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Estranho Irresistivel - Capitulo 12



Doze

Coloquei Demi num táxi e fiquei olhando enquanto o carro desaparecia no meio do trânsito. Merda. Ela ignorou a chamada no restaurante, olhando a tela de relance antes de parar a vibração, mas não antes que eu pudesse ver quem era, e definitivamente não antes que eu pudesse ver sua tentativa de esconder sua reação. WILL CEL Nunca vi alguém se fechar daquela maneira; era como se alguém tivesse apertado um botão e a luz tivesse apagado de seu rosto. Ela voltou a comer em silêncio e respondia apenas com monossílabos pelo resto do jantar. Tentei aliviar o clima, contei algumas piadas e flertei com ela desavergonhadamente, mas… nada. Após dez minutos, ela acabou com nossa situação, fingindo uma dor de cabeça e insistindo em voltar para casa de táxi. Sozinha. Merda. Continuei olhando para a rua enquanto meu carro era estacionado atrás de mim. Acenei para o motorista, abri a porta e entrei. – Para onde vamos agora, sr. Jonas? – Vamos para casa, Scott – eu disse. Ganhamos a rua e fiquei observando a cidade passar diante de mim como um borrão. Meu humor piorava a cada quarteirão que passávamos. As coisas estavam indo tão bem. Ela finalmente estava começando a se abrir, deixando eu entrar naquele cofre que era sua mente. Eu ainda estava digerindo sua revelação de que os pais eram donos de uma das maiores cadeias de lojas de departamento do país. E então, “Will cel”. Maldito celular do Will. Uma raiva explodia em meu peito, e, por um breve momento, comecei a pensar qual era a frequência com que eles se falavam. Seis anos é um longo tempo e significava que eles tinham uma história juntos que seria difícil simplesmente varrer para debaixo do tapete. Não sei por que eu pensei que ele estava completamente fora de sua vida. Fazia sentido ela não querer outro relacionamento, mas seu distanciamento forçado parecia ir muito mais longe. Talvez ele a quisesse de volta. Franzi a testa enquanto deixava esse pensamento tomar conta da minha mente. É claro que ele a queria de volta; como não? Pela centésima vez eu me encontrei pensando no que teria realmente acontecido entre eles e por que ela resistia tanto a me contar. Estávamos quase no meu prédio quando meu celular vibrou em meu bolso.
Já cheguei em casa. Obrigada pelo jantar. Bjs.
Bom, esta noite realmente foi maluca. Reli a mensagem e considerei ligar, sabendo que seria uma causa perdida. Ela era tão teimosa. Digitei ao menos dez respostas diferentes, apagando uma por uma antes de enviar. O problema era que eu queria conversar sobre isso e ela não queria. E o problema era também que eu estava completamente sem coragem.
– Você se importa de dirigir por aí um pouco, Scott? – eu perguntei. Ele balançou a cabeça, virando e seguindo em direção ao parque. Procurei o número de Mike e liguei. Após duas chamadas, ele atendeu. – E aí? – Você tem um tempo? – perguntei, olhando as ruas pela janela do carro. – Claro, espere só um segundo – ouvi um barulho ao fundo e depois uma porta se fechou. – Está tudo bem? Encostei a cabeça no banco, sem saber por onde começar. Apenas sabia que precisava desabafar um pouco sobre essa confusão com alguém e, infelizmente para ele, essa pessoa em minha vida era o Mike. – Não tenho ideia. – Bom, isso não ajuda muito. Não recebi nenhum e-mail sobre algum incêndio, então acho que não é sobre o trabalho, certo? – Seria melhor se fosse. – Certo… Ei, você não disse que tinha planos para o jantar? – Na verdade, esse é o motivo pelo qual estou ligando – passei a mão em meu queixo. – Deus. Não acredito que estou fazendo isso. Acho que apenas preciso de alguém para… escutar. Tipo, se eu falar em voz alta, talvez faça mais sentido. – Bom, isso pode ser interessante – ele disse, rindo no telefone. – Deixe eu me ajeitar por aqui. – Sabe a mulher com quem estou saindo? – Comendo. A mulher que você está comendo. Fechei os olhos. – Mike. – Sim, Joe. Sua maravilhosa transa. Essa situação que é exclusivamente sobre sexo com uma mulher que não quer ser fotografada e onde nada poderia sair errado. Suspirei. – Então, sobre isso. Quer dizer… isso fica só entre nós, certo? – É claro – ele disse, soando um pouco ofendido. – Posso ser um filho da mãe, mas sou um filho da mãe confiável. E você não deveria estar aqui para que a gente pudesse, sei lá, fazer as unhas um do outro enquanto conversamos sobre seus sentimentos? – É a Demi Lovato. Silêncio. Bom, isso fez ele calar a boca. – Mike? – Puta merda. – Pois é – eu disse, esfregando minhas têmporas. – Demi Lovato. Demi Lovato da Ryan Media Group. – Exatamente. Começou antes de eu saber que ela trabalhava com o Ben. – Uau. Quer dizer, ela é linda, não me entenda mal, mas ela parece meio… reservada? Quem diria que ela era assim… E porque me senti tão bem apenas por pronunciar aquelas palavras, eu continuei. – Começamos apenas ficando numa boate. Dava para perceber que ela estava me usando para se divertir e explorar um pouco. – Explorar?
