhei para os
dois lados e virei em direção ao parque. As calçadas estavam cheias de turistas
e pessoas levando o cachorro para passear, mas eu esperava que os sapatos de
salto dela diminuíssem a velocidade o suficiente para eu alcançála. Foi uma
sensação muito estranha sair das ruas e entrar no parque, onde o cheiro de
asfalto e fumaça foi substituído por cheiro de árvores, terra e água. Vi um
relance cor de rosa no final da trilha e acelerei o passo, chamando seu nome. –
Demi! Ela parou e se virou para me encarar. – Mas que droga, Joe. O que você
estava pensando? Parei de repente. – O quê? – Lá na apresentação! – ela disse,
quase sem fôlego. – Eu não sabia que vocês financiam a B&T! Eles não
precisam revelar isso nessa altura das negociações. Você não entende? Isso é um
conflito de interesses! Esfreguei meu rosto, desejando que nosso acordo tão
simples parasse de ser tão
complicado. – Não achei que seria um problema. – Deixe eu
explicar para você – ela disse. – A diretora financeira da empresa que cuida do
marketing da B&T está transando com o dono da empresa de investimentos que
paga o marketing da B&T. Você acha que tem algum conflito aqui? Você acha
que eu preciso de você para conseguir trabalhos? Ou talvez você prefira ter
certeza de que seu novo investimento de risco tenha o melhor preço possível com
suas estratégias de marketing? Será que ela estava brincando com essa besteira?
Senti meu rosto esquentar com indignação. – Meu Deus, Demi! Não estou levando
trabalho para você por que me preocupo, nem estou transando para me certificar
que você vai fazer seu trabalho direito! Ela suspirou e ergueu as mãos. – Eu
não acho isso de verdade. Mas é assim que vai parecer. Desde quando você está
fazendo isso? Você não sabe como essas coisas se espalham? Esse é um emprego
novo para mim. Mas você é o dono do próprio negócio, e as pessoas estão
famintas por qualquer detalhe sobre a sua vida. Veja o quanto a imprensa
persegue você, mesmo cinco anos após Cecily deixar a cidade. Ela era
hipersensível sobre publicidade e a manipulação dos fatos, e isso era
desconcertante. Era tudo uma grande besteira, e eu podia perceber que ela sabia
disso. Ela desviou os olhos, com os braços cruzados e os ombros encolhidos. A
verdade era que eu não me importava com quem me visse com Demi. Cinco anos após
o drama da Cecily, eu aprendi que você não pode controlar o que as pessoas vão
dizer. Demi nunca entenderia isso. Andei até um salgueiro, desviei da cortina
de folhas e me sentei com as costas apoiadas no tronco. – Não acho que isso
seja um problema tão grande quanto você está imaginando. Ela se aproximou, mas
continuou de pé. – Meu argumento é que precisamos ser discretos. Com ou sem um
potencial conflito de interesses, eu não quero que Nick pense que eu transo com
clientes rotineiramente. – É justo, mas não acho que Nick tem moral para nos
criticar. Observei suas pernas se aproximarem, dobrarem, e então ela estava
sentada ao meu lado na grama macia. – Não havia razão nenhuma para você estar
lá. Eu não estava esperando ver você, e isso me desconcentrou. – Que droga, Demi.
Eu não iria tentar bolinar você por baixo da mesa, só queria participar da
reunião e ter uma chance de te ver e dizer oi. Você podia tentar ser mais
flexível, sabe? Ela riu um pouco, e então parou. Mas alguns segundos se passaram
e eu percebi que ela começou a rir de novo: silenciosamente, a princípio,
depois estava segurando a barriga, dobrada ao meio, praticamente chorando de
rir. – Você acha? – ela disse com dificuldade. Eu não tinha ideia do que falei
para causar essa reação, então apenas fiquei sentado, pensando que
provavelmente menos é mais quando você está sentado ao lado de uma mulher que
pode ou não estar ficando maluca. Ela se acalmou, limpando os olhos e
suspirando. – Sim, eu poderia ser mais flexível. Depois de transar com um cara
numa boate, num salão
de festas, num galpão, numa biblioteca… – Ah, Demi. Eu não
quis dizer… Ela ergueu a mão. – Não, isso é apenas uma boa lição para mim.
