Beautiful Bastard - Capitulo 16
Nós lentamente voltamos da órbita. Abraçados debaixo dos
lençóis, passamos horas conversando sobre nosso dia, sobre a reunião com o Sr.
Gugliotti, sobre seu jantar e minha noite com as amigas. Conversamos sobre a
mesa quebrada e sobre eu ter trazido calcinhas apenas para uma semana, o que
significava que ele não poderia rasgar mais nenhuma. Conversamos sobre tudo,
exceto o estrago que ele estava causando em meu coração. Passei um dedo por seu
peito e ele o agarrou, levando até os lábios e dizendo: – Eu gosto de conversar
com você. Eu ri, arrumando o cabelo em sua testa. – Você conversa comigo todos
os dias. E quando eu digo “conversa”, quero dizer “grita”. Bate as portas. Faz
beicinho... Com os dedos, ele desenhava círculos em minha barriga, me
distraindo. – Você sabe o que quero dizer. Eu sabia. Sabia exatamente o que ele
queria dizer, e eu queria encontrar uma maneira de fazer esse momento durar
mais, ali mesmo, até a eternidade. – Então, me conte alguma coisa. Ele subiu os
olhos até meu rosto, sorrindo nervosamente. – O que você quer saber? –
Honestamente? Eu acho que quero saber tudo. Mas vamos começar de um jeito
fácil. Conte a história das mulheres de Joe. Ele passou o longo dedo por cima
da sobrancelha, rindo: – Vamos começar com um assunto fácil. Claaaaro – limpou
a garganta e então olhou para mim. – Algumas no colégio, algumas na faculdade,
algumas na pós-graduação. Algumas depois disso. E então, um relacionamento
longo quando eu morei na França. – Detalhes? – enrolei uma mecha de seu cabelo
ao redor do meu dedo, esperando não estar forçando muito a barra. Para minha
surpresa, ele respondeu sem hesitar. – Seu nome era Sylvie. Ela era advogada de
uma pequena firma em Paris. Ficamos juntos por três anos e nos separamos alguns
meses antes de eu voltar para casa. – Foi por causa disso que você se mudou de
lá? Um sorriso se pronunciou no canto de sua boca. – Não. – Ela partiu seu
coração? O sorriso se abriu de vez na minha direção. – Não, Demi.
– Você partiu o coração dela? – por que eu estava perguntando?
Será que eu queria que ele respondesse... que sim? Eu sabia que ele era capaz
de partir corações. Na verdade, eu estava quase certa de que partiria o meu.
Ele se inclinou para me beijar, concentrando-se no meu lábio inferior por
alguns momentos antes de sussurrar: – Não. Nós apenas não funcionávamos mais.
Minha vida romântica era totalmente sem drama. Até você aparecer. Eu ri. –
Estou contente por quebrar o padrão. Pude sentir sua risada vibrar ao longo da
minha pele enquanto ele beijava meu pescoço. – Ah, e você quebrou mesmo –
longos dedos percorreram minha barriga, meus quadris, e finalmente chegaram no
meio das minhas pernas. – Sua vez. – De ter um orgasmo? Sim, por favor. Ele
circulou preguiçosamente meu clitóris antes de deslizar o dedo para dentro. Ele
conhecia meu corpo melhor do que eu. Quando foi que isso aconteceu? – Não – ele
murmurou. – É a sua vez de contar sua história. – De jeito nenhum eu consigo
pensar em qualquer coisa enquanto você faz isso. Com um beijo em meu ombro, ele
moveu a mão de volta para minha barriga, desenhando círculos novamente. Fiz um
beicinho, mas ele não viu, pois estava olhando seu dedo na minha pele. – Deus,
tive tantos homens na minha vida, por onde devo começar? – Demi... – ele
advertiu. – Uns dois no colegial, um na faculdade. – Você só transou com três
homens? Eu me afastei para olhar em seu rosto. – Ei, Einstein. Eu transei com
quatro homens. Um sorriso convencido se espalhou em seu rosto. – É mesmo. Eu
fui o melhor por uma margem desconcertantemente grande? – Responda primeiro se
eu fui a sua melhor. Seu sorriso desapareceu e ele piscou, surpreso. – Sim. Ele
foi sincero. Isso fez algo dentro de mim derreter e se tornar uma pequena
vibração quente. Eu me inclinei para beijá-lo no queixo, tentando esconder o
que aquela informação tinha feito comigo. – Bom. Beijando seus ombros, eu gemi
de felicidade. Eu adorava seu sabor, adorava sentir aquele seu cheiro de ervas.
