Três
Essa coisa de correr realmente não estava ficando mais
fácil. – Essa coisa de correr vai ficar mais fácil – Joe insistiu, olhando para
onde eu estava sentada, arfando exausta. – Tenha um pouco de paciência.
Arranquei algumas folhas de grama verde do chão, resmungando para mim mesma
exatamente o que Joe podia fazer com sua paciência. Ainda era muito cedo, o céu
ainda estava escuro e cinza, e nem mesmo os pássaros pareciam dispostos a se
aventurarem no ar gelado. Nós estávamos correndo juntos quase todas as manhãs
na última semana e meia, e eu sentia dores em lugares que nem sabia que
existiam. Mas graças à ajuda de Dani e Miley para comprar roupas esportivas, ao
menos eu estava aquecida e não sentia como se meus seios estivessem sendo
arrancados do meu corpo. – E pare de ser mimada – ele acrescentou. Virei meu
rosto para ele, com olhos cerrados, e perguntei: – Como é? – Eu disse: levante
esse traseiro daí. Fiquei de pé e dei alguns passos preguiçosos antes de voltar
a correr. Ele olhou para mim, avaliando meu corpo. – Ainda sente dores? Dei de
ombros. – Um pouco. – Igual sentiu na sexta-feira? Considerei aquilo, girando
meus ombros e esticando os braços acima da cabeça. – Na verdade, não. – E você
ainda sente seu peito – como é mesmo que você falou? – como se alguém tivesse
jogado gasolina nos seus pulmões e ateado fogo? Olhei para ele com desdém. –
Não. – Viu? E na semana que vem vai ficar ainda mais fácil. E na outra semana,
você vai querer correr igual às vezes em que fica com uma vontade louca de
comer chocolate. Abri minha boca para mentir, mas ele me fez ficar quieta com
um olhar de quem sabe o que está falando. – Nesta semana vou chamar alguém para
manter você na linha, e antes de perceber você… – Como assim “vou chamar
alguém”? Aumentei minha passada para não perder seu ritmo. Ele jogou uma
olhadela para mim. – Alguém para correr com você. Tipo, um personal trainer. As
árvores faziam um bom trabalho nos isolando do mundo exterior, pois, embora eu
pudesse enxergar o topo dos edifícios ao longe, os sons da cidade pareciam a
milhares de quilômetros de distância. Nossos pés esmagavam as folhas caídas e o
cascalho solto na trilha, que se estreitou o bastante para eu precisar ajustar
a passada. Meu ombro raspava no dele – eu estava tão perto que podia sentir seu
cheiro, um aroma de sabonete, hortelã e uma pitada de
café em sua pele. – Estou confusa, por que não posso
continuar correndo com você? Joe soltou uma risada e fez um gesto apontando o
ar ao nosso redor. – Porque isso não é exatamente uma corrida para mim, Dem. –
Bom, é claro que não; mal estamos praticando jogging. – Não, eu quis dizer que
na verdade eu deveria estar treinando. Olhei para nossos pés e depois para seu
rosto, com olhos cheios de significado. – E isso não é treinamento? Ele riu de
novo. – Vou participar do Ashland Sprint deste ano. Por isso preciso correr
mais do que dois quilômetros alguns dias da semana para me preparar. – O que é
o Ashland Sprint? – eu perguntei. – Uma corrida de triatlo em Boston. – Ah. O
ritmo de nossos passos ecoava em minha mente e senti meus membros esquentarem;
quase podia sentir o sangue bombeando pelo meu corpo. Não era algo totalmente
ruim. – Então, eu posso simplesmente acompanhar você. Ele me olhou, com olhos
apertados e um largo sorriso no rosto. – Você sabe o que é um triatlo? – É
claro que eu sei. É aquele negócio em que você nada, depois corre e depois
atira num urso, ou algo assim. – Bom chute – ele disse, num tom de brincadeira.
