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A Secretaria - Capitulo 1

CAPÍTULO 1: VÍCIO EM CAFEÍNA

Assim como em todas as outras manhãs, eu tive que promover um debate interno comigo mesma antes do trabalho. Um tipo de incentivo, ou autoafirmação.
Eu estava sentada na cabine da minha velha picape, com um copo de café fervendo em uma mão, já estacionada na minha vaga do estacionamento na Corporação Internacional Jonas, murmurando para mim mesma como uma verdadeira louca.

− Demetria Lovato, você é sortuda de ter este emprego. Então, grandes coisas se seu chefe é sensual como o diabo em pessoa e não faz ideia que você existe. Contente-se com o fato de poder ao menos pagar o aluguel.
Este era um argumento válido. Minhas amigas de infância, Miley Cyrus e Danielle Deleasa, haviam escolhido um apartamento particularmente caro para nós todas dividirmos. Eu teria ficado feliz em morar sozinha, mas Mi havia feito um pacto, quando tínhamos cinco anos de idade, de que moraríamos juntas, um pacto muito sério. E, como Mi levava tudo muito a sério, ceder às vontades dela era a melhor opção.
Nós três tínhamos agora vinte anos, e enquanto as duas estavam em seus últimos anos de estudos, meu curso de Administração exigia um ano de experiência, como um estágio, entre o segundo e o ultimo ano de faculdade, e minhas notas eram altas o suficiente para que eu conseguisse uma posição medíocre de secretária na Corporação Jonas.
Eu passei os dois primeiros meses de experiência lá como a terceira secretária de Joe Jonas, correndo de um lado para o outro, para pegar café para ele, buscar as roupas dele na lavanderia. Isso sem qualquer contato direto com o chefe, além de olhares ocasionais no corredor.
Enquanto isso podia ser suficiente para algumas pessoas, especialmente se considerar o generoso contracheque, me deixava frustrada saber que nada do que eu havia estudado era realmente colocado em uso. A Corporação Jonas estava passando por um período de transição do comando; o CEO, Paul Jonas, estava deixando o cargo, dividindo as responsabilidades entre seus três filhos, Joe, Nick e Kevin. Com cada filho implementando novas estratégias de negócios, alterando equipes de alguns setores, e de uma forma geral trazendo a companhia para a idade moderna, eu sabia que podia ter um impacto maior do que fazer o café expresso duplo do Sr. Jonas toda manhã.
Entretanto, qualquer ideia que eu dava para Lauren Bennett, a segunda secretária de Joe, era ignorada, então eu escolhi ignorá-la também. Instalei um programa para filtrar e-mails, contatos e cronogramas com extrema eficiência sem a permissão dela.
Não é preciso dizer que Lauren levou todo o crédito por isso, mas quando houve um problema com os computadores, e a primeira secretária, Maggie Harrison, pediu auxílio para Lauren reinstalar o programa e a verdade apareceu. 
Não demorou muito até que Lauren fosse despachada para o décimo andar, e Maggie e eu nos tornamos um time.
Ela fazia todo contato pessoal com Joseph, e eu passava meu tempo mexendo nos sistemas e organizando as informações. Ao fim de mais um mês, eu havia aumentado a produtividade do escritório em 45% e Maggie estava em seu terceiro trimestre de gravidez, pronta para tirar sua licença maternidade.
Quando descobri que ela não somente havia dado a sugestão para Joseph de que eu ficasse no seu lugar, como a secretária principal dele sem me avisar antes, e que ele havia "concordado prontamente", eu cuspi café por cima de toda a minha mesa.
E agora, sentada dentro da minha picape depois de 4 meses trabalhando para os Jonas, um mês depois de ter me tornado a primeira secretária de Joseph Jonas, e duas horas depois de ter um sonho vívido do meu chefe me imobilizando sobre a cama onde ele planejava tirar minha virgindade, eu sabia que estava encrencada. Eu passava o dia todo como uma sombra dele, não apenas pelo fato de que ele era lindo, mas também muito inteligente.
O homem tinha vinte e quatro anos, se formou três anos antes do normal e já era mais do que capaz de comandar uma companhia mais de um bilhão de dólares. E, até onde eu podia dizer, era extremamente justo e educado.
Mas, minha paixonite era ainda pior porque, claramente, não era requisitada por ele. Joseph nunca havia me tratado com nada além de formalidades profissionais. Ele era um chefe justo, porém, exigente, e apesar de jogar um pouco de conversa fora, sempre mantinha o assunto dentro dos parâmetros profissionais.
Minha conversa íntima de como eu era sortuda por ter um emprego já havia escapado da mente, e eu bati minha testa contra o volante da picape em desespero. Isso não ajudava em nada, claro, exceto agora eu tinha quase certeza de que teria uma bela dor de cabeça. Aparentemente, nem de ficar brava de modo apropriado, eu era capaz.
− Patética. – eu repetia para mim mesma, acomodando minha testa dolorida entre as mãos. E como que para provar meus argumentos, ouvi uma batida na janela do carro.
− Srta. Lovato? – a voz aveludada de Joseph parecia preocupada, possivelmente se perguntando por que eu estava curvada feito uma idiota com as mãos na cabeça.

