Cinco
Na segunda-feira de manhã, encontrei Miley em seu
escritório, olhando pela janela. Os móveis e todas as suas coisas haviam
finalmente chegado, e a inquietude dela me mostrou o quanto estava
sobrecarregada com a tarefa de arrumar tudo. Passei a maior parte do fim de
semana alternando entre o horror e a celebração daquilo que fiz no baile, e fui
para o trabalho tentando fazer minha mente parar de relembrar os detalhes e
escrutinar minhas ações. Fiquei até a meia-noite no sábado e, infelizmente,
tratei de todos os contratos e arquivos que eu teria a semana inteira para
resolver. Com exceção de alguns telefonemas, agora eu não tinha mais nada para
fazer e, nos últimos dias, uma Demi ociosa não era uma coisa boa. – Precisa de
ajuda? Miley riu, desabando no sofá. – Eu nem sei por onde começar. Acabamos de
arrumar nosso apartamento. Além disso, parece que empacotei tudo isso ontem
mesmo. – Comece com a estante de livros. Eu nunca sinto que tudo está
organizado até ver linhas de livros arrumadinhos um do lado do outro.
Suspirando, ela deslizou do sofá e rastejou até uma pilha de caixas. – Você se
divertiu no baile? Abri uma caixa e peguei um estilete. – Definitivamente. Pude
sentir seu olhar em cima de mim, e aquela atenção estranha parecia queimar meu
rosto. Eu provavelmente deveria ter explicado melhor, mas minha mente foi
tomada por um completo branco. O que mais tinha acontecido? Nós chegamos.
Comemos alguns aperitivos. Joe e eu dançamos, e então pedi para ele tirar fotos
enquanto transava comigo em cima da mesa. Assim que me lembrei do resto – o
jantar que perdemos, o leilão do qual ele foi participar, o lindo jardim para
onde eu escapei depois do nosso… encontro; tempo demais tinha se passado para
que eu respondesse com uma única palavra. – Bom – ela disse, com um tom de voz
insinuante. – Estou feliz que você tenha decidido ir. Joe e Mike aparentemente
organizam esse baile todos os anos e arrecadam um monte de dinheiro para
caridade. Acho isso incrível. – Incrível – murmurei, lembrando de Joe vestido
daquele jeito. Meu bom Deus, aquele homem tinha nascido para usar smoking. E
também não parecia nada mal pelado. Olhei pela janela, lembrando de sua
respiração quente em meu pescoço. – Não vou tirar – ele grunhiu, esticando sua
mão enorme sobre meu seio. – Apenas quero enfiar cada vez mais fundo, sem
parar. Meus seios não eram pequenos, mas o tamanho de sua mão fez eu me sentir
pequena, como se ele pudesse me erguer e me partir em duas. Mas, ao invés de
ficar com medo, eu abri ainda mais as pernas, recebendo-o ainda mais fundo.
– Mais forte. Ele se afastou um pouco para olhar em meus
olhos. – No seio ou aqui em baixo? – Nos dois – admiti, e então ele voltou a
mergulhar em meu pescoço, mordendo minha pele. Comecei a pensar nas fotos que
ele tirou e estremeci um pouco. Tentei não imaginá-lo olhando para elas. Talvez
até se tocando… Miley limpou a garganta e tirou alguns livros da caixa.
Pisquei, com força, e olhei para os livros na minha frente. Deus, de onde
vinham essas coisas? – Eu vi você conversando com Joe – ela disse. – E vocês
dançaram juntos por, tipo, umas três músicas. Você já conhecia ele antes? Por
acaso ela podia ler mentes? Mas que diabos, Miley? Não olhei para ela. Em vez
disso, apenas murmurei: – Não, conheci ele no… – fiz um gesto no ar – na
sexta-feira. – Ele é lindo – ela disse. Só faltou dar uma piscadela. Eu podia
sentir seu olhar sobre mim. Miley era a pessoa menos sutil do mundo. Ela
soltava uma insinuação como se fosse um avião bombardeiro. – Você não acha ele
deslumbrante? Finalmente, olhei para ela e revirei os olhos. – Para com isso.
