Beautiful Bombshell - Capitulo 6
Rolei para o lado, agarrei meu celular no criado-mudo e desliguei o alarme com o polegar. Eu estava exausto, tendo dormido apenas duas horas. Trabalhei quase até as duas da madrugada e depois tentei ir para a cama sem acordar Demi, mas ela se virou e subiu em cima de mim antes que eu pudesse dizer alguma coisa. Mas até parece que eu iria impedi-la. Não posso realmente reclamar por isso ter me custado mais uma hora de sono perdido, mas agora, quando sua mão procurava cegamente entre os lençóis, acariciando minha barriga até chegar ao meu pau, eu sabia que não podia deixá-la continuar. Eu tinha um voo para pegar, sozinho. Ela decidiu ir para a França, mas viajaria um dia depois de mim, insistindo com muita teimosia que precisava de toda a sexta-feira para cuidar das últimas coisas. Eu esperaria por ela, mas, como a viagem foi marcada de última hora, se eu esperasse não haveria nenhum voo direto e nem assentos lado a lado. Decidi então que chegaria mais cedo para preparar nossa estadia na casa de Max. – Acho que não temos tempo – murmurei em meio aos seus cabelos. – Não acredito nisso – ela disse, com a voz ainda cheia de sono. – Este cara aqui – ela disse, apertando minha ereção – acha que temos bastante tempo. – O motorista vai chegar em quinze minutos e, graças ao seu apetite na noite passada, eu preciso tomar outro banho. – Lembra daquela vez que você só precisou de dois minutos para gozar? Você está me dizendo que não tem dois minutos? – Sexo pela manhã nunca dura dois minutos – eu a lembrei. – Não quando você está toda sonolenta, macia e quentinha desse jeito – rolei para fora da cama e andei até o banheiro, ouvindo o som de seu gemido abafado no meu travesseiro. Quando voltei, de banho tomado e já vestido, ela se sentou na cama, ainda abraçando meu travesseiro e tentando fingir que não estava chateada por termos que ir para a França em voos diferentes. – Não faça beicinho – murmurei, abaixando para beijar o canto de sua boca. – Você vai só confirmar aquilo que eu sempre suspeitei: você não funciona direito sem mim. Eu esperava que ela fosse revirar os olhos ou me beliscar, mas apenas desceu os olhos até minha gravata e estendeu o braço para fazer um ajuste desnecessário. – Eu funciono sem você. Mas não gosto de ficar longe. Sinto como se você levasse embora o meu lar. Bom, que droga. Joguei a mala na cama e tomei seu rosto em minhas mãos até ela olhar para mim e ver o efeito das próprias palavras. Ela sorriu e molhou os lábios com a língua. Com um último beijo, eu sussurrei: – Vejo você na França.
—
Eu perderia um dia na ponte aérea e chegaria no sábado. O
voo da Demi sairia apenas doze horas depois do meu, mas, como não era possível
ir direto, ela teria de pegar o último voo do dia para Nova York e de lá sair
para Paris no dia seguinte, chegando a Marselha na segundafeira. Isso me daria
tempo para preparar sua chegada, mas, conhecendo Max, a casa estaria impecável
e cheia de comes e bebes. Ou seja, eu não teria nada para fazer. Um Joe ocioso…
e tudo o mais. Eu me acomodei na cabine de primeira classe, recusei o champanhe
e peguei o celular para enviar uma mensagem para a Demi. Já embarquei. Vejo
você do outro lado do oceano. Meu celular vibrou poucos segundos depois. Estou
repensando essa viagem. Tem uma liquidação de sapatos na Dillons este fim de
semana. Eu ri e, preferindo ignorar a mensagem, guardei o celular no bolso do
casaco. Fechando os olhos enquanto os outros passageiros passavam por mim,
lembrei de nossas outras viagens. Nós viajamos juntos apenas algumas vezes, mas
as coisas nunca saíram como planejado. Será que eu tinha alguma maldição contra
viagens? Parecia que estávamos destinados a viagens que saíam do rumo, que eram
feitas separadamente, que produziam discussões terríveis… ou que eram
canceladas. Senti meu estômago revirar quando lembrei de nossa tentativa de
tirar férias no Dia de Ação de Graças. Em um fim de semana, por impulso, nós
compramos passagens para a ilha de São Bartolomeu, na França, e alugamos uma
casa à beira-mar. Deveria ser perfeito, mas ao invés disso acabou sendo a
primeira vez que Demi parou de falar comigo desde a nossa reconciliação. —
– Maldito filho da puta idiota! Levantei a cabeça, erguendo
as sobrancelhas até meus cabelos, enquanto Demi batia a porta e corria até
minha mesa. – Seu pesadelo se tornou realidade novamente, srta. Lovato? – Quase
isso. A Papadakis quer adiantar o lançamento. Eu me levantei tão abruptamente
que minha cadeira foi lançada para trás e bateu com força na parede. – O quê?!
