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Estranho Irresistivel - Capitulo 14



Quatorze

Às três da manhã, acordei com uma ideia tão absurda que eu sabia que teria que me levantar para tomar uma dose de uísque se quisesse voltar a dormir. Mas não me levantei, não tomei uísque e, definitivamente, não voltei a dormir. Fiquei acordado pelo resto da noite, com minha mente remoendo uma solução para a necessidade paradoxal da Demi de continuar em segredo, mas ao mesmo tempo explorar seu lado selvagem comigo. Admito que ela ficou mais relaxada com as fotos no jornal do que eu esperava, mas tivemos sorte, pois eles não conseguiram capturar seu rosto ou algo mais comprometedor. Qualquer coisa mais reveladora poderia assustá-la de vez, se é que isso já não tinha acontecido. Eu podia perceber que ela tinha sentimentos por mim além de nossas aventuras atrás de orgasmos em público e nosso fetiche exibicionista, mas isso estava longe de ser algo duradouro, e ainda mais longe daquilo que eu realmente sentia por ela. Sentei na cama, iluminado por uma ideia na cabeça e imaginando se eu seria louco o bastante para tentar isso com ela. Ao mesmo tempo, eu sentia que era a solução perfeita. Demi claramente se excitava com a ideia de ser vista, com a ideia de alguém assisti-la transando. Eu queria mostrar que sexo poderia ser divertido, selvagem e vivo, mesmo num relacionamento que se aprofundava cada vez mais. Mas ela ainda queria se manter anônima, e eu certamente não queria ser pego com as calças curtas – literalmente – no metrô, ou no cinema, ou num táxi. Ela rapidamente perdoou as fotos no jornal desta vez, mas minha preocupação é que ela não seria tão compreensiva se acontecesse de novo. Olhei para o relógio e sabia que não era cedo demais para ligar. Do jeito que eu o conhecia, sabia que Johnny French ainda não tinha nem ido dormir. O telefone chamou uma vez antes de sua voz grave e rouca responder com um simples “Joe”. – Sr. French, espero não estar ligando muito cedo. Ele soltou uma risada profunda. – Ainda não fui para a cama. O que posso fazer por você? Respirei fundo, aliviado ao perceber de repente que isso talvez fosse mesmo a melhor solução. – Estou numa situação que provavelmente requer sua ajuda. —
Quando Demi atendeu ao telefone, eu quase pude ver seu sorriso através de sua voz. – Hoje é quarta-feira – ela disse. – E não são nem oito horas. Acho que vou gostar dessas novas regras. – Acho que estamos nos enganando se ainda pensarmos que estamos num relacionamento determinado por regras – eu disse. Um longo momento se passou antes que ela respondesse, mas, finalmente, murmurou: – É, acho que você tem razão. – Você continua sem se importar com as fotos no jornal?
Outra pausa, desta vez pequena. – Na verdade, sim. – Pensei em você durante todo o dia ontem. Novamente, ela ficou em silêncio e fiquei pensando se fui longe demais. Então, ela disse: – Tipo, isso tem acontecido bastante comigo também, ultimamente. Tive que rir, pois sabia exatamente o que ela estava dizendo. – É, comigo também. O silêncio se estendeu por mais alguns instantes e eu me preparei para a possibilidade de ela dizer não para minha proposta. – Demi, eu acho que devemos ter mais cuidado sobre onde escolhemos transar. Até agora, nós fomos cuidadosos, mas tivemos sorte na maior parte do tempo. Agora minha preocupação de protagonizarmos um escândalo cresceu. – Eu sei. Também me preocupo. – Mas, ao mesmo tempo… – Eu também não quero parar com isso – ela riu. – Você confia em mim? – É claro. Deixei você me levar para um galpão vazio… – Quero dizer, confia mesmo, Demi? Estou planejando levar você para um lugar muito diferente. Desta vez, ela não hesitou. – Sim. —