Não vou ficar suspirando por Joe Jonas na sua frente. Ele parecia legal, só
isso. Ela riu e guardou alguns livros na estante. – Certo. Estou apenas me
certificando de que você não foi enfeitiçada por ele. O Joe parece um cara
muito legal, mas, sabe, ele definitivamente é um jogador. Pelo menos ele não
esconde isso. Ela ficou me observando por um minuto enquanto eu tentava não
mostrar reação. Foi uma indireta sobre o Will que parecia justa, e o tipo de
coisa que poderíamos rir juntas daqui a um ano ou dois. Mas, agora, suas
palavras apenas se dissolveram num silêncio constrangedor. – Desculpe – ela
murmurou. – Péssima hora. Você sabia que Joe e Nick estudaram juntos? – Sim,
ele mencionou algo sobre isso. Eu não sabia que Nick tinha feito faculdade na
Inglaterra. Ela assentiu. – Cambridge. Joe foi seu companheiro de quarto desde
o primeiro dia. Ele não me contou muitas histórias, mas as que contou… – ela se
perdeu no pensamento e balançou a cabeça, voltando a prestar atenção nos
livros. Eu supostamente deveria estar desinteressada, completamente
desinteressada nisso tudo, não é? Fiquei olhando para meu polegar, e só então
percebi que tinha sofrido um corte de papel. Controle-se, Demi. Seu cérebro
está tão fixado em Joe que você já nem sente mais dor? Isso é patético. Então,
como fingir que eu não me importava com as histórias que Miley poderia ter
escutado? Quer dizer, obviamente o fato de ele não ter
contado muitas histórias significava que ele contou ao menos algumas. Certo?
Organizei vários periódicos em ordem alfabética, fingindo estar concentrada.
Por fim, a pergunta parecia que estava me sufocando, e eu não resisti: – Então,
que tipo de coisas eles faziam? – Coisas de homens – ela disse, distraída. –
Jogavam rúgbi. Faziam a própria cerveja e davam festas malucas. Pegavam o trem
para Paris e blá, blá, blá, travessuras. Eu queria estrangular a Miley. –
Travessuras? Ela olhou para mim de repente, como se tivesse se lembrado de
alguma coisa, e seus olhos negros definitivamente brilharam com alguma malícia.
– Ei, isso me lembrou de uma coisa. Falando sobre travessuras… Meu estômago
congelou. – Você desapareceu na sexta-feira durante o baile por, tipo, uma
hora! Onde você estava? Meu rosto esquentou e tive que limpar a garganta,
franzindo a testa como se não conseguisse lembrar direito. – Ah, eu me senti
meio cansada. Eu, humm… fui dar uma volta no jardim. – Que pena – ela suspirou.
– Eu achei que você tinha esbarrado em um garçom gostosão e tinha ido transar
em cima de alguma mesa. Uma tosse seca explodiu em minha garganta, e de repente
minha boca ficou tão seca que eu não conseguia parar de tossir. Miley se
levantou e foi buscar um copo de água na recepção. Quando voltou, tinha um
sorrisinho no rosto. – Te peguei! Você sempre começa a tossir quando fica
nervosa assim. – Estou bem. – Mentiras. Mentirosa cheia de mentirinhas e
mentironas. Agora, conte tudo. Eu absolutamente me recusei a olhar para ela.
Algo naqueles olhos negros e no sorriso paciente apontados diretamente para mim
me faziam confessar qualquer coisa. – Não tem nada para contar. – Demi, você
desapareceu, só voltou uma hora depois e parecia… – ela colocou uma longa mecha
de cabelo atrás da orelha e revelou o sorriso mais malicioso do mundo. – Você
sabe como estava parecendo. Como se tivesse acabado de transar. Com o estilete,
abri uma caixa, tirei uma pilha de revistas e entreguei para ela. – E foi uma
coisa maluca demais para explicar. – Você está brincando? Você está falando com
a mulher que transou com o chefe na escadaria do décimo oitavo andar. Levantei
a cabeça com surpresa e comecei a rir. Tomei um pouco de água para tentar parar
de tossir. – Caramba, Miley. Eu não sabia desse detalhe – pensei naquilo por um
instante. – Deus, ainda bem que eu nunca usava as escadas. Que indecência. Isso
teria sido muito constrangedor. – Nós éramos ridículos. Nada poderia ser mais
louco do que aquilo – ela deu de ombros e voltou a me olhar de um jeito
estranho. – Ou será que poderia? O que você me diz?
