Você tem que estar brincando. Girei a chave na ignição e
acelerei até o indicador de rotações por minuto atingir o vermelho. Eu queria
queimar o asfalto, deixando a marca preta dos pneus na rua como um sinal da
minha frustração. Eu estava cansado. Merda, eu estava mesmo cansado, e odiava
ter que arrumar a bagunça dos outros no trabalho. Eu vinha trabalhando por
doze, quinze, inferno, até dezoito horas por dia há meses, e na única noite em
que pude deixar tudo de lado e ter um tempo com Demi em casa, recebo uma
ligação de emergência. Fiz uma pausa quando essa palavra ficou reverberando em
minha mente: casa. Fosse na minha casa ou na dela, fosse saindo com os amigos
ou indo àquele restaurante chinês de que ela gostava tanto, com ela eu me
sentia em casa. A parte mais estranha era que a casa que me custara uma fortuna
nunca parecera um lar até ela começar a passar um tempo por lá. Será que ela
também sentia que sua casa era onde quer que estivéssemos juntos? Ainda nem
tivéramos a chance de escolher onde íamos morar em Nova York. Encontramos um
bom lugar para a JMG, fizemos um mapa com todos os novos escritórios,
desenhamos as plantas, planejamos as reformas e contratamos uma designer… mas
não escolhemos um apartamento para morar. O que era o maior sinal de que velhos
hábitos custam a morrer, pois, na realidade, minha relação com ela mudara
completamente minha relação com o trabalho. Apenas um ano atrás, eu estava
comprometido com apenas uma coisa: minha carreira. Agora, o que mais importava
para mim era Demi, e sempre que minha carreira atrapalhava meu tempo com ela,
isso me consumia por dentro. Eu nem sei especificamente quando isso aconteceu,
mas suspeito que a mudança surgiu muito antes de eu admiti-la. Talvez tenha
sido na noite em que Joel foi jantar na casa dos meus pais. Ou talvez no dia
seguinte, quando eu caí de joelhos diante dela e me desculpei da única maneira
que eu sabia. Talvez tenha até sido antes de tudo isso, na primeira noite em
que eu a beijei, desesperadamente, na sala de conferência, em meu momento de
maior fraqueza. Graças a Deus eu fui tão idiota! Olhei para o relógio no
painel. A data, iluminada em vermelho, me atingiu como um soco no peito: cinco
de maio. Exatamente um ano atrás, eu assistira Demi sair do avião vindo de San
Diego, com os ombros curvados de raiva e dor por eu ter praticamente a jogado
debaixo de um ônibus depois de ela salvar a minha pele com um cliente. No dia
seguinte, ela pediu demissão e me deixou. Eu pisquei os olhos, tentando tirar
essa lembrança da minha mente. Ela voltou, lembrei a mim mesmo. Nós tínhamos
acertado os ponteiros nos últimos onze meses e, apesar de toda minha frustração
com a agenda do trabalho, eu nunca estivera tão feliz. Ela era a única mulher
que eu queria. Lembrei da última vez que terminara uma relação, com Sylvie,
quase dois anos antes. Nosso namoro começara como uma escada rolante: com um
solitário primeiro passo e depois seguindo automaticamente em uma mesma
direção. Começamos de um jeito amigável e
rapidamente entramos na intimidade física. A situação
funcionava perfeitamente para mim, pois ela me oferecia companhia e sexo, e
nunca pedia nada além do que eu oferecia. Quando terminamos, ela admitiu que
sabia que não daria mais. Disse que, por um tempo, o sexo e a quase-intimidade
foram suficientes, mas que não era mais o bastante. Após um longo abraço e um
último beijo, eu a deixei partir. Fui jantar sozinho e em silêncio no meu
restaurante favorito, e depois fui direto para a cama, onde dormi a noite
inteira. Nada de drama. Nada de coração partido. Tudo acabou e fechei a porta
dessa parte da minha vida, completamente pronto para seguir em frente. Três
meses depois, voltei para Chicago. Foi engraçado comparar aquela época à minha
reação quando perdi Demi. Eu praticamente me transformei em um mendigo, sem
comer, sem tomar banho e sobrevivendo inteiramente com uísque e autopiedade. Eu
lembro de ficar obcecado com cada detalhe que Sara me trazia sobre Demi – como
estava sua aparência, como estava lidando com tudo – a partir do qual eu
tentava adivinhar se ela sentia minha falta e se estava tão miserável quanto
eu. O dia que Demi voltou para a JMG, coincidentemente, foi o último dia de
Sara na empresa. Embora tivéssemos feito as pazes, Demi tinha insistido que
deveria continuar a dormir em sua casa e eu na minha, para podermos descansar
um pouco. Então, após uma manhã caótica, entrei na sala de descanso e encontrei
Demi atacando um pacote de amêndoas e lendo alguns relatórios de marketing.
