Beautiful Bastard - Capitulo 19
Eu sabia que as mulheres às vezes trocam de humor sem aviso.
Eu até conhecia algumas que se perdiam em pensamentos imaginando trinta anos no
futuro e ficavam bravas por alguma coisa que eu supostamente faria. Mas não era
isso que parecia estar acontecendo com a Demi, e ela nunca foi esse tipo de
mulher. Já tinha visto ela brava antes. Inferno, já tinha visto ela brava de
todo jeito possível: irritada, irada, raivosa, quase violenta. Mas nunca a vira
machucada. Ela se enterrou em documentos na curta viagem até o aeroporto.
Depois pediu licença e se afastou para ligar para seu pai enquanto esperávamos
no portão de embarque. No avião, ela adormeceu quase instantaneamente,
ignorando minhas insinuações para nos encontrarmos no banheiro do avião para
uma sessão de sexo nas alturas. Ela ficou acordada apenas tempo suficiente para
recusar o almoço, mesmo não tendo comido nada desde o café da manhã. Quando
acordou durante a aterrissagem, ficou encarando a janela em vez de olhar para
mim. – Você vai me dizer qual é o problema? Ela não disse nada durante uma
eternidade e meu coração começou a acelerar. Tentei pensar em todos os momentos
em que eu poderia ter estragado tudo. Sexo com a Demi na cama. Mais sexo com a Demi.
Orgasmos para a Demi. Ela teve vários orgasmos, para ser honesto. Então achei
que não era esse o problema. Eu tinha acordado, tomado banho, basicamente
confessado meu amor. Saguão do hotel, Gugliotti, aeroporto. Parei. A conversa
com Gugliotti tinha me deixado um pouco mal. Eu não sabia por que tinha agido
como um idiota possessivo, mas não podia negar que a Demi causava isso em mim.
Ela fora ótima na reunião, como eu sabia que seria, mas eu nunca deixaria ela
dar um passo para trás na carreira, indo trabalhar com um cara como o Gugliotti
depois que terminasse o MBA. Ele provavelmente a trataria como um pedaço de
carne e ficaria olhando o dia todo para sua bunda. – Eu ouvi o que você disse –
sua voz soou tão quieta que eu demorei um pouco para entender que ela tinha
falado algo, e demorei mais ainda para processar o que ela tinha dito. Meu
estômago se revirou. – O que eu disse quando? Ela sorriu, virando o rosto para
finalmente olhar para mim. E, que droga. Ela estava chorando. – Para o
Gugliotti. – Eu pareci possessivo. Desculpe. – Você pareceu possessivo... – ela
murmurou, virando de novo para a janela. – Você me menosprezou... você me fez
parecer ingênua! Você agiu como se a reunião fosse apenas um exercício de
treinamento. Eu me sinto ridícula pela maneira como descrevi a reunião para
você ontem, pensando que tinha sido algo importante. Coloquei a mão em seu
braço, rindo um pouco. – Caras como o Gugliotti possuem egos frágeis. Ele
precisa sentir que os executivos estão escutando o que ele diz. Você fez tudo
que precisávamos. Mas ele acha que precisa receber o contrato oficial das
minhas mãos. – Mas isso é absurdo. E você perpetuou isso, me usando como um
peão. Eu pisquei, confuso. Eu fizera exatamente o que ela falou. Mas é assim
que se joga o jogo, não é? – Você é minha estagiária. Uma risada ríspida escapou
de seus lábios e ela se virou novamente para mim. – Certo. Pois esse tempo todo
você sempre se importou com o progresso da minha carreira. – É claro que sim. –
E como você sabe que eu preciso amadurecer? Até ontem, você mal tinha olhado
para meu trabalho. – Isso não é nem um pouco verdade – balancei a cabeça,
começando a ficar um pouco irritado. – Eu sei disso
porque observo tudo que você faz. Não quero colocar pressão
demais pedindo para você fazer mais do pode agora, e por isso estou mantendo o
controle da conta do Gugliotti. Mas você fez um ótimo trabalho lá, e fiquei
muito orgulhoso de você. Ela fechou os olhos e deitou a cabeça no encosto do
assento. – Você me chamou de “menina”. – Chamei? – tentei lembrar da conversa e
percebi que ela estava certa. – Acho que eu não queria que ele olhasse para
você como uma mulher de negócios supergostosa que ele poderia contratar e
depois tentar levar para a cama. – Deus, Joe. Você é tão idiota! Talvez ele
quisesse me contratar porque eu trabalho bem! – Eu peço desculpas. Estou agindo
como um namorado possessivo. – Essa coisa de namorado possessivo não é nova
para mim. O problema é que você está agindo como se tivesse feito um favor para
mim. Você está sendo condescendente. Acho que agora não é o melhor momento para
entrarmos em mais dessa interação típica estagiária-chefe. – Eu já disse que
acho que você fez um trabalho incrível na reunião. Ela me encarou e seu rosto
começou a ficar vermelho. – Você nunca teria dito isso antes. Você teria dito
“Bom. Agora volte ao trabalho”. E só. E com o Gugliotti você agiu como se eu
fosse sua protegida. Antes, você teria fingido que nem me conhecia. – A gente
precisa mesmo discutir por que eu era um idiota antes? Você também não era
exatamente a garota mais agradável do mundo. E por que lembrar disso agora? –
Eu não estou falando sobre como você era um idiota antes. Estou falando sobre
como você está agindo agora. Você está tentando compensar. É exatamente por
isso que não se deve transar com o seu chefe. Você era um bom chefe antes...