– Certo – eu disse, encostando no sofá. – Lembra do cara que
eu conheci na boate na semana passada? O gostosão? – Sim? – Ele estava lá na
sexta-feira. Os olhos dela se estreitaram e praticamente pude ver as catracas
girando em seu cérebro. – No baile? – Pois é. Ele me encontrou na frente dos
banheiros – olhei o céu lá fora para que ela não visse a mentira em meus olhos.
– Nós ficamos. Acho que é por isso que eu parecia… humm… amarrotada. – Quando
você diz “ficamos”, você quer dizer…? – Isso mesmo que você está pensando. Num
salão vazio – olhei para seu rosto e encarei seus olhos. – Em cima de uma mesa.
Ela soltou uma exclamação e bateu as mãos juntas. – Olhe só para você, toda
selvagem em Nova York. Aquilo parecia algo que Joe diria, mas saiu de um jeito
tão diferente que, por um momento, me deixou sem palavras. Era desorientador
desejá-lo tanto assim, imaginar o que ele estaria fazendo, se estaria olhando
para as minhas fotos neste exato instante. – Eu sempre soube que, lá no fundo,
você era assim, Demi – ela acrescentou. – Acontece que eu realmente não quero
outra relação séria. E, mesmo que quisesse, fiquei com a impressão de que essa
não é a praia dele – parei antes que acabasse revelando demais. Se eu
mencionasse mais um pouco da reputação de Joe nas colunas sociais, Miley iria com
certeza descobrir sobre quem eu estava falando. Ela concordou enquanto ouvia e
arrumava uma pilha de revistas. – Mas ele é divertido, Miley. E você sabe como
as coisas eram com Will. Ela parou de arrumar, mas continuou brincando com o
canto de uma página. – Bom, aí é que está, Demi. Eu na verdade não sei. Quer
dizer, vamos lá: nesses três anos que nós duas nos conhecemos, eu apenas jantei
com vocês umas cinco vezes. Aprendi mais sobre ele lendo os jornais do que
ouvindo as poucas histórias que você contava. Você mal falava sobre ele! Sempre
fiquei com a impressão de que ele usava a reputação da sua família para criar
uma imagem de pessoa bem relacionada… Eu me senti culpada, e um constrangimento
se instalou em meu peito como se fosse um peso de chumbo. – Eu sei – respirei
fundo lentamente. Uma coisa era imaginar como as pessoas me viam, outra era
ouvir com todas as letras. – Eu sempre achava que, se contasse algo sobre ele,
eu seria mal interpretada e acabaria arruinando sua imagem pública. Além disso,
nós não éramos como você e Nick. Nós não nos divertíamos muito na época em que
eu te conheci. O Will era um falso e um grande babaca. Levei tempo demais para
perceber isso. O que aconteceu na sexta-feira foi apenas diversão. Miley olhou
para mim. – Ei, tudo bem. Eu sabia que era algo assim – ela abriu outra caixa.
– Então, esse cara novo é legal, é diferente do Will? – Sim. – Então você quer
dizer que ele gosta de você? – Ao menos fisicamente, o que é suficiente para
mim nesse momento.
– Então, qual é o problema? Parece a situação perfeita. –
Ele é meio intenso. E eu não confio muito nele. Colocando os livros de lado,
ela se virou para me encarar. – Demi, o que vou dizer agora pode parecer
estranho, mas apenas escute. – Claro. – Quando o Nick e eu começamos… aquilo
que estávamos fazendo, cada vez que acontecia eu dizia para mim mesma que seria
a última vez. Mas acho que eu sempre soube que continuaria acontecendo até que
a situação se esgotasse. Para a nossa sorte, acho que nunca vamos parar de
sentir a mesma paixão das primeiras vezes. Mesmo assim, eu não confiava nele.
