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Anjo da Noite 2 - O Fim - Capitulo 16

Capítulo 16 – Confissões


Ele respirou fundo várias vezes, parecia extremamente triste, como se quisesse chorar. Ajeitou-se na enorme cadeira e me encarou.

_Você vai explicar o que ta acontecendo?_ insisti.
_Era 20 de agosto de mil oitocentos e alguma coisa, já não me lembro mais. Era sábado, não tinha trabalho, então me despedi da minha esposa, peguei minha arma e sai pra caçar.
_Caçar? Armado?_ eu não estava entendendo.
_Peguei minha picape e então dirigi até a floresta_ continuou ignorando minha pergunta_ Não estava com muita sorte aquele dia, o único animal que apareceu conseguiu fugir, eu não era rápido o suficiente pra alcançá-lo. 
_Não era rápido?_ Selena também parecia confusa.
_Estava pronto pra ir embora quando ouvi um grito vindo do meio das árvores, devia ser alguém que foi atacado por um urso, ingênuo como eu era resolvi ajudar_ forçou um sorriso_ Corri pelas árvores pra tentar chegar a tempo, mais a cena que vi não era bem o que esperava... _ parou de falar de repente, seus olhos se arregalaram como se tivesse lembrado de algo assustador.
_O que você viu?_ não resisti a perguntar.
_Um homem caído no chão da selva, estava todo rasgado e tinha sangue pra todo lado. Sentada em cima dele tinha uma garotinha, devia ter uns cinco anos. Usava um vestido branco que estava coberto de sangue e tinha uma fita vermelha no cabelo. Achei que também estivesse ferida... Perdida.
_Quem era?_ Selena perguntou.
_Ela se virou pra me olhar, sua pele era branca como a neve, sua boca estava vermelha com o sangue, mais o que me assustou foram olhos. Eles eram diferentes, não tinham a bola do olho central, eram completamente pratas e pareciam brilhar.
Estremeci onde estava, conhecia bem aqueles olhos, eles me hipnotizaram a primeira vez que olhei dentro deles, fizeram a minha vida virar de cabeça pra baixo, eram o motivo de eu estar aqui, ouvindo isso.

_Era a Demi_ sussurrei.
_Eu estava pronto pra correr, estava morrendo de medo. Mais então ela me olhou e sorriu pra mim, um sorriso doce... Inocente_ sorriu levemente_ fiquei encantado com tamanha beleza. Cheguei mais perto, sem me dar conta do perigo, ela estendeu os braços me chamando e então a peguei no colo. Ela tocou meu rosto com suas mãos frias... Eu não podia deixá-la ali. Levei ela pra casa, então eu e minha esposa resolvemos que cuidaríamos dela, parecia tão frágil e inocente. Tinha um cordão de ouro no pescoço, gravado um nome... Demetria.
_Quer dizer que... Então é isso... Ela não é sua filha_ disse atônito. 
_Ela ficou com agente, não comia nada, não dava trabalho, mais com o passar dos dias parecia ficar mais irritada. Eu e Daiana sentíamos como se fosse nossa filha de verdade. Exatamente um mês depois que a peguei aconteceu_ seu rosto estava agoniado.
_Aconteceu o que?_ Selena perguntou envolvida em sua confissão agonizante.
_Era meu aniversário, levantei cedo pra ver como ela estava. Quando entrei no quarto ela rugiu pra mim, e então voou no pescoço, senti uma dor terrível, mais consegui afastá-la de mim, ela correu em outra direção enquanto eu queimava no chão, era uma dor insuportável. 
_Você era humano_ percebi espantado_ ela te transformou. 
_Quando acordei percebi que estava diferente, procurei minha mulher e a encontrei agonizando no chão. A menina ainda estava lá olhando, sorrindo. Demorou pra que eu entendesse o que havia acontecido, demorou pra que nós nos acostumássemos. Mais hoje estamos aqui.
_Então é isso, era isso que vocês estavam escondendo dela.
_Fiz de tudo durante esses anos pra ignorar, pra esquecer, mais não dá, agora chega. 
_Não foi culpa dela, ela era uma criança...
_ELA ME TRANSFORMOU NUM MONSTRO_ gritou_ ELA ACABOU COM A MINHA VIDA. EU NÃO AGUENTO MAIS TANTA MENTIRA.
_Você é louco_ disse_ eu que respeitava você. 
_Isso é loucura_ Selena falou_ então esse tempo todo era tudo mentira?
_Agora vocês sabem.
_Não vai fazer nada? Não vai atrás dela?
_Por que eu deveria? Ela não é minha filha, nunca foi. E traiu toda confiança que depositei nela quando engravidou de você, de um cachorro.
_Já vi que não posso mesmo contar com você. A vida inteira Demi acreditou ser um monstro, mais o único monstro aqui é você. Hipócrita.