Mergulhando meus dedos em seus cabelos, eu o puxei para trás para poder morder
seu queixo, seu pescoço, seu ombro. Mas ele se manteve parado, quase imóvel,
claramente não me beijando de volta. Mas o quê? Ele respirou fundo, abriu a
boca como se fosse dizer algo, mas fechou novamente. De algum jeito eu consegui
manter minha boca afastada tempo suficiente para perguntar: – O que foi? – Eu
sei que você pensa que eu sou um galinha cafajeste, mas isso importa para mim.
– O que importa...? – Eu quero ouvir você dizer. Eu o
encarei, e ele me encarou de volta, seus olhos começando a mostrar um familiar
tom castanho-esverdeado de irritação. Mentalmente relembrando os últimos
minutos de conversa, tentei entender o que ele estava falando. Ah. – Ah. Sim.
Suas sobrancelhas se juntaram. – Sim, o quê, Srta. Lovato? Senti um calor
percorrer meu corpo. Sua voz estava diferente quando ele disse isso. Severa.
Mandona. Sexy. – Sim, você é o melhor por uma margem desconcertantemente
grande. – Acho bom mesmo. – Pelo menos até agora. Ele rolou para cima de mim,
agarrando meus pulsos e prendendo-os acima da minha cabeça. – Não me provoque.
– Não provocar? Por favor! – eu disse, perdendo o fôlego. Seu pau pressionou
contra minha coxa. Eu queria que estivesse mais para cima. Queria que estivesse
entrando em mim. – Tudo o que fazemos é provocar! Como se quisesse provar que
eu estava errada, ele levou a mão livre para debaixo dos lençóis, pegou seu pau
e o guiou para dentro de mim, puxando minha perna ao redor de sua cintura.
Mantendo-se parado, ele me encarou. Seu lábio superior tremeu. – Por favor,
mexa – sussurrei. – Você gosta disso? – Sim. – E se eu não mexer? Mordi o lábio
e tentei olhá-lo nos olhos. Ele sorriu e grunhiu: – Isto é provocação. – Por
favor? – tentei mover meus quadris, mas ele seguiu meus movimentos para que eu
não conseguisse fricção. – Demi, eu nunca provoco você. Eu gosto é de foder até
deixar você maluca. Eu ri, e seus olhos se fecharam enquanto meu corpo
apertava-o ainda mais. – Não que você seja muito sã, para começo de conversa –
ele disse, mordendo meu pescoço. – Agora, diga o quanto eu faço você se sentir
bem – havia algo na voz dele, uma vulnerabilidade no final da frase, que me fez
perceber que ele não estava brincando. – Ninguém nunca me fez gozar antes. Seja
com mãos, boca ou qualquer outra coisa. Ele já estava imóvel antes, e era
possível perceber os sinais de que estava reprimindo algo: seus ombros estavam
trêmulos e sua respiração entrecortada, como se o corpo inteiro quisesse
explodir debaixo dos lençóis. Mas quando eu disse isso ele congelou
completamente. – Ninguém? – Apenas você – eu me inclinei e mordi seu queixo. –
Eu diria que isso te coloca um pouco à frente dos outros. Ele disse meu nome
quando soltou a respiração e mexeu os quadris para frente e depois para trás. E
de novo, para
frente e para trás. A conversa tinha acabado. Sua boca
encontrou a minha, e depois meu queixo, meu rosto, minha orelha. Sua mão subiu
pelo meu corpo, passando pelos seios até finalmente chegar ao rosto. E quando
achei que estávamos perdidos no ritmo e eu já sentia meu clímax se aproximando,
e enterrei meus calcanhares na bunda dele querendo mais, mais rápido,
querendo-o inteiro, e ele sussurrou: – Eu queria ter descoberto isso antes. –
Por quê? – falei com dificuldade no meio da minha respiração pesada. Mais
rápido, gritava meu corpo. Mais. – Você teria sido menos filho da puta comigo?
