Dois
– Então, espera aí – Nick disse, puxando sua
cadeira para se sentar. – Essa é a irmã que você comeu? – Não, essa foi a Liv –
sentei-me de frente para ele e ignorei seu sorriso maldoso e a pontada no meu
estômago. – E eu não comi ela. Apenas ficamos algumas vezes. A irmã mais nova é
a Dem. Ela era apenas uma criança na primeira vez que passei o Natal com
Jensen. – Ainda não consigo acreditar que ele levou você para passar o Natal em
casa e você beijou a irmã dele no quintal. Eu chutaria o seu traseiro – mas ele
reconsiderou, coçando o queixo. – Ah, dane-se isso. Eu não daria a mínima.
Olhei para Nick e tive que rir um pouco. – Pois é, então, na verdade eu era
mesmo um filho da mãe. Ao nosso redor, taças tilintavam e pessoas conversavam
num murmúrio discreto. Almoço de terça-feira no Le Bernardin tinha se tornado
uma rotina para nosso grupo nos últimos seis meses. Nick e eu geralmente éramos
os últimos a chegar, mas aparentemente hoje os outros se atrasaram por causa de
alguma reunião. – Era um filho da mãe? Seu uso do verbo no passado é adorável –
Nick murmurou, olhando para o cardápio antes de fechá-lo com força. Na verdade,
não sei por que ele o abriu em primeiro lugar. Ele sempre pedia caviar de
entrada e um peixe tamboril como prato principal. Eu recentemente concluí que
Nick guardava toda a sua espontaneidade para a sua vida com Miley; com comida e
trabalho, ele era uma criatura de hábitos. – Eu acho que você ainda é um pouco
filho da mãe. – Eu sei que acha isso. Acontece que você sempre se esquece de
como você era antes de conhecer Miley. – Não é verdade – ele protestou com seu
sorriso grande e fácil. – Eu sei que eu era um cretino. Mas, enfim, me conte
sobre essa irmãzinha. – Ela é a mais nova dos cinco filhos da família Lovato, e
está fazendo pós-graduação aqui na Universidade Columbia. Dem sempre foi
ridiculamente inteligente. Terminou a graduação em três anos e agora trabalha
com o Liemacki. Sabe? Aquele que trabalha com vacinas? Nick balançou a cabeça e
deu de ombros como se dissesse: “Quem diabos é esse cara?”. Eu continuei: – É
uma pesquisa de ponta que está sendo desenvolvida na faculdade de medicina.
Enfim, no último fim de semana em Las Vegas, quando você estava atrás da sua
garota nas mesas de blackjack, Jensen me enviou uma mensagem avisando que iria
visitá-la aqui na cidade. Acho que ele fez todo um discurso para ela dizendo
que não deveria passar o resto da vida vivendo entre os tubos de ensaio. O
garçom se aproximou para encher nossos copos, e dissemos que estávamos
esperando outras pessoas. Nick olhou de volta para mim. – Então você está
planejando se encontrar novamente com ela?
– Pois é. Acho que vamos sair e fazer alguma coisa
nesse fim de semana. Acho que vamos correr de novo. Não deixei de perceber a
maneira como seus olhos se arregalaram. – Está deixando alguém entrar no seu
mundinho privado das corridas matinais? Isso parece mais íntimo do que sexo,
Joseph. Fiz um gesto de repúdio. – Nada a ver. – Mas foi divertido? Reencontrar
a irmãzinha e tal? Na verdade, foi, sim, divertido. Não foi nada selvagem, ou
mesmo algo de muito especial – meu Deus, apenas saímos para correr. Mas eu
ainda me sentia um pouco abalado pela maneira como ela tinha mudado. Fui até lá
pensando que deveria haver uma razão para seu isolamento, além de suas longas
horas de trabalho. Esperava que ela fosse desajeitada, ou feia, ou uma típica
pessoa socialmente inepta. Mas não era nada disso, e ela definitivamente não
parecia ser a “irmãzinha” de alguém. Ela era ingênua e um pouco desbocada, mas
realmente apenas trabalhava muito e se tornou refém de uma série de hábitos dos
quais ela já não gostava. Ou nem mesmo se identificava. Conheci os Lovatos no
Natal do meu segundo ano na faculdade. Eu não tinha dinheiro para viajar até
minha casa naquele ano, e aparentemente a mãe de Jensen teve um troço só de
pensar que eu ficaria sozinho na moradia estudantil. Então ela foi nos buscar
pessoalmente só para ter certeza de que eu voltaria com ele. A família era tão
amorosa e barulhenta quanto você esperaria de uma família com cinco filhos com
quase exatamente dois anos de diferença entre eles. Suspeitei desde o princípio
de que Johan Lovato era a pessoa mais organizada e estruturada do planeta. Como
era do meu feitio naquele estágio da minha vida, eu os agradeci ficando com sua
filha mais velha, Liv, no quintal da casa deles. Alguns anos mais tarde,
trabalhei como estagiário para Johan e morei em sua casa. Foi um verão quieto:
apenas eu, Jensen e a filha mais nova, Dem. A casa deles se tornou o meu
segundo lar. Mas, embora tenha ficado três meses por lá, eu me lembrava muito
pouco dela. Mais tarde, fui o padrinho do casamento de Jensen, do qual Dem,
então com vinte anos, foi a madrinha. Mas ela era sete anos mais nova do que eu
e estava no último semestre da faculdade. Assim, sempre que não estávamos