Ampliar meus horizontes é um processo constante. Assim que paro e penso em como
estou lidando bem com uma coisa, eu vejo o quanto ainda sou rígida com outra.
Segurei um pouco da grama em minha mão, considerando o que ela disse. – Eu
deveria ter enviado uma mensagem. – Provavelmente. – Mas, sabe, eu ficaria
contente se esbarrasse em você aleatoriamente numa reunião na Jonas & Deleasa.
– E você também quer me levar para jantar, e quer que eu durma no quarto de
hóspedes da sua mãe, e provavelmente quer até assar umas bolachinhas comigo ou
algo assim. – Porque eu não me importo em sermos vistos juntos – eu disse, cada
vez mais frustrado. – Por que você se importa? – Porque as pessoas vão se
intrometer – ela disse, virando-se para olhar em meu rosto. – As pessoas vão
falar, vão construir uma história com a nossa relação. Vão especular, pesquisar
nossas vidas, vão tentar descobrir o que queremos. Relacionamentos debaixo do
olhar público não funcionam, e se você ousar admitir que se importa, isso vai
te perseguir para sempre. – Certo – eu disse, assentindo uma vez. Fiquei
ouvindo o vento soprando entre a cortina de folhas. Gostei de ficar dentro
daquela caverna de quietude, escondido das pessoas, dos passarinhos, de
qualquer coisa que pudesse testemunhar nossa conversa e minha silenciosa crise.
Coisas demais estavam fervendo dentro de mim: a percepção de que eu queria Demi,
que eu sempre quis Demi – desde o primeiro dia que a conheci. Também aceitei a
verdade de que eu esperava que Demi eventualmente quisesse algo mais, e então
seria eu quem estabeleceria os limites, e não ela. – Joe, estou perdendo a
cabeça – ela sussurrou. – Você vai pelo menos me dizer o motivo? – Não hoje –
ela disse, olhando para os galhos acima que filtravam os raios de sol. – Estou
feliz com o que estamos fazendo, mas nem sempre é fácil ser mantido por perto
sem poder realmente ter você. Ela riu um pouco, sem muita vontade. – Eu sei –
então se aproximou e pressionou os lábios nos meus. Eu esperava apenas um
beijinho, um ato discreto em público para apaziguar as coisas depois que eu
admiti que deveria ter avisado sobre minha visita e ela admitiu que exagerou na
reação. Mas acabou sendo algo muito mais profundo: as mãos em meu rosto, a boca
aberta e faminta por mais, e de repente ela subiu em mim, montando em minhas
coxas. – Por que você é tão legal? – ela sussurrou, e então me beijou
novamente, abafando qualquer resposta que eu pudesse dar. Mas esse beijo
continuou. Parecia grande demais para ser interrompido levando minha mão até
sua calcinha ou pressionando-a contra a árvore. – Sou legal porque eu realmente
gosto de você. – Você conta mentiras de vez em quando? – ela perguntou, com
olhos curiosos.
– É claro que sim. Mas por que eu seria desonesto com você?
Seu rosto perdeu a expressão e ela ficou pensativa. Após uma longa pausa,
suspirou. – É melhor eu voltar. Meu humor mudou imediatamente de intimista e
caloroso para resignado e irritado. Essa garota era um bumerangue. – Certo. Ela
ficou de pé e limpou a grama dos joelhos e da saia. – Provavelmente é melhor
não voltarmos juntos. Só consegui balançar a cabeça concordando, com medo de
deixar escapar uma ladainha de frustração sobre as regras de discrição dela,
particularmente após ter acabado de montar em meu colo debaixo de uma árvore.
Ela me observou por um tempo e plantou cuidadosamente um beijo em meu rosto. –
Também gosto de você. Observei enquanto ela ia embora, com o queixo erguido e
as costas retas, tentando mostrar para o resto do mundo que estava apenas
voltando de uma caminhada pelo parque. Olhei ao redor como se meu próprio
coração estivesse em pedaços no meio da grama.
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