– Aparentemente, agora março é em janeiro. O primeiro comunicado de imprensa
está marcado para o dia sete de janeiro. – Essa é uma época horrível para se
lançar algo desse tipo! Todo mundo ainda está bêbado ou limpando as festas de
fim de ano. Ninguém sai para comprar apartamentos chiques. – Foi o que eu disse
para o Big George. – Você também disse para ele continuar simplesmente contando
as verdinhas e deixar o
marketing com a gente? Ela riu, cruzando os braços sobre o
peito. – Acho que usei exatamente essas palavras. Junto a outros termos da
máfia que eu conheço. Voltei a me sentar, esfregando as mãos no rosto. Nosso
voo estava marcado para a manhã do Dia de Ação de Graças, e agora não
poderíamos de jeito nenhum deixar o trabalho. – Você disse que estava tudo bem?
Do outro lado da mesa, senti que ela permaneceu completamente congelada. – Que
outra opção eu tinha? – Dizer a ele que não estaríamos prontos! – Mas seria uma
mentira. Nós podemos ficar prontos. Deixei minhas mãos caírem e fiquei de boca
aberta, olhando para ela. – Sim, mas só se trabalharmos quinze horas por dia
durante o feriado, e tudo isso para conseguir fazer o lançamento nessa data
idiota! Ela jogou os braços para cima, com fogo nos olhos. – Ele está nos
pagando um milhão de dólares por um marketing básico e estamos negociando outra
campanha, de dez milhões. Você não acha razoável trabalhar quinze horas por dia
para manter feliz o nosso maior cliente? – É claro que sim! Mas ele não é o seu
único cliente! A primeira regra do mundo dos negócios é nunca deixar que o
cachorro grande saiba o quanto os outros cachorros são pequenos. – Mas que
droga, Joe! Eu não vou dizer que não dá pra fazer o que ele quer. – Às vezes,
um pouco de negociação pode ser uma coisa boa. Você está agindo como uma
inexperiente, Lovato. Se não tinha certeza do que dizer, você deveria ter
passado a ligação para mim. Eu imediatamente quis colocar aquelas palavras de
volta na minha boca. Seus olhos se arregalaram, sua boca se abriu e, merda,
suas mãos se fecharam em punhos apertados. Eu levei minha mão para proteger o
meio das minhas pernas. – Você está falando sério? O que mais você quer fazer?