ocupados com os preparativos, ela estava afundada nos estudos. Acho que não
conversei com ela em nenhum momento daquele fim de semana. Então, quando ela me
ligou ontem, foi um pouco difícil até de lembrar como era seu rosto. Mas quando
a vi no parque, lembrei-me de mais coisas do que imaginava. Dem aos doze anos,
com o nariz cheio de sardas escondido atrás de livros. Ela apenas mostrou um
ocasional sorriso tímido do outro lado da mesa de jantar – na maior parte do
tempo, apenas evitou contato comigo. De qualquer maneira, eu tinha dezenove
anos e nem reparei nela. Depois, lembro-me dela aos dezesseis anos, toda
desengonçada, com o cabelo embaraçado descendo por suas costas. Ela passava as
tardes vestindo shorts curtinhos e tomara que caia, lendo em cima de uma
coberta no jardim enquanto eu trabalhava com seu pai. Lembro-me de reparar nela
como o fazia com qualquer outra mulher, como se estivesse catalogando partes de
corpos. A garota tinha curvas, mas era silenciosa, e obviamente ingênua em
relação à paquera, o que acabou merecendo meu desinteresse. Na época, minha
vida estava cheia de curiosidade e
safadezas: mulheres jovens e mais velhas dispostas
a experimentar de tudo ao menos uma vez. Mas, nesta tarde, uma bomba foi
detonada em minha cabeça. Ver seu rosto me fez sentir como se estivesse em casa
novamente, mas ao mesmo tempo como se estivesse conhecendo uma linda garota
pela primeira vez. Ela não se parecia em nada com Liv ou Jensen, que tinham
cabelos claros e eram muito altos, quase uma cópia carbono um do outro. Dem
parecia com seu pai, para o bem ou para o mal. Ela tinha a combinação paradoxal
dos longos membros de seu pai e as belas curvas de sua mãe. Ela herdou os olhos
cinza, o cabelo moreno-claro e as sardas de Johan, mas o sorriso aberto era de
sua mãe. Eu hesitei quando ela se aproximou, passou os braços ao redor do meu
pescoço e me abraçou. Foi um abraço confortável, quase íntimo. Com exceção de
Dani e Miley, eu não tinha muitas mulheres em minha vida que eram estritamente
amigas. Quando eu abraçava uma mulher daquele jeito – apertando bem próximo –,
geralmente havia algum elemento sexual. Dem sempre foi a irmãzinha, mas ali,
nos meus braços, eu percebi perfeitamente que ela já não era mais uma criança.
Ela era uma mulher de vinte e poucos anos com mãos quentes no meu pescoço e o
corpo colado ao meu. Ela cheirava a xampu e café. Cheirava como uma mulher, e
debaixo daquela blusa de moletom e a jaqueta pateticamente fina, eu podia
sentir o formato dos seios apertados contra meu peito. Quando ela se afastou e
olhou em meu rosto, eu imediatamente gostei dela: ela não tinha caprichado no
visual, não tinha colocado maquiagem ou vestido roupas esportivas caras. Ela
vestia a blusa de Yale de seu irmão, calças pretas que eram curtas demais e um
par de tênis que definitivamente tinha visto dias melhores. Ela não estava
tentando me impressionar, apenas queria me ver. “Ela é tão ingênua, cara”,
Jensen disse quando me ligou na semana passada. “Sinto que falhei por não
antecipar que ela seria obcecada com trabalho igual ao meu pai. Nós vamos fazer
uma visita a ela. Eu nem sei o que fazer.” Voltei à realidade quando Miley e
Kevin se aproximaram da nossa mesa. Nick se levantou para cumprimentá-los, e eu
desviei os olhos quando ele beijou o pescoço de Miley e sussurrou em seu
ouvido: “Você está linda, minha Flor”. – Você está esperando Dani? – perguntei
depois de todos se sentarem. Se minha pergunta soou um pouco brusca, é porque
estive convivendo com esses dois casais e suas demonstrações públicas de afeto
por vários meses, embora eu não soubesse por que justo hoje isso fez eu me
sentir desconfortável. Kevin falou por trás do cardápio: – Ela está em Boston
até sexta-feira. – Ufa, graças a Deus – Nick disse. – Porque eu estou faminto e
aquela mulher demora décadas para escolher o que vai pedir. Kevin riu baixinho,
baixando o cardápio de volta para mesa. Fiquei aliviado também, não porque
estava com fome, mas porque estava finalmente tendo um descanso de segurar vela
para os outros. Meus quatro amigos-namorados estavam quase chegando na estrada
da Presunção e já tinham passado faz tempo pela esquina do
vamos-nosmeter-na-vida-amorosa-do-Joe. Eles se convenceram de que eu estava
quase tendo meu coração despedaçado pela mulher dos meus sonhos e estavam
ansiosos para assistir ao espetáculo. E, apenas para aumentar sua obsessão, ao
voltar de Las Vegas na semana passada eu cometi o erro de mencionar casualmente
que estava sentindo um distanciamento das minhas duas
amantes regulares, Kitty e Alexis. As duas não
tinham problemas com sexo sem compromisso, e uma não se importava com a existência
da outra – ou com qualquer outro caso ocasional que eu tivesse –, mas
ultimamente eu sentia que apenas estava seguindo uma rotina: Tirar a roupa.
