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Anjo da Noite - Capitulo 22



Capítulo 22 – A conversa


Eu acordei preocupada se a Taylor contaria alguma coisa pro meu pai, o que ele faria se soubesse. Mas mesmo assim me arrumei e sai, não podia adiar aquela conversa. Fui até a casa secreta, e ele já estava lá me esperando, sentado na grama, olhando a cachoeira. Eu me sentei do lado dele.

_Oi_ falei.
_Por que você não me contou que era seu aniversário?
Pelo visto ele não estava com humor pra enrolação.
_Por que não, pra que falar?
_Você achou que o vira-lata não merecia saber?_ ele me olhou a primeira vez.
_Não é nada disso.
_Então o que é?
_Eu não gosto de comemorar meu aniversário, só faço por causa do meu pai, eu não te falei porque não era importante, porque eu não queria presente, nem parabéns.
_Porque não? Qual o problema?
_Fazer aniversário perde a graça quando você para de envelhecer_ encarei a cachoeira sem ver nada.
_Eu não entendo_ ele confessou.
_Quantos anos você tem Joe?
_Bom, eu parei de envelhecer aos vinte, de lá pra cá se passaram quinze anos, então... Trinta e cinco.
_Então você ainda não é capaz de entender.
_Entender o que?
_Eu parei de envelhecer aos dezoito. Continuei a comemorar meus aniversários normalmente até os cinqüenta quando achei que já não havia mais sentido nisso. Meu pai insistiu, ele adora um motivo pra comemorar, pra fingirmos que somos normais e felizes, então disse que eu tinha que continuar comemorando, mesmo contra minha vontade.
_Quantos anos você tem afinal?
_Desde que parei de envelhecer se passaram cento e trinta e dois anos, então... Cento e cinqüenta anos.

Ele me fitou por um momento, processado o que eu acabara de dizer, sua expressão estava vazia. Então sem mais nem menos ele sorriu.
_Você é muito moderninha pra quem nasceu no século passado_ ele disse sorrindo.
_Muito engraçado_ eu revirei os olhos e me levantei.
_Desculpa_ ele pediu e se levantou também.
_Eu só não vejo mais motivo pra comemorar, é só mais um dia como outro qualquer, eu não envelheço, não mudo, eu não vou morrer nunca. 
_Eu acho que entendo. Mais mesmo assim você esta errada.
_Errada?
_Tudo sobre você é importante pra mim, cada detalhe, e eu quero saber tudo.

Eu não pude evitar sorrir pra ele, seu jeito divertido e meigo me fazia esquecer meus medos e meus problemas, mesmo que por pouco tempo.

_Bom, mais não foi pra falar do seu aniversario que eu te chamei aqui.
Eu bufei e revirei os olhos, estava demorando.
_Não adianta fazer essa cara, agente tem que falar sobre isso_ ele insistiu.
_O que você quer que eu diga? Que ta tudo bem? Então ta, está tudo ótimo_ disse com raiva.
_É isso, eu quero que você pare com isso, essa ignorância, eu quero conversar não brigar, será que é tão difícil?_ ele respondeu no mesmo tom.
_Eu não sei o que dizer_ confessei.
_Só me diz por que todo esse estresse, eu já te expliquei que não senti nada, que não doeu, não sobrou nem sequer uma marca, porque tanta raiva?
_Não é disso que se trata_ falei.
_Então sobre o que é?
_Eu não posso fazer isso de novo, eu não consigo_ tapei meu rosto com as mãos.
_Demi, por favor, fala comigo_ sua voz estava agoniada, e suas mãos tentaram afastar as minhas do meu rosto_ por favor?
_O que você sentiria se... _ eu tirei as mãos do rosto pra olhá-lo_ se você me visse machucada, não importa o tamanho, por menor que seja, e soubesse que foi sua culpa. Que foi você que me machucou, o que você acha que sentiria?
_Me sentiria um idiota_ ele confessou.
_Exatamente.
_É por isso?
_É, não importa que foi só um arranhão, que já sumiu. Eu não suporto a idéia de que eu te machuquei, de que eu poderia ter te matado por puro egoísmo.
_Egoísmo?_ ele repetiu sem entender o uso da palavra.
_Por que foi egoísmo de minha parte arriscar sua vida só pra saciar meu desejo, pra não ter que ficar sem você.

Ele me fitou atentamente, talvez pensando em algo pra dizer, eu não sei bem, sua expressão não me dizia nada, eu esperei paciente, que ele reclamasse, fizesse alguma coisa, mais ele só me olhou.

_Me desculpa_ ele disse depois de um tempo.
_Desculpar pelo que?
_Eu entendo você agora, eu sou idiota por ficar te perturbando com isso. Eu não queria te aborrecer, não sabia que era isso que te incomodava.
_E o que você achou que fosse?
_Pensei que talvez... Você não tivesse gostado, tivesse se arrependido.
_É claro que não_ sorri_ foi a melhor coisa que já me aconteceu em todos esses anos que vivi, conhecer você, nunca me arrependeria, faria tudo de novo. Desculpe se fiz você pensar errado.
_Eu queria que existisse um jeito mais fácil de... Lidar com isso.
_Não tem, eu vou ter que... Me acostumar, deixar de ser tão cabeça dura.
_Talvez ajude se você lembrar que eu sou um lobisomem, não um humano sem graça. Me destruir não é tão fácil quanto parece. E não vão ser marcas de unha que vão acabar comigo.
_As unhas podem não te incomodar, mais precisa tomar cuidado com os dentes.
_Os meus também são afiados_ ele sorriu.
_Você tem que levar tudo na brincadeira?
_É melhor que começar a discutir de novo.
_Por que você tem sempre que ter razão?
_Eu sou demais_ ele riu.
_É, você é demais_ concordei.