Dar de comer na minha boca? Seu maldito egocêntrico! Não consegui me segurar. –
Só se eu também te ajudar a mastigar. Seu rosto relaxou e eu pude enxergar sua
mente calculando o quanto ela queria chutar o meu traseiro. – Nós não vamos
mais para São Bartolomeu – ela disse secamente. – Isso é óbvio. Por que você
acha que estou irritado? – Bom, mesmo se ainda fôssemos, você dormiria sozinho,
com a sua mão e um tubo de lubrificante. – Posso me virar com isso. Estas duas
mãos sabem como variar de vez em quando. Ela desviou o olhar, com o queixo
apertado. – Você está tentando me deixar ainda mais brava? – Claro, por que
não? Seus olhos sombrios voltaram a olhar para mim. Sua voz falhou quando
perguntou:
– Por quê? – Para você sentir o máximo da dor. Porque você
deveria ter falado para o George que esse tipo de decisão precisa da
confirmação de toda a equipe, e que só responderíamos depois do feriado. – Como
você sabe que eu não disse isso? – Você veio até aqui contar a notícia. Não
agiu como se fosse uma sugestão. Ela ficou me encarando, com os olhos passando
por centenas de reações diferentes. Esperei para ver quantos palavrões ela
conseguiria dizer em seguida, mas ela me surpreendeu simplesmente virando e
indo embora. —
Demi não passou aquela noite na minha casa. Era apenas a
segunda noite que passávamos separados desde sua apresentação do MBA em junho,
e eu nem ousei tentar dormir. Em vez disso, fiquei assistindo Mad Men na
Netflix e imaginando quem de nós se desculparia primeiro. O problema era que eu
estava certo, e sabia disso. A manhã do Dia de Ação de Graças chegou com a neve
e com um vento tão forte que me empurrou para dentro do prédio enquanto eu
andava, sozinho, da garagem até meu escritório. Nunca pensei que ela me
deixaria de novo após nossa briga. Eu achava que ficaríamos juntos por um longo
tempo, cujo começo oficial poderia ser amanhã ou daqui a dez anos. Não havia
nada que ela pudesse fazer para me afastar. E, embora eu achasse que Demi pensava
o mesmo, ela raramente fugia de uma discussão. Ela continuava a duelar comigo
até eu ficar figurativamente de joelhos, ou até ela ficar de joelhos, mas de um
jeito nada figurativo. Apenas alguns funcionários da RMG foram trabalhar no
feriado – os que faziam parte da equipe da Papadakis. E todos olharam para Demi
quando ela andou até o corredor para pegar café. Conhecendo-a bem, ela
provavelmente trabalhou até tarde da noite e dormiu debaixo da mesa. Ela nem
olhou para onde eu estava de pé à porta da sala de conferência. Mesmo assim, eu
quase podia ouvir seus pensamentos enquanto passava por cada um dos membros
malhumorados da equipe: “Você pode ir se ferrar. E você também. E você? O
folgado com essa carranca patética? Você pode realmente ir se ferrar.” Ela se
dirigiu para seu escritório, acomodou-se e deixou a porta aberta. Era como se
dissesse “venha até aqui e reclame se tiver coragem”. Mesmo que todos realmente
quisessem encher sua orelha com reclamações por estragar os planos de todo
mundo para o feriado, ninguém se atreveu a sair do lugar. O mundo dos negócios
ensinara a cada um de nós uma mesma regra: o trabalho é sagrado. A última
pessoa a ir embora é um herói. A primeira pessoa a chegar tem o direito de se
vangloriar. Trabalhar nos feriados significa uma passagem para o Céu. Um
executivo mais experiente teria dito ao Papadakis que seu pedido era
impossível, mas, como sempre, eu admirava a determinação de Demi. Ela não
estava apenas atingindo um novo patamar. Esse era o lançamento de sua carreira.
Era sua fundação. Demi se
parecia comigo alguns anos atrás. —
Após todos irem embora ao fim do expediente, eu bati em sua
porta, gentilmente alertando-a sobre a minha presença. – Sr. Jonas – ela disse,
tirando seus óculos e olhando para mim. A silhueta da cidade piscava atrás
dela, pontos de luz que cobriam toda a sua janela. – Veio até aqui para mostrar
o que eu devo fazer para desenvolver um pênis, para conseguir terminar o
trabalho? – Demi, tenho certeza de que se você quisesse desenvolver um, conseguiria
fazer isso sozinha, apenas com sua força de vontade. Ela se permitiu um
meio-sorriso e recostou-se na cadeira, cruzando as pernas. – Eu queria ter um
apenas para mandar você chupar. Não consegui conter uma risada e desabei na
cadeira em frente a sua mesa. – Eu sabia que você iria dizer isso. Suas
sobrancelhas se juntaram um pouco. – Bom, antes que você diga mais alguma
coisa: sim, eu sei que isso é um saco. E… acho que você estava certo.