Tocar. Transar. Orgasmo. (Talvez um pouco de conversa na cama.) Beijo de
boa-noite. Então eu ia embora, ou elas iam embora. Será que eu estava me
cansando dessa rotina fácil? Ou será que estava me cansando de sexo sem nada
mais? E por que diabos eu estava pensando nisso tudo de novo, agora? Eu me
endireitei na cadeira e esfreguei o rosto. Nada em minha vida mudou de ontem
para hoje. Tive uma manhã prazerosa com Dem, só isso. Na verdade, foi
exatamente isso. O fato de ela parecer tão inesperadamente genuína, engraçada e
linda não deveria me abalar desse jeito. – Então, do que estávamos falando? –
Kevin perguntou, agradecendo o garçom quando recebeu seu gimlet com vodca. –
Estávamos discutindo o reencontro do Joe de hoje de manhã – Nick disse, e
depois acrescentou com um sussurro exagerado: – Com uma amiga. Miley riu. – Joe
se encontrou com uma mulher hoje? E onde está a novidade? Kevin ergueu a mão. –
Espere, hoje não é o dia da Kitty? E você se encontrou com outra mulher pela
manhã? – ele tomou um gole de seu drinque, olhando para mim. – Seu cachorro
safado. Na verdade, Kitty era a razão para eu sugerir a Demi que nos
encontrássemos pela manhã em vez de à noite: Kitty era minha “reunião” até mais
tarde. Mas quanto mais eu pensava nisso, a ideia de passar minha terça-feira de
sempre com ela parecia menos e menos atraente. Soltei um gemido, e tanto Miley
quanto Nick explodiram numa risada. – Por acaso é estranho a gente saber a
Agenda Amorosa Semanal do Joe? – Miley perguntou. Nick olhou para mim, com
olhos sorridentes. – Você está pensando em cancelar os planos com Kitty, não é?
Acha que isso vai trazer problemas? – Provavelmente – admiti. Kitty e eu fomos
namorados há alguns anos, e terminamos de modo amigável quando ela disse que
queria algo mais. Mas quando nos encontramos num bar alguns meses atrás, ela
disse que dessa vez queria apenas se divertir. E é claro que eu aceitei. Ela
era linda, e sempre disposta a fazer qualquer coisa que eu quisesse. Ela
insistia que não se importava com uma relação que não passasse de sexo. Mas
acontece que nós dois sabíamos que ela estava mentindo: sempre que eu precisava
cancelar um encontro, ela se tornava insegura e carente em nosso encontro
seguinte. Alexis era quase que o completo oposto. Ela era fechada, tinha um
fetiche de ser amordaçada – coisa que eu não compartilhava, mas não via
problemas em satisfazer – e
raramente ficava para conversar depois de transar.
– Se você está interessado nessa garota nova, então você provavelmente deveria
terminar com Kitty – Miley disse. – Gente – eu protestei, passando o garfo pela
minha salada. – Não existe nada com Dem. Nós só fomos correr. – Então por que
ainda estamos falando nisso? – Kevin perguntou com uma risada. Eu concordei. –
Exatamente. Mas eu sabia que estávamos conversando sobre isso porque eu estava
tenso, e quando eu estava tenso eu não conseguia esconder de ninguém. Minhas
sobrancelhas se juntavam, meus olhos ficavam mais sombrios e minhas palavras
saíam atravessadas. Eu me tornava um filho da mãe. E Nick adorava isso. – Ah,
estamos conversando sobre esse assunto – Nick disse – porque Joe está ficando
nervoso, e isso é uma das coisas que eu mais gosto no mundo. E também é muito
interessante ver o quanto ele está pensativo depois de passar a manhã com essa
tal irmãzinha. Joe geralmente não parece que está pensando tanto até doer. –
Ela é a irmã mais nova de Jensen – eu expliquei para Miley e Kevin. – Ele teve
um caso com a irmã mais velha quando eram adolescentes – Nick acrescentou. –
Você sempre tem que jogar a merda no ventilador, não é? – eu disse rindo. Liv
foi um caso rápido, eu mal conseguia me lembrar de muita coisa além de uns
beijos mais quentes e, depois, de minha escapada fácil quando voltei para New
Haven. Comparado com alguns de meus relacionamentos da época, o que aconteceu
com Liv mal foi registrado na minha escala de sexo. Depois ela passou todo o
verão na faculdade quando eu trabalhei com seu pai. A última vez que vi uma das
irmãs Lovato foi no casamento de Jensen, alguns anos mais tarde. – Isso
aconteceu faz uma eternidade. Nossas entradas chegaram e comemos em silêncio
por um instante. Minha mente começou a vagar. No meio da nossa corrida, eu
parei de resistir e comecei a checar seu corpo inteiro. Olhei para o rosto, os
lábios, a mecha de cabelo que se soltou e pousou na pele macia de seu pescoço.