Cocei meu queixo e estremeci ao admitir: – Ela gosta de transar em público. – O quê? – ele disse, rindo. – Isso não parece a Demi Lovato que eu conheço. – E ela deixa eu tirar fotos. – Espera aí… como é? – Fotos, às vezes até mais. De nós dois. – De vocês…? – Transando. Outro silêncio se passou por alguns momentos e juro que eu podia ouvir seus olhos piscando incrédulos. Então limpou a garganta e disse: – Certo, transar em público é incrível, mas todas as pessoas que eu conheço tiram fotos quando transam com uma garota. – E qual é o seu argumento, seu tonto? – Que você está atrasado nessa moda, seu idiota. – Mike, estou falando sério aqui. – Certo, então qual é o problema? – O problema é que hoje foi a primeira vez que consegui levá-la até um restaurante. E acabei descobrindo que os pais dela são donos da Lovatos, Mike. Sabe? A loja de departamentos? São coisas que eu nem sabia antes de ontem. Ele ficou quieto por um instante e então riu baixinho. – Certo. – Então, tipo, nós estávamos conversando de verdade pela primeira vez, mas então o babaca do ex-namorado dela ligou. – Certo. – E parece óbvio que ele bagunçou a cabeça dela, pois Demi se fechou e praticamente saiu correndo do restaurante. Ela transa comigo até as pernas ficarem bambas, mas não me conta por que levou mais de um mês para aceitar jantar comigo. – Certo, certo. – Então, os pais dela são donos dessa loja e ela cresceu em Los Angeles. E o que mais? Eu não sei nada sobre ela. – Entendi. – Mike, você está me escutando? – É claro que sim. Você disse que não sabe nada. – Certo. – Então… você já pesquisou no Google? – É claro que não. – Por quê? Soltei um grunhido. – Achei que já tínhamos conversado sobre isso depois da novela com Cecily. Nada de bom sai de uma pesquisa pessoal no Google. – Mas, profissionalmente, se vai trabalhar com uma pessoa nova, você faz uma pesquisa antes, não é? – É claro. – Bom, eu pesquisei a Demi assim que soube que ela seria um dos meus contatos na RMG. E
com certeza foi informativo. Minha garganta se fechou e segurei inutilmente em meu colarinho. – Conte o que descobriu. Ele riu. – Sem chance. Tome vergonha na cara e pesquise você mesmo. E, aproveitando a deixa, nossa conversa está muito legal, mas eu preciso ir. Tenho companhia. —
Pedi ao Scotty que me levasse de volta para casa. Assim que subi, não demorei nem cinco minutos para pular na frente do computador e digitar o nome “Demi Lovato”. Meu Deus. Não havia apenas algumas citações aqui e ali; havia páginas e mais páginas de resultados, possivelmente mais do que apareceria com meu próprio nome. Respirei fundo e cliquei primeiro na página de imagens, onde havia fotos que cobriam pelo menos os últimos dez anos de sua vida. Ela parecia tão jovem em algumas delas, com o cabelo castanho alisado em algumas fotos e bagunçado em outras. Em todas, seu sorriso era genuíno e inocente. E não era apenas uma coleção de fotos de família ou autorretratos; eram fotos em alta definição, vendidas e compradas por jornais e revistas sensacionalistas, tiradas por paparazzi com grandes e caras lentes de aproximação. Havia até vídeos de reportagens de telejornais. Havia festas e casamentos, eventos de caridade e férias, e, quase sempre, com o mesmo homem ao lado. Ele era apenas alguns centímetros mais alto do que ela, com cabelo preto e feições retas. Seu sorriso brilhante cheio de dentes parecia tão sincero quanto eu imaginava que seria, ou seja, era completamente falso. Então, este era Will. Para o resto do mundo era Wilmer Valderrama. Congressista democrata, servindo o sétimo distrito de Califórnia. De repente, muita coisa começou a fazer sentido. Com um suspiro resignado, cliquei no que parecia ser uma foto recente; seu cabelo estava igual ao atual e havia uma árvore de natal ao fundo. A legenda na foto dizia:
Demi Lovato e Wilmer Valderrama no baile anual do Los Angeles Sun-Times, onde o congressista anunciou seus planos para concorrer ao senado dos Estados Unidos no próximo outono.