Considerei que uma quarta-feira seria o dia ideal para começar. Com certeza Johnny tinha clientes todas as noites da semana, mas ele me alertou que às sextas e sábados o lugar ficava cheio, e as quartas-feiras eram geralmente mais tranquilas. Enviei uma mensagem avisando que a pegaria em seu apartamento depois que ela voltasse do trabalho e comesse alguma coisa. Será que eu estava sendo covarde por não levá-la para jantar com medo que desistisse se tivesse tempo para pensar na minha proposta? Sim. Com certeza. Uma morena saiu do prédio de Demi, com a cabeça baixa, como se estivesse procurando algo na bolsa. Era verdade que nos últimos tempos eu tinha olhos apenas para Demi, mas até mesmo eu fui incapaz de não olhar para essa morena. Ela vestia uma blusa escura, saia e saltos altos. Seus cabelos brilhavam debaixo da iluminação dos postes e eram curtos – batiam no queixo. Ela olhou para a direita e pude ver um longo e delicado pescoço, pele macia e seios perfeitos. Eu conhecia aquele pescoço, conhecia aquelas curvas. – Demi? – chamei. Ela se virou e senti meu queixo cair. Meu Deus! Ela sorriu quando me viu encostado no carro. Fiz um gesto para Scotty voltar para dentro e deixar que eu mesmo abrisse a porta para ela. Ela pousou o dedo debaixo do meu queixo e fechou minha boca. – Pelo jeito você gostou – ela disse, sorrindo maliciosamente enquanto entrava no carro. – Isso seria um eufemismo – respondi ao sentar ao lado dela e tirar uma mecha de cabelo moreno de seu rosto. – Você está mais do que linda. – Ficou demais, não é? – ela perguntou, virando a cabeça para os lados. – Pensei que, já que vamos levar a sério essa coisa de viver em segredo, então eu podia pelo menos me
divertir um pouco – ela tirou os sapatos e cruzou as pernas em cima do banco. – Então, você vai me dizer para onde estamos indo? Assim que me recuperei, eu me aproximei e beijei seus lábios vermelhos. – Vai demorar um pouco para chegar. Vou contar tudo enquanto isso. Ela focou os olhos em mim e tive que me segurar para não transar com ela ali mesmo. Eu deveria prepará-la um pouco para isso. Estar bêbada numa boate escura era uma coisa; o que estávamos para fazer era outra completamente diferente. – Um dos meus primeiros clientes era um cara chamado Johnny French. Tenho quase certeza que é um pseudônimo; ele parece o tipo de cara que possui várias identidades diferentes, se é que você me entende. Ele me procurou pedindo ajuda para abrir uma boate num prédio quase abandonado. Ele já tinha feito algo assim antes, com sucesso, mas queria explorar como isso funcionaria com uma empresa de investimentos que teria mais conexões legítimas com o mercado publicitário. – Qual é o nome da boate? – Silver – respondi. – Ainda existe, e os negócios vão muito bem. Na verdade, fizemos muito dinheiro com essa colaboração. Enfim, Johnny mantém seus hábitos muito discretos, mas, no processo de nossa parceria, ele nos explicou que precisava de um negócio maior e bem-sucedido para financiar seus interesses menores. Demi se ajeitou no banco, como se entendesse que eu estava chegando na parte interessante. – Johnny possui vários outros negócios. Ele possui um cabaré no Brooklyn que vai muito bem. – O Beat Snap? Confirmei, um pouco surpreso. – Então você já ouviu falar. – Todo mundo já ouviu falar. Dita Von Teese fez um show lá no mês passado. Nós fomos com a Selena. – Certo. E o Johnny também possui alguns investimentos menos conhecidos. O lugar aonde vamos hoje é um clube muito reservado e protegido chamado Red Moon. Ela balançou a cabeça. Mesmo se tivesse nascido em Nova York, eu tinha quase certeza que ela não reconheceria o nome. Procurei no bolso do meu casaco e tirei um pequeno pacote. Seus olhos estavam focados em minhas mãos enquanto eu o abria e tirava uma máscara de penas azuis. Estiquei o braço e coloquei a máscara em seu rosto. Então olhei para ela e quase perdi minha determinação de não comê-la ali mesmo. Seus olhos ficaram visíveis, mas seu rosto estava coberto desde as sobrancelhas até as bochechas, e os lábios vermelhos se curvaram num leve sorriso debaixo do meu exame minucioso. Pequenas pedras preciosas percorriam a curva dos olhos, e atrás da máscara, seus olhos pareciam brilhar. – Bom, estou me sentindo muito misteriosa – ela sussurrou. Eu gemi. – Você parece saída de um sonho erótico – seu sorriso aumentou, e eu continuei: – O Red Moon é um clube de sexo. Na fraca luz do carro, pude ver um estremecimento percorrer seu corpo. Lembrando uma de nossas primeiras noites juntos, eu assegurei: – Não vai ter algemas ou chicotes… quer dizer, pelo menos essas coisas não são