Nunca escondi minha apreciação sobre as mulheres, mas não é qualquer mulher que
me atrai. Então, o que tinha de especial em Dem? Ela era bonita, mas
definitivamente não era a garota mais linda que eu já vi. Ela era sete anos
mais nova do que eu, tão verde quanto uma maçã, e mal saía do trabalho para
respirar. O que ela poderia me oferecer que eu não poderia achar em outro
lugar? Ela olhou para mim e me flagrou; a energia entre nós era palpável, e
também era uma coisa confusa. E quando ela sorriu, seu rosto inteiro se
acendeu. Ela parecia uma pessoa muito acessível, e apesar da temperatura, algo
se aqueceu em minhas veias. Era uma velha e familiar fome. Um desejo que eu não
sentia faz tempo, onde meu sangue se enchia de adrenalina e eu queria ser o
único a descobrir os segredos de uma garota. E a pele de Dem reluzia, seus
lábios estavam inchados e pareciam tão macios… O animal dentro de mim queria
olhar mais de perto suas mãos, sua boca, seus seios. Levantei meu rosto quando
senti Nick me observando enquanto mastigava pensativo. Ele ergueu o garfo e
apontou para o meu peito. – Só é preciso uma única noite com a garota certa. E
não estou falando de sexo. Uma única
noite poderia mudar você, meu amigo… – Ah, para com
isso – eu resmunguei. – Você está sendo muito idiota agora. Kevin se endireitou
e entrou no assunto. – O negócio é encontrar a mulher que faz você ficar
pensando. É ela quem vai mudar sua mente sobre tudo. Eu levantei minhas mãos. –
É um pensamento muito bonito, caras. Mas Dem realmente não faz o meu tipo. – E
qual é o seu tipo, afinal? Uma mulher que faz sombra? Que mija sentada? – Nick
perguntou. Eu ri. – Acho que ela é um pouco jovem demais. Ainda está verde. Os
caras se entreolharam e concordaram, mas eu podia sentir Miley me observando. –
Vai, fala logo o que você está pensando – eu disse para ela. – Bom, estou
apenas pensando que você ainda não encontrou alguém que faça você querer ir
mais fundo. Você sempre escolhe certo tipo de mulher, um tipo que sabe que vai
encaixar na sua estrutura, suas regras, seus limites. Como ainda não se cansou
disso? Você está dizendo que essa irmã… – Dem – Nick ofereceu. – Certo – ela
disse. – Você está dizendo que Dem não faz o seu tipo, mas na semana passada
você disse que estava sentindo um distanciamento das mulheres que transam com
você sem nenhum tipo de compromisso – ela garfou um pedaço de seu almoço e deu
de ombros enquanto levava a comida até a boca. – Talvez você precise reavaliar
qual é o seu tipo. – Isso é ilógico. Posso estar perdendo interesse nas minhas
amantes, mas isso não significa que preciso refazer todo o sistema – eu disse
resmungando e continuei a mexer na minha comida. – Embora, na verdade, eu
tenha, sim, um favor para pedir. Miley engoliu e disse: – É claro. – Eu estava
pensando se você e Dani poderiam levá-la para sair. Ela não tem amigos aqui na
cidade e vocês… – É claro – ela disse rapidamente. – Mal posso esperar para
conhecê-la. Olhei para Nick com o canto do olho e não me surpreendi ao vê-lo
mordendo os lábios e me olhando como um gato que pegou um canário. Mas Miley
aprendeu uma coisa ou outra com Dani e já sabia como controlá-lo, pois, ao
menos uma vez na vida, ele estava estranhamente quieto. Você às vezes sente que
as pessoas de quem você mais gosta não são as pessoas com quem você mais
convive? Ultimamente, sinto que não estou colocando meu coração onde realmente
importa. Quando disse isso, sua voz e os olhos grandes e honestos me fizeram
sentir preenchido e vazio ao mesmo tempo, como se sentisse algo tão forte que
eu não sabia se era dor ou prazer. Dem queria que eu mostrasse como sair e
namorar, como conhecer pessoas interessantes… e a realidade era que eu mesmo
não estava fazendo isso. Posso não ser a pessoa que vive sozinha entre a casa e
o trabalho, mas isso não significava que eu estava feliz. Pedi licença para ir
ao banheiro, peguei meu celular e digitei uma mensagem para o número
que ela me passou: O Projeto Dem ainda está de pé?
Se sim, estou dentro. Corrida amanhã, planos para o fim de semana. Não se
atrase. Fiquei olhando para a tela por alguns segundos, mas quando ela não
respondeu imediatamente eu voltei para meu almoço e amigos. Porém, mais tarde,
quando deixei o restaurante, notei que havia chegado uma única mensagem, e eu
tive que rir, lembrando que Dem mencionou um antigo celular que ela quase não
usava mais. Ót9iimo!11Naoconsigoacharobotaodeespaço=maseu teligodepois —
Entre as agendas malucas de Dem, Dani e Miley, as
três só poderiam se encontrar no fim de semana. Mas graças a Deus elas
conseguiram dar um jeito, pois ver Dem correr todas as manhãs com os braços
cruzados sobre o peito já estava fazendo os meus peitos doerem. Naquele sábado
à tarde, Nick estava sentado numa mesa do Blue Smoke quando eu cheguei,
ofegando e faminto depois de correr meus dez quilômetros. Como sempre acontecia
com nosso grupo, o planejamento aconteceu sem qualquer ajuda minha, então
acordei com uma mensagem de Dani dizendo que eu deveria levar Dem para
encontrá-las para tomar café da manhã e fazer compras, o que significava que eu
correria sozinho pela primeira vez em vários dias. Eu não me importei. Até achei
bom. Dem precisava sair, mas também precisava de algumas coisas. Precisava de
tênis de corrida. Precisava de roupas de corrida. Até poderia comprar umas
roupas normais, se estava mesmo levando a sério essa coisa de sair em
encontros, pois a maioria dos caras são idiotas superficiais que se importam
apenas com as primeiras impressões. Dem não era muito boa nesse departamento,
mas parte de mim não queria forçar demais. Eu gosto de olhar mulheres
bem-vestidas, mas, por mais estranho que seja, com Dem, o mais intrigante é que
ela não se importa muito com essas coisas. Pensei que ela provavelmente iria
apenas continuar fazendo o que sempre fazia. Sem nem mesmo olhar para mim, Nick
tirou o jornal que estava sobre minha cadeira e chamou a garçonete para eu
fazer meu pedido. – Água – eu disse, usando um guardanapo para limpar o suor
das minhas sobrancelhas. – E talvez apenas uns amendoins por enquanto. Mais
tarde eu peço o almoço. Nick pegou minha mochila e voltou para o seu jornal,
entregando para mim a seção de Negócios do New York Times. – Você não tinha
saído com as garotas hoje de manhã? – ele perguntou. Agradeci a garçonete
quando ela trouxe minha água e tomei um grande gole. – Levei Dem até elas. Eu
não sabia se ela conseguiria encontrar qualquer lugar que não fosse dentro do
campus da Columbia. – Que mamãe-ganso amorosa você é. – Ah, nesse caso, eu
deveria contar amorosamente para você que Miley acidentalmente enviou uma foto
da bunda dela para o Kevin. Não havia nada que eu adorasse mais do que pegar no
pé do Nick por causa da obsessão deles em tirar fotos safadas. Ele olhou para
mim por cima do jornal e seu rosto relaxou quando viu meu sorriso maroto. –
Cuzão – ele murmurou.