Ele tirou minhas pernas da sua cintura e me colocou de joelhos. – Não sei. Só
queria saber antes – ele grunhiu, entrando em mim novamente. – Deus. Tão fundo
assim... Seus movimentos eram fluidos, como uma superfície de água ondulante,
como um raio de sol percorrendo um quarto escuro. As molas da cama rangiam
debaixo de nós, a força de suas estocadas me empurravam pelo colchão acima. –
Quase – agarrei os lençóis e implorei para ele continuar. – Quase. Mais forte.
– Merda. Está tão perto. Vai – ele sincronizou cada movimento com o último,
sabendo que aquele era o ponto do qual não havia mais volta. – Vai. Seu rosto,
sua voz, seu cheiro – cada parte sua preenchia minha mente quando eu
obedientemente gozei debaixo dele. Ele estocou com força, então todos os seus
músculos congelaram e ele se derreteu em mim quando também gozou. – Merda,
merda, merda... – ele soltou o ar em meu cabelo antes de cair, pesado e
silencioso, em cima de mim. O ar-condicionado ligou automaticamente e ficou
emitindo um zumbido. Após recuperar o fôlego, Joe rolou para o lado, passando a
mão por minhas costas suadas. – Demi? – Hum? Quando ele falou, sua voz estava
tão grave e pesada que eu não tinha certeza se ele estava acordado. – Eu quero
mais do que apenas isto. Eu congelei e meus pensamentos explodiram em uma
bagunça caótica. – O que você disse? Ele abriu os olhos, com esforço aparente,
e olhou para mim. – Eu quero estar com você. Apoiando meu corpo no cotovelo, eu
o encarei, completamente incapaz de produzir uma única palavra. – Tanto sono –
seus olhos se fecharam, ele colocou o braço pesado em cima de mim e me puxou
para perto. – Garota, venha aqui – ele pressionou o rosto no meu pescoço e
murmurou: – Tudo bem se você não quiser. Eu aceito qualquer coisa que você
disser. Só me deixe ficar aqui até amanhã, certo? De repente, eu estava mais do
que acordada e fiquei encarando o vazio escuro e ouvindo o zumbido do
arcondicionado. Fiquei apavorada pensando que aquilo mudava tudo, e ainda mais
apavorada pensando que talvez ele não soubesse o que estava falando e que
aquilo não mudaria nada. – Certo – sussurrei na escuridão, ouvindo ele respirar
lentamente, em um ritmo constante de sono profundo.
Rolei para o lado e abracei um travesseiro, buscando
conforto. O cheiro dele me acordou, mas os lençóis frios do
outro lado da cama me disseram que eu estava sozinha. Olhei
para a porta do banheiro, tentando ouvir qualquer som vindo de dentro. Não
havia nenhum. Continuei deitada ali, abraçando seu travesseiro enquanto meus
olhos se tornavam pesados. Eu queria esperar por ele. Precisava da segurança de
seu corpo quente ao meu lado e precisava sentir seus braços fortes ao meu
redor. Imaginei ele me abraçando, sussurrando que aquilo era real e que nada
mudaria naquela manhã. Logo meus olhos se fecharam e voltei a cair em um sono
inquieto. Algum tempo depois, acordei novamente, ainda sozinha. Rolando
rapidamente para o lado, olhei para o relógio: cinco e quinze da manhã. O quê?
Procurando na escuridão, vesti a primeira coisa que encontrei e andei até a
porta do banheiro. – Joe? – sem resposta. Bati na porta suavemente. – Joe? –
ouvi um grunhido e algo se mexendo levemente do outro lado da porta. – Só vá
embora – sua voz estava rouca, ecoando pelas paredes do banheiro. – Joe, você
está bem? – Não estou me sentindo bem. Vou melhorar, apenas volte para a cama.
– Posso trazer alguma coisa? – Estou bem. Apenas, por favor, volte para a cama.