– Certo, então me diga o que é, playboy. Exatamente quanto dura esse triatlo da
masculinidade? – Depende da distância. Tem o Sprint, Olímpico, Ironman e
Ultraman. E nada de ursos, sua tonta. Natação, corrida e ciclismo. Dei de
ombros, ignorando a queimação nas minhas pernas quando chegamos numa subida. –
Então, qual desses você vai fazer? – O Olímpico, que é a distância
intermediária. – Certo – eu disse. – Não parece tão difícil. – Você tem que
nadar por um quilômetro e meio, pedalar por mais quarenta quilômetros e correr
os últimos dez quilômetros. Minha confiança murchou um pouco. – Humm, sei. –
Sacou? E é por isso que não posso continuar aqui na trilha dos coelhinhos com
você. – Ei! – eu disse, empurrando-o forte o bastante para desequilibrá-lo. Ele
riu, endireitando-se antes de me olhar com um sorriso. – É sempre fácil assim provocar
você? Ergui as sobrancelhas e os olhos dele se arregalaram. – Deixa pra lá.
O sol finalmente rompeu a penumbra da manhã quando paramos
de correr e começamos a andar. O rosto de Joe estava cor-de-rosa por causa do
frio, e as pontas de seus cabelos
formavam caracóis debaixo de seu gorro. Uma sombra de barba
cobria seu queixo, e eu comecei a estudá-lo, tentando reconciliar a pessoa na
minha frente com o cara do qual eu achava que me lembrava tão bem. Ele estava
tão homem agora. Aposto que poderia se barbear duas vezes por dia e ainda assim
ficava com aquela aparência de barba a fazer. Virei meu rosto em tempo de
flagrá-lo olhando os meus seios. Eu me abaixei para olhá-lo nos olhos, mas ele
ignorou minha tentativa de redirecionar sua atenção. – Odeio perguntar o óbvio,
mas o que você está olhando? Ele inclinou a cabeça, olhando para mim num ângulo
diferente. – Seus peitos parecem diferentes. – Eles estão ótimos, não é? –
segurei um seio na mão. – Como você sabe, Dani e Miley me ajudaram a escolher
novos sutiãs. Os peitos sempre foram um problema para mim. Os olhos de Joe se
arregalaram. – Peitos nunca são problema para ninguém, em nenhum lugar. Nunca.
– O que é você sabe sobre isso? Você não tem seios. Seios são apenas
funcionais. Só isso. Ele me olhou com um fogo genuíno nos olhos. – Com certeza
eles são funcionais. Fazem seu trabalho direitinho. Eu ri, gemendo. – Eles não
são funcionais para você, garanhão. – Quer apostar? – Sabe, o problema com os
peitos é que se você tem seios grandes, nunca vai parecer magra. Você fica com
marcas nos ombros por causa das alças do sutiã, e fica com dor nas costas. E a
menos que esteja usando para aquilo que eles foram feitos, os seios sempre
acabam atrapalhando. – Atrapalham o quê? Minhas mãos? Meu rosto? Não diga blasfêmias
na minha presença – ele olhou para o céu. – Ela não teve a intenção, meu
Senhor. Eu juro. Ignorando-o, eu disse: – É por isso que fiz uma redução quando
tinha vinte anos. E foi nesse momento que sua expressão se transformou de
brincalhona para horrorizada. Se alguém estivesse nos vendo, pensaria que eu
acabara de dizer que gosto de fazer picadinho com carne de cachorrinhos e
gatinhos. – Por que diabos você faria uma coisa dessas? É como se Deus desse um
presente, e você agradecesse chutando as bolas dele. Eu ri. – Deus? Pensei que
você era agnóstico, um homem da ciência. – Eu sou. Mas se eu pudesse enfiar a
cara em seios perfeitos como os seus, acho que acabaria no céu e teria que me
converter. Senti um rubor se espalhar pelo meu rosto. – Você acha que vai
encontrar Deus nos meus seios? – Não mais. Agora seus peitos são pequenos
demais para ele se sentir confortável aí dentro – ele balançou a cabeça, e eu
não conseguia parar de rir. – Você é tão egoísta, Dem – ele disse, sorrindo com
tanta malícia que eu até perdi um pouco do equilíbrio. Nós dois viramos a
cabeça ao mesmo tempo quando ouvimos uma voz. – Joe!