Folheei a seção de Negócios por alguns minutos
antes de voltar minha atenção para o caderno de Ciência e Tecnologia. Por trás
de seu muro de jornal, o celular de Nick tocou. – Oi, Chlo – ele fez uma pausa
e baixou o jornal na mesa. – Não, só eu e o Joe almoçando. Talvez o Ben esteja
correndo. Ele assentiu e então me entregou o celular. Eu atendi, surpreso. –
Oi… está tudo bem? – A Demi é adorável – Dani disse, e então riu
silenciosamente. – Ela não compra roupas desde a faculdade. Juro que não a
tratamos como uma boneca, mas ela é a coisa mais fofa que existe. Por que você
demorou tanto para nos apresentar? Senti meu estômago se apertar. Dani não
estava no almoço onde discutimos o assunto Dem. – Você sabe que ela não é uma
namorada, não é? – Eu sei, você está só comendo, que seja. Joe… Comecei a
interrompê-la, mas ela continuou: – … eu apenas queria que você soubesse que
está tudo indo bem. Ela parecia que ia se perder na Macy’s se não ficássemos
atrás dela. – Foi exatamente isso que eu disse. – Certo, foi isso mesmo que
entendi. Apenas liguei para ver se Nick sabia onde Kevin está. Temos mais
compras para fazer. – Viu, espera um pouco – eu disse, antes de realmente
considerar o que estava para pedir. Fechei os olhos e lembrei da corrida com
Dem nos últimos dias. Ela era relativamente magra, mas, caramba, havia muita
“bagagem” na frente. – O que foi? – Se vocês estão fazendo compras, não se
esqueça de comprar… – olhei para Nick, confirmando que ele estava absorto em
seu jornal antes de completar sussurrando: – uns sutiãs. Sabe? Daqueles
esportivos? Mas talvez também… tipo… uns normais. Certo? Eu senti, em vez de
ouvir, o silêncio do outro lado da linha. Foi um momento pesado que pressionou
meu peito enquanto o constrangimento aumentava. E aumentava. Quando dei uma
olhada para frente, vi Nick me encarando, tentando não soltar uma risada
explosiva. – Você tem sorte de eu não ser o Kevin agora – Dani disse,
finalmente. – O tamanho do chute no seu traseiro seria algo de outro planeta. –
Não se preocupe, Nick está aqui, e eu posso ver que ele vai me importunar o
suficiente para todo mundo ficar satisfeito. Ela riu. – Então, pode deixar.
Sutiãs para suportar os grandes seios da sua não namorada. Deus, você é tão
cafajeste. – Obrigado. Ela desligou, e eu devolvi o telefone para Nick,
evitando olhar em seu rosto. – Oh, Victoria – ele disse num tom gozador. – Você
tem um segredo? Você é boa em ajudar mulheres a encontrar roupas íntimas
apropriadas para várias ocasiões? – Vá se ferrar – eu disse, rindo. Sua
expressão era como se o maldito time de futebol dele tivesse ganhado a copa do
mundo. – Ela está correndo comigo, e usa umas blusas… sei lá. Mas não usa sutiã
esportivo. E os sutiãs que ela tem fazem aquele… – fiz um gesto para o meu
peito. – Aquele apertão esquisito quando parece que tem quatro seios, sabe?