Sara estava esquentando algumas sobras no microondas, depois de recusar nossas
tentativas de preparar um grande almoço de despedida. Eu tinha ido até lá para
tomar uma xicara de café, e nós três ficamos quietos por uns quinze minutos.
Então, finalmente, quebrei o silêncio. – Sara – eu disse, sentindo o volume da
minha voz alto demais. Seus olhos se viraram para mim, arregalados e límpidos.
– Obrigado por me procurar no dia em que Demi se afastou. Obrigado por me
atualizar sempre que podia. Por isso, e outras razões, eu sinto muito por você
ir embora. Ela deu de ombros, passando a mão nos cabelos e me dando um pequeno
sorriso. – Apenas estou feliz em ver vocês dois juntos de novo. As coisas
estavam quietas demais por aqui. E por “quietas”, quero dizer “chatas”. E por
“chatas”, quero dizer ninguém gritando ou chamando o outro de megera odiosa –
ela tossiu e tomou um gole de sua bebida, de uma forma barulhenta e quase
cômica. Demi gemeu. – Isso não vai mais acontecer, eu te asseguro – ela jogou
uma amêndoa na boca. – Ele pode não ser mais meu chefe, mas definitivamente
ainda adora gritar. Rindo, dei uma olhada em sua bunda quando ela se abaixou
para pegar uma garrafa de água na parte de baixo da geladeira. – Mesmo assim –
eu disse, virando de novo para Sara –, eu te agradeço por ter me mantido
atualizado. Sem isso, eu provavelmente enlouqueceria. Os olhos de Sara relaxaram
e, quando começou a mexer os dedos inquieta, eu percebi que ela ficou um pouco
desconfortável com a minha rara demonstração de sentimentos. – Como eu disse,
estou feliz por ter funcionado. Vale a pena lutar por esse tipo de coisa – ela
ergueu o queixo e deu um último sorriso para Demi antes de sair da sala. A
felicidade que eu senti após o retorno de Demi facilitou ignorar os sussurros
que nos seguiam pelos corredores da empresa. Eu tinha meu escritório e ela
agora tinha o dela, e nós
dois estávamos determinados a provar a todos (e a nós
mesmos) que conseguiríamos conciliar isso. Conseguimos ficar separados por
quase uma hora inteira. – Senti saudade de você – ela disse, entrando na minha
sala e fechando a porta. – Você acha que eles vão me dar minha antiga sala de
volta? – Não. Por mais que eu goste dessa ideia, seria completamente
inapropriado. – Eu meio que estava brincando – ela revirou os olhos e fez uma
pausa, olhando ao redor. Eu quase podia ver as memórias voltando à sua mente:
quando abriu as pernas em cima da mesa para mim, quando eu a fiz gozar com meus
dedos para distraí-la de suas preocupações e, imagino, todas as vezes que
sentamos juntos no escritório, sem falar aquilo que deveríamos ter falado há
tanto tempo. – Eu te amo – eu disse. – Eu te amo faz um bom tempo. Ela piscou
os olhos, se aproximou e me beijou. Então me puxou para o banheiro e implorou
para eu fazer amor com ela contra a parede, ao meio-dia de uma segunda-feira.