Olhei para a loira que corria se aproximando de nós, depois
olhei para Joe, depois de novo para a loira. – Oi! – ele disse, acenando
enquanto ela passava. Ela se virou de costas, ainda correndo, e gritou para
ele: – Não se esqueça de me ligar. Você me deve uma terça-feira. Ela jogou um
sorrisinho antes de continuar pela trilha. Esperei por uma explicação, mas não
recebi nenhuma. O queixo de Joe ficou tenso, e seus olhos pararam de sorrir
enquanto focavam a trilha em frente. – Ela é bonita – eu disse, tentando
provocar alguma resposta. Joe apenas assentiu. – É uma amiga? – Sim. Essa é a
Kitty. Nós… passamos um tempo juntos de vez em quando. Passam um tempo. Sei. Eu
vivi tempo o bastante em faculdades para saber que isso é um código para nós
transamos de vez em quando. – Então, não é alguém que você apresentaria como
sua namorada. Seus olhos disparam para o meu rosto. – Não – ele disse, quase
ofendido. – Definitivamente não é uma namorada. Andamos em silêncio por alguns
momentos, e eu olhei para trás, começando a entender melhor. Ela era uma não
namorada. – Ela claramente conhece Deus. Joe explodiu numa risada e depois
passou os braços ao redor dos meus ombros. – Vamos apenas dizer que encontrar a
religião custou muito dinheiro a ela.
Mais tarde, quando acabamos de correr e Joe estava se
alongando no chão ao meu lado, com os braços esticados até tocar os pés, eu
olhei de relance para ele e disse: – Então, eu tenho uma coisa hoje à noite. E
então eu estremeci. Debaixo de sua calça esportiva, eu podia ver o contorno dos
músculos da coxa e quase não percebi quando ele repetiu: – Uma coisa? – Pois é.
É tipo uma coisa… do trabalho. Bom, na verdade, não. Tipo, é um encontro
social, mas para o trabalho. Eu nunca vou nesses eventos, mas seguindo o
espírito dessa empreitada de não-quero-morrer-sozinha, pensei que não custa
tentar. É na quinta-feira, então tenho certeza de que não vai ser nada muito
selvagem. Ele riu, balançando a cabeça enquanto trocava de posição. – Vai ser
no Ding Dong Lounge – fiz uma pausa, mordendo meu lábio. – Tipo, isso é um nome
de verdade? – Sim, é um bar na Avenida Columbus – Joe levou a mão ao queixo e
coçou a barba rala. – Na verdade, não fica longe do meu escritório. – Bom,
alguns dos meus colegas de trabalho vão estar lá, e dessa vez, quando
perguntaram se eu iria, eu disse sim, e agora percebi que tenho que pelo menos
aparecer por lá e ver do que se trata, e quem sabe, pode até ser divertido, sei
lá. Ele olhou para mim por atrás de seus grossos cílios.
– Você conseguiu respirar enquanto falava isso? – Joe –
olhei para baixo e o encarei. – Você não quer ir se divertir, aproveitar,
desfrutar e gozar a noite? Ele riu baixinho, balançando a cabeça enquanto
voltava a se alongar. Demorou um instante para eu entender por que ele estava
rindo. – Seu pervertido – soltei um grunhido e dei um soco em seu ombro. – Você
sabe o que eu quis dizer. Você quer ir aproveitar, se divertir e gozar comigo?
– ele olhou para cima ao ouvir o som da minha mão batendo na minha testa. – Meu
Deus, isso soou ainda pior. Apenas me envie uma mensagem se estiver
interessado. Estremeci de novo e me virei para entrar na trilha que levava ao
meu prédio, e eu basicamente queria que o chão se abrisse e me transportasse
para Nárnia, ou algo assim. – Ah, esquece! – Eu gosto quando você me pede para
gozar! – ele gritou atrás de mim. – Mal posso esperar para gozar hoje à noite, Dem!
Devo gozar lá pelas oito? Ou você prefere que eu goze lá pelas dez? Talvez eu
devesse gozar duas vezes? Mostrei o dedo do meio para ele e continuei andando
pela trilha. Graças a Deus ele não podia enxergar meu enorme sorriso.
Kkkkkk eles são hilários juntos!!!! Por favor faz maratonaaa!!!
ResponderExcluirELES SAO PERFEITOS JUNTOS, QUERO MARATONA TBM
ResponderExcluir