Apenas pensei
que já que elas foram fazer compras, então… Nick
pousou o queixo nas mãos e sorriu para mim. – Deus, você é tão bonzinho,
Joseph. – Você sabe o que eu penso sobre seios. É um assunto muito sério. Além
disso, pensei sem dizer em voz alta, Dem tem as curvas de uma pin-up. –
Realmente – ele concordou, levantando novamente o jornal. – Apenas acho
engraçado o jeito como você está fingindo que não gostaria de uma garota com
quatro seios. —
Cerca de meia hora depois, a porta se abriu atrás
de Nick e eu olhei para o emaranhado de cabelos sedosos e sacolas de compras
que entrou e se aproximou de nossa mesa. Nick e eu nos levantamos e ajudamos
Dem a descarregar sua bagagem numa das cadeiras. Ela vestia uma blusa de
moletom azul-claro, calça jeans escura bem justa e sandálias verdes. Não estava
vestida como se tivesse saído de uma passarela, mas parecia confortável e
estilosa. Seu cabelo estava… diferente. Cerrei meus olhos, estudando-o enquanto
ela deslizava a bolsa de seu ombro. Ela havia cortado, ou talvez tivesse apenas
soltado os cabelos em vez de usar daquele jeito bagunçado de sempre. As mechas
caíam pelos ombros, lisas, grossas e macias. Mas, apesar da mudança nas roupas
e cabelos, ela, felizmente, ainda se parecia com Dem: apenas um pouco de
maquiagem, um sorriso luminoso e sardas banhadas pelo sol. Ela estendeu a mão
para Nick, sorrindo. – Eu sou Demi. Você deve ser Nick. Ele a cumprimentou e
disse: – Prazer em conhecê-la. Você teve uma boa manhã com aquelas duas
malucas? – Tive, sim. Ela se virou para mim, envolveu os braços ao redor do meu
pescoço e eu tentei não gemer quando ela o apertou. Eu amava e odiava seus
abraços ao mesmo tempo. Eram apertados, quase sufocantes, mas
surpreendentemente calorosos. Quando soltou, ela desabou na cadeira. – Mas
aquela Dani gosta mesmo de lingerie. Acho que passamos uma hora só naquela
seção. – Por que não estou surpreso com isso? – eu murmurei, enquanto
discretamente olhava para o peito de Dem ao me sentar novamente. Os seios
estavam maravilhosos como sempre; cheios e empinados. Tudo perfeitamente no
lugar certo. Ela deve ter comprado alguma lingerie. – E falando nisso… – Nick
se levantou e guardou a carteira no bolso de trás da calça. – Acho que está na
hora de encontrar minha flor e ver o resultado das compras dela. Foi um prazer
te conhecer, Demi. Ele deu um tapinha em meu ombro, piscando para ela. – Tenha
um bom almoço. Dem acenou para Nick, então se virou para mim, com olhos
arregalados. – Uau. Ele é… gostosão. Conheci Kevin também. Vocês parecem o
clube dos gostosões de Manhattan. – Não existe uma coisa dessas – eu disse,
sorrindo. – E a propósito, você está ótima – sua cabeça virou de repente para
mim, com olhos surpresos, e eu rapidamente acrescentei: – Ainda bem que não
deixou que elas cobrissem você de maquiagem. Eu sentiria falta das suas
sardas. – Você sentiria falta das minhas sardas? –
ela perguntou num sussurro. – Que homem diz uma coisa dessas? Você está
tentando me fazer ter um orgasmo agora mesmo? Tentei com todas as forças não
olhar novamente para seus seios quando ela disse isso. Olhando de relance para
as sacolas de compras, eu murmurei: – Eu… humm… parece que você comprou um
monte de tênis de corrida. Abaixando-se, ela vasculhou procurando por algo. –
Acho que comprei de tudo. Nunca na minha vida fiz compras desse jeito. A Liv
provavelmente vai estourar um champanhe quando souber – seus olhos estudaram
meu rosto, meu pescoço, meu peito, como se apenas agora tivessem notado minha
presença. – Você foi correr hoje de manhã? – E andei de bicicleta. – Você é tão
disciplinado – ela se inclinou para frente com as mãos apoiando o queixo e
piscou os cílios para mim. – Isso faz maravilhas com seus músculos. Rindo, eu
disse: – Isso me acalma. E evita que… – tentei encontrar as palavras, sentindo
um calor subir por meu pescoço – que eu aja como um estúpido. – Não era isso
que você iria falar – ela disse, ajeitando-se na cadeira. – Evita o quê? Tipo,
que você saia por aí brigando em bares? É um jeito de aliviar a tensão e a
ansiedade masculina? Decidi testá-la um pouco. Não sei de onde veio esse
impulso, mas ela era uma confusa mistura entre ser ingênua e selvagem, e isso
fazia eu me sentir impulsivo, quase bêbado. – Evita que eu fique por aí
querendo transar o tempo todo. Ela mal piscou. – Mas por que você prefere
correr em vez de transar? Conversar com ela sobre isso parecia perigoso. Eu não
sabia dizer exatamente como, mas era tentador olhar para ela mais do que eu
deveria, e Dem não fugiu da minha inspeção. Ela me encarou de volta. – Não sei
por que eu disse isso – admiti. – Joe. Eu não sou uma virgem nem uma mulher
tentando transar com você. Nós podemos conversar sobre sexo sem problemas. –
Humm, não sei se isso é uma boa ideia. Levei meu suco até meus lábios, tomando
um gole enquanto a observava tomando sua água, com olhos presos aos meus. Ela
não estava tentando transar comigo? Nem mesmo um pouco? Eu me senti um pouco
desapontado. O ar entre nós parecia pesado – eu queria estender meu braço e
passar os dedos em seu lábio inferior. – Estou apenas dizendo – ela começou –
que você não precisa fazer rodeios comigo. Gosto de como você sempre vai direto
ao assunto. – E você sempre é aberta assim com as pessoas? Ela balançou a
cabeça. – Acho que faço isso especificamente com você. Sei que normalmente eu
falo demais, mas me sinto especialmente idiota quando estou perto de você, e
não consigo parar de falar besteiras. – Eu não quero que você pare de falar
besteiras.