Enquanto eu entrava na garagem do escritório e estacionava em minha vaga,
lembrei das palavras de Sara. Vale a pena lutar por essas coisas. Sara seguia
seu próprio conselho com o pior mulherengo de Chicago. Ela cuidou de mim quando
sabia que eu estava perdido sem Demi. Em comparação, deixei Sara continuar com
um homem que eu sabia ser infiel, tudo porque sentia que interferir não era o
meu papel. Onde eu estaria se Sara tivesse pensado o mesmo? Perguntando-me o
que essa atitude dizia sobre mim, saí do carro e entrei no saguão principal. O
segurança da noite acenou e voltou a ler seu jornal enquanto eu andava até os
elevadores. O prédio estava tão vazio que eu podia ouvir cada som das máquinas
ao meu redor. As polias trabalhavam e o elevador soltou um pequeno barulho
quando chegou ao 18º andar. Eu sabia que mais ninguém estava ali. A equipe
estava se virando para encontrar a versão mais recente do arquivo, e no meio de
seu pânico eles estavam, provavelmente, olhando nos laptops pessoais de todo
mundo. Duvido que alguém tivesse pensado em ir até ali e checar os servidores
do trabalho. No fim, tive que deixar Demi em casa por causa de um trabalho que
durou apenas vinte e três minutos, era por isso que meu humor na segunda-feira
era terrível. Eu odiava ter que fazer o trabalho dos outros. O contrato fora
nomeado errado e – exatamente como suspeitei – colocado na pasta errada do
servidor. Na verdade, uma cópia física estava em cima da minha mesa, onde
alguém com competência poderia tê-lo encontrado, e poupado essa minha viagem
até ali. Enviei o arquivo para um dos meus executivos de marketing e fiz várias
cópias do documento, destacando na primeira página os responsáveis e deixando
uma cópia na mesa de cada um dos envolvidos antes de finalmente ir embora. De
certa maneira, foi um gesto bem cretino da minha parte. Mas isso é o que eles
ganham quando me tiram de Demi. Eu sabia que esses pequenos inconvenientes me
irritavam mais do que o normal, mas é esse tipo de detalhe que define uma
equipe. E era exatamente por isso que eu precisaria de uma pessoa extremamente
competente no escritório de Nova York. De volta ao carro, resmunguei enquanto
dava a partida no motor, sabendo que isso era apenas mais uma das coisas que eu
precisaria resolver no mês seguinte. Com meu humor atual, eu não podia voltar
para Demi. Eu apenas seria uma companhia
irritada e ranzinza… e não de um jeito divertido. Deus, eu
só queria ficar com ela. Por que isso precisava ser tão difícil? Nós já
tínhamos tão pouco tempo do jeito que as coisas estavam, eu não queria
desperdiçar ainda mais tempo por estar estressado com o trabalho, com a busca
por um apartamento, com a busca por uma pessoa que conseguisse trabalhar sem
precisar de uma babá. Nós reclamávamos por não nos vermos tanto quanto
queríamos, por trabalhar tanto… Então, por que simplesmente não… concertávamos
isso? Podíamos viajar. Demi pensava que essa era uma hora ruim, mas quando é
que a hora seria boa? Ninguém iria simplesmente nos entregar um tempo livre, e
desde quando eu sou o tipo de pessoa que espera algo acontecer? Foda-se isso.
Dê um jeito. – Acorda para a vida, Joe! – minha voz ecoou no interior do carro
e, após uma rápida olhada para o relógio, para me certificar de que não estava
ligando tarde demais, peguei meu celular e disquei o número. Dirigi para fora
da garagem e entrei na Michigan Avenue. Após seis chamadas, a voz de Max surgiu
nos alto-falantes do carro. – Fala, Joe! Eu sorri, acelerando para longe do
trabalho e seguindo para um dos lugares mais familiares do mundo para mim. –
Max, como vai você? – Tudo bem. Tudo ótimo. E o que é essa boataria toda que
estou ouvindo sobre você mudar suas coisas para Nova York? Assenti e disse: –
Pois é, estaremos aí em pouco mais de um mês. Vamos ficar entre a Fifth Avenue
e a 50th Street. – Perfeito, fica perto do meu escritório. Vamos nos encontrar
quando você chegar… – sua voz sumiu de repente. – Sim, sim, com certeza – eu
hesitei, sabendo que Max provavelmente estava imaginando por que eu lhe ligara
às onze e meia da noite em uma terça-feira. – Olha, Max, eu queria pedir um
favor. – Manda. – Eu queria viajar um pouco com minha namorada e… – Namorada? –
sua risada preencheu o carro. Eu ri também. Eu tinha certeza de que nunca
apresentara ninguém para Max dessa maneira. – A Demi, sim. Nós trabalhamos na JMG
e estamos entalados até o pescoço com a campanha da Papadakis. Está indo tudo
bem até agora, e talvez a gente arrume um tempinho antes de mudarmos… – eu
hesitei novamente, sentindo as palavras fugirem de mim. – Seria maluco demais
se eu contratasse alguém para fazer a nossa mudança e encontrar um lugar para a
gente em Nova York enquanto nós dois apenas… fugimos por algumas semanas?
Apenas para sair da cidade? – Isso não parece loucura para mim, Joe. Na
verdade, parece a melhor maneira de se manter são. – Eu também acho. E sei que
é impulsivo, mas eu estava pensando em levar Demi para a França. Queria saber
se você ainda tem aquela casa em Marselha, e se poderíamos alugar por algumas
semanas. Max estava rindo silenciosamente.