obrigatórias. O clube é voltado a um público voyeurístico muito sofisticado. Pessoas que gostam de assistir outras pessoas transando. Estive lá apenas uma vez, durante o processo de confirmação da parceria, e tive que jurar sigilo absoluto. No andar principal, Johnny possui algumas dançarinas realmente estonteantes que fazem um show e tanto. O resto do clube possui quartos onde, através de janelas ou espelhos, você pode assistir uma coisa ou outra. Limpei a garganta e olhei em seus olhos. – Johnny ofereceu um quarto para nós dois brincarmos, se você quiser. —
Para todos os efeitos, era um prédio comum que abrigava vários tipos de empresas, incluindo um restaurante italiano, um salão de beleza e um mercado asiático. Da única outra vez que visitei o local, Johnny me deixou entrar pelos fundos. A porta que ele me recomendou usar desta vez era aparentemente a entrada principal, uma despretensiosa porta de aço ao lado, no beco, e era preciso usar a chave que ele tinha enviado mais cedo para o meu escritório. – Quantas pessoas possuem essa chave? – eu perguntei a ele no telefone. – Quatro. Você é a quinta pessoa. É assim que mantemos o controle de quem entra. Não é qualquer pessoa que pode usar o clube. Temos uma lista para cada noite. Os convidados ligam para Lisbeth na recepção e ela envia o segurança para acompanhá-los – ele fez uma pausa. – Você tem sorte por ser um cara legal, Joe, ou teria que esperar por meses. – Eu agradeço, John. E, se tudo der certo hoje, tenho certeza que você vai gostar se eu levar essa garota todas as quartas-feiras. Pegando a chave e encarando a realidade do que estávamos para fazer, comecei a ficar cada vez mais animado. Conduzi Demi pelo beco, segurando sua mão suada na minha. – Podemos ir embora na hora que você quiser – lembrei pela milésima vez. – Estou excitada e nervosa ao mesmo tempo – ela me assegurou. – Mas não estou com medo – puxando meu braço para me encarar, ela ficou na ponta dos pés e passou os lábios nos meus, mordendo e lambendo. – Estou tão excitada que quase me sinto bêbada. Dei um último beijo e tive que me afastar para não ceder ao impulso de transar com ela naquele beco – algo pelo que Johnny prometeu que me colocaria na lista negra para o resto dos meus dias. Então coloquei a chave na fechadura. – Tem outra coisa que eu queria mencionar. Bebidas. Existe um limite de dois drinques por pessoa. Eles querem que tudo seja o mais seguro, consensual e calmo possível. – Não sei se posso prometer a calma. Ficar perto de você me deixa meio insana. Mostrei um sorriso malicioso. – Acho que ele quer dizer entre os clientes. Tenho certeza que várias coisas não serão calmas entre os exibicionistas. Quando a porta soltou um suave clique, eu a abri e nós entramos. Seguindo as instruções de Johnny, passamos por uma segunda porta apenas três metros adiante, depois descemos uma longa escadaria que dava num elevador de carga. As portas se abriram imediatamente quando apertei o botão para descer, e, após digitar o código que ele me passou, descemos mais dois andares, indo cada vez mais fundo nas entranhas de Nova York. Tentei explicar para Demi o que ela veria – mesas em semicírculo ao redor de uma pista aberta, pessoas socializando como se estivessem num bar – mas eu sabia que minha explicação não faria justiça. Para ser honesto, fiquei tão fascinado com o lugar quando o visitei pela primeira vez com Johnny que apenas minha ética como parceiro de negócios me