Cliquei no link e li o artigo inteiro, confirmando que a história tinha sido escrita no último inverno, e isso significava que ele provavelmente já estava no meio da campanha em Califórnia. Voltei para a página de fotos e olhei os primeiros resultados onde, ao lado de várias fotos semelhantes, havia uma foto de Demi correndo no meio de uma multidão de paparazzi, cobrindo o rosto com o casaco. Ignorei essas fotos a princípio porque seu rosto não estava visível. Cliquei no link da reportagem associada à foto, cuja data era apenas algumas semanas antes de eu conhecê-la. Um artigo do Los Angeles Tribune surgiu.
O congressista democrata Wilmer Valderrama foi flagrado na noite passada num encontro íntimo com uma mulher que não é sua noiva, Demi Lovato. A morena, identificada como Melissa Marino, é uma estagiária de seu escritório em Los Angeles.
A foto em questão estava no meio do artigo e mostrava um homem – que obviamente era Will – beijando apaixonadamente uma mulher – que obviamente não era Demi.
Lovato e Valderrama estão juntos desde 2007, e o casal, que se transformou nos queridinhos da cena social de Los Angeles desde então, noivou em dezembro, pouco depois do anúncio de sua intenção de concorrer ao senado. Demi Lovato, diretora financeira da empresa Nieman & Shimazawa, é filha única de Eddie e Dianna Lovato, fundadores da conhecida cadeia de lojas encontrada em dezessete estados e principais financiadores da campanha de Valderrama. O porta-voz da família Lovato não foi encontrado para comentar o caso, mas um assessor da campanha de reeleição de Valderrama respondeu às perguntas do Tribune dizendo apenas que “a vida privada do sr. Valderrama nunca foi objeto para consumo público”. Infelizmente, os rumores da vida pessoal do político playboy parecem finalmente ter vindo à tona.
Rumores da vida de playboy. Filho da puta. Eu me recostei na cadeira enquanto olhava Demi e Will juntos. Uma raiva começou a queimar em meu peito. Ela era o tipo de mulher que os homens gostariam de conquistar, de conhecer melhor do que qualquer outro homem, de paparicar, e em defesa da qual até levariam um tiro. Olhei por todos os ângulos possíveis. Ela tinha um sorriso luminoso em todas as fotos anteriores ao mês de abril. Tinha um jeito natural na frente das câmeras, e o brilho de seu sorriso pouco mudou com o passar dos anos. E esse idiota traiu Demi – várias vezes, segundo o artigo. Ele até tinha boa aparência, apesar de ser obviamente mais velho que ela. Cliquei em outro artigo que dizia que ele tinha trinta e sete anos, ou seja, dez anos mais velho. De acordo com um artigo publicado há apenas dois meses, era um “segredo” que todo mundo sabia: Will a traiu várias vezes no ano anterior, e havia uma percepção crescente de que ele a usava apenas por causa do nome de sua família e por seu dinheiro, explorando o interesse da imprensa local em seu romance sempre que sua reputação precisava de um impulso de relações públicas. Olhei mais algumas fotos antes de sair irritado da frente do computador. Aquele filho da puta a usou. Ele a pediu em casamento e depois foi foder por aí. Deus, não era à toa que ela parecia problemática. E também não era à toa que ela era tão avessa aos paparazzi. Meu apartamento estava escuro quando desliguei o computador e saí do quarto. Fui até o bar, acendendo algumas luzes no caminho, e me servi uma dose de uísque. A bebida desceu queimando, imediatamente espalhando um calor em minhas veias. Não ajudou em nada, mas bebi até o fim mesmo assim. Servi mais uma dose e fiquei imaginando o que ela estaria fazendo. Será que estava em casa? Será que ligou para o traidor maldito? Após olhar aquelas centenas de fotos, eu podia imaginar a história dos dois. E se ele ligou para pedir desculpas? E se ela estivesse num avião indo para Los Angeles agora mesmo? Será que me contaria? Olhei as horas e fiquei imaginando como seria se eu fosse atrás dela, jogando-a nos meus ombros e trazendo-a de volta. Então transaria com ela na cama até eu ser o único homem que ela lembraria. Claramente, eu precisava de uma distração, e a bebida não era a resposta. Levei menos de cinco minutos para tirar meu terno e vestir um calção e uma blusa de
