Capítulo 41
A mídia entrou num frenesi com a história – jornais saíram com todas as bombas, teorias da conspiração debatidas online que realmente atingiram o objetivo – mas fomos misericordiosamente deixados de fora delas. Nunca foi dito à imprensa as nossas identidades, uma bênção que eu não apreciei devidamente naquela altura. Joe precisou de duzentos e onze pontos para reparar os danos que enfrentou, tanto interno como externamente. Rush trabalhou verdadeiramente nele, assegurando-se que haveria cicatrizes para recordá-lo. Três dias depois, ele ainda não tinha acordado, e eu senti como se eu estivesse lentamente a enlouquecer. Eu fiquei com ele cada dia, apreciando a pausa da ação, mas doendo por dentro pelos seus braços para me abraçarem de novo. Quaisquer problemas que poderíamos ter tido com os nossos passaportes, e o pular por países foram tratados pelos advogados e as agências internacionais. O homem corado que eu tinha visto no aeroporto de Londres apareceu no hospital por duas vezes com breves atualizações, que ele deu para mim em vez de Joe. Eles encontraram o meu passaporte verdadeiro, o americano desta vez, e disseram que o caminho para casa estava livre. Mas eu continuei a ouvir todas as notícias sobre o que acontecia fora do hospital ou do meu quarto de hotel. Agora que o perigo tinha passado, tudo o que eu queria era esquecer. Isso ,no entanto, era mais fácil falar do que fazer. Fiquei num hotel perto do hospital nas primeiras noites. Os pesadelos mantinham-me acordada, sonhos negros que eu nunca recordava. Eu acordava suando, um grito nos meus lábios, para a
escuridão de um solitário quarto de hotel A falta de sono fez as minhas horas acordada virtualmente insuportáveis, até ao ponto que eu queria fugir de tudo. O estado de saúde de Joe só tornou tudo pior, como se eu tivesse perdido o meu chão. Eu não falei para ninguém, só esperei pacientemente que ele acordasse. Na terceira manhã, Georgia Jonas chegou ao hospital de Londres. Como ela era sua mãe, eu dei-lhe espaço para estar com o seu filho, mas de qualquer forma eu duvido que eu pudesse tê-la detido. Ela ignorou-me completamente, mas começou a interrogar as enfermeiras e o staff do hospital, exigindo saber o seu progresso. A cara de Georgia parecia ter mais rugas do que eu me lembrava, como se ela tivesse envelhecido uma década desde a última vez que a vi. Ela era tão amarga quanto eu me recordava, mas eu suponho que perder um filho fazia isso com você. Ela estava fora do quarto, ocupada com planos para a sua transferência imediata, quando a mão que eu segurava torceu e depois apertou a minha levemente. Eu levantei a cabeça da cama e olhei para cima e depois comecei a chorar, quando eu vi os olhos verdes que pestanejavam a olhar para mim. Eu não sabia o que dizer demasiadamente feliz para falar, por isso murmurei, “Ei.”. “Ei.” A sua voz estava enferrujada, a cara ainda cansada e desgastada, mas ele estava acordado. Eu vi a sua boca se mexer e dei-lhe água, levantando-me da minha cadeira para lhe dar um gole. Tudo o que eu queria era abraçá-lo apertado, mas eu vi as suas feridas e sabia que só lhe causaria dor. Eu acariciei, no entanto, a minha
mão pela sua face, por cima dos curativos nas suas bochechas e testa feliz por estar tocando-o. Ele apertou a minha mão de novo, um pequeno sorriso aparecendo no canto da boca, e depois fechou os olhos enquanto eu apertava o botão para chamar as enfermeiras.