– Mas... – Demi – ele grunhiu, obviamente irritado. Eu me virei, sem saber o
que fazer, lutando contra uma sensação ruim. Ele estava mesmo doente? Em pouco
menos de um ano, eu nunca o tinha visto nem mesmo resfriado. Estava óbvio que
ele não me queria encostada na porta, mas também eu não poderia simplesmente
voltar para a cama. Em vez disso, arrumei os lençóis e fui até a sala de estar
da suíte. Peguei uma garrafa de água do minibar e sentei no sofá. Se ele
estivesse passando mal, quer dizer, realmente passando mal, não conseguiria
participar da reunião com Gugliotti dali a algumas horas. Liguei a televisão e
comecei a zapear entre os canais. Infomercial. Filme ruim. Nickelodeon. Ah,
quanto mais idiota melhor. Relaxando no sofá, dobrei as pernas por baixo do
corpo e me preparei para esperar. No meio do filme, ouvi a água correndo no
banheiro. Sentei e fiquei ouvindo, já que era o primeiro som em mais de uma
hora. A porta do banheiro se abriu e voei do sofá, peguei outra garrafa de água
e entrei no quarto. – Você está se sentindo melhor? – Sim. Acho que só preciso
dormir agora – ele desabou na cama e enterrou o rosto no travesseiro. – O
que... o que você teve? – coloquei a garrafa de água no criado-mudo e sentei no
canto da cama. – É o meu estômago. Acho que foi o sushi do jantar – seus olhos
estavam fechados e, mesmo sob a fraca luz que vinha do outro quarto, eu podia
ver que ele parecia mal. Ele se afastou um pouco de mim, mas eu o ignorei e
coloquei uma mão em seu cabelo e a outra em seu rosto. O cabelo estava molhado
e o rosto estava pálido e suado. Apesar da reação inicial, ele relaxou com meu
toque. – Por que você não me acordou? – eu perguntei, movendo algumas mechas
molhadas de sua testa. – Porque a última coisa que eu precisava era ter você lá
assistindo eu vomitar – ele respondeu, mal-humorado. Eu revirei os olhos,
oferecendo a garrafa de água. – Eu poderia ter feito alguma coisa. Você não
precisa ser tão machão. – E você não precisa ser tão mulherzinha. O que poderia
fazer? Comida estragada é uma coisa de que a pessoa precisa cuidar sozinha.
– E então? Eu devo ligar para o Gugliotti? Ele grunhiu e esfregou
a mão no rosto. – Merda. Que horas são? Olhei para o relógio. – Sete e pouco. –
Que horas é a reunião? – Às oito. Ele começou a se levantar, mas eu facilmente
fiz com que ele se deitasse de novo. – De jeito nenhum você vai para aquela
reunião desse jeito! Quando foi a última vez que vomitou? Ele grunhiu. – Alguns
minutos atrás. – Exatamente. Nem pensar. Vou ligar para remarcar. Ele agarrou
meu braço antes que eu pudesse me aproximar da mesa para pegar o telefone. – Demi.
Você faz a reunião. Ergui as sobrancelhas quase até a linha do cabelo. – Como
é? Ele esperou. – Eu fazer a reunião? Ele assentiu. – Sem você? Ele assentiu
novamente. – Você vai me enviar para uma reunião sozinha? – Srta. Lovato, como
você é inteligente! – Vá se ferrar! – eu disse, rindo e empurrando-o
gentilmente. – E eu não vou fazer isso sem você. – Por que não? Aposto que você
conhece a conta tão bem quanto eu. Além disso, se remarcarmos, ele vai acabar
fazendo uma viagem para Chicago com tudo pago e depois nos enviar a conta. Por favor,
Demi. Fiquei encarando seu rosto, esperando que ele começasse a sorrir e
dissesse que estava brincando. Mas não estava. E, na verdade, eu conhecia sim a
conta, e sabia todo o procedimento. Eu conseguiria fazer isso. – Certo – eu
disse, sorrindo e sentindo que talvez fosse possível resolver a nossa situação,
afinal de contas. – Eu topo. Seu rosto se tornou sério e ele usou uma voz que
eu mal tinha ouvido nos últimos dias. Aquilo enviou pequenas ondas de desejo
por meu corpo. – Diga qual é o seu plano, Srta. Lovato. Assentindo, eu disse: –
Preciso me certificar que ele sabe os parâmetros e os prazos do projeto.
Ficarei atenta com promessas exageradas, sei que o Gugliotti é famoso por fazer
isso – quando Joe assentiu, sorrindo um pouco, eu continuei. – Vou confirmar as
datas do início do contrato e das apresentações. Quando terminei de contar nos
meus dedos esses cinco itens, seu sorriso aumentou. – Você vai se sair bem.