impediu de continuar explorando. Por mais que quisesse voltar, achei melhor não fazer isso. Mas, com Demi se tornando uma parte inegável da minha vida, a possibilidade de ela precisar de algo como isso, junto ao meu novo desejo de dar tudo que ela quisesse, acabaram me fazendo mudar de ideia. As portas do elevador se abriram e entramos na pequena área da recepção. Uma iluminação quente banhava a sala, e uma linda ruiva estava sentada atrás de um balcão, trabalhando com um discreto computador preto. – Sr. Jonas – ela disse, levantando-se para nos cumprimentar. – O sr. French me contou que você viria esta noite. Meu nome é Lisbeth – cumprimentei-a com um aceno de cabeça e ela fez um gesto mostrando o caminho. – Por favor, me sigam. Ela se virou e nos conduziu por um corredor curto, sem nunca questionar a máscara de Demi ou pedir seu nome. Numa pesada porta de aço, ela inseriu uma longa chave em forma de caveira, abriu a porta e nos mostrou o caminho. – Por favor, lembre-se, sr. Jonas, nós permitimos apenas dois drinques por pessoa. Não use nomes e mantenha um segurança na porta dos quartos de exibição para o caso de vocês precisarem de alguma assistência – como que para enfatizar a última instrução, um grande segurança deu um passo atrás dela. Lisbeth se virou para Demi e finalmente falou com ela. – Você está aqui por escolha própria? Demi confirmou com a cabeça, mas depois acrescentou “Com certeza”, quando Lisbeth deixou claro que esperava uma resposta verbal. Então, ela piscou para nós. – Divirtam-se. Johnny disse que às quartas-feiras o Quarto Seis será de vocês pelo tempo que quiserem. Pelo tempo que quisermos? Virei e conduzi Demi pelo clube, sentindo minha mente girar. Tinha visto apenas alguns quartos na minha visita anterior. Passei a maior parte do tempo no bar principal, bebendo uísque e assistindo duas mulheres transando em cima da mesa ao meu lado enquanto Johnny andava ao redor cumprimentando os clientes. Andamos pelo corredor para ver alguns dos quartos, mas eu me senti estranho vendo aquelas coisas com um cliente homem da minha empresa. Acabei dizendo que estava cansado e fui embora, mas me arrependi de não explorar o que cada quarto continha. – O que é o Quarto Seis? – Demi perguntou, envolvendo ambas as mãos em meu braço enquanto andávamos pelo bar. – Não faço ideia – admiti. – Mas, se lembro corretamente, acho que Johnny nos deu esse quarto porque fica no fim do corredor. O bar consistia num grande salão aberto com uma linda decoração minimalista: iluminação leve e acolhedora, mesas para duas ou quatro pessoas, sofás e poltronas posicionados elegantemente pelo salão. Pesadas cortinas de veludo desciam do teto e as paredes eram cobertas com um rico papel de parede preto que exibia um padrão dourado que mal se destacava sob as luzes tremulantes das velas. Ainda era cedo; havia apenas alguns clientes nas mesas, conversando em voz baixa e observando uma mulher e um homem dançarem no centro do salão. Enquanto caminhávamos para o bar, o homem tirou a camisa da mulher e a usou para prender o braço dela e girá-la ao
redor. Joias em seus mamilos cintilaram debaixo das luzes. Demi ficou encarando o casal e depois desviou o olhar quando percebeu que eu a flagrei. Ela arrumou uma mecha de cabelo atrás da orelha, num gesto que aprendi a interpretar como um tique nervoso, e eu podia imaginar seu rosto corado atrás da máscara. – Aqui, ficar olhando sempre é permitido – lembrei-a num sussurro. – Quando as coisas ficam realmente interessantes, você vai perceber que ninguém consegue desviar o olhar. Pedi um gimlet com vodca para ela e uma dose de uísque para mim antes de conduzi-la até uma pequena mesa ao canto. Fiquei olhando para Demi enquanto ela absorvia o espaço. Ela tomou um gole de seu drinque e passou um tempo estudando os arredores. Fiquei imaginando se ela percebia o quanto sua figura chamava a atenção da clientela. Em seu pescoço, eu podia ver sua pulsação acelerada. Observei a pele branca, queria me aproximar e chupar até deixar uma marca. Eu me endireitei na cadeira e imaginei como seria fazê-la gozar com minha mão enquanto o salão inteiro assistia. Joe. Você está ferrado. – O que você está pensando? – perguntei a ela. Ela ergueu o queixo, indicando os dançarinos que se beijaram, se afastaram e se uniram novamente. – Por acaso eles vão transar ali? – Provavelmente, de um jeito ou de outro. – Então, por que eles têm os quartos? – É uma questão de variedade. Se me lembro bem, os cenários nos quartos tendem a ser mais selvagens. E são menores, mais íntimos. Ela assentiu, levantando seu copo e tomando mais um gole enquanto observava meu rosto. – Ninguém aqui sabe quem eu sou, mas mesmo assim sou a única usando uma