***
A viagem para casa foi no avião da família, o mesmo que eu tinha sido levada de Nova York para Paris, há menos de dois meses atrás. Esta viagem era muito mais sombria, e ainda havia mais passageiros para monitorar a saúde de Joe. Georgia desaprovava a minha permanência ao seu lado, dizendo que eu estava no caminho e nem sequer era família. “Ela fica.” As duas palavras, ditas com uma voz áspera tingida pela dor calaram os argumentos de Georgia. Eu podia sentir a raiva da mulher dirigida a mim, mas eu não me importei, contente por não ter de deixá-lo. Estar de volta a solo americano não foi bem o alívio que eu tinha imaginado. Eles instalaram Joe no seu apartamento em Manhattan, alegando que ficava mais perto do hospital e do staff médico do que a propriedade dos Hamptons. Por mais que eu não gostasse da sua mãe, a mulher estava em cima de tudo. Empregados domésticos, visitas do staff do hospital, terapia física em casa, ela tratou de tudo sozinha e insistiu em ficar para garantir que tudo funcionasse. Georgia instalou-me no quarto de hóspedes, no lado oposto da suíte principal, mas eu não estava em estado de discutir. Dois dias depois que chegamos a Nova York, Marie visitou
nos no apartamento. Quando ela chegou lá em cima, eu me apressei em cumprimentá-la. A agente da Interpol parecia muito mais relaxada agora que o perigo tinha passado, ela até sorriu quando apertamos as mãos. “Você percorreu um longo caminho.” Eu disse, surpreendida por quão contente eu estava em vê-la. “Um telefonema não é suficiente para algumas notícias,” ela respondeu, olhando à volta para o espaçoso apartamento. “Joe está bem, eu espero?” “Ele está. Ainda confinado a uma cama que ele odeia, mas melhor.” “E você?” Eu fiz uma pausa, tentando decidir uma resposta e depois encolhi os ombros “Tão bem quanto se pode esperar, eu acho.” Nós descemos para o quarto de baixo onde Joe estava deitado, o seu fino computador em cima de uma pequena bandeja de café da manhã. Quando ele viu Marie, fechou-o e segurou a sua mão em cumprimento. “Eu não pensei vê-la novamente.” “Eu estava nos US a serviço e pensei que deveria trazer a ambos as notícias. Ontem tiraram o corpo de Rush do Tamisa.” Eu engoli em seco. “Eles têm a certeza?” Marie assentiu. “Testes preliminares de DNA mostram uma relação familiar com você e com o seu irmão. Como tão pouco era conhecido sobre ele, saberemos mais com certeza nas próximas semanas.” E Wilmer?” eu perguntei. Pelo canto do meu olho eu vi Joe ficar imóvel.
“Ainda nenhum sinal, mas eu prometo manter vocês informados se descobrirmos alguma coisa.” Ela fez uma pausa e depois perguntou, “lembram se alguma coisa estava… atada a Rush enquanto ele foi para o lado?” A pergunta pareceu estranha, e eu olhei para Jerimah para confirmar. “Não, Rush estava livre, havia apenas aqueles pesos em Wilmer e Joe. Por quê? “Aparentemente, Rush tinha algo à volta do seu punho quando foi encontrado, apesar de não haver nenhum peso como o que descreveu.” Ela encolheu os ombros. “De qualquer modo, ele está morto, e eu queria que soubessem.” “Quer uma bebida?” eu perguntei, me dando conta que eu estava sendo uma má anfitriã, mas Marie balançou com a cabeça. “Eu preciso estar de volta a Washington no final da tarde, por isso é melhor ir.” Eu pensei brevemente em abraçá-la, mas em vez disso estendi a mão. “Obrigada por ter vindo até aqui. A sua faze suavizou um pouco enquanto olhava para mim. “Estou feliz por ter vindo, Menina Lovato.” “Pobre Wilmer.” Eu murmurei após mostrar a saída À agente francesa. Eu me sentei na ponta da cama, perto de Joe, pegando na sua mão. “Espero que tenha sobrevivido.” Entre os seus ferimentos anteriores e os dois tiros de pistola que eu ouvi antes de eles irem para o outro lado da ponte, a minha parte pragmática duvidada que o contrabandista sobreviveu. O mundo parecia mais escuro sem a sua presença. “Você o amou?”