Eu nem mesmo gostava dele. E ainda por cima ele era meu chefe. Quer dizer, tem
algo mais inapropriado do que isso? – ela riu, e, seguindo seu olhar em direção
à mesa, eu vi que a primeira e única coisa que ela tinha arrumado era uma foto
dos dois na França, onde ele a pediu em casamento. – Mas acho que, se eu
tivesse me permitido aproveitar pelo menos um pouco, talvez aquilo não tivesse
me consumido tanto. Comecei a entender exatamente o que ela queria dizer sobre
sentir-se consumida. E sabia também que eu estava conscientemente lutando
contra Joe, contra a ideia de Joe. Mas as minhas razões eram diferentes. Não
era uma relação entre patrão e funcionário, ou qualquer outro tipo de disputa
por poder. Era o simples fato de que eu não queria ser de mais ninguém. Eu
queria ser dona de mim mesma por um tempo. E, embora essa coisa com o Joe fosse
insana e completamente diferente de qualquer coisa que eu já tivesse sentido
antes, eu era diferente – e estava gostando disso. Gostando muito. – Eu gosto
sim dele – admiti cuidadosamente. – Mas não acho que ele seria um bom namorado.
Na verdade, eu sei que não seria. E eu mesma definitivamente não seria uma boa
namorada no momento. – Certo, então talvez vocês devessem apenas se encontrar
de vez em quando para transar casualmente. Você sabe, como parceiros sexuais.
Eu ri, mergulhando o rosto em minhas mãos. – Fala sério. Que vida é essa? Ela
olhou para mim como se quisesse afagar meu cabelo. – Demi, essa é a sua vida.
Matthew estava lendo o jornal na minha sala com os pés na
minha mesa quando eu voltei. – Trabalhando muito? – provoquei, sentando no
canto da mesa. – É hora do almoço. E você recebeu um pacote, minha querida. –
Você foi até a sala de correspondência? Ele balançou a cabeça negativamente e
levantou um pacote que estava em seu colo. – Para ser entregue em mãos. Foi
deixado aqui por um mensageiro muito bonito, devo dizer. Tive que assinar e
prometer não abrir. Peguei o pacote e fiz um gesto mostrando a porta, mandando Matthew
ir passear um pouco. – Você nem vai me dizer o que é? – Não tenho visão de raio
X e não quero você aqui quando abrir. Então suma logo daqui. Com uma bufada de
protesto, ele tirou os pés da minha mesa e foi embora, fechando a porta depois
de sair.
Fiquei olhando para o pacote por vários minutos, sentindo um
formato retangular dentro do envelope. Um porta-retratos? Meu coração começou a
acelerar. Dentro havia um embrulho e um cartão que dizia:
Flor, Abra isto com discrição. É a minha favorita. Seu
estranho.
Engoli em seco, sentindo como se estivesse prestes a
libertar uma coisa que eu não seria mais capaz de conter. Olhando a porta para
ter certeza de que estava bem fechada, abri o pacote, com as mãos tremendo ao
perceber que realmente era um porta-retratos. Feito de madeira, havia apenas
uma foto: era a imagem da minha barriga e a curva da minha cintura. A mesa
preta debaixo de mim estava visível. As pontas dos dedos de Joe também
apareciam em baixo, como se estivessem me prendendo na mesa pela cintura. Uma
tênue faixa de luz se estendia através da minha pele, como uma lembrança da
porta que se abriu e da pessoa que andou pelo salão do outro lado da tela. Ele
deve ter tirado a foto logo após se enterrar em mim. Fechei os olhos, lembrando
a sensação de quando gozei. Eu me senti como um fio desencapado plugado na
parede, com a carga elétrica que iluminaria o salão passando diretamente por
mim. Ele descobriu meu clitóris com os dedos e continuou entrando em mim. Eu
quis fechar as pernas por causa daquela intensidade, mas ele grunhiu e me
manteve aberta com o bater de seus quadris. Enfiei o porta-retratos de volta no
envelope e escondi tudo na minha bolsa. Um calor se espalhou em minha pele e eu
nem podia ligar o ar-condicionado ou abrir uma janela num andar alto como
aquele. Como ele sabia? Senti o peso daquilo me pressionando: o quanto eu
queria que fosse uma foto de nós dois, o quanto eu queria ser vista. Ele
entendia, talvez até melhor do que eu mesma. Tropeçando na minha mesa, sentei e
tentei avaliar a situação. Mas, exatamente na minha frente, estava o New York
Post, aberto na seção de colunas sociais. E bem no meio da página tinha uma
história intitulada
JOE JONAS, O DEUS DO SEXO, EM VOO SOLO
O playboy milionário tentou algo novo no Museu de Arte
Moderna. Não, ele não começou a investir em arte, e com certeza não estava lá
para arrecadar fundos (sejamos honestos: o cara já arrecada mais dinheiro do
que um caça-níquel em Las Vegas). No sábado à noite, em seu baile anual para
arrecadar fundos para a Alex’s Lemonade Stand Foundation, Joe Jonas chegou…
sozinho. Quando questionado sobre onde estava sua acompanhante, ele disse
simplesmente “Espero que ela já esteja lá dentro”. Infelizmente para nós, os
fotógrafos foram proibidos de entrar no evento.