deixava eu fazer as minhas coisas e você fazia as suas. Agora você se
transformou no mentor sensível que me chama de “menina” depois de eu salvar a
sua pele? Inacreditável. – Demi... – Eu posso lidar com você sendo um grande
estúpido, Joe. Estou acostumada, até espero isso. É assim que nós funcionamos.
Porque debaixo de todas as caras feias e batidas de porta, eu sabia que você me
respeitava. Mas a maneira como você agiu hoje... coloca uma nova barreira que
antes não existia – ela balançou a cabeça e voltou a olhar pela janela. – Acho
que você está exagerando. – Talvez – ela disse, inclinando-se para pegar o
celular na bolsa. – Mas trabalhei muito duro para chegar onde cheguei... será
que estou arriscando tudo isso agora? – Podemos ter as duas coisas, Demi. Por
mais alguns meses, podemos trabalhar juntos e ficar juntos. Isso que está
acontecendo hoje? Isso faz parte do amadurecimento de uma relação. – Não estou
tão certa disso – ela disse, piscando e olhando para o nada. – Estou só
tentando fazer a coisa certa, Joe. Nunca questionei meu próprio valor antes,
mesmo quando pensei que você podia estar questionando. E então, eu achei que
você tinha enxergado quem eu realmente sou, mas depois você me menosprezou
daquele jeito... – ela levantou a cabeça, mostrando a dor em seu olhar. – Acho
que não quero começar a questionar a mim mesma agora. Depois de trabalhar tão
duro assim. O avião aterrissou com um forte solavanco, mas que não me abalou
tanto quanto as palavras que ela disse. Eu já liderara discussões com os chefes
de alguns dos maiores departamentos de finanças do mundo. Já tinha encarado
executivos que pensavam que poderiam passar facilmente por cima de mim. Eu
poderia discutir com aquela mulher até o fim dos dias e me sentir mais homem a cada
palavra. Mas naquele momento eu não conseguia encontrar uma única palavra para
dizer.
Dizer que eu não consegui dormir naquela noite seria um
eufemismo. Eu não consegui nem deitar direito. Cada superfície plana parecia
ter a marca da Demi, apesar de ela nunca ter entrado na minha casa. Só o fato
de termos conversado sobre isso – e eu ter planejado trazê-la ali em nossa
primeira noite após a viagem – me fazia sentir sua presença em todo lugar. Eu
liguei para ela, mas não obtive resposta. Certo, eram três da manhã quando
liguei, mas eu sabia que ela também
não estava dormindo. Seu silêncio era agravado porque eu
sabia que ela sentia o mesmo que eu. Eu sabia que ela estava nisso tão
profundamente quanto eu. Mas ela devia pensar o contrário. Parecia faltar uma
eternidade para o amanhã chegar.
Cheguei ao trabalho às seis horas, com intenção de entrar
antes que ela chegasse. Peguei café para nós dois e atualizei minha agenda para
poupá-la desse trabalho. Enviei o contrato para Gugliotti por fax, dizendo que
a versão que ele viu em San Diego era a final, e que o que a Demi tinha
apresentado estava valendo. Dei a ele dois dias para retornar as assinaturas. E
então, esperei. Às oito horas, meu pai entrou no escritório, com Kevin
acompanhando-o logo atrás. Era comum ver meu pai de cara fechada, mas raramente
era por minha causa. E Kevin nunca parecia irritado. Mas desta vez os dois
pareciam querer me matar. – O que você fez? – meu pai jogou uma folha de papel
na minha mesa. Meu sangue parecia ter se transformado em gelo. – O que é isso?