– Você sempre foi tão obviamente sexual e aberto
sobre o assunto. Você é tipo um jogador gostosão que não pede desculpa por
gostar de mulher. Quer dizer, se eu notei isso sobre você quando tinha doze
anos, então era mesmo óbvio. Gosto de você sendo quem você é. Não respondi,
pois não sabia o que dizer. Ela gostava daquilo que todas as outras mulheres
queriam domar em mim, mas eu não sabia se gostava que essa fosse sua impressão
de quem eu era. – Dani me disse que você pediu que elas me levassem para
comprar sutiãs. Olhei para seu rosto bem quando ela desviava o olhar da minha
boca. Seu pequeno sorriso se transformou em algo malicioso. – Como você é
atencioso, Joe. Que bom que você fica pensando nos meus seios. Dei uma mordida
no meu sanduíche e murmurei: – Não precisamos discutir isso. Nick já fez o
favor de chutar o meu traseiro. – Você é um homem misterioso, Joe Jogador – ela
ergueu o cardápio e avaliou as opções antes de colocá-lo de volta na mesa. –
Mas, que seja. Vou mudar o assunto. Sobre o que você quer conversar? Engoli,
observando-a. Nunca poderia imaginar uma garota assim, tão jovem, parecendo uma
mistura entre a intensidade e a compostura de Dani e Miley. – Sobre qualquer
coisa que vocês garotas tenham conversado hoje – sugeri. – Bom, Miley e eu
tivemos uma conversa divertida sobre como é se sentir quase virgem de novo
depois de passar um tempão sem sexo. Eu quase engasguei. – Uau. Isso… eu nem
imagino como seria isso. Ela me observou, divertindo-se. – Mas, falando sério.
Tenho certeza de que é diferente para os homens. Mas para as mulheres, depois
de um tempo, você acaba pensando: virgindade cresce de novo? É tipo um limo
numa caverna? – Que imagem bonitinha. Ela me ignorou e se ajeitou na cadeira,
parecendo mais animada. – Na verdade, isso é perfeito. Você é um cientista,
então vai gostar da teoria que eu pensei. Eu me preparei para ouvir algo
maluco. – Você acabou de fazer uma analogia horrível com limo numa caverna.
Honestamente, agora fiquei com medo de ouvir qualquer teoria sua. – Desencana.
Então, sabe como a virgindade de uma garota é considerada algo sagrado? Eu ri.
– Sim, conheço o conceito. Ela coçou a cabeça e mexeu um pouco no nariz cheio
de sardas. – Minha teoria é a seguinte: os homens das cavernas estão
retornando. Todo mundo quer ler sobre o cara que amarra a garota, ou fica
violento de ciúmes se – Deus nos livre – ela veste uma roupa sexy fora de casa.
As mulheres supostamente gostam disso, não é? Bom, eu acho que a nova moda vai
ser a revirgindade. Elas querem que seus homens sintam que eles são os
primeiros. E você pode imaginar como as mulheres farão isso? Observei seus
olhos cada vez mais animados esperando minha resposta. Algo sobre sua
sinceridade, sua consideração séria do assunto, me fez sentir um aperto no
peito. – Humm, com mentiras? Eu honestamente não saberia se uma garota é
virgem, a não ser que
ela… – Primeiro com cirurgia, provavelmente. Vamos
chamar isso de “restauração de hímen”. Baixando meu sanduíche, soltei um
gemido. – Meu Deus, Dem. Estou comendo. Vamos deixar a conversa sobre hímens
para depois… – E então… – ela batucou na mesa, fazendo crescer o suspense – …
todos estão esperando para ver o que as células-tronco podem fazer por nós.
Mas… não acho que eles vão começar com lesão de medula ou mal de Parkinson.
Sabe o que eu acho que vai ser a primeira grande aplicação? – Mal posso esperar
para saber – eu disse, em tom de brincadeira. – Aposto que vai ser a
restauração da, você sabe, honra das mulheres. Quase engasguei de novo. –
Honra? – Você disse para não falar mais em hímen, então… mas estou certa, você
não acha? Antes que eu pudesse responder e dizer que até que era uma boa
teoria, ela continuou. – Quantias ridículas de dinheiro são gastas nesse tipo
de coisa. Viagra para pau duro. Quatrocentos tipos de peito de plástico.
Enchimento na calcinha e sutiã. O mundo é dos homens, Joe. As mulheres nem vão
pensar duas vezes em colocar células programadas para crescer dentro da vagina.
No ano que vem, uma de suas não namoradas vai reconstruir o hímen, e ela vai
dar sua nova virgindade para você, Joe. Ela abaixou a cabeça, colocou os lábios
no canudo e sugou, com os olhos cinzentos grudados nos meus. E com aquele olhar
demorado e brincalhão, senti meu pau endurecer. Soltando o canudo, ela
sussurrou: – Para você. E você vai apreciar esse presente? Esse sacrifício?
Seus olhos dançaram, e então ela inclinou a cabeça para trás e soltou uma
risada. Caramba, eu gostava dessa garota. Gostava muito. Apoiei meus cotovelos
na mesa e limpei a garganta. – Dem, ouça bem, porque isso é importante. Vou
compartilhar um pouco da minha sabedoria. Ela se endireitou e apertou os olhos.