Poderíamos estar numa praia de São Bartolomeu agora mesmo. Comecei a falar, mas
ela ergueu a mão me pedindo para esperar. – Mas acontece que, não importa o
quanto eu deveria, eu não queria dizer não ao Papadakis. Eu queria fazer o
trabalho, porque nós podemos, e nós devemos. Já estava em cima da hora de
qualquer jeito e tivemos muito tempo para trabalhar nisso. Senti que não seria
honesto dizer que não conseguiríamos. – É verdade – reconheci –, mas, deixando
ele mudar um prazo para o começo do trimestre, você abriu um precedente. – Eu
sei – ela disse, esfregando as têmporas com a ponta dos dedos. – Mas na
verdade, eu não vim até aqui para dizer que você estava errada. Vim até aqui
dizer que entendo o que você fez. Não posso te culpar. Ela baixou as mãos, seus
olhos me estudando cuidadosamente. – Nesse ponto da sua carreira, não posso me
surpreender por você dizer sim ao Papadakis. Sua boca se abriu e eu pude sentir
uma fila de palavrões se formando em sua língua. – Calma lá, sua bravinha – eu
disse, erguendo a mão. – Não quero dizer que você é ingênua. E não quero dizer que
você ainda precise amadurecer, embora seja verdade, mesmo você não gostando de
ouvir isso. Quero dizer que você ainda está construindo sua carreira. Você quer
mostrar para o mundo que você é um Atlas e que, para um Titã, aquela maldita
esfera celestial não pesa nada. Acontece que isso afetou toda a equipe, e justo
num feriado. Entendo por que você fez isso, e também entendo por que está
sentindo esse conflito. Sinto muito por você ter que encarar essa dificuldade,
pois eu também já passei por isso – baixei minha voz e me aproximei. – É uma
droga. A sala escureceu, e o sol mergulhou no horizonte no momento em que
terminei de falar. Demi ficou me observando, com o rosto relaxado e
praticamente indecifrável. Bom, indecifrável para qualquer outra pessoa. Qualquer
um que não tivesse visto aquele
rosto milhares de vezes, uma expressão que dizia que ela
queria me estapear, beijar, arranhar e depois me foder. – Não use esse sorriso
convencido – ela disse, com os olhos cerrados. – Sei o que está tentando fazer.