Eu afastei-me com aquela pergunta, largando a mão de Joe. Não era possível negar a amargura na sua frase, mas a sua cara estava fechada, no seu tom uma simples pergunta. Um nó instalouse na minha garganta, e eu balancei a cabeça “Ele foi meu amigo, quando eu precisei de um, e agora ele se foi”. A resposta pareceu satisfazer Joe, que se deitou e fechou os olhos.Os hematomas escuros no seu lindo rosto me faziam querer chorar. Eu não tinha ideia do que ele tinha passado nas mãos de Rush, mas eu tinha visto as feridas no corpo de Joe. A visão magoava a minha alma e me fazia querer matar o bastardo de novo. Uma voz estridente subiu da sala de estar e eu suprimi um gemido enquanto Georgia entrava no apartamento. Dentro de segundos ela estava dentro do quarto, acompanhada por duas enfermeiras e mulheres da limpeza. “Ah, querido,” ela disse, inclinando-se para beijar a bochecha do seu filho como se ele ainda fosse uma criança. “As enfermeiras estão aqui para verificar o seu progresso, e eu trouxe alguma ajuda para limpar o chiqueiro. Realmente, minha querida, você é uma empregada horrível.” A última parte era dirigida a mim, e a acusação atingiu-me rapidamente. Eu olhei para fora, a auto-estima morrendo debaixo da acusação mordaz que eu sabia não ser verdadeira, mas que eu não tinha forças para lutar. Quando eu não me mexi do meu lugar na cama, Georgia finalmente dignou-se a olhar para mim com desprezo no olhar. “Bem, mova-se. Desapareça e deixe os profissionais trabalharem.” “Mãe, pare com isso” disse Joe com uma voz perigosa, mas eu me levantei.
“Não, deixa-as ver você! Eu engoli para dentro as palavras que eu, desesperadamente, queria dizer a Georgia Jonas e, tentando manter o meu queixo para cima, marchei pela porta fora. Eu pensei tê-lo ouvido chamar o meu nome, mas não podia ficar ali nem mais um minuto. As lágrimas estavam demasiadamente perto da superfície, e eu seria maldita se eu deixasse algum deles me ver chorar. Várias empregadas andavam apressadas pela cobertura, limpando e arrumando coisas. Os meus sentimentos impotência cresceram enquanto as observava limpar tudo que poderiam me manter ocupada, coisas que talvez me dessem algo para fazer. O apartamento não estava sujo, antes de chegarmos, tinha sido exaustivamente preparado para a nossa chegada, provavelmente pelo mesmo exército de empregadas. Eu mantive as coisas tão arrumadas o quanto pude, e mesmo assim essas senhoras estavam ocupadas o suficiente para eu ver que eu não tinha sido meticulosa. Eu nunca fui alguém orgulhosa da minha habilidade de limpar – honestamente, eu não era muito “doméstica” no melhor cenário – mas isto era mais um golpe para o meu orgulho. Eu estava sentada no sofá, tentando ficar fora do caminho, quando Georgia saiu do quarto. Imediatamente as senhoras que estavam limpando acabaram o que estavam fazendo e moveram-se atrás dela, já prontas para sair. Georgia olhou para baixo do nariz dela para mim e revirou os olhos. “Certamente tem algo mais útil para fazer do que ficar sentada na casa do meu filho sem fazer nada.” Ela fungou, dirigindo-se para a porta. “Eu odeio pensar que ele se prenderia a uma vagabunda como você.”
Palavras de raiva subiram e morreram nos meus lábios. Eu queria defender-me, fazê-la sentir indigna, mas eu estava fora do meu domínio. Se eu tivesse a coragem de lhe lançar insultos, talvez eu tivesse descido ao nível dela, mas as farpas deixaram-me demasiadamente chocada para falar. Isso não pode ser como eu sou vista nesta casa. Ou é? A minha respiração acelerou, o sangue correu para a minha cabeça enquanto o meu peito apertava. Eu fiquei em pé, de repente precisando me mexer fazer alguma coisa, mas o desespero empurrou-me para o chão. Cobrindo a minha boca com uma mão, eu tombei para baixo ao lado dos bancos do bar, pegando num enquanto eu tentava obter o controle das minhas emoções de novo. Eu tinha de me lembrar de respirar enquanto me sentia aturdida e engolia várias arfadas de ar. Uma menina com quem eu andava na escola costumava ter ataques de pânico regularmente, e eu reconheci alguns dos sintomas. O meu coração espremeu apertado, quase dolorosamente, e eu lutei para não ser sufocada. Havia uma leve confusão perto, depois eu ouvi Joe chamar pelo meu nome. Ouvir a voz dele deu-me algo a que me agarrar, uma distração da minha súbita miséria. Eu consegui respirar fundo nos meus constritos pulmões, o que ajudou. “Estou aqui”, eu disse, chateada quando a minha voz falhou. Levantei-me para vê-lo franzir a testa para mim. “O que você estava fazendo no chão?” “Estava alongando” eu odiei quão facilmente a mentira deslizou pela minha língua, mas eu não podia explicar os meus problemas para ele. O meu corpo continuou acelerado, o que me levou a fazer alguma coisa, por isso me movi para a cozinha.