Cuspi as palavras e sai do escritório batendo a porta, não conseguia acreditar no que acabei de ouvir. Era tudo loucura, nada mais fazia sentido. Sai irritado pelo enorme portão, sentindo uma agonia que crescia aos poucos, como aquilo ia acabar?

_Joe_ Selena chamou de algum lugar.
_Selena_ me virei pra olhá-la.

Ela correu na minha direção e me abraçou, tão confusa quanto eu com tudo isso.

_Eu não sabia, mais agora tudo faz sentido.
_O que faz sentido?_ perguntei confuso.
_Eles diziam serem vampiros puros, mais não tinham sangue nas veias e o coração deles não batia. Eles eram diferentes da Demi, e agente sempre acreditou na mentira. Como fomos burros.
_Ele é um hipócrita imbecil. Como pode, depois de tudo...
_A questão é... Se a Demi não é filha deles então de onde ela veio?
_Isso não importa, o que importa não é de onde ela veio e sim aonde ela ta. Agente vai achar ela.
_Ela vai ficar arrasada quando souber.
_Vai ficar tudo bem. Agora agente tem que procurá-la. Você vem comigo?
_Claro.

Então nos separamos pra poder procurar melhor.
Narrado pela Demi

Quando abri meus olhos de novo estava em um lugar diferente. Um quarto completamente branco e vazio, exceto pela cama onde eu estava deitada e uma parafernália médica. Me sentei na cama meio confusa e percebi que tinha uma corrente prendendo um dos meus pés ao chão.

_Oi_ Trish apareceu na porta.
_Onde eu to?
_É onde eu faço minhas pesquisas. Não tem com o que se preocupar.
_Sabe, você podia ter me pedido, eu viria sem precisar me apagar_ disse passando a mão na cabeça, aquilo doía.
_Ta doendo não é? Sua situação não esta muito boa.
_O que você quer afinal?
_Essa criança que você esta esperando é única, não existe no mundo outra como ela e se essa criança nascer... Sobreviver... Eu quero poder participar.
_Por que eu? Por que matou todos os meus amigos? Pra que aquela guerra? O que você tem contra nós?
_C'est la faute de son père, il m'a forcé à le faire. (É culpa do seu pai, ele me obrigou a fazer isso)
_Como assim?
_Você não conhece seu pai, não sabe nada sobre ele, a não ser as mentiras que ele te conta.
_E o que você sabe sobre ele?
_Sei tudo. Sobre ele, sobre sua mãe... Sobre você.

Ela sorriu pra mim e pegou o celular, discou um número e pediu que alguém trouxesse algo que não entendi muito bem. O que ela sabia sobre minha família?

_Você devia ter uns seis anos quando conheci seu pai. Ele estava confuso, em uma fase ruim da vida dele. Eu o ajudei a superar, o ajudei a se controlar a ser alguém melhor.
_Melhor?
_Ele nem sempre foi assim, ele se alimentava dos humanos, fui eu que disse a ele que não precisava ser assim, eu ensinei ele a ser como eu. 
_Você mata pessoas...
_Por culpa dele, eu não era assim.
_O que ele te fez?
_Agente passava muito tempo junto, acabamos nos apaixonando. Tivemos uma linda história juntos.
_O que? Você quer que eu acredite que você teve um romance com meu pai?
_É verdade, nós nos completávamos.
_É mentira, ele nunca faria isso com a minha mãe. 
_Seu pai não é o santo que você pensa.
_Ele ama a minha mãe...
_Il m'aimait. Je l'aimais plus que tout au monde, a renoncé à tout pour lui.
(Ele me amava. Eu o amei mais que tudo no mundo, desisti de tudo por ele) _ gritou irritada.
_Isso é mentira, meu pai nunca se envolveria com alguém como você.
_Eu era boa, mais ai ele me abandonou, disse que não podia enganar mais a esposa dele. Disse que amava de mais a filha e que não podia deixá-la. Il m'a quitté à cause de vous. 
(Ele me abandonou por sua causa). 
_Foi por isso que veio atrás de nós?
_Vingança. Eu queria tirar dele aquilo com o que ele mais se importava. Você. Mais isso não adianta mais, ele não vai te amar tanto assim quando souber da sua gravidez.
_Não pode ser_ deixei que uma lágrima descesse por meu rosto.
_Pois é. Esse é o seu pai. Um safado. E é por isso que não vou te matar, ele vai fazer isso por mim.
_Ele não me machucaria, sou filha dele.
_Não, não é.

Eu não estava mais entendendo nada, aquilo não podia ser verdade.

_Você nunca percebeu a diferença entre você e seu pai? É tão burra assim?
_Do que você ta falando?
_Marcus te encontrou no meio da selva, achou você bonitinha e te levou pra casa. Até que você surtou e mordeu ele e a querida esposa, transformando eles em monstros. 
_O...
_É isso querida. Você acabou com a vida dos dois, acho que é por isso que eles não confiam muito em você. Eu estava lá pra ajudá-lo a superar e mesmo assim ele preferiu você. A monstrinha que o transformou, que destruiu a vida dele.
_É mentira_ eu disse aos prantos_ você esta mentindo.
Eu olhei pra ela sem entender, aquilo tudo era loucura, como meu pai pode fazer algo assim? O que ela queria, acabar com minha vida? Quando aquilo ia acabar? Antes que eu pudesse perguntar um dos guarda costas dela entrou trazendo junto com ele um humano. O jogou no chão e então saiu.