moletom. Peguei o elevador até a academia no vigésimo andar e andei até a esteira. Como de costume nessa hora da noite, felizmente a academia estava vazia. Corri até sentir meus pulmões pegando fogo e minhas pernas dormentes. Corri até apagar praticamente todos os pensamentos da minha mente, exceto um: eu estaria perdido se ela voltasse para ele. Fui até o vestiário, tirei minhas roupas suadas e desabei num banco, deixando minha cabeça cair nas mãos. O silêncio só foi interrompido pelo som do meu celular tocando dentro do armário. Levantei a cabeça imediatamente; fiquei surpreso por alguém ligar àquela hora. Cruzei o vestiário e congelei quando vi a foto de Demi preencher a tela – uma foto que eu tirei de sua mão no pescoço, com uma mecha do cabelo castanho em contraste com a pele branca. – Demi? – Oi. – Você está bem? Ouvi uma buzina ao fundo e ela limpou a garganta. – Sim, estou bem. Olha, você está ocupado? Eu poderia… – Não, não. Acabei de correr um pouco. Onde você está? – Na verdade – ela disse, rindo suavemente – estou na frente do seu prédio. Pisquei lentamente. – Como é? – Pois é. Posso subir? – É claro. Me dê só uns minutos e eu te encontro… – Não. Posso encontrar você aí em cima? É só que… estou com medo de perder a coragem se tiver que esperar. Bom, isso foi estranho. Senti um frio na barriga. – Sim, é claro, flor. Vou avisar o porteiro. Alguns minutos depois, Demi entrou pela porta do vestiário e me encontrou vestindo nada além de uma toalha ao redor da cintura. Ela parecia cansada, com olhos vermelhos e o lábio inferior rachado e inchado. Parecia uma versão mais jovem e suave da Demi, uma que eu apenas tinha visto nas fotos que pesquisei. Ela sorriu sem muita vontade, fazendo um pequeno aceno enquanto a porta se fechava atrás dela. – Oi – eu disse, cruzando o vestiário. Dobrei os joelhos para me abaixar e manter nossos olhos na mesma altura. – Você está bem? O que aconteceu? Ela suspirou, balançou a cabeça e, de repente, algo se acendeu em sua expressão. – Eu queria ver você. Eu sabia que ela estava evitando minha pergunta, mas senti meu sorriso se abrir no rosto antes que eu pudesse evitar. Não consegui manter minhas mãos paradas e segurei seu rosto, acariciando sua face com os polegares. – Bom, isso definitivamente vale uma viagem até o vestiário dos homens. – Estamos sozinhos, certo? – Completamente. – Nós não terminamos o que estávamos fazendo no seu escritório – ela disse, empurrando meu corpo até os chuveiros. Senti meu coração acelerar com a sensação de tê-la em meus braços novamente. Ela ficou
na ponta dos pés e suas mãos pousaram em minha toalha enrolada na cintura. – Humm – eu disse, gemendo em sua boca. Senti sua mão se esticar atrás de mim e ligar o chuveiro, deixando a água quente escorrer pelas minhas costas –, você quer fazer isso aqui? Ela respondeu sem usar palavras, tirando a camisa e depois a calça. Acho que isso é um sim. – Meu apartamento é logo ali… – eu disse, tentando fazê-la ir mais devagar. Eu podia imaginar como seria transar com ela ali, escutar seus gritos ecoando pelas paredes, mas pelo menos uma vez eu não queria nada além do seu corpo nu na minha cama, com os lençóis e cobertores atirados numa pilha ao lado. Talvez com suas mãos amarradas acima da cabeça e presas na cabeceira da cama. Ela me ignorou, agarrando meu pau e se inclinando para morder meu ombro. Tentei clarear minha mente, lembrando de sua expressão enquanto entrava pela porta. Não era incomum ela evitar minhas perguntas, mas agora não parecia durona e nervosinha como de costume; ela parecia selvagem pelos motivos errados. Seus olhos estavam vazios, seu rosto não mostrava expressão. Ela tinha vindo apenas em busca de distração. Minha garganta secou de repente e passei a língua em meus lábios, sentindo o sabor de cereja de seu batom. Eu estava um pouco surpreso pelo catálogo de informações sobre Demi que compilei sem nem perceber. Eu sabia como seu rosto ficava quando gozava, a maneira como seus mamilos endureciam e como suas pálpebras fechavam apenas no último segundo, como se quisesse observar cada momento até não conseguir mais. Eu sabia qual era a sensação de sua mão curvada ao redor da minha cintura, suas unhas enterradas nas minhas costas e arranhando para cima e para baixo. Eu sabia os sons que