“Quer que eu te prepare alguma comida?” “Eu estou bem, mas faz alguma coisa para você se tiver fome.” Era a minha vez de franzir as sobrancelhas para ele, enquanto o estudava. “Você pode ficar de pé?” “Estou cansado de me sentir inútil naquela maldita cama.” Eu estremeci com as suas palavras e tentei não ler nada nelas, mas isso era difícil devido ao meu estado de espírito. “Eu só estou tentando ajudar.” Eu disse, incapaz de manter o tom amargo distante das minhas palavras. Pelo menos estava de costas para ele, por isso ele não podia ver a minha cara, que eu estava tendo dificuldade em me manter composta. Atrás de mim, o ouvi suspirar. “Eu sei disso.” Eu daria quase tudo para sentir o toque dele nesse momento, ouvilo dizer que tudo ficaria bem, mas ele manteve o silêncio enquanto mancava para a cozinha. Eu tirei uma caixa de brownies e comecei a procurar na enorme cozinha os itens necessários. Óleo, ovos e algumas nozes eram fáceis de encontrar, mas eu não conseguia encontrar a panela. Abaixando-me, procurei nas prateleiras de baixo até encontrar alguns pratos de vidro que funcionariam. Joe moveu-se atrás de mim. “Deixa-me ajudar você com isso.” “Não, já consegui.” “Demi, eu posso ajudar…” “Eu disse que já consegui.” As palavras saíram mais afiadas do que eu tinha pretendido. Mortificada pela minha explosão, levantei-me demasiadamente rápido e segurei o prato de vidro na beira da bancada. Escapou das
minhas mãos, e eu vi enquanto caía no chão de ladrilhos e partia-se em vários pedaços. “Merda” eu comecei a tremer enquanto a minha ansiedade subia de novo. Procurei à volta por uma vassoura ou um pano de pó mas não encontrei nada, por isso apanhei um rolo de papel da bancada. “Lamento muito” murmurei, tirando várias folhas de papel e ajoelhando-me para apanhar os pedaços. “Demi, para você está descalça.” “Não, eu preciso limpar isto…” “Demi, para…” Mesmo agora a sua voz tinha o poder de me comandar. Mas quando eu parei o movimento, as emoções finalmente tomaram conta de mim, e um único suspiro escapou dos meus lábios: “Eu não posso fazer mais isto.” O silêncio encheu o apartamento com as minhas palavras. Não havia maneira que eu pudesse olhar para Joe naquele momento, tudo o que eu queria fazer era enrolar-me numa bola e chorar. Os tremores não tinham parado, mas eu escondi as minhas mãos atrás das costas. Eu torci os meus dedos à volta das folhas de papel, usando-as para aliviar algum stress. “Não pode fazer o quê?” Joe perguntou depois de uma longa pausa. “Isto. Tudo.” Eu acenei a mão vagamente ao redor. “Você nem sequer precisa de mim. Eu te amo tanto e no entanto…” Eu nem conseguia dizer o que queria, estava tudo demasiadamente embaralhado na minha mente. Joe continuou em silêncio e, respirando fundo, tentei de novo: “Eu preciso saber onde estamos, onde ficamos. Com a nossa relação.” Deus, era difícil dizer as palavras. Engoli e continuei,
quando ele não respondeu. “Agora que o perigo passou, você nem sequer me toca. Eu sou inútil aqui e isso está me matando…” Eu fiz uma pausa, percebendo que estava prestes a chorar e a me odiar por essa fraqueza. “Está me matando estar ao seu lado e não saber se…” Se nós sequer temos uma chance. A minha garganta fechou, incapaz de terminar a frase. Tinha atingido o coração do problema, e só tinha percebido agora que eu tinha colocado em palavras. “Isto também não é fácil para mim, você sabe.” Joe gesticulou para o seu corpo com uma mão. “Você não é a única que se sente inútil e presa pela situação. Você vai me deixar assim?” Eu encolhi a amargura ali contida e senti um momento de vergonha, mas o aumento da raiva tomou conta de mim. “Se não agora, então quando? Quando será o momento certo para eu ir? Uma semana, um ano? Ou eu estou sujeita a ficar presa sentada a sua volta cuidando da sua saúde esperando que, finalmente, você me chute para fora?” “Demi, você não está presa.” “Para mim parece que estou. Você já tem muita ajuda, não há nada para eu fazer, nenhum papel a desempenhar na sua recuperação. Tudo o que eu faço neste apartamento é sentar por aí mal falando com você e eu sequer sei se você me quer aqui.” Quando ele não disse nada em resposta, a última esperança foi drenada para fora. “Você me perdoou sobre Wilmer?” eu perguntei finalmente, a minha voz só um pouco acima de um sussurro. Um silêncio ecoou pela enorme cobertura por tempo demasiado. Eu não desviei o olhar do seu, mas eu já sabia a resposta antes de Joe finalmente falar.