Eu me inclinei e beijei sua testa suada. – Eu sei.
Duas horas depois, se você me perguntasse se eu podia voar,
eu diria em um instante que sim. Tudo foi perfeito na reunião. O Sr. Gugliotti,
que inicialmente não gostou muito de encontrar uma estagiária no lugar de um
executivo da Jonas Media, amoleceu depois de ouvir as circunstâncias. E mais
tarde pareceu impressionado com o nível de detalhes que eu providenciei. Ele
até me ofereceu um emprego. – É claro, depois que você terminar com o Sr. Jonas
– ele disse com uma piscadela, e eu educadamente sorri de volta. Eu não sabia
se queria realmente terminar com o Sr. Jonas. No caminho de volta da reunião,
liguei para a Denise e perguntei o que o Joe gostava de fazer quando estava
doente. Como suspeitei, a última vez que ela pudera cuidar dele com canja de
galinha e sorvete tinha sido ainda no colégio. Ela ficou encantada de receber
minha ligação, e tive de engolir o sentimento de culpa quando ela perguntou se
ele estava se comportando. Assegurei que tudo estava indo bem e que ele tinha
apenas uma indigestão e, claro, que eu diria para ele telefonar. Com uma sacola
de supermercado nas mãos, entrei no quarto e parei na área da cozinha para
guardar a comida e tirar meu casaco de linho. Vestindo apenas minha roupa de
baixo, entrei no quarto, mas Joe não estava lá. A porta do banheiro estava
aberta, mas ele também não estava lá. Parecia que a camareira tinha arrumado o
quarto, os lençóis estavam limpos e dobrados, e nossas roupas já não estavam
mais espalhadas pelo chão. A porta da varanda estava aberta, deixando uma brisa
entrar. Lá fora, encontrei ele sentado em uma cadeira, com os cotovelos
apoiados nos joelhos e a cabeça nas mãos. Parecia ter tomado banho e estava
vestindo um jeans escuro e uma camiseta verde de mangas curtas. Minha pele se
arrepiou com sua imagem. – Oi – eu disse. Ele olhou para cima e seus olhos
percorreram cada curva minha. – Caramba. Espero que você não tenha usado isso
na reunião. – Bom, eu usei – eu disse, rindo. – Mas usei debaixo de um lindo
casaco azul-marinho. – Bom – ele me puxou para perto, envolvendo completamente
os braços em minha cintura e pressionando sua testa em minha barriga. – Eu
senti sua falta. Senti uma pequena pontada em meu peito. O que estávamos
fazendo? Aquilo era real ou estávamos brincando de casinha por alguns dias para
depois voltar ao normal? Não sabia se conseguiria voltar ao normal depois
daquilo, e não sabia como seria o futuro. Pergunte para ele, Demi! Seu olhar
queimou meu rosto enquanto ele esperava que eu dissesse alguma coisa. – Você
está se sentindo melhor? Covarde. Seu rosto mostrou um pouco de decepção, mas
ele logo escondeu isso. – Sim. Como foi a reunião? Embora eu ainda estivesse
animada por causa da reunião e morrendo de vontade de contar cada detalhe, ele
retirou seus braços da minha cintura e se arrumou na cadeira ao perguntar isso,
e eu tive uma sensação irracional
de frio e de vazio. Eu queria voltar dois minutos no tempo,
quando ele disse que sentiu minha falta, e então eu poderia responder “Também
senti sua falta”. Eu o beijaria e acabaríamos nos distraindo, e eu contaria
sobre Gugliotti apenas horas mais tarde. Mas em vez disso contei todos os
detalhes da reunião – como o Gugliotti reagiu ao me ver, e como eu redirecionei
seu foco para o projeto. Contei cada aspecto da discussão com tantos detalhes
que, no fim da minha história, Joe estava rindo baixinho. – Meu Deus, você fala
demais. – Acho que deu tudo certo – eu disse, dando um passo adiante. Envolva
seus braços em mim de novo. Mas ele não fez isso. Recostou-se na cadeira e
mostrou um sorriso endurecido, do tipo que fazia quando encarnava o Cretino
Irresistível. – Você foi ótima, Demi. Não estou nem um pouco surpreso. Eu não
estava acostumada com esse tipo de elogio vindo dele. Melhoria na caligrafia,
uma boa chupada – essas eram as coisas que ele sabia notar. E fiquei surpresa
ao perceber o quanto sua opinião importava para mim. Será que sempre fora
assim? Será que ele começaria a me tratar diferente se nos tornássemos amantes
ao invés de apenas termos umas transas casuais? Eu não sabia se realmente
queria que ele fosse um chefe mais educado, ou que tentasse misturar o papel de
mentor e amante. A verdade é que eu gostava muito do Cretino Irresistível no
trabalho, e também na cama. Mas, assim que pensei nisso, percebi que agora a
maneira como interagíamos antes parecia distante, como um par de sapatos que já
não cabia mais nos pés. Eu estava dividida entre querer que ele dissesse algo
cretino, me atirando de volta para a realidade, e querer que ele me puxasse
para perto e beijasse meus seios através do tecido da lingerie. De novo, Demi.