ela fazia e a maneira como sua respiração falhava quando eu movia meus dedos do jeito que ela gostava. E havia coisas novas, coisas que eu notava e queria ver de novo e de novo. O pequeno sorriso quando ela sabia que tinha acabado de dizer algo engraçado e esperava eu perceber. Era uma coisa muito sutil, apenas um leve movimento dos lábios e dos olhos. Era um desafio. A maneira como mordia docemente o lábio inferior enquanto lia. A maneira como me beijou naquele dia na cobertura, devagar, preguiçosamente, como se não existisse mais nada no mundo, mais nenhum outro lugar para se estar. Mas eu não conhecia esta Demi. Sempre suspeitei que aquele jeito briguento que eu adorava tanto era uma forma de autopreservação. Mas nunca imaginei como eu me sentiria quando percebesse que esse jeito já não estava mais lá. Era como um soco no estômago que tirava todo o ar dos meus pulmões. Juntei suas mãos e dei um passo para trás. – O que está acontecendo? – perguntei, estudando sua expressão. – Converse comigo. Ela se inclinou em mim novamente. – Não quero conversar. – Demi, eu não me importo em ser sua distração, mas ao menos seja honesta comigo sobre isso. Algo está errado. – Estou bem. Mas não estava. Ela não teria vindo até mim se estivesse tudo bem. – Mentira. Você está quebrando suas próprias regras apenas estando aqui. Isto é melhor,
isto é real, mas também é diferente, e eu quero saber o porquê. Ela se afastou e olhou em meu rosto. – Will ligou para mim. – Eu sei – eu disse, sentindo a tensão no meu queixo. Ela sorriu desculpando-se. – Disse que me queria de volta. Disse todas as coisas que um dia eu quis que dissesse, sobre o quanto ele mudou, o quanto estragou tudo e nunca mais me magoaria de novo. Fiquei observando enquanto falava. Então ela mergulhou o rosto em meu pescoço molhado, tomando coragem. – Ele só está preocupado com a campanha. Nosso namoro foi uma grande mentira. – Sinto muito, Demi. – Eu pesquisei sobre Cecily. Pisquei os olhos, confuso. – Humm. É mesmo? – O nome dela parecia familiar, e, depois do que você me contou, eu queria saber como ela era – afastando-se, Demi olhou em meus olhos. – Achei que já tinha ouvido falar dela, mas só agora a ficha caiu. Conheci muitas pessoas por causa do Will, e geralmente esqueço os rostos dois segundos depois de cumprimentar… mas eu me lembrava dela. Senti meu estômago revirando, mas deixei que ela continuasse. – Então fui para casa e pesquisei o nome dela antes de retornar a ligação para Will – ela fez uma pausa e sua voz começou a tremer levemente. – Ele ficou falando sem parar por meia hora sobre o quanto sentia muito, que aconteceu apenas uma vez e nunca seria capaz de perdoar a si mesmo. Então eu perguntei sobre Cecily. E sabe o que ele falou? – Cecily… o quê? – Ele disse: “Merda, Demi. Precisamos fazer isso agora? Isso já é passado”. Ele transou com ela, Joe. Will era o político que ela mencionou na carta. Wilmer Valderrama, o congressista mulherengo de Califórnia transando até chegar ao sétimo distrito. Eles transaram no dia que eu a conheci, num evento de campanha do Schumer. Soltei um gemido. Estive naquele evento, mas não como acompanhante dela. Cecily estava brava comigo durante a noite toda e foi embora com raiva, mas eu nunca soube a razão. Demi se encolheu em meus braços. – Lembro-me de encontrar Will saindo do banheiro, começamos a conversar e ele estava tentando me tirar dali, mas eu disse para esperar porque eu precisava ir ao banheiro. E então ela saiu de dentro do banheiro dos homens, olhou para ele, olhou para mim, e foi muito constrangedor, e não entendi por que ela saiu correndo. Mas agora entendi que ela estava lá dentro com ele. Abracei seu corpo enquanto a água caía ao nosso redor, formando um casulo protetor à prova de som. O mundo era realmente pequeno; menor até do que imaginei quando a vi jogando fliperama, ou quando ela me puxou para a privacidade do banco de trás de um táxi no meio da tarde. Este era um mundo onde, anos atrás, Cecily transou com o namorado de Demi porque estava brava comigo. Eu não estava arrependido de ter a Demi em meus braços; não estava arrependido de ter desistido do relacionamento com Cecily. Mas não conseguia parar de me sentir culpado. – Desculpe – sussurrei.