Mais um dia perfeito começando perfeitamente.
Endireitei minha postura e pude vê-lo usado um terno marinho, um camisa imaculadamente branca sob a gravata vermelho-sangue, enquanto ele franzia a testa, ainda que polidamente, numa expressão confusa.
“E sensual como o diabo, não esqueça disso, Demi”, lembrei mentalmente a mim mesma sarcasticamente. Como se fosse possível esquecer. Ele estava apoiado em seu Bentley, na sua vaga do estacionamento, exatamente ao lado da minha, com uma pasta muito elegante em uma das mãos.
Só mais uma demonstração de como Joseph era o chefe perfeito: ele havia distribuído as vagas do estacionamento ao lado da dele assim como o uso de seu elevador privativo, para mim e minha assistente, a atual segunda secretária, baseado na lógica de que nós passamos a maior parte do tempo organizando o escritório dele.
Eu rapidamente peguei meu café e minha pasta em uma mão, movendo a outra para abrir a porta. Joseph já estava fazendo isso antes que eu pudesse pensar, abrindo a porta para mim. Eu me contorci internamente pelo ranger da lataria, mas sorri timidamente para ele.

− Obrigada, Sr. Jonas.

Ele sorriu abertamente em resposta, embora eu me perguntasse como ele conseguia ser tão alegre às 6:45 da manhã. Não apenas hoje, mas em todas as manhãs. Era algo além da minha compreensão.
Em seguida, ele esperou que eu o acompanhasse até o elevador. Joseph caminhou mantendo um metro de distância entre nós, e o único som que havia era dos meus saltos sobre o concreto, até que chegamos ao elevador.

− Há algo de errado com a sua cabeça? – ele perguntou educadamente, enquanto apertava o botão que nos levaria ao último andar do edifício, olhando-me sorrateiramente pelo reflexo das portas do elevador.

Esse era o modo como ele sempre olhava para mim: educadamente, sorrateiramente, suavemente e indiferente. Não era à toa que meu subconsciente conjeturava um Joseph possessivo e dominador nos meus sonhos, porque a ideia dele me olhar com algo mais do que esse tom distante e profissional nos seus olhos Castanhos Esverdiados seria um verdadeiro milagre.
Eu corei ao pensar no meu sonho, grata por ele presumir que era uma reação à pergunta dele, e rapidamente formulei uma resposta. 

− Não, não, é só assim que eu fico mesmo antes de tomar minha dose diária de cafeína.
− Hmm, bom, eu imagino que haja substâncias mais fortes para se viciar do que cafeína. – ele respondeu, num tom tão contemplativo que eu não pude evitar soltar um gracejo.
− Claro. – concordei, enquanto entrávamos no escritório – isso é o que o meu fornecedor me diz.

A estupidez da minha piada me fez contorcer por dentro, mas eu podia jurar que o vi resfolegar atrás de mim.


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