– Sim, ainda tenho. Mas esqueça essa coisa de alugar, pode
usar sem se preocupar. Vou te passar o endereço agora mesmo e pedir para Inès
ir limpar para vocês. O lugar está vazio desde que passei o Natal lá – ele fez
uma pausa. – Quando você está pensando em ir? O aperto em meu peito pareceu dar
uma trégua quando o plano começou a se solidificar em minha mente. – Neste fim
de semana? – Claro, vou cuidar de tudo. Quando tiver os detalhes do seu voo,
envie para mim. Vou ligar para ela amanhã de manhã e dizer para encontrar você
lá com as chaves. – Isso é fantástico. Obrigado, Max. Fico devendo uma. Eu
podia praticamente ver seu sorrisinho quando ele disse: – Vou me lembrar disso.
—
Eu me senti relaxado pela primeira vez em décadas e aumentei
o volume do rádio, imaginando nós dois entrando no avião, sem nada pela frente
exceto tardes ensolaradas, longas manhãs preguiçosas na cama e a melhor comida
e vinho que o mundo podia oferecer. Mas eu precisava fazer mais uma parada. Eu
sabia que era tarde para ir até a casa dos meus pais, mas eu não tinha escolha.
Minha mente estava girando com planos e eu não poderia ir para a cama até que
cada detalhe estivesse decidido. Na viagem de vinte minutos até a casa deles,
eu liguei e deixei uma mensagem para a minha agente de viagens. Depois deixei
um recado para meu irmão Kevin dizendo que viajaria por três semanas. E não me
permiti imaginar sua reação. Nós tínhamos um novo escritório, tudo no trabalho
já estava preparado e o empacotamento podia ficar a cargo de outra pessoa.
Deixei uma mensagem para cada um dos meus executivos seniores falando sobre meu
plano e o que eu esperava de cada um na minha ausência. E então baixei as
janelas e deixei o ar gelado da noite me envolver, levando todo o meu estresse
para longe. —
Estacionando na frente da casa dos meus pais, eu ri ao
lembrar da primeira vez que Demi e eu viemos até ali como um casal. Três dias
haviam se passado desde sua apresentação do MBA. Durante dois desses dias nós
pouco saímos da minha casa ou da minha cama. Mas, após as constantes ligações e
mensagens da minha família nos convidando para jantar e me pedindo para
compartilhar um pouco da Demi, nós concordamos em encontrá-los na casa dos meus
pais. Todos estavam com saudade dela. Nós conversamos bastante durante a
viagem, rindo e nos provocando, minha mão livre entrelaçada com a dela. Com os
dedos da outra mão, ela distraidamente fazia pequenos círculos no topo do meu
pulso, como se quisesse ter certeza de que era tudo real, de que eu era real,
de que nós éramos reais. Ainda não tínhamos encarado o mundo exterior, com
exceção da primeira noite, em que saímos com suas amigas. A transição com
certeza seria um pouco estranha. Mas eu nunca imaginaria que Demi ficaria
ansiosa por causa disso. Ela sempre encarara todos os desafios com sua própria
dose de coragem.
Apenas quando já estávamos de pé em frente à casa e eu
estava abrindo a porta, percebi que sua mão estava trêmula. – O que foi? –
soltei sua mão e a virei para me encarar. Ela deu de ombros. – Nada. Estou bem.
– A quem você quer enganar? Ela me lançou um olhar irritado. – Estou bem.
Apenas abra logo a porta. – Uau! – eu disse, surpreso. – Demi Lovato está
nervosa de verdade. Desta vez ela parou para me encarar direto nos olhos. –
Você reparou? Meu Deus, você é um gênio. Alguém deveria te contratar como CEO e
te dar um escritório grande e chique – então, ela estendeu o braço para abrir a
porta. Eu a impedi de girar a maçaneta e um sorriso malicioso se espalhou em
meu rosto. – Demi? – É que eu não os vi mais desde… você sabe. E eles sabem
como você ficou quando… – ela fez um gesto ao redor, e eu entendi que ela
queria dizer – quando Joe estava um completo desastre depois que Demi foi
embora. Só… vamos tentar não fazer nenhum drama, certo? Estou bem – ela
completou. – Estou apenas me divertindo com essa rara visão da Demi nervosa. Me
dê um segundo, quero aproveitar o momento. – Vá se foder. – Você quer me foder?