Mas nós vamos pegar você na próxima, Mad Joe.
Fiquei olhando o jornal, sabendo que Matthew o tinha deixado
lá para que eu visse, e provavelmente agora estava em algum lugar dando risada
por causa disso. Minhas mãos ainda estavam tremendo quando dobrei e guardei o
jornal na gaveta. Por que não me ocorreu que um fotógrafo poderia estar lá? Não
ter nenhum fotógrafo era um milagre. E, embora Joe com certeza soubesse disso,
eu não sabia, e nem mesmo pensei nisso. – Merda – sussurrei. E então percebi,
com uma clareza súbita, que essa coisa entre nós precisava acabar totalmente ou
eu precisaria de algum controle. Senti um pouco de alívio em retrospecto por
esse descuido, pensando que já tinha evitado três desastres na minha primeira
semana. Liguei meu notebook e busquei no Google o endereço da “Jonas & Deleasa”.
Não pude evitar um sorriso. – É claro. Rockefeller Plaza, número trinta.
A Jonas & Deleasa preenchia metade do septuagésimo
segundo andar do Edifício GE, um dos prédios mais icônicos da cidade. Até eu o
reconhecia ao longe. Porém, para uma empresa de capital de risco tão conhecida,
fiquei surpresa com o pouco espaço que ocupava de fato. Por outro lado, não era
preciso muita gente para gerir uma empresa que basicamente apenas arrecada e
investe dinheiro: Joe, Mike, alguns executivos juniores e vários tipos de
gênios da matemática. Meu coração batia tão rápido que precisei contar até dez,
e então corri para o banheiro ao lado dos escritórios para me recompor. Chequei
cada cabine para ter certeza de que estavam vazias, depois fui me olhar no
espelho. – Se você vai fazer isso com ele, lembre-se de três coisas, Demi.
Primeiro, ele quer a mesma coisa que você. Sexo sem compromisso. Você não deve
mais nada para ele. Segundo, não tenha medo de pedir aquilo que você quer. E
terceiro… – eu me endireitei e respirei fundo: – seja jovem. Divirta-se.
Desligue o resto. De volta ao corredor, as portas de vidro da Jonas & Deleasa
abriram automaticamente quando me aproximei, e uma velha recepcionista me
cumprimentou com um sorriso sincero. – Estou aqui para falar com Joe Jonas – eu
disse, sorrindo de volta. Ela tinha um rosto familiar. Olhei para a placa onde
estava seu nome: Brigid Jonas. Meu Deus, a recepcionista era a mãe dele? – Você
tem hora marcada, meu amor? Seu sotaque era igual ao dele. Voltei minha atenção
para seu rosto. – Não, na verdade não. Eu gostaria só de um minuto. – Qual é o
seu nome? – Demi Lovato. Ela sorriu – mas não um sorriso de quem sabe de alguma
coisa, graças a Deus –, olhou em seu computador e pegou o telefone. – Estou com
Demi Lovato na recepção. Ela quer dar uma palavrinha com você – ela escutou
por alguns segundos e depois disse: – Certo. Quando
desligou, ela já estava acenando com a cabeça. – É só seguir pelo corredor e
virar à direita. A sala dele é a última. Agradeci e segui pelo corredor. Quando
me aproximei, vi que Joe estava esperando na porta, encostado no batente e
mostrando um sorriso tão convencido que eu parei a uns bons três metros de
distância. – Não fique tão convencido – sussurrei. Ele começou a rir,
virando-se e entrando na sala. Eu o segui e fechei a porta atrás de mim. – Não
estou aqui para fazer o que você está pensando – então, fiz uma pausa,
reconsiderando meu discurso. – Certo, talvez eu esteja sim aqui por causa
disso. Mas não exatamente. Quer dizer, não aqui, e não aqui hoje, com a sua mãe
logo ali fora! Meu Deus, quem contrata a própria mãe para ser sua
recepcionista? Ele continuou rindo, com aquela maldita covinha aparecendo em
seu rosto, e, a cada palavra enrolada que eu dizia, ele parecia rir ainda mais
forte. Caramba, ele era completamente adorável, brincalhão… irritante… e
estúpido! – Para de rir! – eu gritei e então bati com a mão na minha boca
quando percebi que minhas palavras ecoaram ao redor. Ele se esforçou para mudar
a expressão, andou até mim e me beijou uma vez, de um jeito tão doce que eu
literalmente esqueci por um momento o que estava fazendo ali. – Demi – ele
disse com a voz baixa. – Você está linda. – Você sempre diz isso – respondi.