Essa é a razão número 750 mil para não transar com seu chefe. Você acaba
transformando um relacionamento bem definido numa confusão onde os limites não
estão claros. – Você parece tão cansado – sussurrei quando comecei a passar
meus dedos nos cabelos atrás do seu pescoço. – Eu estou – ele murmurou. – Ainda
bem que não fui. Eu vomitei. Bastante. – Obrigada por me contar – eu ri.
Relutantemente, me afastei e pousei as mãos em seu rosto. – Eu trouxe sorvete,
refrigerante e bolacha de água e sal. Qual você quer primeiro? Ele encarou meu
rosto, completamente confuso por um momento. – Você ligou para a minha mãe?
Desci até a convenção por algumas horas durante a tarde para
que ele pudesse dormir um pouco. Ele tentava mostrar um exterior forte, mas eu
podia ver de longe que só um pouco de sorvete já fazia seu estômago embrulhar.
Além disso, naquela convenção em particular ele mal podia dar dois passos sem
ser parado e paparicado. Mesmo sem estar doente ele não conseguiria se
concentrar em qualquer coisa que valesse a pena. Quando voltei para o quarto,
ele estava esparramado no sofá em uma pose que não tinha nada de irresistível:
sem camisa e com a mão dentro da cueca. Havia algo tão comum na maneira como
ele estava sentado, entediado, olhando para a televisão. Fiquei grata pela
lembrança de que aquele homem era, às vezes, apenas um homem. Apenas outra
pessoa, andando pelo mundo, cuidando de suas coisas, sem passar cada segundo
ateando fogo na vida dos outros. E, no meio dessa epifania de que Joe era apenas
Joe, fiquei com uma sensação louca de que havia a chance de ele estar se
tornando o meu Apenas Joe. E, por um instante, desejei isso mais do que
qualquer outra coisa no mundo. Uma mulher com cabelos impossivelmente
brilhantes virou a cabeça e sorriu para nós na televisão. Eu desabei no
sofá ao lado dele. – O que você está assistindo? – Comercial
de xampu – ele respondeu, tirando a mão de dentro da cueca para me tocar.
Comecei a fazer uma piada sobre a mão na cueca, mas parei no momento em que ele
começou a massagear meus dedos. – Mas O balconista acabou de começar. – Esse é
um dos meus filmes favoritos. – Eu sei. Você estava falando sobre esse filme na
primeira vez em que te vi. – Na verdade, eu estava falando sobre a sequência –
esclareci, e depois parei. – Espera, você lembra disso? – É claro que eu
lembro. Você soava como uma adolescente falando, mas parecia uma modelo. Que
homem não se lembraria disso? – Eu daria tudo para saber o que você estava
pensando naquela hora. – Eu estava pensando “Estagiária altamente comível à
frente. Recuar, soldado. Recuar”. Eu ri e me encostei em seu ombro. – Deus,
aquele primeiro encontro foi terrível. Ele não disse nada, mas continuou
passando o polegar em meus dedos, pressionando e acariciando. Nunca tinha recebido
uma massagem na mão antes, e se ele tentasse começar sexo oral, eu talvez
recusasse só para ele continuar com aquilo. Uau, que grande mentira. Eu
aceitaria aquela boca entre as minhas pernas a qualquer hora do dia... – Como
você quer que as coisas fiquem, Demi? – ele perguntou, tirando minha mente
daquele debate interno. – O quê? – Quando voltarmos para Chicago. Encarei seu
rosto, sentindo o sangue bombear com força pelas minhas veias. – As coisas
entre nós – ele acrescentou, com uma paciência forçada. – Você e eu. Demi e Joe.