– Não, você não entendeu – ela olhou para mim, com respingos de água escorrendo por seu rosto. – Àquela altura, nós estávamos juntos por apenas alguns meses. Até hoje eu achava que ele não tinha me traído desde o começo. Pensei que tinha começado apenas recentemente. Mas ele nunca foi fiel. Nunca. Apertei ainda mais o abraço, sussurrando em meio a seus cabelos: – Você sabe que isso não teve nada a ver com você, não é? Apenas mostra o quanto ele é um ser humano desprezível. Homens não são tão horríveis assim. Ela se ajeitou, olhou para mim e pude ver que estava segurando um sorriso. Seus olhos ainda brilhavam por causa das lágrimas, mas a gratidão neles era real. Algo vibrou em meu peito com a maneira como ela olhou para mim, pois nosso sexo safado e casual era ótimo – na verdade, era fantástico – mas isso… isso era algo inteiramente novo. – Fiquei com ele por um longo tempo. Parte de mim ainda pensava que talvez tivesse sido apenas uma traição e eu estava sendo injusta. Mas estou feliz agora por saber que estava certa em deixá-lo. Acontece que… agora estou pronta para algo melhor – ela disse. Engoli essa nova emoção e tentei me recompor, lembrando que sentimentos e afeto não deveriam fazer parte de nosso acordo, tentando me concentrar em onde estávamos e o fato de que seu corpo nu ainda estava pressionado contra o meu. – Existem muitos homens que matariam para ter uma mulher como você – eu disse, tentando manter minha voz firme, completamente despreparado para o pavor que senti quando a imaginei com outra pessoa. Com essa constatação, desliguei o chuveiro e peguei uma toalha que estava pendurada ao lado. – Me deixe secar você, está muito frio aqui. – Mas… você não quer…? – Você teve um dia muito difícil – eu disse, acariciando seus cabelos. – Permita que eu seja um cavalheiro hoje. Serei um depravado na próxima vez – eu queria pedir para ela que ficasse, mas não sabia se conseguiria aguentar receber um não. – Você está bem? Ela confirmou com a cabeça, pressionando o rosto em meu peito. – Acho que apenas preciso dormir um pouco. – Vou pedir para Scott levar você para casa. Nos vestimos em silêncio, olhando um para o outro sem cerimônia. Parecia uma sedução ao contrário assistir Demi vestindo o jeans, colocando o sutiã, cobrindo os seios com a blusa. Mas acho que nunca a desejei mais do que naquele momento, enquanto observava ela se recompor diante dos meus olhos. Eu estava me apaixonando. E estava completamente ferrado. —
No sábado de manhã, eu comecei a ligar para Demi umas vinte vezes antes de desligar sem completar a chamada. Minha mente dizia que era melhor dar a ela um pouco de distância. Mas, merda, eu queria vê-la. Eu estava agindo como um maldito adolescente. Ligue para ela, seu idiota. Convide-a para sair hoje. Não aceite um não como resposta. Desta vez eu até me afastei do celular, pois um homem que diz esses clichês para si mesmo não merece ligar para mulher alguma. Criei desculpas pelo resto da manhã, pensando que ela provavelmente estava ocupada. Inferno, eu nem sabia se ela tinha outros amigos além de Miley e Nick. Eu não poderia exatamente perguntar isso, não é? Merda, não. Ela daria um chute no meu traseiro. Mas o que exatamente ela fazia quando não estava no trabalho? Eu jogava rúgbi, bebia cerveja, corria,
visitava galerias de arte. Tudo que sabia sobre ela era relacionado a como transava ou a vida que tinha deixado para trás. Eu sabia muito pouco sobre a vida que ela tinha começado a construir nesta cidade. Talvez ela fosse gostar de fazer alguma coisa comigo depois do dia horrível que teve ontem. Hora de criar vergonha na cara, Joe. Finalmente, tomei coragem e deixei o telefone chamar. – Alô? – ela atendeu, parecendo confusa. É claro que ela está confusa, seu idiota. Você nunca ligou para ela antes. Respirei fundo e comecei a falar o discurso mais incoerente que já fiz na vida: – Certo, olha, antes que você diga alguma coisa, sei que não estamos fazendo essa coisa de namorado-namorada, e depois de todas as puladas de cerca do Will eu entendo totalmente sua aversão a relacionamentos, mas na noite passada você foi me ver e deixamos as coisas num clima ruim, e se você quiser fazer alguma coisa hoje… não que você precise fazer alguma coisa, e, mesmo se precisasse, não estou tentando insinuar que você não tem outras opções, mas, se quiser, você podia assistir meu jogo de rúgbi hoje – fiz uma pausa, tentando ouvir qualquer evidência de vida do outro lado da linha. – Nada é melhor para espairecer a cabeça do que assistir um bando de ingleses suados e cobertos de lama tentando quebrar a perna