Fechei os olhos e senti meus ombros relaxando. Não conseguia lembrar de uma
única vez nos últimos três anos em que Will havia me elogiado em algo que não
fosse minha escolha para o vinho no jantar. – Isso é porque eu não sou nada se
não for honesto. Mas o que você está vestindo? Abri os olhos e olhei minha
blusa branca, a saia azul-marinho e o cinto vermelho. Joe estava olhando
diretamente para meu peito, e senti meus mamilos endurecerem sob seu olhar. Ele
sorriu com o canto da boca. Ele sabia. – Estou vestindo… roupa de trabalho. –
Você está parecendo uma estudante safada. – Tenho vinte e sete anos – fiz
questão de lembrar. – Você não está sendo um pervertido olhando para os meus
peitos. – Vinte e sete – ele repetiu, aumentando o sorriso. Ele agia como se
todas as informações que eu passasse fossem uma pérola que ele juntava para
formar um colar. – Quantos dias dá tudo isso? Estreitei os olhos. – O quê? Isso
dá… – olhei para cima por alguns segundos. – Cerca de nove mil, oitocentos e
cinquenta. Um pouco mais, já que meu aniversário é em agosto. Então dá quase
dez mil dias. Ele gemeu e pressionou a mão no peito de um jeito dramático. –
Droga. Ela é boa com números e se veste desse jeito. Não posso resistir aos
seus encantos. Não pude evitar sorrir de volta. Ele nunca foi rude ou mal-educado
comigo e já tinha me dado mais orgasmos em uma semana do que qualquer outro
homem em… Oh, Demi, que deprimente. Vamos mudar de assunto.
Ele olhou para mim mais uma vez e disse: – Bom, eu
certamente mal posso esperar para que você diga qual é o motivo desta visita
tão inesperada. Mas me deixe responder sua pergunta mais recente. Sim, minha
mãe é a minha recepcionista e parece mesmo um pouco estranho. Mas eu desafio
você a tentar tirá-la de lá. Eu juro, você vai acabar sem uma orelha na cabeça.
Ele deu um passo para frente e, de repente, já estava muito perto. Perto
demais. Eu podia ver as pequenas listras no casaco de seu terno, podia ver os
vestígios da barba crescendo em seu queixo. – Eu vim até aqui para conversar
com você – eu disse. Minha voz deve ter soado minúscula e precisei buscar
forças para dizer as palavras que eu tinha ensaiado tanto. Eu não queria ser a
mesma pessoa que ficou com o Will no começo: alguém em quem se passava por cima
facilmente. Depois de seis anos, percebi que o problema era que eu não me
importava de verdade em lutar por qualquer coisa. Ele sorriu. – Suspeitei desde
o princípio. Você quer sentar? Balancei a cabeça negativamente. – Quer algo
para beber? – ele andou até um minibar e levantou uma garrafa de cristal com um
líquido âmbar. Sem pensar, aceitei, e ele preparou dois copos. Ao entregar,
sussurrou: – Apenas dois dedos hoje, flor. Não contive uma risada. – Obrigada.