Gato e rato. Eu sei que isso não deve ser fácil para você. – Bom, eu tenho
certeza que não quero brigar o tempo todo – bati em seu ombro de brincadeira. –
Apesar de até gostar um pouco dessa parte. Joe riu, mas não pareceu um som
completamente feliz. – Existe muito espaço depois de “não brigar o tempo todo”.
Como você quer ficar? Juntos. Quero ser sua namorada. Alguém que vê o interior
da sua casa e fica por lá de vez em quando. Comecei a responder, mas as
palavras evaporaram em minha garganta. – Acho que depende de saber se seria
realista pensar que isso pode dar em alguma coisa. Ele deixou minha mão cair e
esfregou o rosto. O filme voltou do comercial e nós caímos naquele que deve ter
sido o silêncio mais constrangedor da história do mundo. Finalmente, ele pegou
minha mão de volta e beijou a palma. – Certo, garota. Eu consigo não brigar o
tempo todo. Fiquei olhando para seus dedos entrelaçados com os meus. Após o que
pareceu uma eternidade, consegui dizer: – Desculpe. Tudo isso ainda parece um
pouco novo demais. – Para mim também. Caímos no silêncio novamente e
continuamos a assistir ao filme, rindo nas mesmas cenas e lentamente mudando de
posição até eu praticamente estar deitada em cima dele. Com o canto do olho,
espiei o relógio na parede e
mentalmente calculei as horas que nos restavam para
continuar juntos em San Diego. Quatorze. Restavam quatorze horas naquela
perfeita realidade em que eu podia ter o Joe a qualquer hora que quisesse, e
não precisava ser em segredo, nem por causa de um desejo incontrolável, nem
usando a raiva como nossa única maneira de fazer as preliminares. – Qual é o
seu filme favorito? – ele perguntou, virando meu corpo e pairando sobre mim.
Sua pele estava muito quente e eu queria tirar minha blusa, mas não queria que
se ele movesse nem um centímetro, nem por um segundo. – Eu gosto de comédias –
comecei. – Gosto de O Balconista, mas também gosto do Mong & Loide, Todo
mundo quase morto, Chumbo grosso, Os sete suspeitos, coisas desse tipo. Mas tenho
que dizer que meu filme favorito de todos os tempos provavelmente é Janela
indiscreta. – Por causa do Jimmy Stewart ou da Grace Kelly? – ele perguntou,
inclinando-se para beijar uma trilha de fogo em meu pescoço. – Os dois, mas
provavelmente mais por causa da Grace Kelly. – Entendo. Você tem muito em comum
com a Grace Kelly – sua mão subiu e ajeitou uma mecha de cabelo que havia se
soltado do meu rabo de cavalo. – Ouvi falar que ela também tinha uma boca suja
– ele acrescentou. – Você adora minha boca suja. – É verdade. Mas eu prefiro
quando ela está cheia – ele disse, com o sorrisinho apropriado no rosto. –
Sabe, se você calasse a boca de vez em quando você seria quase perfeito. – Mas
então eu seria um rasgador de calcinhas silencioso, o que acho que é bem mais
esquisito do que um chefão rasgador de calcinhas. Eu me dissolvi em risadas
enquanto ele fazia cócegas nas minhas costelas. – Eu sei que você adora isso –
ele grunhiu. – Joe – eu disse, tentando soar desinteressada –, o que você faz
com elas? Ele me lançou um olhar sombrio e provocante. – Guardo num lugar
seguro. – Posso ver? – Não. – Por quê? – perguntei, apertando os olhos na sua
direção. – Porque você vai tentar pegá-las de volta. – Por que eu iria querer
de volta? Você rasgou todas! Ele sorriu maliciosamente, mas não respondeu. –
Por que você faz isso, afinal de contas? Ele me estudou por um momento,
obviamente considerando uma resposta. Finalmente, se apoiou no cotovelo e
colocou o rosto perto do meu. – Pela mesma razão pela qual você gosta quando eu
faço isso. Então ele se levantou e me puxou para o quarto.