um do outro. Ela riu. – O quê? – Rúgbi. Venha assistir eu jogar hoje. Ou, se preferir, venha tomar uns drinques depois com a gente no Maddie’s, que fica no Harlem. Ela ficou em silêncio por, sei lá, uma semana? – Demi? – Estou pensando. Andei até a janela e fiquei brincando com a cortina e olhando para a vista do parque. – Pense em voz alta. – Vou ao cinema com uma amiga hoje à tarde – ela começou a falar e senti a tensão no meu estômago se aliviar quando mencionou uma amiga. – Mas acho que eu poderia aparecer para beber alguma coisa mais tarde. Que horas você acha que seu jogo vai acabar? Até mais patético do que antes, dei um soco no ar comemorando a vitória e quis imediatamente chutar meu próprio traseiro. – Provavelmente vai acabar às três. Você pode nos encontrar no Maddie’s lá pelas quatro horas. – Eu vou. Mas…? – Sim? – Você acha que seu time vai ganhar? Não quero beber com um bando de ingleses deprimidos e cobertos de lama. Rindo, assegurei a ela que iríamos acabar com o outro time. —
Nós acabamos com o outro time. Eu raramente me sentia mal pelos adversários – a maioria dos times eram formados por americanos e, embora não fosse culpa deles não terem o rúgbi no sangue, geralmente era engraçado dar uma surra neles. Mas desta vez foi uma exceção. Nós paramos de tentar marcar pontos na metade do jogo. Eu tive que atribuir minha generosidade,
em parte, a saber que encontraria Demi mais tarde. Mas apenas em parte. Ao final da partida, parecia que estávamos jogando contra garotos da oitava série no meio da lama. Senti um pouco de culpa. Invadimos o bar, carregando o Robbie nos ombros e gritando uma versão depravada da canção “Alouette”. A barwoman e proprietária, Madeline, acenou quando nos viu, alinhou doze copos de cerveja e começou a encher. – Ei, mocinha! – Robbie gritou para sua esposa. – Uísque! Maddie mostrou dois dedos invertidos (a versão britânica do dedo do meio), mas pegou um punhado de copos de uísque mesmo assim, murmurando alguma coisa sobre o coitado do Robbie ter que dormir no sofá sozinho e bêbado mais tarde. Olhei ao redor do bar procurando Demi, mas não a encontrei. Engolindo minha decepção, fui até o balcão e tomei um longo gole de cerveja. Nosso jogo atrasou para começar; já eram quase cinco horas e ela não estava no bar. Eu deveria estar surpreso? E então, pensei numa coisa horrível: será que ela tinha vindo, esperado e ido embora? – Merda – murmurei. Maddie deslizou uma dose de uísque para mim e eu virei de uma vez, praguejando novamente. – O que está errado? – a voz suave e familiar veio de trás. – Vocês não ganharam o maldito jogo? Girei no banco do bar e soltei um sorriso enorme ao ver Demi. Ela usava um vestido amarelo-claro e uma pequena presilha verde nos cabelos. – Você está linda – seus olhos se fecharam por um instante e eu murmurei: – Desculpe pelo atraso. Ela acenou para sua mesa, dizendo: – Pelo menos tive tempo de tomar uns drinques. Eu não a vi bêbada desde a noite na boate, mas reconheci um brilho familiar em seus olhos. Era um brilho de quem está pensando em fazer travessuras. Só de pensar que aquela Demi estava de volta era fantástico. – Você está bêbada? Suas sobrancelhas se juntaram por um breve momento e então seu rosto suavizou. – Sim, estou um pouco alta – ela ficou na ponta dos pés e então… me beijou. Puta. Merda. Ao meu lado, Richie se intrometeu: – O quê… Joe. Tem uma garota na sua cara. Demi se afastou e seus olhos se arregalaram ao perceber. – Ah, merda. – Calma – eu disse a ela discretamente. – Ninguém aqui se importa com quem nós somos. Eles mal se lembram do meu nome. – Isso é completamente falso – Richie disse. – Seu nome é Tonto. Fiz um gesto com a cabeça em direção a ele, sorrindo para Demi. – Não falei? Ela estendeu a mão para Richie e mostrou seu grande sorriso para ele. – Eu sou Demi. Ele a cumprimentou e eu percebi o momento em que realmente olhou para ela e registrou o