peruca e uma máscara. Sorrindo, eu respondi: – Bom, até onde sei, você é que sempre quis se manter anônima. – Você faria isso por mim? Deixar as pessoas nos assistirem? – Tenho a impressão de que eu faria quase qualquer coisa por você – quando não consegui decifrar no meio da escuridão como minhas palavras haviam afetado Demi, eu acrescentei: – Enfim, fazer isso foi uma decisão tão apressada para mim quanto está sendo para você. Ela deslizou a mão em minha coxa debaixo da mesa. – Mas as pessoas aqui conhecem você. Conhecem o seu rosto. – Existem pessoas neste salão muito mais famosas do que eu. O homem naquele canto é um jogador de futebol americano de um time que o Mike está sempre comentando. E aquela mulher? – fiz um gesto sutil para uma mesa perto do bar. – É da televisão. Seus olhos se arregalaram levemente quando reconheceu a atriz ganhadora do Emmy. – Mas eles não estão considerando transar no Quarto Seis – ela mencionou. – Não, mas estão aqui para assistir. Ninguém vai me julgar por estar aqui com você. E, mais importante, todo mundo sabe que não se deve quebrar o sigilo do Johnny French. Ele sabe os podres de todo mundo. Ou pode descobrir. – É, talvez você tenha razão. – Nada sai desse salão, Sa… – comecei a dizer seu nome, mas ela pressionou um dedo nos meus lábios.
– Nada de nomes, estranho – ela me lembrou. Eu sorri e beijei a ponta de seu dedo. – Nada sai desse salão, flor. Eu prometo. – A primeira regra do Clube da Luta? – ela perguntou, sorrindo. – Exatamente – tomei mais um gole do meu uísque. – Diga o que mais você está pensando. Ela se aproximou para me beijar, mas eu me afastei. – Não posso tocar você aqui? Balancei a cabeça confirmando. – Infelizmente, essa é outra das regras. Apenas os exibicionistas podem ter contato sexual. – E no Quarto Seis? – Sim, obviamente. – Droga. Ela se ajeitou na cadeira e ficou assistindo os dançarinos por um tempo. Eles já tinham tirado as roupas e o homem segurou um arreio que desceu do teto para que sua parceira pudesse montá-lo. Uma vez amarrada, suas pernas foram abertas e uma polia subiu seu corpo até seus quadris ficarem na altura do rosto do homem. Ele começou a girá-la no ritmo da música, andando ao redor enquanto ela balançava com a cabeça caída para trás. – Que horas são? – Demi perguntou após alguns minutos, sem parar de olhar para o dançarino, que havia interrompido abruptamente o giro da mulher e agora pressionava sua boca aberta entre as pernas dela. – Nove e quarenta e cinco. Ela suspirou, mas eu não conseguia dizer se estava tão impaciente quanto eu. A tortura do clube era saber que, se eu quisesse tocá-la, apenas poderia fazê-lo num local onde outros pudessem ver. Onde outros pudessem nos usar para suas necessidades da mesma maneira que nós os usaríamos para as nossas. Eu queria mais do que qualquer coisa fazer com ela o que o homem na pista de dança fazia com sua parceira: lamber, provocar, foder com os dedos. Quando o homem girou a mulher novamente, um garçom se aproximou da nossa mesa. – Boa noite, senhor – ele serviu água e começou a falar sem alterar sua expressão ou posição. – O proprietário mencionou que o senhor já esteve aqui, mas sua acompanhante não. Gostaria que eu contasse um pouco sobre o que pode esperar? – Isso seria ótimo – eu respondi. Ele se virou para Demi. – O clube troca as atrações dos quartos a cada duas semanas. Nosso objetivo é sempre manter um ambiente renovado para os clientes. Você vai encontrar uma variedade de cenas ao explorar os quartos. Olhei para Demi e fiquei imaginando como aquela doce garota do Centro-Oeste americano estava encarando tudo isso debaixo daquela máscara. O garçom continuou: – As apresentações começam às dez horas e duram até a meia-noite. Fui informado que o seu quarto é o Seis. Considerando que é a sua primeira vez, sinta-se livre para observar um pouco os outros exibicionistas antes de decidir se quer participar – ele sorriu. – Também fui informado que o proprietário gostaria muito de adicionar algo um pouco mais íntimo e sincero para as exibições regulares. Nunca tivemos um casal que olha um para o outro como vocês fazem.