– Nós já cobrimos a regra número um: nunca ligue para alguém antes do sol
nascer. Seus lábios se torceram num sorrisinho culpado. – Certo. Já registrei.
– E a regra número dois – eu disse, balançando levemente a cabeça. – Nunca
discuta reconstrução de hímen durante o almoço. Ou, tipo… nunca. Ela se
dissolveu em risos e então deu espaço para a garçonete que trazia sua comida. –
Não seja tão rápido em tirar sarro disso. Essa é uma ideia de um bilhão de
dólares, senhor eu-sei-tudo-sobre-dinheiro. Se isso um dia chegar à sua mesa,
você pode me agradecer. Ela atacou sua salada com uma enorme mordida, e eu
tentei não estudá-la. Ela não era igual às outras garotas que eu conhecia. Ela
era bonita – na verdade, era linda –, mas não era contida ou egocêntrica. Ela
era boba, confiante, e com uma personalidade tão cativante que quase fazia o
resto do mundo parecer preto e branco. Eu não sabia se ela própria se levava a
sério, mas certamente não esperava que eu levasse. – Qual é o seu livro
favorito? – eu perguntei, sem saber de onde tirei essa pergunta.
Ela mordeu o lábio inferior enquanto pensava, e eu
voltei a mastigar meu sanduíche. – Isso vai parecer clichê. – Eu sinceramente
duvido, mas vamos ver. Ela se inclinou para frente e sussurrou: – Uma breve
história do tempo. – Stephen Hawking? – É claro – ela disse, quase ofendida. –
Isso não é clichê. Clichê seria se você dissesse O morro dos ventos uivantes,
ou Mulherzinhas. – Por que eu sou uma mulher? Se eu perguntasse a você, e você
dissesse algo do Stephen Hawking, então seria clichê? Considerei o que ela disse
por um momento. Eu me imaginei respondendo que esse era meu livro favorito e
recebendo alguns é isso aí, cara dos meus amigos da faculdade. – Provavelmente.
– Isso é uma grande besteira, essa coisa de ser clichê para você e não para mim
porque eu tenho uma vagina. Mas, enfim – ela disse, dando de ombros e mordendo
uma alface. – Eu li quando tinha doze anos e… – Doze? – Isso, e aquilo explodiu
minha cabeça. Não tanto pelas coisas que ele disse – porque acho que não
entendi tudo na época –, mas mais pela maneira como ele pensava. Ou o fato de
que existiam pessoas que passavam a vida inteira tentando entender essas
coisas. Abriu todo um mundo para mim. Ela fechou os olhos, respirou fundo e
depois sorriu, mostrando um pouco de culpa quando abriu os olhos de novo. –
Estou falando demais. E com uma piscadela, ela se inclinou para frente e
sussurrou: – Mas talvez você goste disso? Minha mente espontaneamente foi
invadida por fantasias de seu pescoço arqueado, a boca aberta numa súplica
rouca enquanto eu lambia um caminho entre sua garganta e o queixo. Imaginei a
dor aguda de suas unhas cravadas em meu ombro… e então pisquei e me levantei
tão rápido que acabei jogando a cadeira para trás. Pedi desculpas para o homem
sentado atrás de mim, pedi desculpas para Dem e praticamente saí correndo para
o banheiro. Tranquei a porta e olhei meu reflexo no espelho. – Que merda foi
essa, Jonas? Eu me abaixei e joguei um pouco de água fria em meu rosto.
Apoiando o corpo na pia, encontrei meus olhos no espelho de novo. – Foi apenas
uma imagem mental. Não significa nada. Ela é uma garota legal. Ela é bonita.
Mas, primeiro: ela é a irmã de Jensen. Segundo: ela é irmã de Liv, e só faltou
você comê-la nos bons e velhos tempos. Acho que você já gastou sua oportunidade
de ficar com uma irmã Lovato. E terceiro… – baixei a cabeça e respirei fundo. –
Terceiro. Você usa demais calça esportiva perto dela e ficar tendo fantasias
sexuais a toda hora pode ser um problema. Esse assunto acaba aqui. Vá para
casa, chame Kitty ou Alexis, transe um pouco e depois vá dormir. Quando voltei
para a mesa, Dem já estava com o prato vazio e agora olhava distraidamente as
pessoas indo e vindo na calçada lá fora. Ela olhou para mim quando sentei, com
uma
expressão de preocupação. – Problemas estomacais? –
O quê? Não. Não, eu… precisava fazer uma ligação. Merda. Que coisa babaca de se
dizer. Estremeci e depois suspirei. – Na verdade, acho que preciso ir, Dem.
Estou aqui faz quase duas horas e tenho ainda umas coisas para fazer. Merda
dupla. Isso soou ainda mais babaca. Ela tirou sua carteira da bolsa e colocou
algumas notas de cinco na mesa. – É claro, nossa, eu também estou cheia de
coisas para fazer. Obrigada por me encontrar aqui. E obrigada mesmo por me
apresentar Dani e Miley. Com mais um sorriso, ela se levantou, jogou a bolsa no
ombro, juntou todas as sacolas de compras e andou até a porta. Seus cabelos
claros brilharam e caíram por suas costas. Sua postura estava reta, sua passada
era regular. A bunda parecia fantástica naquele jeans apertado. Caralho, Joe.
Você está completamente fodido.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Joe ta querendo sentir o calor entre as pernas da Demi
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