– O que estou tentando fazer? – Me provocar. Bancando o durão, mas também meu
amante. Que droga, Joe. – Você vai transar comigo no seu escritório! – eu
disse, cheio de surpresa e alegria. – Deus, você é fácil. Ela se levantou
rapidamente, deu a volta na mesa e agarrou minha gravata. – Droga – ela desfez
o nó, cobriu meus olhos com a gravata e amarrou-a atrás da minha cabeça. – Pare
de me estudar – ela disse em meu ouvido. – Pare de enxergar tudo. – Nunca –
fechei os olhos atrás do tecido de seda e deixei meus outros sentidos tomarem
conta, sentindo o delicado aroma cítrico de seu perfume e estendendo o braço
para sentir a pele macia de seus braços. Movi minhas mãos, descendo lentamente
por seu corpo, e a virei, puxando-a para o meu peito. – Melhor assim? Seu
suspiro não foi direcionado a mim; foi um som de frustração genuína. – Joe –
ela murmurou, recostando-se em mim. – Você está me deixando louca. Agarrei sua
cintura, puxando-a ainda mais e fazendo-a sentir a ereção que pressionava sua
bunda. – Pelo menos certas coisas nunca mudam. —
Pisquei, voltando à realidade, quando a aeromoça se abaixou
para me dizer alguma coisa. – Perdão? – eu disse. – O senhor gostaria de uma
bebida com sua refeição? – Ah, sim – eu disse, tirando de minha mente a memória
do corpo de Demi enquanto eu a comia sobre sua mesa do escritório. – Só uma
dose de Grey Goose e um pouco de gelo, por favor. – E o que vai comer? Temos
filé mignon ou uma seleção de queijos e azeitonas. Pedi os queijos e olhei pela
janela. A trinta mil pés de altura, eu poderia estar em qualquer lugar. Mas eu
tinha a distinta sensação de estar voltando no tempo. Eu não estivera na França
desde meu retorno para os Estados Unidos, quando conheci Demi em pessoa. Pela
centésima vez, percebi como o velho Joe não parecia nem um pouco familiar. O
Dia de Ação de Graças foi uma revelação porque, antes de me envolver com Demi,
eu também teria aceitado a vontade de George Papadakis sem pensar duas vezes. Demi
era tão semelhante a mim em tantos sentidos… isso era até um pouco assustador.
Sorri quando lembrei do conselho da minha mãe: “Nunca se apaixone por alguém
que coloque você em primeiro lugar. Encontre alguém que seja tão destemida e
energética quanto você. Encontre uma mulher que faça você querer ser uma pessoa
melhor.” Bom, eu a encontrei. Agora, tudo que precisava fazer era esperar que
ela chegasse até ali, para me certificar de que ela sabia disso.
—
O caminho até nossa casa emprestada era coberto por pequenas
pedras lisas. Eram marrons e de tamanho uniforme e, embora fossem claramente
selecionadas por sua aparência e pela maneira como combinavam com a paisagem,
era óbvio que o local fora feito para se aproveitar, e não para ser tratado
como uma preciosa e intocável peça de museu. Vasos de flores e urnas se alinhavam
dos dois lados do caminho, transbordando com botões coloridos. Havia árvores
por toda parte, e ao longe havia bancos separados do resto do campo por paredes
de vinhas que floresciam. Com certeza, eu nunca vira uma casa de campo tão
bonita. O exterior tinha uma tonalidade avermelhada, como a cor de argila, cujo
envelhecimento resultava num efeito absolutamente encantador. Cortinas brancas
cobriam as grandes janelas do primeiro e segundo andares, e mais flores
vibrantes cobriam a moldura das portas. O perfume no ar era uma mistura entre o
aroma do oceano e de peônias. Primaveras subiam por uma treliça e emolduravam a
estreita porta dupla inspirada na França provincial. O degrau de cima estava
rachado, mas limpo, e havia um simples tapete verde no chão de concreto. Eu me
virei e olhei para o jardim. No canto mais afastado, entre várias figueiras,
uma longa mesa estava coberta por uma toalha laranja e decorada com uma
estreita linha de pequenas garrafas azuis de diferentes tamanhos e formatos.