– É a carta de demissão da Demi. Ela entregou para a Sara hoje de manhã.
Passou-se um minuto inteiro antes que eu conseguisse falar. Nesse tempo, o
único som veio do meu irmão, dizendo: – Joe, cara. O que aconteceu? – Eu
estraguei tudo – eu disse, pressionando meus olhos com as mãos. O rosto do meu
pai voltou ao normal e ele se sentou – na mesma cadeira em que, nem um mês
antes, a Demi também sentara, abrira as pernas e começara a se tocar, enquanto
eu tentava manter a compostura ao telefone. Deus, como deixei a situação chegar
a isso? – Diga o que aconteceu – a voz do meu pai se tornou muito baixa: uma
calmaria antes da tempestade. Afrouxei minha gravata, pois sentia que estava
sufocando com o peso do meu próprio peito. A Demi me deixou. – Estamos juntos.
Ou estávamos. Kevin gritou “Eu sabia!” e meu pai gritou “Você o quê?”. – Mas
não antes de San Diego – eu disse, tentando acalmá-los. – Antes de San Diego
nós estávamos apenas... – Transando? – completou Kevin, recebendo um olhar duro
do meu pai. – Sim. Estávamos apenas... Uma pontada de dor parecia perfurar meu
peito. Sua expressão quando eu me inclinava para beijá-la. A maneira como eu
tomava seu lábio entre os dentes. Sua risada em minha boca. – E, como vocês
dois sabem, eu era um idiota. Mas ela retribuía na mesma moeda – eu disse. – E,
em San Diego, aquilo se transformou em algo mais. Merda – estiquei o braço para
pegar a carta, mas desisti. – Ela pediu mesmo demissão? Meu pai assentiu, com
uma expressão totalmente enigmática no rosto. Esse era seu superpoder: quanto
mais emocional estivesse, menos emoções ele mostrava. – É por causa disso que
temos nossa política de fraternização,Joe – ele disse, atenuando a voz ao
pronunciar meu nome. – Achei que você era mais esperto do que isso. – Eu sei –
esfreguei as mãos em meu rosto, fiz um gesto para Kevin se sentar e então
contei todos os detalhes de quando tive aquela intoxicação alimentar, da
reunião com Gugliotti e de como a Demi cuidara muito bem de tudo. Deixei claro
que tínhamos basicamente decidido ficar juntos, antes de eu encontrar Gugliotti
na frente do hotel. – Você é um filho da puta tão estúpido – disse meu irmão
quando terminei de falar. Eu só pude concordar. Após um duro sermão e a
promessa de que discutiríamos novamente todas as maneiras como eu estragara
tudo,
meu pai voltou ao seu escritório, para pedir que ela
trabalhasse com ele até o fim do estágio. Se a Demi decidisse continuar na
empresa após o estágio, ela poderia facilmente se tornar um dos membros mais
importantes de nossa equipe de marketing. Mas a preocupação do meu pai não era
apenas com a Jonas Media. Acontece que, se a Demi fosse embora, ela teria menos
de três meses para encontrar um novo estágio, aprender o trabalho e preparar um
novo projeto para apresentar à banca examinadora. Por causa da influência da
banca na faculdade de administração, a avaliação da empresa seria determinante
para Demi se graduar com honras e receber uma carta de recomendação do CEO da
JT Miller. Isso poderia alavancar ou destruir o começo de sua carreira. Kevin e
eu ficamos sentados em completo silêncio. Ele me encarava e eu olhava para a
janela. Quase podia sentir o quanto ele queria dar um chute no meu traseiro.
Meu pai voltou ao meu escritório, pegou a carta de demissão e a dobrou três
vezes. Eu ainda não tinha sido capaz de ler. Era uma carta digitada e, pela
primeira vez desde que conhecera Demi, eu queria ver aquela caligrafia ridícula
dela ao invés de uma folha impressa e impessoal com fonte Times New Roman. – Eu
disse que esta empresa a valoriza muito, que esta família a ama e que nós
queremos que ela fique – meu pai parou e seus olhos caíram sobre mim. – Ela
disse que isso era mais uma razão para querer se tornar independente.