“Eu não sei.” As palavras pareciam arrancadas dele, como se ele não quisesse admiti-las em voz alta. “Deixa-me limpar isto e eu sairei.” Eu disse, dando-lhe um único aceno. O nó no meu peito estava apertando, o suficiente para impedir as minhas emoções de rolarem livremente. O movimento maníaco que me tinha empurrado antes tinha desaparecido, e eu apanhei cuidadosamente os pedaços de vidro e limpei o chão de quaisquer pequenos cacos. Joe desapareceu de vista, mas, enquanto eu saía da cozinha, o vi de pé perto da porta. Se algum de nós tivesse dito algo mais, se ele tivesse me pedido para ficar, a minha decisão talvez tivesse se modificado, mas ambos ficamos silenciosos. Eu sabia o que isto significaria para qualquer pessoa: Eu o estava deixando quando ele estava por baixo, como se eu não aguentasse os seus ferimentos ou como fraco ele estava. Na verdade, se ele tivesse dito que me perdoava, eu teria ficado para sempre. Mas ele não era um homem de mentiras, e o seu silêncio disse-me tudo o que eu precisava saber sobre a sua incerteza. Ele desviou-se de mim, os seus movimentos incertos. “Eu chamo para você a limusine.” “Joe.” Eu pousei a mão no seu braço e ele parou. “Eu já não sou da sua responsabilidade.” Dei-lhe um sorriso trêmulo, apesar dele não olhar para mim. “Isto é Manhattan. Sou uma menina crescida, eu posso apanhar um táxi.” “Para onde você vai?” “Eu não sei.” Na verdade, eu não tinha um plano e poucas opções, mas eu tinha uma conta de banco cheia, graças ao homem diante
de mim. Pegando o celular que ele me deu, comecei a deixá-lo na mesa perto da entrada, quando ele falou. “Mantenha-o. Por favor!” Eu parei e depois o coloquei de novo no bolso. Uma parte de mim dizia apenas para sair e não olhar para trás, mas eu não podia fazer isso. Muitas coisas tinham acontecido para eu sair tão friamente assim. Eu aproximei-me mais perto e, colocando-me nas pontas dos pés, inclinei-me para beijar a sua bochecha, exceto que no último momento a sua cabeça virou-se para mim. Os nossos lábios encontraram-se suavemente, quase um beijo casto. Lágrimas apertaram entre as minhas pestanas enquanto ele acariciava a minha face, as suas palmas mornas contra as minhas bochechas. Eu não queria deixá-lo, não queria ser quem quebrava o beijo mais doce que eu já tive, mas como por mútua decisão, finalmente nos separamos. “Adeus”, eu sussurrei, incapaz de suportar o pestanejar nos seus olhos por mais um momento e saí da suíte. Eu estava errada sobre chamar o meu próprio táxi; o porteiro do edifício o fez para mim, o que foi uma espécie de alívio para mim. Os meus membros estavam presos e pesados com cada passo que dei para me afastar, mas ainda consegui entrar no táxi e direcionálo para um hotel qualquer fora de Manhattan. O tráfico estava tão complicado como sempre, mas o motorista logo percebeu que eu não estava com disposição para conversa e o silêncio reinou dentro do carro. Uma dolorosa dormência espalhou-se por mim, mas era melhor do que a dor. Eu olhei resolutamente para frente, vendo a cidade deslocar-se perante mim, até chegarmos a Nova Jersey. O
motorista foi bom, encontrou-me um hotel decente com boas acomodações em Clifton. Eu subi as escadas e entrei no meu quarto, deitei o rosto na cama, e solucei silenciosamente na minha almofada até o sono tomar conta de mim.
0 comentários:
Postar um comentário