Senti meus olhos se arregalarem e Demi se aproximou de mim. Podia sentir o calor de sua coxa encostada em minha perna. Eu realmente estava explodindo com o desejo de tocá-la. O garçom fez uma leve reverência. – Por favor, não se sinta pressionada. —
Às dez horas, o corredor se iluminou com uma discreta luz dourada. Outros clientes pelo salão terminaram seus drinques e se levantaram lentamente. Mas Demi agarrou meu braço e me puxou para fora da cadeira. O corredor tinha quase seis metros de largura, com mesas e assentos perto das janelas com vista para os quartos. No Quarto Um, o primeiro à esquerda, um jovem e musculoso homem estava de pé num canto vestindo apenas uma calça jeans. No chão, de quatro, estava outro homem de cabelo escuro com um rabo de cavalo enfiado na bunda. O homem no canto estalou fortemente um chicote no ar. A mão de Demi voou para a frente de sua boca enquanto eu a empurrava pelo corredor, murmurando: – Estão brincando de cavalinho, querida. Isso não é para qualquer um. No Quarto Dois, havia uma linda mulher, sozinha e nua num sofá, apenas começando a se masturbar olhando um filme pornográfico projetado na parede oposta. No Quarto Três, havia um enorme e pálido homem usando uma máscara de teatro grego e se preparando para comer por trás uma mulher amordaçada. Ao meu lado, pude sentir Demi ficando cada vez mais tensa. – Isso parece… – ela fez um gesto vago para a estranhamente fascinante cena. – Ousado? – sugeri. – Você precisa entender que as pessoas pagam muito dinheiro para vir até aqui. Eles não querem ver coisas que podem ver na televisão. Pousei minha mão em suas costas e a lembrei: – Outra coisa que você não acha na televisão é intimidade de verdade. Ela olhou para mim e então sua atenção se voltou para minha boca. – Você acha que nós somos íntimos de verdade? – Você não acha? Ela concordou. – Quando foi que isso aconteceu? – E por acaso em algum momento nós não fomos íntimos? Você só tentou ignorar esse fato. Ela desviou o olhar, mas se aconchegou em meu braço, e voltamos a andar. O Quarto Quatro possuía três mulheres que se beijavam e riam enquanto tiravam as roupas umas das outras numa cama branca gigante. No Quarto Cinco, havia um homem amarrando uma mulher com uma corda, enquanto outro homem, também amarrado e usando um cinto de castidade, ficava ao canto apenas olhando. – Nós vamos entediar essas pessoas – ela sussurrou com olhos arregalados. – Você acha mesmo? Demi não respondeu, pois havíamos chegado ao Quarto Seis, que estava vazio. Sem nem mesmo olhar para mim, ela virou no fim do corredor e se aproximou da entrada dos fundos do quarto. A porta abriu facilmente e Demi entrou. Após alguns instantes, nossos olhos se ajustaram e pude enxergar um bar no canto e um
grande sofá de couro com uma pequena mesa de centro na frente. Mesmo no escuro, o quarto parecia muito com um canto da minha própria sala de estar, e, de repente, suspeitei que era uma réplica daquele espaço. Sem pensar em primeiro perguntar à Demi, eu acendi a luz. E vi que estava certo. Paredes claras com detalhes em madeira escura, um largo sofá preto e o tapete felpudo como o que comprei em Dubai. Abajures da Tiffany decoravam as duas mesinhas de canto. O quarto era bem menor que minha sala de estar, que eu usava para grandes eventos, mas a semelhança era inegável. A janela gigante pela qual as pessoas podiam nos observar possuía a mesma cortina do meu apartamento, mas de onde estávamos, apenas parecia uma janela com vista para um espaço negro e vazio. Johnny esteve em minha casa apenas uma vez, mas, em apenas um dia, ele transformou um dos quartos de seu clube para mim, sem dúvida pensando que seria familiar para nós dois e isso nos deixaria mais à vontade. Ele não tinha ideia de que Demi nunca tinha estado em meu apartamento. – O que foi? – ela perguntou ao se aproximar. Quando percebeu que já podia me tocar ali dentro, envolveu minha cintura com os braços. – Ele construiu uma réplica da minha sala de estar para nós. – Isso é… – ela olhou ao redor, arregalando os olhos. – Isso é loucura. – O que é realmente louco é que esta é a primeira vez que você