– dei um passo em direção a ela, até seu corpo ficar pressionado contra o meu.
– Você está tentando me seduzir, srta. Lovato? Finalmente, ela riu, os ombros
desistindo de sua tensa determinação. – Apenas não quero que seja… A porta da
frente se abriu de repente e Kevin apareceu, dando um grande abraço em Demi. –
Aí está você! Demi olhou para mim por cima do ombro do meu irmão e riu. – …
constrangedor – ela completou, envolvendo os braços ao redor dele. Meus pais
estavam de pé atrás da porta, mostrando os maiores sorrisos que eu já vi. Os
olhos da minha mãe estavam estranhamente molhados. – Você ficou longe por tempo
demais – Kevin disse, soltando minha namorada e olhando para mim. Resmunguei em
minha mente e percebi que aquela noite poderia rapidamente se transformar em
uma reedição da novela “O quanto a pobre Demi sofreu nas mãos do cruel Joe” – e
a personalidade difícil da srta. Lovato seria completamente omitida da
história. Ainda bem que ela estava incrível naquele vestidinho preto. Eu
precisava de uma distração. Eu havia ligado para o meu pai na manhã da
apresentação de Demi, avisando que pretendia aparecer por lá e convencê-la a
apresentar a conta da Papadakis. E também disse que pediria para ela me aceitar
de volta. Como de costume, meu pai me apoiou, mas de um jeito reservado,
dizendo que seja lá o que Demi respondesse, ele estava orgulhoso de mim por ir
atrás daquilo que eu queria.
“O que eu queria” agora estava entrando na casa e abraçando
minha mãe e meu pai, antes de olhar para mim. – Não sei por que eu estava
preocupada – ela sussurrou. – Você estava nervosa? – minha mãe perguntou, com
olhos arregalados. – É que eu sumi tão de repente. Eu me senti culpada por
causa disso e por passar tanto tempo sem ver nenhum de vocês… – Não, não, não,
você precisava se entender com Joe! – Kevin disse, ignorando meu suspiro
irritado. – Acredite, nós entendemos. – Vamos lá – eu grunhi, puxando-a de
volta. – Não precisamos fazer drama. – Eu já sabia – minha mãe sussurrou,
pousando as mãos no rosto de Demi. – Eu já sabia. – Mas que diabos, mãe! – eu
me aproximei e a abracei, antes de fazer uma cara feia para ela. – Você sabia
disso mesmo quando combinou o jantar com Joel? – Você nunca ouviu dizer “use
logo ou desocupe a moita”? – Kevin disse. – Essa não é a frase que eu usaria, Kevin
Jonas – minha mãe lançou um olhar bravo para ele e depois envolveu Demi com o
braço, conduzindo-a pelo corredor. E se virou para falar comigo por cima do
ombro. – Pensei que se você não queria enxergar o que estava na sua frente,
então outra pessoa merecia uma chance. – O pobre Joel nunca teve chance alguma
– meu pai murmurou, surpreendendo a todos e aparentemente a si próprio. Ele
ergueu a cabeça e começou a rir. – Alguém precisava dizer isso. Saindo do
carro, eu sorri com a lembrança do resto da noite: os dez minutos em que todos
rimos e compartilhamos nossas histórias sobre ter infecção alimentar em
momentos inoportunos, o inacreditável crème brûlée que minha mãe serviu no
jantar e, mais tarde, o jeito como eu e Demi mal chegamos em casa e já caímos
em um emaranhado de pernas e braços no chão da minha sala de estar. Girei a
maçaneta da porta da frente, sabendo que meu pai estaria acordado, mas
esperando não acordar minha mãe. A maçaneta fez um chiado e eu empurrei a porta
com o cuidado de sempre, levantando-a um pouco onde eu sabia que a madeira
raspava no chão. Mas, para minha surpresa, minha mãe me recebeu na entrada,
vestindo seu velho roupão púrpura e segurando duas xícaras de chá. – Não sei
por quê – ela disse, me oferecendo uma xícara –, mas eu tinha certeza de que
você iria aparecer por aqui hoje. – Intuição de mãe? – eu disse, aceitando a
xícara e beijando seu rosto. Eu me demorei um pouco, tentando manter minhas
emoções controladas. – Algo desse tipo – lágrimas desceram de seus olhos e ela
se virou antes que eu pudesse dizer alguma coisa. – Venha, eu sei por que você
está aqui. Está lá na cozinha.
hã?
ResponderExcluir