Desculpe, toda essa situação… está me consumindo. Ele ergueu uma sobrancelha,
mas pareceu desistir de jogar mais uma insinuação na conversa. – Também sinto
isso. – Com você, sinto como se estivesse nadando num lugar que não dá pé para
mim – comecei dizendo. Ele riu, mas não de um jeito rude. – Dá para perceber. –
Entende? Antes do que aconteceu na boate… estive com o mesmo cara desde os meus
vinte e um anos. Joe tomou um gole de seu drinque e depois ficou olhando para a
bebida, apenas escutando. Considerei o quanto eu realmente queria contar sobre Will,
sobre mim e sobre como nós éramos como um casal. – Will era mais velho. Mais
estabelecido, mais experiente. Nosso namoro era bom – eu disse. – Tudo estava
sempre bom. Acho que muitas relações terminam desse jeito, apenas… bom. Fácil.
Sei lá. Ele não era meu melhor amigo, e nem era realmente meu amante. Nós apenas
morávamos juntos. Tínhamos uma rotina. Eu era fiel; ele saía transando por toda
Los Angeles. – Então o que aconteceu? Quem apertou o gatilho? Fiz uma pausa,
olhando para ele. Eu já tinha usado essa expressão com Joe? Tentei lembrar e
concluí que não. Usei esse termo para descrever minha vida depois que fui
embora, mas nunca falei desse jeito com ele. Senti um arrepio percorrer meus
braços. Um milhão de respostas cruzaram minha mente, mas a que usei foi:
– Eu estava cansada de ser tão velha sendo tão jovem. – É
isso? Você só vai me contar isso? Você é um completo enigma, Demi. Olhando para
ele, eu disse: – Considerando o que nós fizemos juntos, você não precisa saber
nada além disso. Eu deixei muita infelicidade em Los Angeles e não estou
querendo me envolver com ninguém no momento. – Mas então você me encontrou na
boate – ele disse. – Se me lembro bem – respondi, passando a ponta do dedo pela
sua camisa –, foi você quem me encontrou. – Certo – ele disse, e sorriu, mas,
pela primeira vez, seus olhos não sorriram primeiro. Ou mesmo depois. – E aqui
estamos nós. – Aqui estamos nós – repeti. – Decidi que era minha hora de ser um
pouco selvagem – olhei para a janela, para as nuvens flutuantes no céu, que
pareciam tão sólidas e convidativas, como se eu pudesse pular em uma e sair
voando por aí, para qualquer lugar, um lugar onde eu estaria segura daquilo que
estava prestes a dizer. – Mas encontrei você algumas vezes desde então e… eu
gosto de você. Apenas não quero que as coisas fiquem malucas ou saiam dos
trilhos. – Eu entendo perfeitamente. Será que entendia mesmo? Era impossível
que ele entendesse. E, na verdade, não importava se entendia, ainda mais
importante do que minha vida permanecer nos trilhos era minha necessidade de
não ter uma vida tão segura quanto era em Los Angeles. A segurança era um
pesadelo. A segurança era uma mentira. – Uma noite por semana – eu disse. –
Serei sua uma noite por semana. Ele me encarou com aquela expressão calma e
pensativa e eu percebi que, todas as vezes que o vi antes disso, ele mostrava
as cartas que tinha. Seu sorriso era completamente honesto. Sua risada era
perfeitamente real. Mas esta expressão era sua máscara. Minha barriga deu um nó
doloroso. – Quer dizer, se é que você quer me ver de novo. – Eu definitivamente
quero – ele me assegurou. – Só não sei exatamente o que você quer dizer.
Levantei e andei até a janela. Senti ele se mover atrás de mim e disse: – Sinto
que a única maneira de conseguir lidar com isso agora é estabelecer um limite
muito claro. Além dessa fronteira, estou aqui para trabalhar, para construir
uma vida. Mas dentro desse limite… – fiquei em silêncio, fechando os olhos e
apenas deixando a ideia no ar. A ideia das mãos de Joe. A ideia de sua boca.