Chicago se tornou um universo alternativo, no qual Billy
Sianis nunca amaldiçoara os Cubs, a Oprah nunca existira e a Demi Lovato não
trabalhava mais para a Jonas Media. Ela se demitira. Ela se afastara de um dos
maiores projetos da Jonas Media. Ela se afastara de mim. Tirei os arquivos da
Papadakis de sua gaveta. O contrato fora preparado pelo departamento legal
enquanto estávamos em San Diego, só era preciso assinar. A Demi poderia passar
os dois últimos meses de seu MBA aperfeiçoando sua apresentação para a banca
examinadora. Em vez disso, ela começaria tudo de novo em outra empresa. Como
ela podia ter aguentado tudo que eu fiz antes, mas desistir agora? Era mesmo
tão importante eu a tratar como uma igual com um homem como o Gugliotti? Ela
sacrificaria tudo entre nós por causa disso? Com um gemido, suspeitei que o
motivo para eu fazer essas perguntas era também o motivo para ela me deixar.
Pensei que seria possível manter nossa relação e nossas carreiras, mas isso era
porque eu já tinha provado o meu valor. Acontece que ela ainda era a
estagiária. Tudo que ela queria era a minha garantia de que sua carreira não
sofreria por causa de nossa imprudência. Mas fiz exatamente o contrário. Fiquei
surpreso por o escritório não estar pegando fogo com a história do que eu tinha
feito, mas parecia que apenas meu pai e Kevin sabiam. A Demi sempre guardou
nosso segredo. Eu me perguntei se a Sara sabia e se ela ainda falava com a Demi.
Logo tive uma resposta. Alguns dias após Chicago mudar, a Sara entrou na minha
sala sem bater na porta. – Essa situação é completamente idiota. Levantei os
olhos, baixei o contrato que estava lendo e encarei seu rosto tempo o bastante
para ela estremecer. Então eu disse: – Quero lembrar a você que essa situação
não é da sua conta. – Como amiga dela, é sim. – Como funcionária da Jonas Media,
e como funcionária do Kevin, não, não é. Ela me encarou por um momento e então
assentiu. – Eu sei. Eu nunca contaria a ninguém, se é isso que você está
dizendo. – É claro que é isso que estou dizendo. Mas também estou falando sobre
seu comportamento. Não quero ver você invadindo minha sala sem bater. Ela
pareceu arrependida, mas não se abalou com meu olhar severo. Comecei a entender
por que ela e a Demi eram tão amigas: as duas tinham temperamento forte e eram
ferozmente leais. – Entendido. – Posso perguntar por que você está aqui? Você
falou com ela? – Sim.
Esperei. Eu não queria pressioná-la para se tornar minha
confidente, mas Deus, eu queria apertar aquele pescoço para arrancar cada
detalhe que ela sabia. – Ela recebeu uma oferta de emprego na Studio Marketing.
Soltei um suspiro tenso. Era uma empresa decente, mesmo que pequena. Uma
empresa que estava crescendo e que tinha alguns bons executivos juniores, mas
verdadeiros filhos da puta no topo. – Com quem ela está trabalhando? – Um cara
chamado Julian. Fechei os olhos para esconder minha reação. Troy Julian fazia
parte do nosso conselho: era um egocêntrico com fama de ir atrás de garotas
jovens. A Demi sabia disso. No que então ela estava pensando? Pense, seu
idiota. Ela provavelmente estava pensando que Julian teria os recursos para lhe
dar um projeto substancial, que ela poderia apresentar em três meses. – Qual é
o projeto dela? A Sara andou até a porta e a fechou. – Comida de cachorro da
Sanders. Dei um soco na mesa. A fúria tomou conta da minha mente e fechei os
olhos para me controlar e não descontar na assistente do meu irmão. – Essa é
uma conta muito pequena. – Ela é só uma estudante de MBA, sr. Jonas. É claro
que é uma conta pequena. Apenas alguém apaixonado deixaria ela trabalhar num
contrato milionário de dez anos – sem olhar de volta para mim, ela se virou e
foi embora.
A Demi não atendia o celular ou o telefone de casa, nem
respondia qualquer e-mail meu. Ela não me ligou, não passou no escritório e nem
deu nenhuma indicação de que queria falar comigo. Mas, quando seu peito dói
tanto que você nem consegue dormir, você acaba fazendo coisas como procurar o
endereço da sua estagiária, dirigir até lá às cinco da manhã de um sábado e
esperar ela sair. E, quando ela não apareceu após quase um dia inteiro, eu
convenci o porteiro do prédio dizendo que era seu primo e que estava preocupado
com sua saúde. Ele me acompanhou até o apartamento e ficou atrás de mim
enquanto eu batia na porta. Meu coração estava quase saindo pela boca. Ouvi
alguém se mexendo lá dentro, se aproximando da porta. Eu podia praticamente
sentir seu corpo a centímetros do meu, separados apenas pela madeira. Pude ver
uma sombra se movendo através do olho mágico. E então, o silêncio. – Demi. Ela
não abriu a porta. Mas também não se afastou. – Linda, por favor, abra a porta.