Havia pratos brancos limpos espaçados entre si, esperando pelos convidados para
uma refeição. Um campo verde se estendia até onde eu estava, sob o estreito
pórtico, interrompido apenas por ocasionais arranjos cheios de flores púrpuras,
amarelas e rosas. Peguei a chave em meu bolso e entrei na casa. Do lado de
fora, dava para ver que era uma casa grande, mas por dentro o tamanho parecia
se expandir quase como uma ilusão de ótica. Meu Deus, Max, isso parece um pouco
excessivo. Eu sabia que sua casa na região de Provença era grande, mas não
imaginava que havia quarto pra caralho. Da porta da frente, eu podia ver ao
menos uma dezena de outras portas conectando-se ao corredor principal, e com
certeza havia incontáveis outros cômodos no andar de cima. Parei na entrada,
olhando para a enorme urna que parecia uma versão maior do vaso que minha mãe
tinha em sua sala de jantar; a base de cerâmica azul era idêntica, e as mesmas
bonitas linhas amarelas percorriam as laterais curvadas. Lembrei de quando Max
trouxe o presente para minha mãe na primeira vez em que ele voltou para casa
comigo no Natal. Na época não percebi o significado pessoal que tinha aquele
presente, mas agora, olhando ao redor de sua casa de veraneio, eu podia ver
trabalhos do mesmo artista em toda parte: em pratos pendurados em cima da
lareira, em chaleiras moldadas à mão e um conjunto de copos simples em uma
bandeja. Eu sorri e estendi o braço para tocar a urna. Demi ficaria maluca
quando visse isso, aquele vaso era sua peça de decoração favorita na casa da
minha mãe. Senti uma forte sensação de que estávamos destinados a nos encontrar
aqui. Após seu jantar de aniversário em janeiro, Demi hesitou na sala de
jantar, olhando para a impressionante coleção de arte da minha mãe. Mas em vez
de fazer o óbvio e inspecionar o brilho dos vasos da Tiffany ou os intrincados
detalhes das tigelas de madeira entalhada,
ela foi direto para o pequeno vaso azul no canto. – Acho que
nunca vi esta cor antes – ela disse, maravilhada. – Achei que essa cor não
existisse fora da minha imaginação. Minha mãe se aproximou e tirou o vaso da
prateleira. Sob a suave luz do candelabro, a cor quase parecia cintilar e
mudar, mesmo quando Demi o segurou na mão. Eu nunca tinha notado o quão bonita
era aquela peça. – É uma das minhas favoritas – minha mãe admitiu, sorrindo. –
Eu também nunca tinha visto nada com essa cor. Mas isso não era inteiramente
verdade, eu pensei, ao me afastar da urna e me dirigir até a lareira. O mar
dali era dessa cor, quando o sol aparecia alto no horizonte e o céu mostrava um
azul límpido. Apenas desse jeito o mar ficava exatamente com aquele mesmo azul,
como o coração profundo de uma safira. Um artista que tivesse vivido ali
saberia disso. Em uma prateleira, havia três santons feitos à mão – as pequenas
estatuetas são uma tradição de Provença. Todas aquelas obviamente haviam sido
criadas pelo mesmo artista que fizera o vaso da minha mãe, a urna gigante e o
resto da arte que havia na casa. Ele ou ela devia ser um artista local e,
estivesse vivo ou já falecido, talvez Demi tivesse a oportunidade de ver outras
peças suas durante nossas férias. A coincidência, a perfeição de tudo, parecia
quase surreal. Os tons de azul e verde no prato montado sobre a lareira
refletiam a luz do sol ao entardecer, lançando um suave brilho azul na parede
de trás. Com o vento soprando as árvores lá fora e a luz do sol dançando entre
as sombras, o efeito era semelhante a olhar a superfície do oceano. Junto à
mobília branca e ao resto da decoração minimalista da sala de estar, aquele
cenário fez eu me sentir imediatamente mais calmo. O mundo da RMG e da
Papadakis, do trabalho, do estresse e do constante tocar do meu celular, tudo
isso parecia estar a milhões de quilômetros de distância. Infelizmente, isso
também se aplicava a Demi. Como se ela pudesse ouvir meus pensamentos lá do seu
voo pelo Atlântico, meu celular tocou em meu bolso e o toque para mensagens
dela ecoou pela sala silenciosa. Pegando o celular, olhei para a tela e li a
mensagem: Greve dos mecânicos. Todos os voos cancelados. Estou presa em Nova
York
ah qual é? ALUGA UM JATO PARTICULAR
ResponderExcluirUfa!!!! Consegui colocar a leitura em dia..... amando essa história!!!! Continua.....
ResponderExcluirPoxa,tudo para os dois da errado,Joe vai fica bolado,e os dois frustrados
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