está vendo meu apartamento. De dentro de um clube de sexo. O absurdo da situação nos atingiu ao mesmo tempo e Demi começou a rir enquanto pressionava o rosto em meu peito. – Isso é a coisa mais esquisita que alguém já fez em todos os tempos. – Nós podemos ir embora se você quiser… – Não. Vai ser a primeira vez que transamos no lugar certo – ela disse, sorrindo. – Você acha que vou perder essa oportunidade? Merda. Essa mulher poderia pedir para eu me ajoelhar e beijar seus pés e eu obedeceria. Eu quase disse eu te amo. As palavras ficaram tão próximas de escapar que eu literalmente precisei me virar e andar até o bar para preparar um drinque. Mas ela me seguiu. – E provavelmente é tarde demais para perguntar, mas o que estamos fazendo aqui? – Acredito que estamos tentando encontrar um jeito de aproveitar esse aspecto da nossa relação sem colocar em risco nossas carreiras ou ter nossas fotos estampadas em colunas sociais. Levantei a garrafa de uísque, oferecendo em silêncio. Ela negou com a cabeça, arregalando os olhos por trás da máscara enquanto me observava servir uma dose. – Três dedos – ela sussurrou. Pude praticamente ouvir o sorriso em sua voz. – Apenas um, por enquanto. Demi se aproximou depois que eu tomei um gole e ficou na ponta dos pés para me beijar, chupando minha língua. Ela tinha um sabor incrível. As penas de sua máscara rasparam de leve em meu rosto. – Três – ela insistiu. Quando ela beijou meu pescoço e passou a mão na frente da minha calça, segurando meu
pau, eu olhei por cima de seu ombro para a janela escura. Lá fora, os clientes provavelmente já estavam sentados e assistindo, curiosos sobre o que poderia acontecer. Ou talvez estivéssemos realmente sozinhos ali, no final do corredor. Mas a ideia de que não estávamos, a mera possibilidade de que outros poderiam ver a maneira como ela me tocou… entendi pela primeira vez como Demi podia se sentir outra pessoa quando ficava comigo. Ela podia brincar. Podia ser selvagem, aventureira e correr riscos. E eu também. Ali, eu poderia ser, pela primeira vez na minha vida, o homem que está desesperadamente apaixonado. – Você quer mesmo fazer umas safadezas aqui? – perguntei, sentindo minha própria franqueza. Mas ela confirmou. – Estou um pouco nervosa. O que é levemente insano, considerando nossa história. Ela riu e começou a arranhar meu abdômen. Merda. Nunca senti uma mistura tão angustiante de proteção, adoração e uma necessidade maluca de possuir completamente outra pessoa de um jeito físico. Ela era tão linda e confiava tanto em mim – e era toda minha. Eu me abaixei, beijei seu queixo e abri os primeiros botões de sua camisa. – O que você imagina quando lembra que estamos sendo observados? Ela hesitou, brincando com a barra da minha camisa. – Imagino alguém vendo seu rosto e a maneira como você olha para mim. – Humm – chupei seu pescoço. – E o que mais? – Imagino uma mulher que deseja ficar com você, mas vendo você comigo. Vendo o quanto você me quer. Eu gemi em sua pele, empurrando a camisa para fora de seus ombros e desabotoando o sutiã. – Continue. Quando beijei seu pescoço, pude sentir sua garganta engolindo em seco contra meus lábios. Sua voz saiu num sussurro quando ela admitiu: – Imagino alguma pessoa sem rosto que viu Will me tratando mal. Imagino a mulher que foi flagrada com ele vendo o quanto você me quer. Aí está. – E? – E ele. Imagino ele vendo o quanto estou feliz – ela balançou a cabeça, agarrando minha camisa e me puxando para perto como se eu pudesse escapar. – Não acho que vai durar para sempre, mas odeio ainda sentir tanta raiva. Seus olhos subiram até os meus. – Mas você faz eu me sentir incrível, desejada e, sim, parte de mim ainda quer esfregar isso na cara dele. Não consegui evitar um sorriso convencido. Eu adorava a ideia daquele bastardo me ver comendo Demi como se não houvesse amanhã. Pois o maior erro de sua vida – a infidelidade – foi o que me deu a melhor parte da minha vida. – Eu também. Adoraria que ele visse a cara que você faz quando está gozando. Já que aposto que ele não teve muitas chances de ver isso antes. Ela riu, lambendo minha garganta. – Não.