Preciso conversar com você. Após o que pareceu uma hora, ela disse: – Não
posso, Joe. Encostei minha testa na porta e pousei as duas mãos na madeira. Ter
superpoderes seria útil ali. Mãos de fogo, sublimação, ou até mesmo a
habilidade de encontrar a coisa certa para dizer. Mas agora, isso parecia
impossível. – Desculpe. Silêncio. – Demi... Deus. Eu já entendi, certo? Brigue
comigo por ser um tipo novo de idiota. Diga para eu ir me foder. Faça isso do
jeito que quiser... só não desapareça. Silêncio. Ela ainda estava ali. Eu podia
sentir. – Sinto sua falta. Merda, eu sinto muito a sua falta. Sinto demais.
– Joe, só... agora não, certo? Não posso fazer isso agora.
Ela estava chorando? Eu odiava não saber. – Ei, amigo – o porteiro
definitivamente soava como se aquele fosse o último lugar em que ele queria
estar, e dava para perceber que estava irritado por eu ter mentido. – Não era
por isso que você queria subir. Ela parece bem. Vamos embora. Fui para casa e
comecei a beber uísque. Por duas semanas, fiquei jogando sinuca em um boteco e
ignorei minha família. Disse que estava doente e só saí da cama ocasionalmente
para pegar uma tigela de cereal, encher meu copo ou usar o banheiro, onde
olhava para meu reflexo e mostrava o dedo do meio para mim mesmo. Eu estava na
pior e, como nunca experimentara nada assim antes, não fazia ideia de como sair
dessa. Minha mãe apareceu com algumas compras de supermercado e as deixou na
minha porta. Meu pai enviou mensagens diárias com atualizações do trabalho. A Dani
trouxe mais uísque. Finalmente, Kevin apareceu com a única cópia das chaves da
minha casa, derramou um balde de água fria na minha cabeça e então me deu um
pouco de comida chinesa. Acabei comendo quando ele ameaçou colar fotos da Demi
nas paredes da minha casa se eu não saísse logo dessa e voltasse ao trabalho.
Durante as semanas seguintes, a Sara começou a suspeitar que eu estava ficando
maluco e que precisava de uma atualização semanal. Ela manteve tudo em nível
profissional, contando como a Demi estava se saindo no novo emprego com Julian.
Seu projeto caminhava bem. O pessoal da Sanders a adorava. Ela mostrara a
campanha para os executivos e recebera o aval deles. Nada disso me surpreendeu.
A Demi era de longe melhor do que qualquer pessoa que trabalhava para eles.
Ocasionalmente, Sara deixava escapar algo a mais. “Ela voltou a frequentar a
academia”, “Ela parece melhor”, “Ela cortou o cabelo um pouco mais curto e
ficou muito bonito”, “Saímos com o pessoal no sábado à noite. Acho que ela se
divertiu, mas foi embora cedo”. Porque estava com alguém?, eu me perguntei.
Então, afastei esse pensamento. Eu não poderia nem imaginar sair com outra
pessoa. O que tivemos fora algo muito forte, e eu tinha quase certeza que ela
também não estava saindo com mais ninguém. As atualizações nunca eram
suficientes. Por que a Sara não tirava umas fotos escondida com o telefone? Eu
tinha esperança de esbarrar na Demi em uma loja ou na rua. Entrei na La Perla
algumas vezes. Mas não a vi durante dois meses. Um mês passa voando quando você
está se apaixonando pela mulher com quem está transando. Dois meses se tornam
uma eternidade quando a mulher que você ama te deixa para trás. Então, quando o
dia da apresentação da Demi se aproximou e a Sara disse que ela estava
preparada e lidando com o Julian com mãos de ferro, mas que ao mesmo tempo
parecia “triste e menos como ela mesma”, eu finalmente tomei coragem. Sentei à
minha mesa, abri o PowerPoint e o arquivo da Papadakis. Ao meu lado, o telefone
tocou. Considerei não atender, pois queria me concentrar apenas naquilo. Mas
era um número desconhecido, e uma grande parte do meu cérebro queria pensar que
poderia ser a Demi. – Aqui é o Joe Jonas. A risada de uma mulher ecoou do outro
lado da linha. – Lindo você é mesmo um Cretino Irresistível.
é a Demi? DIGA QUE É POR FAVOORRR!
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