Então ele me beijou, eu ia ter que arrumar um jeito de lidar com essa minha sede incontrolável ou isso não acabaria bem, e ele teria que ser muito paciente comigo. Mais nós faríamos isso, e faríamos juntos, afinal de contas nós tínhamos todo tempo do mundo.
_Se eu te perguntar uma coisa, me responde sinceramente?_ ele disse um tempo depois, quando nossas bocas não estavam mais ocupadas.
_Claro, o que é?
_O que foi que você fez com meu pai afinal?
_Joe...
_Você prometeu_ ele lembrou.
_Isso não é justo_ protestei.
_Não, você não me contar o que houve é que não é justo.
_Ta bem eu conto.
_Ótimo_ ele sorriu satisfeito.
_Já faz alguns anos, nós fomos fazer um trabalho juntos. Eu, meu pai, o Nick, Paul, Denise e Kevin.
_Minha mãe?
_É, nós precisávamos dela, era parte do disfarce e como meu pai não permite que minha mãe participe dessas coisas, ela foi voluntária.
_Ah, e o Kevin também sabe?
_É, ele também tava lá. Depois de terminarmos o trabalho íamos pra casa resolver a partilha do dinheiro, mais uma coisa que vimos no caminho nos atrasou.
_O que era? O que vocês viram?_ ele perguntou curioso.
_Em um beco, duas pessoas mortas. Na verdade, um humano e um lobisomem, claramente mortos por um vampiro. Seu pai pirou, achou que tivesse sido um dos homens do meu pai. Deixamos o Nick, o Kevin e sua mãe cuidando de dar um sumiço nos corpos e nos afastamos um pouco, pra tentar conversar_ eu pausei.
_E o que houve?_ ele perguntou quando não continuei.
_Seu pai não quis ouvir, ele é muito apegado aos valores dele.
_Eu sei como é
_Ele e meu pai começaram a brigar, e seu pai se transformou, foi pra cima do meu pai com tudo. Eu tentei usar o meu poder pra pará-lo, impedi-lo de se mexer mais como não costumava usar meus poderes não deu muito certo, seu pai era muito forte e estava descontrolado.
_Ele machucou seu pai?
_Não teve tempo, eu aproveitei um momento de distração dele, pra entrar em sua mente.
_O que você o fez ver pra que parasse?
_Sua mãe e seu irmão estavam longe de nós, o fiz pensar que nosso grupo tinha capturado os dois. Ele não conhecia minhas habilidades então acreditou.
_Ai ele parou? Não me parece tão ruim.
_Não foi só isso. Ele não parou, só ficou mais zangado. Então eu tive que apelar. Entrei na mente dele e matei os dois em sua frente.
_Como assim?
_O fiz pensar que os meus homens haviam matado o Kevin e sua mãe.

Ele parou por um momento, processando as informações que eu lhe dera.

_Mais, isso não deixaria ele mais zangado?
_Seria a reação certa, ele deveria ter pirado e tentado me matar mais ao invés disso ele... Ele só ficou lá parado, atônito, sem acreditar. Ficou em estado de choque ao pensar que sua família estava morta.
_Nossa.
_Ouvindo assim você pode pensar que não é tão ruim. Mais eu senti a dor dele, a dor que ele sentiu com aquilo, foi horrível. Me senti a pior criatura do mundo ao ver expressão vazia dele... O desespero.
_E o que houve depois?
_Meu pai pediu que eu continuasse mais eu não pude, só acabei com aquilo. Expliquei a ele que era tudo mentira. Ele se acalmou mais ficou sem falar conosco por um bom tempo. Até descobrir que quem matara o humano foi um recém nascido desconhecido e o lobisomem morrera tentando salvá-lo. Pediu desculpas pelo mal entendido e... Hoje estamos aqui.
_É por isso que meu pai odeia tanto os vampiros?
_A guerra entre as espécies já existia antes disso. Mas não era tão ruim pra nós, não ligávamos muito. Só que depois disso seu pai criou um ódio profundo contra nós e com razão.
_Que historia.
_É por isso que queríamos esquecê-la. É por isso que não gosto de usar meus poderes, porque sei como isso machuca as pessoas.
_Mesmo assim, meu pai tem um respeito especial por você. Diz que você é diferente dos outros, que sempre o tratou bem, com respeito.
_É verdade, depois desse episodio eu me expliquei pra ele, pedi desculpas e ele soube que eu estava sendo sincera. Não me atrevi a tratá-lo mal depois da dor que o causei.
_É uma pena que eles se odeiem tanto assim. Se não fosse essa briga não precisaríamos nos esconder.
_A união de duas espécies tão diferentes é algo estranho pra eles. Assustador, porque não sabem o que pode acontecer, o que pode sair disso.
_São um bando de ignorantes_ ele revirou os olhos.
_Não, eles tem bom senso, ao contrario de você que se senta aqui ao meu lado e conversa comigo, me beija, mesmo sabendo da vontade que tenho de te matar.
_Não vamos começar com essa discussão de novo né?_ ele fez careta.
_Não.

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