E, merda, pela primeira vez em minha vida, desejei ser o único para alguém. Eu a levei até o sofá, então me ajoelhei no chão entre suas pernas. Suas mãos mergulharam nos meus cabelos. – O que você quer que eu faça? – ela sussurrou, olhando para baixo em meus olhos, sempre tão disposta a me dar qualquer coisa. O que eu quero? Lutei para encontrar uma resposta, completamente sobrecarregado pela enormidade daquela questão. Quero você por cima. Quero você por baixo. Quero sua risada em meus ouvidos. Quero sua voz em meu peito. Quero sentir você molhada com meus dedos. Quero sentir seu sabor em minha língua. Quero saber se você sente o mesmo que eu sinto. – Apenas quero que você se divirta essa noite. Eu me inclinei para frente e pressionei minha boca no meio de suas pernas. Seu cheiro era inebriante, seu sabor era bom demais, a vista era mais do que linda. Os sons que Demi deixava escapar eram sussurrados, angustiados, e pareciam feitos inteiramente para meus ouvidos. Seus dedos correram por cima da minha cabeça, arranhando minha pele levemente antes de puxar a própria perna mais para cima, abrindo-se ainda mais, melhorando meu acesso. Ela não se movia com sensualidade exagerada; ela sabia ser devagar e calma, era facilmente o ser mais sensual que existe neste planeta. Eu me concentrei em dar prazer a ela, imaginei como estava sua imagem vista de fora daquele quarto, com meus dedos dentro dela, minha boca devorando-a e suas costas arqueadas no sofá. Tinha me acostumado tanto a vê-la com a máscara que já não provocava mais estranhamento nem distanciamento; a maneira como ela olhava para mim por trás da máscara me fazia sentir como se tivesse ganhado o mundo todo. A peruca preta e macia enquadrava seu rosto perfeitamente e deixava sua pele ainda mais alva, os lábios ainda mais vermelhos. Aqueles mesmos lábios se abriram enquanto ela começava a implorar silenciosamente, me pedindo para que acelerasse, não parasse de chupar, fodesse com mais força usando os dedos. Quando ela estava perto do clímax, sua mão subiu por seu corpo, chegou aos seios, passou pelo pescoço até o rosto, onde tirou a máscara, expondo o último pedaço de pele que ainda estava coberto. Seus grandes olhos castanhos estavam focados em meu rosto, os lábios ainda abertos ofegando silenciosamente. Quando gozou, em nenhum momento desviou o olhar, em nenhum momento voltou sua atenção para as janelas atrás de mim. Alguém estava atrás, do outro lado daquele vidro. Eu podia sentir. Mas não acho que poderíamos estar mais sozinhos naquele quarto mesmo se estivéssemos de verdade em meu apartamento. Nada neste mundo existia além de nós dois e a maneira como ela pressionou minha boca, gritando quando o orgasmo arrebatou-a. E então, ela suspirou, agarrou meus cabelos, e riu. – Meu Deus. Talvez, se um dia eu encontrar esse tal de Will, eu não darei um soco naquela cara idiota
dele, afinal de contas. Talvez eu apenas darei meus cumprimentos por ele estragar tudo com Demi de um jeito tão épico que a fez se mudar para Nova York e parar de ser uma mulher que agia conforme as regras e começar a ser uma mulher que fazia qualquer coisa que quisesse. Subi um caminho beijando seu corpo e deixei-a sentir o próprio sabor em minha boca, minha língua e meu queixo. Embaixo de mim, ela estava quente e vagarosa; seus braços me envolveram preguiçosamente, sua risada se esvaiu em meu pescoço. – Acho que isso foi a coisa mais divertida que já fiz – ela sussurrou. E suspeitei que eu faria qualquer coisa para poder passar o resto da minha vida cuidando da felicidade dessa mulher.

3 comentários:

  1. Que coisa mais linda esses dois,já estão apaixonados, To amando, quero o encontro de Joe com o wilmer e muita porrada kkkkk

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