Seu corpo esculpido e sua grossura pressionando contra mim de novo e de novo. –
Podemos fazer qualquer coisa. Quando eu estiver com você, não quero me
preocupar com mais nada. Ele se moveu para o lado, de um jeito que eu virei meu
rosto apenas levemente e vi que ele me olhava diretamente nos olhos. Ele
sorriu. A máscara tinha sumido, o sol da tarde batia na sala, e seus olhos
pareciam arder em chamas. – Você está oferecendo apenas seu corpo para mim. –
Sim – fui a primeira a desviar os olhos. – Você realmente vai me dar apenas uma
noite por semana? Estremeci. – Sim.
– Então você quer… o quê? Um caso sem compromisso, mas com
compromisso? Eu ri e disse: – Eu certamente não gosto da ideia de você saindo
por aí pegando várias mulheres. Então, sim, isso faz parte do acordo. Se é que
você faz esse tipo de coisa. Ele coçou o queixo, sem responder minha proposta.
– Qual noite da semana? Sempre a mesma noite? Eu não tinha pensado nesses
detalhes, mas concordei com a cabeça. – Às sextas-feiras. – Se eu não posso
sair com outras mulheres, o que acontece quando eu tiver um evento na quinta ou
no sábado onde preciso levar uma acompanhante? Meu peito se torceu de
ansiedade. – Não. Nada de aparições públicas. Acho que você vai precisar levar
sua mãe nessas ocasiões. – Você é uma garota exigente – seu sorriso seguiu suas
palavras e cresceu lentamente, como uma fogueira que se acende devagar. – Isso
parece tão organizado. Nosso modus operandi não tem sido assim até agora, flor.
– Eu sei. Mas esta é a única maneira que parece sã para mim. Não quero aparecer
nos jornais com você. Suas sobrancelhas se juntaram. – Por que isso
especificamente? Balançando a cabeça, percebi que tinha falado demais. Então
murmurei: – Apenas não quero. – Eu não tenho nenhuma voz nisso? – ele
perguntou. – Vamos apenas nos encontrar no seu apartamento e transar a noite inteira?
Passei a ponta do dedo pelo seu peito novamente, descendo ainda mais, até
chegar em seu cinto. Esta era a parte que eu esperava que ele aceitasse, e a
parte que eu mais temia. Depois da boate, do restaurante e do baile, eu estava
começando a me sentir viciada em adrenalina. Não queria abrir mão disso. – Acho
que nos saímos muito bem até agora. Não quero usar meu apartamento. Nem o seu.
Vou esperar você me enviar uma mensagem de texto dizendo onde eu devo te
encontrar e o que esperar no geral, para que eu possa me vestir de acordo. Não
me importo com o resto. Fiquei na ponta dos pés e o beijei. Comecei apenas
provocando, mas então o beijo ficou tão intenso que eu quase desejei retirar
tudo que disse e ficar com ele todas as noites da semana. Mas ele se afastou
primeiro, respirando pesadamente. – Eu posso evitar os fotógrafos, mas estou
obcecado em tirar fotos com você. É minha única condição. Sem mostrar os
rostos, mas fotos são permitidas. Um arrepio subiu pelas minhas costas e eu
encarei seu rosto. Só de pensar em ter provas dele tocando minha pele nua e
depois olhando fotos de nós transando fez um calor se espalhar do meu peito até
o rosto. Ele percebeu, sorrindo e acariciando meu queixo. – Quando isso
terminar, você vai precisar apagar as imagens – eu disse. Ele assentiu
imediatamente. – É claro. – Te vejo na sexta, então – coloquei minha mão dentro
de seu casaco, aproveitando para passear nas linhas duras de seu peito antes de
tirar seu celular do bolso interno e discar meu
número. Meu celular tocou na minha bolsa. Senti seu sorriso
sem nem precisar olhar em seu rosto. Guardei o telefone de volta no bolso dele,
virei e fui embora, sabendo que, se eu olhasse para trás, não resistiria e
voltaria. Eu me despedi de sua mãe e fiz a longa viagem de elevador até o
saguão no térreo, pensando na câmera de seu celular o tempo todo. Depois de
andar dois quarteirões, meu celular tocou dentro da minha bolsa.
Me encontre na sexta, entre a 11th e a Kent no Brooklyn.
18h. Vá de táxi e espere até eu abrir a porta. Você pode ir direto do trabalho.
uuuuuuuuuuuuuuhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh sera quenteeee!
ResponderExcluirNão me faça esperar.por favor
ResponderExcluir