_Você deve estar com sede_ sorriu.
_O que é isso?

Ela pegou uma pequena faca e fez um corte no braço do homem que gritou de dor, o sangue dele escorreu, o cheiro me invadiu dolorosamente, não fazia idéia do quão sedenta eu estava até sentir aquele cheiro tentador. Eu rugi involuntariamente, tomada pela queimação, pela sede e me levantei no intuito de ir pra cima dele mais a corrente me parou.

_Não, não. Menina má.
_Por que faz isso comigo, não é minha culpa_ consegui dizer.
_É tudo culpa sua, e por ser tão malvada, não vai ganhar sangue.
_Por favor_ implorei_ estou morrendo de sede. 
_Está?_ sorriu.

Ela sorriu e levantou o rosto do homem, aquilo só podia ser brincadeira. 

_Você se lembra dele Demi? Sabe quem esse homem é?
_Michael Payne_ sussurrei sem acreditar.
_Você tem uma boa memória. 
_Eu lembro de você_ ele falou assustado.
_Você tem raiva dele Demi? Você não tem vontade de matá-lo?
_Porque eu deveria?
_Foi por causa dele. Se ele não fosse um caloteiro, talvez você não tivesse esbarrado com o vira-lata aquela noite, não tivesse matado aquele homem. Talvez não estivesse grávida e abeira da morte.
_Não foi minha culpa, eu não fiz nada_ ele disse.
_Cala boca_ empurrou ele.
_Por favor... Para com isso_ implorei.
_Você ta morrendo de sede não esta? Você não quer experimentar o sangue dele?
_Não...
_Não ela não quer, me deixa ir.
_Bom, você deve estar com vergonha né? Vou deixar vocês sozinhos pra se resolverem_ sorriu.
_Não.
Ela fez mais um corte no pescoço dele e então saiu me deixando sozinha, seu cheiro me queimou por dentro, eu queria aquilo, eu precisava daquilo.

_Por favor, não me machuca_ pediu, estava completamente assustado.
_Cala boca_ sua voz estava me deixando ainda mais enlouquecida.
_Por favor, eu sinto muito se fiz alguma coisa que te deu problema, eu nunca mais vou ficar sem pagar, eu juro.
_Fica quieto imbecil_ falei com os dentes trincados.
_Por favor...
_CHEGA.

Eu perdi minha noção de vez e voei em cima dele, se não fosse a corrente nos meus pés eu teria conseguido, ele correu na direção da porta, batendo nela desesperado, implorando pra alguém abrir, eu fiz força contra a corrente, tentando arrebentá-la, deixando meu lado selvagem tomar conta. 

_Por favor, para_ gritou desesperado.
_Sinto muito.

Foi a ultima coisa que eu disse. Não era hora pra ter princípios, se eu não me alimentasse morreria de sede. Fiz tanta força que a corrente arrebentou, Michael deu um grito de horror e então eu voei em seu pescoço, enfiando meus dentes em seu pescoço. Seu sangue desceu pela minha garganta, fresco, delicioso, me causando uma sensação de bem estar. Eu era uma assassina. Quando ela finalmente voltou eu estava jogada no chão, os olhos fechados, não queria ver o que havia feito. Não queria enxergar aquilo que eu tentei ignorar durante tantos anos... Eu era uma assassina.
_Então bonitinha, esta satisfeita?_ perguntou rindo.
Eu fiquei em silencio, não queria olhar pra cara dela, muito menos conversar.
_Vai me ignorar agora é? A culpa não é minha se você é uma bastarda, uma assassina monstruosa.
_Allez au diable. 
(Vai pro inferno)
_Prefere me xingar em francês? Tudo bem então. 
_Você acha isso divertido né? Quer um conselho? Me mata logo, porque se eu sair daqui viva, eu vou atrás de você e te mato. Te acho até no inferno se for preciso.
_Nossa, isso foi uma ameaça? Haha_ riu_ agora que você esta satisfeita... Preciso de uma amostra do seu sangue.
_Como é?
_Eu quero saber o que tem em você, o que te torna tão diferente e especial, preciso saber por que você ainda esta viva. Porque a gravidez ainda não te matou. 
_Haha. Me matar não é tão fácil quanto você pensa querida.
_Eu sei, e eu quero saber por quê. 
Ela fez um gesto com a mão pra que os dois seguranças dela entrassem.
_Você vai bater na minha cabeça de novo?
_Não querida, mais é melhor você se comportar. 
_Ou o que? Vai me bater?_ ri. 

Ela apenas ficou me encarando, acho que não teve muita graça.


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