quanto era ridiculamente linda. Ele imediatamente olhou para seu peito. – Eu sou Richie – murmurou com sua voz de bêbado. – Prazer em conhecê-lo, Richie. Ele olhou para mim, apertando os olhos. – Como diabos você conseguiu uma mulher assim? – Não faço ideia – eu a puxei para perto, ignorando seu leve protesto dizendo que sujaria o vestido. Mas então ela se desvencilhou e virou para Derek, que estava do meu outro lado. – Eu sou Demi. Derek baixou sua cerveja e limpou a boca com a mão imunda. – Com certeza, você é. – Ela está comigo – murmurei. E desse jeito, Demi Altinha andou pelo bar, se apresentando para cada um dos meus colegas. Enxerguei nela a esposa de um político que quase chegou a ser, porém, mais do que isso, percebi que Demi era uma garota realmente encantadora. Quando voltou para mim, ela beijou meu rosto e sussurrou: – Seus amigos são legais. Obrigada por me convidar. – Imagina. Perdi minha capacidade de formar pensamentos coerentes. Quase nada em minha vida me fazia sentir do jeito que ela me fazia sentir – tão fantasticamente bem. Eu não sofria de autodepreciação, mas admito que fui um cretino em certos momentos; trabalhei em investimentos que, francamente, dependiam de pessoas perdendo dinheiro tanto como de outras ganhando dinheiro, e cultivei poucas amizades de verdade desde que me mudei para cá. Meu amigo mais próximo era Mike, e, na maior parte do tempo, nós apenas chamávamos um ao outro com palavrões variados. Diga para ela, seu idiota. Leve-a para o outro lado do bar, dê um bom beijo e diga que você a ama. – Tire esse blues velho do som, Maddie – gritou Derek do outro lado do bar. E justo quando eu estava prestes a tocar o ombro de Demi e pedir a ela que me acompanhasse, ela se endireitou. – Isso não é blues – ela disse. Derek se virou, com uma sobrancelha erguida. – Esse é o Eddie Cochran. Isso é rockabilly – ela disse. Debaixo do olhar estranho dele, ela pareceu murchar um pouco. – Não é a mesma coisa. – Você sabe dançar essa coisa? – ele perguntou, olhando-a de cima a baixo novamente. Para minha surpresa, ela riu. – Você está me convidando? – Claro que não, eu… Mas antes que ele pudesse terminar de falar, ela começou a arrastar todo aquele corpanzil do Derek até a pista de dança. – Minha mãe é do Texas – ela disse, com os olhos brilhando. – Tente me acompanhar. – Você está brincando? – ele disse, olhando para nós. O bar inteiro cheio de ingleses parou de falar e começou a assistir aos dois com interesse. – Vá em frente! – gritei. – Não seja uma mocinha, Derek – gritou Maddie, e todos começaram a aplaudir. Ela
aumentou a música. – Faça um show para a gente. O sorriso de Demi aumentou e ela colocou a mão dele em seu ombro, balançando a cabeça quando ele protestou. – É a pose tradicional. Você coloca uma mão nas minhas costas e a outra no meu ombro. E enquanto eu assistia, Demi mostrou ao Derek como fazer o resto da dança: dois passos rápidos, dois passos lentos. Demonstrou como deveria rapidamente girá-la no sentido antihorário. Com apenas uma música, eles já estavam dançando bem, e, no meio da segunda, os dois estavam arrasando, dançando juntos como se fossem parceiros há anos. Talvez fosse isso sobre a Demi. Qualquer pessoa que a conhecesse queria conhecê-la de verdade. Ela não era atraente apenas para mim, com sua inocência se sobressaindo mesmo considerando suas fantasias mais selvagens. Ela era irresistível para todo mundo. E, nesse momento, não havia nada que eu quisesse fazer mais do que socar a cara idiota de Will. Ele desperdiçou seu tempo com ela, desperdiçou ela. Eu me levantei, andei até a pista de dança e interrompi os dois. – Agora é a minha vez. Aqueles olhos castanhos profundos olharam para mim com ternura, e, em vez de arrumar minhas mãos, como fez com Derek, ela deslizou os braços ao redor do meu pescoço, beijou meu queixo e sussurrou: – Sempre é a sua vez. – Pensei que essa dança precisava de um pouco mais de distância entre a gente – eu disse, sorrindo enquanto me abaixava para beijá-la. – Não com você. – Ótimo. Ela abriu um sorriso brincalhão e bêbado. – Mas estou morrendo de fome. Quero um hambúrguer do tamanho da sua cabeça. Uma risada explodiu em minha garganta e beijei sua testa. – Tem um lugar aqui perto que você vai gostar. Vou enviar uma mensagem com o endereço. Que tal eu ir para casa tomar um banho e encontrar você lá daqui uma hora? – Jantar em duas noites seguidas? – ela perguntou, parecendo mais cuidadosamente ansiosa do que qualquer outra coisa. Onde estava aquela mulher distante e avessa que eu encontrei há apenas alguns dias? Evaporou. Sempre suspeitei que a Demi Distante era apenas uma fantasia. Fantasia dela, não minha. Confirmei, sentindo meu sorriso diminuir. Eu estava farto de fingir que ainda tínhamos qualquer fronteira. Uma única palavra hesitante saiu da minha boca. – Sim. Ela mordeu o lábio para não deixar um sorriso escapar, mas foi impossível não notar.

3 comentários:

  1. Que cute esses dois, joe fala logo para ela que estar apaixonada #ficaadica

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  2. Cade o próximo capítulo??? Estou adorando está fic, eles estão apaixonados e não admitem... Quando eles vão ficar juntos??? Posta logo Please

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